terça-feira, 30 de junho de 2009

Torres Vedras há 120 anos, na imprensa regional - (2) Junho de 1889

(Torres Vedras, numa gravura do Século XIX)

A comemoração dos Santos Populares foi um tema recorrente na imprensa torriense de há 120 anos.
O Santo António foi “festejado por algumas famílias. Na véspera houve illuminação e fogos de artificio no sitio da Costa do Castello. Algumas fogueiras n’outros pontos.
“No próprio dia fez-se, na forma dos mais annos, arraial no Varatojo”[1] .
O S. João teve as suas comemorações mais importantes em Runa:
“Realisou-se no dia 24, em Runa, a costumada festa de S. João Baptista, a qual teve o luzimento dos annos anteriores, achando-se a egreja bellamente adornada.
“Abrilhantou a festa a orchestra regida pelo maestro Lagrange, que foi como sempre correcto no seu desempenho. Orou o revº Conceição Vieira de Lisboa (…).
“O arraial, artisticamente ornamentado, esteve muito concorrido; á noite a illuminação produziu um bello efeito, e durante o fogo de artificio, que foi bastante vistoso, tocou variadas e escolhidas peças de musica a phylarmonica d’esta villa [de T. Vedras]”[2] .
Mas o S.Pedro foi sempre o ponto alto nos festejos dedicados aos Santos Populares em Torres Vedras, graças à realização da secular que lhe é dedicada, descrita de forma pitoresca por um jornalista local:
“O sol de Verão, que andava a modo com maleitas, dignou-se apparecer em toda a sua plenitude coruscante, e animar o grande quadro da feira, estendida em todo o vasto recinto da Porta da Várzea, rematando ao sul com a passagem typica do acampamento da ciganagem, com as suas tendas improvisadas, os seus montões de farrapagens, os seus vestuários sujos e garridos, os seus rostos acobreados, com molduras de cabello desgrenhado. A caravana, dividida em grupos, sobre a alfombra da relva, e no fresco abrigo do arvoredo copado, por ali relaçava(sic), entre a récua de cavalgaduras, que teem faltado aos respectivos donos, e que os ciganos vão trocando e vendendo, conseguindo sempre augmentar-lhe o numero, sem os comprarem.
“#
“A concorrência de expositores e feirantes foi enorme. No dia de S. Pedro, desde a madrugada, que um enorme concurso de povo afflui ao mercado, e às 10 horas dois comboios, chegados successivamente, trouxeram mais umas 600 pessoas que fizeram da Porta da Várzea um mar de cabeças humanas.
“Há quem diga que a feira foi mais concorrida do que no anno passado, e com referencia a commercio, todos a suppõem mais vantajosa. Appareceram muitos gados, e realisaram-se algumas transacções em gado cavallar. O gado bovino, próprio para trabalho, estava mais caro do que na feira chamada das fructas novas, em Santo Quintino [Sobral de Monte Agraço], por isso quem desejava comprara bois, resolveu-se a esperar. Comtudo houve algumas transacções, especialmente em gado para abater.
“O commercio nas lojas da villa esteve animado. Muitos touristas vieram, por mero passeio, visitar Torres Vedras, muitos d’elles eram nossos antigos amigos, que tivemos o gosto de abarcar. Não lhes enumeramos aqui nomes, com receio de incorrer n’alguma omissão.
“#
“Hoje apenas resta da feira uma ou outra bancada nua e retardatária; e d’aquelle bulício atroador, apenas accorda ainda os ecos das encostas circundantes da vasta alameda, o zambuar da barraca dos fantoches, que ahi se demoraram, fabricando gargalhadas, com as suas peripécias burlescas” [3].
Para aproveitar o público dessa feira , estabeleceu-se na vila um teatro ambulante, o “Theatro Club”.[4]
Outras festas de carácter religioso tiveram lugar no concelho esse mês como a Festa de Santa Catarina na Ribaldeira, Domingo 2 de Junho [5], ou a “Procissão de Corpus Christi”, realizada a 20 de Junho, que decorreu “ com a solemnidade dos mais annos, saindo da collegiada de Santa Maria do Castello, e percorrendo algumas ruas da villa” [6].
O início do Verão trazia a Torres Vedras, a caminho de Santa Cruz para “banhos”, um grupo de 60 crianças, vindas “de Lisboa no comboio da manhã de quarta-feira, (…) acompanhadas de três irmãs de caridade, e dos respectivos professores, ou regentes, do Collegio de Campolide”, sendo depois conduzidos em “trens” para a “referida praia”[7].
Os primeiros anos do comboio a passar por Torres Vedras foram essenciais para marcar uma nova dinâmica na actividade da vila.
Embora queixando-se da “ por ora diminuta (…) concorrência de passageiros de Lisboa a esta vila e seus subúrbios”, a imprensa local fazia notar que, ainda “assim no serviço dos hotéis conhece-se diferença para mais do que o costume; e é de presumir que, continuando o belo tempo dos últimos dias, haja afluência de visitantes nos próximos dias santificados. Oxalá ”[8].
A maior afluência de forasteiros a Torres Vedras e as possibilidades de expansão comercial, por causa do caminho-de-ferro, obrigou a várias obras de melhoramentos nas estradas do concelho.
Foi o que aconteceu com a “estrada de S. Pedro da Cadeira”, tomando-se conhecimento esse mês, por “telegramma recebido no dia 27 pelo sr. Administrador do concelho, e expedido pelo deputado d’este círculo, o sr. Dr. Casal Ribeiro” de “ haver sido concedida a estrada de S. Pedro da Cadeira, cuja construcção, que será feita por empreitadas parciaes, começará brevemente”[9].
Actividade que conhecia igualmente grande expansão, a vinicultura, atraia a Torres Vedras vários comerciantes do ramo, como o “ mr. A de Pomarède, accreditado negociante de vinhos, e membro da câmara do commercio de Bordéus”[10] .
Decorreram assim os dias desse mês de Junho de 1889, cujos ecos distantes chegaram até nós em descrições intensas e coloridas, publicadas na imprensa local da época.

[1] A Voz de Torres Vedras, 15 de Junho de 1889.
[2] A Voz de Torres Vedras, 29 de Junho de 1889.
[3] A Semana, 4 de Julho de 1889.
[4] A Semana, 27 de Junho 1889.
[5] A Semana, 30 de Maio de 1889.
[6] A Voz de Torres Vedras, 22 de Junho de 1889.
[7] A Voz de Torres Vedras, 8 de Junho de 1889
[8] A Voz de Torres Vedras, 11 de Junho de 1889
[9] A Voz de Torres Vedras, 26 de Junho de 1889.
[10] A Semana, 6 de Junho de 1889.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

NO DIA DE S. PEDRO - Recordando a Feira de Outros Tempos

Hoje, dia de S.Pedro, que está na origem da medieval feira torriense, recordamos uma descrição dela dos anos 60:
“A feira está montada! Todos os anos, nesta mesma época, neste mesmo dia, nesta mesma hora, a feira existe cheia de sons, de cores, de vozes. O concelho está, em peso, na vila. Chapéu novo, fato novo, riso novo a bailar nos olhos vivos e abertos que seguem a roda sem fim dos cavalinhos.
“O campo da feira é uma densa nuvem de pó. Pó no ar, nos fatos, nos pés, nas bocas. Pó que vem em ondas e traz a música ruidosa e rodopiante dos recintos de diversão. Um mar de gente que come torrão de Alicante, puxa o cordão da sorte, ingere farturas, vai aos automóveis e cavalinhos, lê a sina e joga a argola de enfiar no gargalo da garrafa.
“Sai sempre, freguês!” A família, com os filhos em escada, olha a grelha da barraca onde se encontram expostas dezenas de estatuetas de barro. A vida de Nossa Senhora está escrita no taipal colorido. Lá dentro, centenas de bonecos pequeninos contam a história da Bíblia.
“Passa-se a manhã, vem a tarde. Um copo, farturas, uma sardinha, um copo mais. Vendem-se loiças, panos, colares de lindas fantasias.
“Um tirinho, freguês?!” Chapéus com flor na fita debruçam-se gulosos, sobre o cano da espingardas.
“A feira vive! Ás três horas da tarde ninguém se pode mexer. Além, a lâmina duma navalha abre-se, a coisa mete guarda. Gritos confundidos com o disco que se repete pela vigésima vez. E a tarde roda sem se dar por isso.
“Á noite, quando o povo da aldeia se retira para casa, a vila desce ao campo e dá as boas vindas á feira. Gira uma fauna diferente. Cumprimentos, acenos, sorrisos. Morreu a vivacidade viril que explodia das veias do homem da terra. Há um tom calmo e pachorrento.
“Todos os anos a feira chega e parte assim (…)”

(texto anónimo [da autoria de António Augusto Sales ou de Venerando Ferreira de Matos?] publicado no catálogo da Feira de S. Pedro de 1964)

sábado, 27 de junho de 2009

Numa Feira Torriense de há Cem Anos

Na sua obra "Pelos Suburbios e Vizinhanças de Lisboa", publicada em 1910, Gabrial Pereira descreve o ambiente de uma feira torriense, uma "Feira Franca", que decorreu em Agosto de 1904.
Não sabemos se ele se referia à chamada Feira Nova, que se realizava por essa altura,ou ao mercado mensal da então vila.
Contudo, o ambiente aí descrito não seria muito diferente do que se vivia na então Feira de S. Pedro.
É com o objectivo de perceber qual era o ambiente numa feira torriense há cem anos que transcrevemos de seguida:
"FEIRA FRANCA
“(21 de Agosto de 1904)

“Na grande várzea em parte arborisada faz-se esta feira muito concorrida pela gente d’aquelles sítios; a região de Torres Vedras é bastante povoada; aldeias e logarejos, boas quintas, casaes, matizam os campos accidentados, as collinas entremeadas de valles e várzeas férteis.
“Este rocio onde se faz a feira tem ao lado a casaria da villa, ao norte o monte onde se ergue ocastello, entre olivedo e paredões negros alveja a egreja de Santa Maria, muito caiada; mais longee mais alto o monte de S. Vicente; a poente do rocio a serra do Varatojo, vestida de vinhedos. Na parte arborisada enfileiram-se barracas e tendas, no rocio nú é a feira de gados e a corredoura.
“As barracas de ourivesaria agrupam-se com as dos utensílios de arame, cobre, ferro estanhado, latoaria. As dos vidros estão perto do grande estendal de louças brancas e vermelhas.
“A louça ordinária, popular, provém das differentes olarias do termo de Mafra, a branca vem de Alcobaça.
“A notar um especialistas de buzinas de moinhos de vento, aquellas vasilhas de barro, que assobiam e zumbem quando o vento apressa o movimento das quatro velas triangulares.
“Vende-se calçado grosso, bastante correaria, não faltando as sogas ornadas, bordadas a pita colorida.
“Pequenas quinquilherias, modestas roletas variadas formam uma rua, leiloeiros de varias qualidades chamam a grito a attenção do povinho, perto das barracas de tiro ao alvo.
“Num espaço grande estão as madeiras; o que mais dá na vista é o material vinario; é natural, estamos numa grande região vinhateira.
“Cubas, tonéis, balseiros, barris, celhas, tinas em abundância; de castanho, as mais; algumas de pinho da terra, género barato. Carros para bois, e também de pequenas dimensões e de construcção mais leve para burricos. Há especialistas em arcos, e negociantes de varedo, assim como de crivos e peneiras.
“Menos importante a feira do gado; bastantes porcas com leitões, poucas juntas de bois, pouco inferior o gado cavallar e asinino.
“Pareceu-me em geral mal tratado o gado, tanto na feira como no que observei fora.
“É mais a pancada que a alimentação regular.
“Já se vê não faltavam as barracas de comer e beber, com os seus fritos alourados, e constante freguezia.
“Comia-se bem, bebia-se melhor; homens e mulheres espatifavam acerejadas gallinhas, consumiam patos com arroz cheirando que era uma delicia, e sorviam as talhadas dos sumarentos e aromáticos melões, atirando as cascas aos porcos e leitões grunhindo pela gulodice.
“A impressão geral é de atrazo, de educação nulla ou rudimentar; de trabalho mau com inferior alfaia, todavia gosto de ver o povo rural nestas feiras; é naturalmente são; um tanto brutal nos costumes, se ninguém trata d’elle! Mas de bom fundo
“Estamos longe d’aquelles campónios insolentes, trubulentos, cupidos, eivados d’alcoolismo, devastados por seitas ferozes, que preoccupam em Alemanha, na Itália, na França a gente que pensa e vê alguma cousa”

Gabrial Pereira, “Pelos Suburbios e visinhanças de Lisboa”,Livraria Clássica Editora, Lisboa,1910, pp.303 a 305

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Jornalistas do "Frente Oeste" com salários em atraso

"Jornalistas do “Frente Oeste” com salários em atraso

"1. Os jornalistas do semanário regional “Frente Oeste”, com sede em Torres Vedras, não recebem os salários desde Janeiro – o último liquidado – e não dispõem de qualquer informação sobre a previsão do seu pagamento.

"2. A empresa editora do jornal, que emprega cinco jornalistas, não apresentou qualquer justificação para o atraso, pelo que a situação se torna inaceitável perante a lei e os mais elementares princípios de respeito pelos direitos dos trabalhadores.

"3. O Sindicato dos Jornalistas (SJ) está a acompanhar a situação na empresa e a prestar apoio aos seus profissionais, estando a desencadear as necessárias diligências designadamente junto da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT).

"4. O jornal abrange os concelhos de Alenquer, Arruda dos Vinhos, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Mafra, Óbidos, Peniche, Rio Maior, Sobral do Monte Agraço e Torres Vedras, estando também disponível online.

"Lisboa, 18 de Junho de 2009

"A Direcção do Sindicato dos Jornalistas".

O "Frente Oeste" e os seus jornalistas têm prestado um inestimável serviço a Torres Vedras e nas suas páginas têm sido publicadas muitas trabalhos de qualidade sobre a História Local de Torres Vedras, da autoria de vários colaboradores.
O "Frente Oeste" faz falta à região e a Torres Vedras, por isso é importante encontrar uma solução que salve esse projecto, um dos mais importantes na História do jornalismo torriense.
Como colaborador desse jornal, daqui manifo a minha profunda solidariedade para com os jornalistas desse prestigiado título local.

Feira de S.Pedro,uma feira com história

Data de 20 de Março de 1293, do reinado de D. Dinis, a doação da primeira carta de feira conhecida no concelho de Torres Vedras.
Foi a mais antiga doada no actual distrito de Lisboa. Era anual, realizando-se entre os dias 1 de Maio e 1 de Junho, sendo a de maior duração a sul de Santarém.
Foi ainda nesse reinado que se doou a T. Vedras uma nova carta de feira, datada de 28 de Abril de 1318, alterando, entre outras coisas, a data de realização daquela para os 30 dias que iam de 1 de Junho a 1 de Julho. [1]
Em nenhum desses dois documentos se refere a designação da feira, conhecida apenas pelo nome da localidade torriense. Contudo parece residir nesta segunda carta a criação da que é hoje conhecida como Feira de S. Pedro, pois a sua realização coincide com o dia de S. Pedro.
O período de realização desta feira manteve-se durante todo o século XIV e no século seguinte, conforme o comprovou o estudo de Ana Maria Rodrigues[2].
A primeira designação de uma feira de S. Pedro neste concelho data de 1456[3], mas parece referir-se á feira de Dois Portos, de acordo com a opinião daquela mesma autora[4].
A atribuição do nome de S. Pedro à feira da vila de Torres Vedras só se terá concretizado em 1521, quando D. Manuel, por carta de 16 de Agosto “ a requerimento dos Juízes e oficiais da Vila de Torres Vedras” ordenou que se fizesse “na dita Vila a feira” que todos os anos se fazia no seu termo, na Igreja de S. Pedro de Dois Portos “por seu dia”[5].
Esse pedido parece revelar alguma decadência da feira criada por D. Dinis, daí tanta preocupação em acabar com a concorrência daquela que tinha lugar em Dois Portos, situação que está na origem da designação da feira de Torres Vedras como Feira de S. Pedro.
Entramos então num período em que pouco se sabe sobre esta feira. Provavelmente acompanhou a decadência geral da economia do país entre os finais do século XVI e o início do século XVII.
A 6 de Abril de 1792, numa carta enviada a D.ª Maria I, o juiz de fora e os oficiais do município torriense, queixavam-se da decadência em que havia caído a feira de S. Pedro, solicitando que a sua realização se prolongasse por mais dois dias, de 29 de Junho a 1 de Julho, sugestão aceite pela soberana por provisão de 24 de Maio de 1792[6].
Contudo, pelo menos no final do século XIX, aquela feira continuava a realizar-se num único dia, situação que se manteve até 1912, data a partir da qual passou a efectuar-se, de forma contínua, durante três dias.
No início do século XIX, o local de realização da feira era junto à capela de Nª Snrª do Amial.
Após 1834 a sua localização foi mudada par o arvoredo junto à “fonte do Jardim”, lugar também conhecido por Varzea do Jardim, próxima do local do actual choupal[7].
Ainda nesse século, numa data não conhecida, algures entre 1869 e 1885, mudou-se para o local onde se manteria durante mais de um século, para a chamada alameda da Porta da Várzea.
A feira de S. Pedro atravessou quase todo o século XX sem grandes alterações..
Foi preciso aguardar pelo 25 de Abril para que ela iniciasse um caminho de radical transformação: de uma feira provinciana e caracteristicamente medieval, para a feira moderna e dinâmica dos nossos dias.
Numa reunião da Comissão Administrativa da Câmara , realizada a 16 de Julho de 1974, o vereador João Carlos propôs a formação de uma comissão que preparasse e planificasse uma proposta para transformar a tradicional feira de S. Pedro numa feira mais dinâmica e moderna, capaz de projectar a realidade económica da região. A proposta foi aprovada por unanimidade, formando-se uma comissão que desde logo começou a preparar a feira de 1975, a primeira de uma nova era.
Uma das novidades desta “nova” feira foi o alargamento do número de dias do certame, passando, dos tradicionais três dias, par nove dias, média que desde então se tem mantido até hoje. Foram construídos pavilhões temáticos e elaborou-se uma vasta programação cultural, desportiva e recreativa.
A partir de 1985 a feira conheceu um novo salto qualitativo, com o rejuvenescimento da comissão organizadora, dirigida agora pelo vereador António Carneiro, sendo então criada uma nova estrutura operacional, os “Serviço de Cultura e Turismo”, constituindo-se uma equipa permanente e polivalente de trabalhadores, nas áreas administrativa e operária, permitindo a realização, a partir de então, de um trabalho em continuidade.
A feira conheceu desde então um novo salto qualitativo, começando a falar-se da necessidade de se redefinir o espaço da sua realização.
Finalmente, na edição de 1999, a Feira de S. Pedro abre no então recém criado Parque Regional de Exposições, o seu espaço actual, numa área de 40 000 m2, onde foi implantada uma nave de exposições herdada da Expo 98 de Lisboa, e, poucos anos depois, um novo pavilhão multiusos. No inicio do século XXI a promoção e organização deste evento passou para a responsabilidade da empresa municipal Promotorres.
Nas palavras do actual presidente da Câmara, criaram-se “condições de qualidade para os expositores”, mantendo-se o lado lúdico e popular desta centenária feira[8].

[Para um conhecimento mais aprofundado do tema aconselha-se a consulta de: ROSA, António da Silva (coord.), Feiras do Concelho de Torres Vedras, 1989, Biblioteca Municipal; MATOS, Venerando Aspra de Feira de S. Pedro – 700 anos de História, ed. C.M.T.V., 1993.]


[1] RAU, Virgínia, Feiras Medievais Portuguesas – subsídios para o seu estudo, Lx., Ed. Presença,1982.
[2] RODRIGUES, Ana Maria, Torres Vedras – A vila e o termo nos finais da Idade Média, Braga, ed. Universidade do Minho, 1992.
[3] SOUSA, J. M. Cordeiro de, Fontes Medievais de História Torreana, T. Vedras, Ed. Câmara Municipal de Torres Vedras, 1957.
[4] RODRIGUES (1992), p.246.
[5] SOUSA (1957),p.166.
[6] VIEIRA, Júlio, Torres Vedras Antiga e Moderna, T. Vedras 1926, p.213.
[7] ANOTADORES, op.cit.
[8] MIGUEL, Dr. Carlos, “Feira de S. Pedro: uma feira para miúdos e graúdos”, in boletim Feira de S. Pedro 07, 2007.

Feira de S.Pedro,uma feira com história

Fotografia antiga da feira de S. Pedro

Fotografia recente da mesma feira. O comércio tradicional é uma das suas imagens de marca.


Uma fotografia da Feira de S. Pedro, nos finais do século XIX

segunda-feira, 22 de junho de 2009

22 de Junho de 1924 - os "dias da rádio" chegam a Torres Vedras


Em 22 de Junho de 1924 tem lugar a primeira audição inaugural de rádio em Torres Vedras, promovida pelo “Rádio Club de Torres Vedras”, cujos estatutos tinham sido aprovados em 25 de Abril desse ano.
O bichinho pelo “som” e pela rádio “mexeu” desde muito cedo com os torrienses.
A existência de um grande número de bandas filarmónicas no concelho, durante a segunda metade do século XIX e o início do século XX, demonstram o interesse da gentes de então pela audição musical.
Também, desde muito cedo, foi introduzido em Torres Vedras o último grito em técnicas de divulgação sonora.
Logo no dia 2 de Dezembro de 1894 chegava a Torres Vedras o fonógrafo, inventado 16 anos antes por Edison.
Um jornal local da época anunciava esse acontecimento nos seguintes termos:
“O Aparelho que foi adquirido pelo sr. J.S.d’Oliveira Miranda na ocasião da exposição de Chicago, continua dando audição na sala do Grémio de Torres Vedras, onde o público pode ir ouvir mediante pequena quantia”.
Apenas 7 anos depois, em 25 de Fevereiro de 1901, tinha lugar a primeira audição do gramofone em Torres Vedras, por iniciativa de Cândido de Sousa Nascimento Vieira, que deu uma audição pública desse aparelho na sala do Casino.
O novo passo na evolução tecnológica da divulgação sonora deu-se, nesta terra, nos anos 20, quando “um grupo de rapazes” fundou na “vila uma sociedade para a vulgarisação da telefonia sem fios”.
Esse grupo adquiriu um “moderníssimo aparelho destinado à recepção de concertos musicais transmitidos pelas estações inglesas, francesas, americanas, italianas, etc.”[1].
No controle técnico dessa iniciativa encontravam-se “jovens” como António Hipólito ou Leonel Trindade.
Criado apenas 4 anos depois da primeira emissão regular de rádio a nível mundial, os responsáveis por esta iniciativa promoviam a audição pública de musica Jazz e Clássica.
O “Rádio Club” durou cerca de uma ano, tendo-se dissolvido em 1925, integrando-se no grupo fundador da Associação de Educação Física e Desportiva de Torres Vedras, fundada oficialmente em 9 de Abril de 1925.
Só na década de 60 surge a primeira rádio local, gerida por funcionários e doentes do sanatório do Barro.
Em 1976 surgiu um novo e efémero projecto, a Rádio Onda Livre.
Mais recentemente, na década de 80 do século passado, desde 1984, Torres Vedras conheceu um amplo movimento pela legalização das rádios locais, com a fundação da Rádio Onda Livre, da Rádio Estremadura e da Rádioeste, que começaram a emitir diariamente a partir de 1986, às quais se juntaria a Rádio Europa.
Só as duas últimas, Rádioeste e Rádio Europa, conseguiram ver reconhecida a sua legalização, mantendo-se ainda hoje em funcionamento.
Esta é uma história que ainda está por fazer, deixando aqui algumas pistas, neste dia em que se comemora a primeira audição pública da rádio em Torres Vedras.

[1] “A Nossa Terra”, 20 de Abril de 1924.

domingo, 21 de junho de 2009

No 80º Aniversário do Museu Municipal Leonel Trindade

Em 21 de Junho de 1929, há 80 anos, era aprovado pela Câmara de Torres o projecto de regulamento para a criação do Museu Municipal de Torres Vedras.
A ideia da criação de um museu municipal já vinha dos últimos anos da República, mas não teve o apoio necessário por parte da sua última Câmara, paradoxalmente lideradas pelos monárquicos locais.
Foi responsável pela sua criação Rafael Salinas Calado, tendo conhecido como primeira instalação a sala da Irmandade dos Clérigos Pobres, anexa à Igreja de S. Pedro.
Foram muitas as pessoas que cederam, alguns como empréstimo, as primeiras peças aí expostas, como os “primitivos” da Colegiada de Stª Maria do Castelo, graças à iniciativa do Padre Pio Sobreiro, o “bufete da Maceira”, cedido pelos descendentes do morgado daquela localidade, José da Cunha Santos Bernardes e esposa, vários objectos ligados à história municipal, cedidos pela Câmara.
Relata-nos Salinas Calado que a “abertura solene foi feita por João Luís de Moura”, então Governador Civil de Lisboa, “assistido de toda a Câmara a que presidia o grande animador, então Tenente França Borges, e o público, numa segunda-feira de descanso semanal, acorreu com curiosidade e apreciou com agrado e generosidade”.
A organização de um “Grupo dos Amigos do Museu”, permitiu a aquisição de muitos objectos, entre eles o célebre “bufete” acima referido, em troca de uma repica entregue aos seus proprietários[1].
Júlio de Sousa e Costa foi um dos primeiros visitantes do recém-criado Museu de Torres Vedras a descrever a importância do seu conteúdo:
“Quando há poucos dias estive no Museu Municipal de Torres Vedras enchi-me de funda satisfação por ver salvas das garras aduncas dos agentes rapinantes do espólio magnifico da bela região torreense, tanto objecto artístico e de merecimento.
“Aquela salinha azulejada com tanto esmero com o dossel das pinturas que não representam maravilhas da arte pictural, mas que são , indubitavelmente, um agrado à vista; aquela salinha que deve ser o ponto de partida para certame de vulto, carece de ser tão estimada como o sorriso de mulher que se adora… Aquela linda sala não envergonha quem a planisou, porquanto há lá exemplares que fariam já um catálogo útil e de valia.
“Há lá objectos de cerâmica que ainda não vi em museus categorisados, e isto bastará para calcular o recheio do termo de Torres Vedras”.[2]
Salinas Calado pediu a sua exoneração em 4 de Janeiro de 1932, sendo substituído pelo prestigiado arqueólogo local Aurélio Ricardo Belo[3].
Poucos anos depois, a partir de 16 de Março de 1944, o Museu mudou para novas e mais amplas instalações, no antigo Hospital da Misericórdia.
Uma das novidades desta segunda morada foi a criação de uma sala dedicada às “Guerras Peninsulares”, em 15 de Maio de 1955.
Entre 19 de Março de 1946 e 14 de Março de 1960, o Museu foi dirigido pelo dr. Augusto Maria Lopes da Cunha, sucedendo-lhe nessa data o eminente arqueólogo torriense Leonel Trindade, o último director oficial, até à sua morte em 1992[4].
Leonel Trindade desenvolveu uma outra importante vertente deste Museu, a divulgação do valioso espólio arqueológico da região, nomeadamente do Calcolítico e da época romana.
Em 1992 o Museu foi transferido par as suas actuais instalações, no antigo Convento da Graça, sendo-lhe atribuída, em 1999, a designação de Museu Municipal Leonel Trindade.
Actualmente o Museu aguarda a execução de um novo projecto de renovação e dinamização, apostando ultimamente em exposições anuais temáticas, como a que está a decorrer até Setembro, intitulada “Um pouco mais de azul, um pouco mais de vento – o património dos rios de Torres Vedras e do mar”, dedicado à história e etnografia dos rios Sizandro e Alcabrichel e da pesca marítima na região (Assenta, Santa Cruz e Porto Novo).

[1] CALADO, Rafael Salinas, “Torres Vedras e o seu Museu Municipal”, in Estremadura, nº 16 – 2ª série, 1947, pp. 365 a 367.
[2] COSTA, Júlio de Sousa e, “O Museu Municipal de Torres Vedras”, in Gazeta de Torres, 29 de Junho de 1930.
[3] “O sr. Dr. Salinas Calado pediu a sua exoneração de director do Museu Municipal”, in O Jornal de Torres Vedras, 31 de Janeiro de 1932.
[4] FORTES, Luís, “A propósito das I Jornadas de História e Cultura Torreenses – Da Fundação e Primeiros Passos do Museu de Torres Vedras”, in Frente Oeste, 26 de Novembro de 1992.

No 80º Aniversário do Museu Municipal Leonel Trindade

Uma exposição a visitar até Setembro

Uma reconstituição Histórica na sala da Guerra Peninsular.


Local das actuais instalações do Museu Leonel Trindade.


No antigo Hospital da Misericórdia funcionou durante a maior parte da sua História o Museu Municipal.



Aqui, na antiga sala da Irmandade dos Clérigos Pobres, teve lugar a primeira instalação do Museu Municiapal.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

18 de Junho de 1792 - inicio das obras do Hospital de Runa

No dia 18 de Junho de 1792 iniciava-se a construção do “Hospital dos Inválidos Militares de Runa”
Deveu-se a sua construção à Iniciativa da Princesa D. Maria Francisca Benedita, para perpetuar a memória do seu falecido marido, o príncipe D. José.
Para esse efeito comprou a Quinta de Alcobaça, junto a Runa, e outras propriedades anexas, como a quinta de S. Miguel, na Enxara do Bispo, e a quinta da Amora, em 11 de Agosto de 1790.
Custou tudo mais de quarenta contos de réis, uma quantia significativa para a época.
O edifício foi projectado pelo arquitecto José da Costa e Silva (1747-1819), o nome mais importante do neo-clássico português.
Na sua construção trabalharam mais de 300 operários, recrutados na região. Estas foram interrompidas quando da fuga da família real para o Brasil em 1807, embora as obras já estivessem então bastante adiantadas.
A partir do Brasil a princesa prosseguiu os seus esforços para completar a obra, enviando avultosas quantias em dinheiro para esse fim.
Durante a Guerra peninsular o edifício inacabado chegou a ser usado com hospital de campanha
Quando a família real regressou em 1821 o edifício estava quase concluído. Porém foi necessário esperar mais 6 anos pela sua conclusão.
Finalmente, em 25 de Julho de 1827, dia do 81º aniversário da princesa, realizava-se a sua faustosa inauguração.
O programa das festas incluiu uma parte religiosa “celebrada com grande solenidade”, tendo a própria princesa servido a primeira refeição aos 16 veteranos militares que ali deram entrada nesse dia, doze cabos e soldados e os seguintes oficiais: Cristóvão Tomás, tenente de artilharia, Félix de Valois, primeiro-sargento de infantaria, e Joaquim Maria Cordeiro e Joaquim Jorge Ervilheiro, segundo-sargento.
Essea militares tinham feito as guerras do Roussilon e Peninsular .
O edifício é um quadrilátero regular, com 99 metros de frente, 61 nos alçados laterais e 13 de altura na fachada.
“Ao centro do edifício, a notável entrada para a igreja, formando peristilo, é de uma arquitectura austera e nobre. O templo tem uma curta nave ou corpo e um grande transepto em que os topos são rematados em semicírculo. O conjunto é dominado por uma cúpula. É inegável que o revestimento de mármore dá certa riqueza ao interior, mas o ambiente é frio e o altar-mor, colocado ao centro, é pesado e fúnebre. De notar, contudo, os nichos com esculturas de mármore de Carrara ao estilo neoclássico (...). Pertence também a esta igreja uma alta e valiosa custódia de prata dourada cravejada de pedras preciosas.
“Como motivo de interesse para o visitante, deve-se mencionar ainda a Tribuna Real, de cujas janelas – no primeiro andar- se tem a melhor perspectiva sobre o interior da igreja. Hoje armada em sala, guarda várias pinturas de valor – portuguesas e estrangeiras. Sobressaem as três tábuas portuguesas da primeira metade do século XVI” [escola de Gregório Lopes?]”,representando São Luís, rei de França, S. João Baptista e S. Jerónimo, S. Bento e santo Ambrósio, e uma tela representando Santo António e o Menino, assinada por Vieira Lusitano (...).(No centro tem uma capela barroca forrada com mármores extraídos de pedreiras da região e ornada com estátuas de mármore de Carrara”.[1]
Em testamento deixou a princesa todos os seus bens a esta instituição.
Actualmente esse estabelecimento designa-se por Centro Social de Runa.
Mais informações sobre esse monumento, o seu funcionamento actual e as condições para o visitar, podem se consultadas no seguinte site:

http://www.iasfa.pt/runa.html

[1] Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Vol IV, pp. 34-35 1963.

18 de Junho de 1792 - inicio das obras do Hospital de Runa




18 de Junho de 1792 - inicio das obras do Hospital de Runa - o local de Runa

O nome do topónimo Runa ainda está por esclarecer. Pode ter o significado de “barranco” ou “vala” , relacionando-o com a situação topográfica. Talvez tenha origem no latim ruina, que quer dizer “queda” ou “ruína” ou no gótico runa, que tem o significado de “segredo” , “escrita secreta” ou mesmo de “pedras mágicas”.
Existe ocupação humana, arqueologicamente documentada, desde o calcolítico (cerca do IIIº milénio antes de Cristo), na povoação do Penedo.
Junto aos actuais limites da freguesia de Runa existem vários vestígios da época romana : foram descobertas moedas dessa época no Figueiredo, em Runa, em Marvila, na Quinta da Granja e na Qtª da Pederneira. O Penedo era então um importante povoado e no Casal Bucículos foi descoberta um necrópole . A vizinha Qtª da Portucheira era uma importante “vila” (exploração agrícola).
Por Runa passava então uma das mais importantes vias romanas da região que bifurcava em Dois Portos para Lisboa e para o Tejo, sendo esta a via comercial mais importante de Torres Vedras até ao século XIX.
No documento mais antigo onde se referem os lugares existentes no concelho de T. Vedras, datado de 1309, prova-se a existência, já então, de Runa, do Penedo, da Almagreira, de Tamugem, de Monte Rei, bem como das quintas de Casa Boa e de Cascavelos.
A velha ermida de Runa era administrada pela matriz de S. Pedro de Torres Vedras até meados do século XVI.
Segundo Madeira Torres , a antiga ermida de S. João Baptista foi elevada a curato em 10 de Agosto de 1523, embora só em 1553 exista uma Bula elevando-a à categoria de Paróquia .
O pároco era cura apresentado anualmente pelo prior de S. Pedro de Torres Vedras, até ao século XIX.
Do ponto de vista administrativo, desde o século XVI que Runa tinha Juíz de Vintena . A fundação da freguesia, tal como hoje é conhecida, resultou da implantação do liberalismo em 1833.
Duas outras obras marcaram fortemente a vida desta freguesia: a fundação do actual Centro de Apoio Social de Runa, inaugurado em 1827 como Hospital Real dos Inválidos Militares, obra iniciada em 1792, por iniciativa da Princesa Maria Francisca Benedita, filha de D. José e irmã de D. Maria I; e a inauguração da estação de caminho-de-ferro em 1887.

domingo, 14 de junho de 2009

14 de Junho de 1585 - É enforcado o falso "rei da Ericeira"

No dia 14 de Junho de 1585 conheceu triste fim o chamado “rei da Ericeira”. Conta Júlio Vieira que o “algoz cortou-lhe a mão direita e em seguida enforcou-o”.
Foi o culminar de uma rebelião popular que agitou a região em 1585, numa tentativa de depor a autoridade castelhana.
Aconteceu que um ermitão da Ericeira, Mateus Alvares, se fez passar por D. Sebastião, apoiado por um lavrador da zona, um tal Pedro Afonso, que conseguiu armar uma guerrinha de 800 homens da região da Ericeira e Torres Vedras.
Pedro Afonso tomou o nome de D. Pedro de Menezes, apelido dos condes da Ericeira, proclamando-se Conde de Torres Vedras.
Casou uma das suas filhas com o falso rei, sendo esta “nova rainha” coroada com uma coroa tirada de uma imagem da virgem, de uma ermida local.
O falso rei agraciou o seu sogro com o título de Marquês de Torres Vedras.
Quando o corregedor de Torres Vedras, a mando do governo de Lisboa, se deslocou à Ericeira para se inteirar dos acontecimentos, foi preso, juntamente com o seu escrivão, e ambos foram lançados ao mar.
Foram igualmente enforcadas muitas pessoas que desobedeceram ao falso rei.
Finalmente, o governo de Lisboa, enviando uma força bem armada, conseguiu prender o falso rei, que acabou condenado à forca.
Pedro Afonso conseguiu fugir, mas por pouco tempo, acabando igualmente enforcado.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

O Santo António na tradição torriense

As festas de Stº António têm longa tradição no concelho de Torres Vedras.
Ainda sou do tempo em que cada rua, bairro ou praceta da então vila de Torres Vedras rivalizavam entre si para apresentar as melhores decorações, apresentar o melhor baile, ou oferecer as melhores sardinhas e o melhor vinho da região.
Na Praceta Afonso Vilela, onde vivi a minha infância, todos os anos se formava uma comissão entre os moradores, que recortava o papel colorido para as bandeirinhas, com cola de farinha e água e rolos de cordel onde elas eram coladas e penduradas, entre candeeiros, árvores e varandas.
Íamos aos Cucos buscar folhas de palmeira para enfeitar o bar, abastecíamo-nos no Venceslau e recolhíamos madeira das obras para a fogueira.
Depois era arranjar uma boa aparelhagem e musica gravada ou em vinil e contar com a presença dos moradores e dos visitantes que percorriam as várias festas à procura das sardinhas, do vinho e de uma noite de diversão.
Hoje, na cidade de Torres Vedras, esta tradição, que tinha como festas de referência as que se realizavam na Rua Conde Tarouca, no “Bairro Salazar” ou no Castelo, resiste apenas no Largo de Stº António.
Mas onde a festa continua a manter o brilho de séculos é no Varatojo, onde a tradição “antonina” está muito arreigada, graças à presença secular dos frades do seu convento franciscano, dedicado ao Santo lisboeta.
Hoje à noite, no Varatojo, vai haver festa em grande, e amanhã, ao final da tarde, decorrerá a tradicional procissão, da qual recordamos algumas imagens, “tiradas” em 2007.
O foguetório, um dos mais prolongados da região, encerrará essa procissão.

Stº António - Procissão no Varatojo (2007)




Stº António - Procissão no Varatojo (2007)





Stº António - Procissão no Varatojo (2007)





Stº António - Procissão no Varatojo (2007)





quinta-feira, 11 de junho de 2009

No primeiro dia da pandemia - recordando a pnaumónica de 1918 no concelho de Torres Vedras

A “pneumónica” de 1918 no Concelho de Torres Vedras

Segundo Oliveira Marques[1] um dos motivos para a eclosão das grandes epidemias de 1918-1919, com destaque para a pneumónica, foi o “estado débil dos organismos entre as classes pobres”, as “mais afligidas pela escassez e penúrias dos géneros de primeira necessidade”.
A primeira vaga de epidemias registou-se entre Junho e Julho de 1918, entrando rapidamente em declínio e tendo um impacto pequeno. Mas uma segunda vaga iniciou-se nos arredores do Porto em Agosto, disseminando-se lentamente durante os meses seguintes, atingindo o sul e o seu clímax em Outubro, continuando a fazer sentir o seu efeito até Dezembro de 1919.
Em Torres Vedras a doença “começou a fazer-se sentir nos lugares situados ao norte do concelho”, propagando-se “assustadoramente” a todo o concelho, provocando “grande miséria” nos lugares “onde a epidemia tem feito mais estragos”, pelo que se aguardava “a vinda de algum açúcar, cuja falta é enorme”, ao que parece por ser necessário para o fabrico de remédios farmacêuticos. Foi igualmente criado um hospital provisório “para os doentes atacados de epidemia”.[2]
Neste concelho o período mais crítico decorreu entre 27 de Setembro e 31 de Outubro de 1918, obrigando ao encerramento de estabelecimentos e paralisando momentaneamente a vida política, social e económica de Torres Vedras.
Durante esse período morreram no país 31785 pessoas, sendo a região de Lisboa uma das mais atingidas. Em Torres Vedras morreram 861 pessoas, numa percentagem de 2,2% da sua população, tomando como referência os censos de 1911, percentagem ligeiramente inferior, 2,1%, se a base de referência for a população do concelho em 1916 segundo dados não oficiais.
Em termos nacionais e apenas em relação àquele período, a epidemia matou cerca de 0,6% da população nacional.
Torres Vedras registou assim uma mortalidade quase quatro vezes superior à média nacional.
O impacto da pneumónica não foi o mesmo em todas as freguesias do concelho.
Como é óbvio, a vila foi das mais afectadas pela propagação da doença e pelo seu efeito, contando 226 mortes, 2,73% da população das freguesias urbanas, situação que se ficou a dever, não só à facilidade de propagação num meio urbano, servido de transportes, com uma actividade comercial assinalável, mas também porque nele estavam centralizados os principais serviços de saúde (hospital, lares, etc.).
Outras três freguesias destacaram-se pela elevada mortalidade, quer em termos numéricos quer em termos percentuais:
- Ramalhal, com 67 mortos, 3,71% da sua população;
- Maxial, com 69 mortos, 2,62% da sua população;
- Dois Portos, com 82 mortos, 2,08% da sua população.
A freguesia de Ponte do Rol, embora tivesse contado com um reduzido número de óbitos, 26, mercê da sua reduzida base demográfica, obteve uma percentagem elevada, 2%.
Pelo contrário, a freguesia de S. Pedro da Cadeira, apesar de ter registado o maior número de falecimentos a seguir à vila, 91 mortos, registou uma percentagem baixa, devido á sua enorme base demográfica.
As freguesias que no concelho registaram a mais baixa percentagem de mortalidade foram as freguesias da Carvoeira (0,87%), Matacães (0,94%) e Ventosa (1,01%).
Não deixa de ser significativo o facto de três das quatro freguesias rurais onde existiam estações ferroviárias terem sido das mais atingidas (Ramalhal, Maxial – estação do Outeiro da Cabeça -, e Dois Portos).
A situação nestas três freguesias mereceu mesmo a atenção da imprensa nacional. Para o Ramalhal e o Maxial (designado “Ameixial”) a “Obra de Assistência 5 de Dezembro” enviou, em finais de Outubro, açúcar, arroz e medicamentos “para as famílias atacadas pela gripe pneumónica”.[3]
Referindo-se à situação em Dois Portos, podia ler-se que aí grassava a epidemia com “terrível intensidade”, morrendo muitos dos seus habitantes “sem assistência médica e à míngua de recursos de toda a natureza, pois que tudo falta, pão, arroz, açúcar, petróleo, medicamentos”.[4]
Quanto àquelas que registaram uma mortalidade mais baixa tinham em comum o facto de o consumo médio de trigo, por parte dos seus habitantes, ser sempre superior ao consumo de milho, rondando o consumo daquele cereal mais de 900 litros por habitante (995 litros na Ventosa, 1196 na Carvoeira e 1482 em Matacães).
Curiosamente e por contraste, as freguesias onde se registou uma maior percentagem de óbitos em relação à sua população eram as que apresentavam os níveis mais baixos de consumo de trigo por família, abaixo dos 800 litros (Ramalhal, 299 litros; Dois Portos, 713; Maxial, 728).
Os outros dois casos que referimos, Ponte do Rol e S. Pedro da Cadeira, estavam igualmente entre as freguesias que registavam menores níveis de consumo de trigo (S. Pedro da Cadeira com 321 litros e Ponte do Rol com 569 litros).

[1] MARQUES, A . H. de Oliveira Marques, História da 1ª República Portuguesa – As Estruturas de Base, Iniciativas Editoriais, [1978], Capítulo I – “A População”, pp. 1 a 48.
[2] O Século, 10 de Outubro de 1918.
[3] O Século, de 23 de Outubro de 1918.
[4] O Século, 30 de Outubro de 1918.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Torres Vedras nos Lusíadas


Neste Dia de Portugal e de Camões, recordamos a referência a Torres Vedras nos Lusíadas:


"Que cidade tão forte por ventura

Haverá que resista, se Lisboa

Não pôde resistir à força dura

Da gente, cuja fama tanto voa?

Já lhe obedece toda a Estremadura,

Óbidos, Alenquer, por onde soa

O tom das frescas águas, entre as pedras,

Que murmurando lava, e Torres Vedras."


Canto III

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Eleições Presidenciais de 8 de Junho de 1958 - dois documentos de T.Vedras


Comemorando-se hoje o 51º aniversário das eleições presidenciais disputadas por Humberto Delgado, nas quais foi eleito Américo Tomás, o último presidente do regime do Estado Novo, divulgamos aqui dois documentos históricos, relacionados com esse acontecimento.
Num, divulga-se a lista dos lugares em Torres Vedras onde os apoiantes locais podiam levantar as "listas eleitorais" (os votos) para votarem em Humberto Delgado.
Outro é transcrito do semanário "Voz de Torres Vedras", de 25 de Junho de 1958, divulgando os resultados locais dessa eleição.

É de registar de, apesar de todas as dificuldades com que se confrontou a candidatura de Humberto Delgados e das fraudes registadas, estes conseguiu vencer o candidato do regime numa das mesas do Maxial, obtendo igualmente bons resultados em Matacães, Monte Redondo, Ramalhal e na mesa de S. Pedro, na vila.
Os documentos podem ser visionados em tamanho maior, bastando clicar sobre eles.

Humberto Delgado em Torres Vedras - nas eleições

Junho de 1915 - Fundação da Caixa de Crédito Agrícola de Torres Vedras

Nesta vista geral de Torres Vedras, do início do Século XX, pode ver-se, à esquerda, o edifício que deu lugar à sede actual da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedras.


ORIGEM HISTÓRICA DA CAIXA DE CRÉDITO AGRÍCOLA MÚTUO DO CONCELHO DE TORRES VEDRAS


Comemorando-se hoje o 94º aniversário da criação da Caixa Agrícola de Torres Vedras, pelo que incluímos hoje este breve estudo sobre uma das mais importantes instituições criadas pela Primeira República e que, não só sobreviveu até hoje, como se mantém nos nossos dias com o dinamismo e a importância que caracterizou a sua criação nesse ano distante de 1915.
O nosso estudo incide exclusivamente sobre as origens e a fundação dessa instituição.

O primeiro apelo para a criação de uma Caixa de Crédito Agrícola no concelho de Torres Vedras surgiu nas páginas do semanário “Folha de Torres Vedras”, na sua edição de 23 de Abril de 1911, na sequência da divulgação do então recém publicado decreto de 1 de Março 1911, da autoria do ministro do Fomento Brito Camacho, que definia a criação do crédito agrícola em Portugal[1].
Foi só a partir de 1914 que se concretizaram as condições para a fundação de uma instituição desse tipo, ”uma das belas e utilíssimas instituições da República”[2].
Logo em Janeiro deste ano, num artigo de Tiago Sales publicado nas páginas da “Vinha...”, a propósito da proposta de criação de um sindicato agrícola em Torres Vedras, este defendia que, após a fundação de tal instituição devia seguir-se a organização de uma Caixa de Crédito Agrícola, como complemento daquele.[3]
Ainda no final desse mês aquele semanário transcrevia, na sua primeira página, um artigo, da autoria de J. M. d’ Assunção, que tinha sido publicado no diário republicano “A Lucta”, intitulado “Caixas de Crédito Agrícola Mutuo”, onde se divulgava e fazia a apologia de tais instituições, definindo-as como “associações de natureza e índole cooperativa, compostas só por agricultores, as entidades intermediárias de que o Estado se serve para mutuar á lavoura o milhão e quinhentos mil escudos que constitui o fundo especial de crédito agrícola criado pelo decreto de 1 de Março de 1911”.[4]
As primeiras convocatórias para a fundação do Sindicato Agrícola de Torres Vedras associaram desde logo a criação dessa instituição com a criação de uma Caixa de Crédito Agrícola de Torres Vedras, como se pode ler nas convocatórias publicadas nas páginas da “Vinha...” durante o ano de 1914 para a fundação e organização de tal sindicato.
Em Março a “Vinha...” publicava o projecto de estatutos da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedras, onde se definiam como objectivos:
“1.º Emprestar aos sócios, para fins exclusivamente agrícolas, os capitais de que necessitem e de que a instituição possa dispor.
“2.º Receber por empréstimo do Estado, dos sócios ou de terceiras pessoas, capitais que em operações de crédito agrícola possa empregar.
“3.º Receber dinheiro em depósito, a prazo ou à ordem, tanto dos associados como dos estranhos á associação, pagando-lhes os juros convencionados , mas nunca superiores a 4 por cento ao ano.”
Podiam ser sócios da Caixa de Crédito os agricultores de maior idade que directa “ou efectivamente explorem a terra a dentro da circunscrição da Caixa”, sócios do Sindicato Agrícola de Torres Vedras, “solventes, honestos e trabalhadores”, e que pagassem no acto de admissão a jóia de 500 réis.
Definiam-se ainda três classes de associados: sócios fundadores, sócios ordinários e sócios adjuntos. Eram fundadores os “sócios do Sindicato Agrícola de Torres Vedras, que subscrevam os presentes estatutos”, ordinários “os demais sócios do Sindicato Agrícola de Torres Vedras que adiram aos presentes estatutos”, adjuntos “aqueles que, embora não proprietários, explorem a terra como rendeiros, meeiros, etc.”.[5]
No dia 31 de Janeiro de 1915, na Assembleia Geral do Sindicato Agrícola, é avançada a hipótese de rapidamente se concretizar a fundação da Caixa Agrícola, em face de um ofício do Inspector da Junta de Crédito Agrícola que se oferecia para auxiliar o sindicato na organização da Caixa de Crédito Agrícola de Torres Vedras, sendo logo aí decidido dar poderes à direcção do sindicato “para obter todas as informações necessárias e diligencias tendo em vista tal objectivo”[6].
Em Abril, “A Vinha...” anunciava a iniciativa da direcção do Sindicato Agrícola de, ao longo desse mês, assentar na criação da Caixa de Crédito Agrícola, “outra instituição de vastíssimo alcance, que irá funcionar ao lado do Sindicato”[7].
Finalmente, em Junho de 1915, a “Vinha...” dava “a boa nova aos” seus leitores de ter sido “assinada no cartório do notário Teodoro da Cunha, a escritura da constituição da Caixa de Crédito Agrícola, que funcionará a par do Sindicato Agrícola de Torres Vedras, como complemento indispensável a esta útil forma associativa dos nossos agricultores”[8].
Na mesma escritura, efectuada a 8 de Junho, consignou-se a constituição dos corpos gerentes até ao final do ano corrente de 1915:
Direcção:
Filipe de Vilhena;
Artur Gouveia d’Almeida;
José Augusto Lopes Júnior.
Conselho Fiscal :
José Joaquim de Miranda;
David Simões;
Alberto Gomes Pedreira.
Foram testemunhas desse acto Fernando d’ Oliveira Mota, caseiro, e António Antão de Carvalho, comerciante, ambos moradores na vila.
Estiveram ainda presentes nesse acto, para além das personalidades acima referidas, Francisco Avelino Nunes de Carvalho, Henrique Maria Pedreira Vilela, João Germano Alves, Francisco Alberto de Bastos, Afonso Avelino Pedreira Vilela, Bernardino Soares d’ Almeida e António Marques Trindade [9].
O primeiro empréstimo efectuado pela Caixa Agrícola de Torres Vedras realizou-se no dia 10 de Dezembro de 1915, na importância de 800$00, data do início do funcionamento dessa instituição de crédito, “o qual foi iniciado com o cadastro social de 1:542$67 escudos”, tendo efectuado, até ao primeiro trimestre de 1916, 33 empréstimos.
O crescimento das actividades do Sindicato e da Caixa Agrícola levaram a “Vinha...” a alertar para a necessidade de se procurar uma sede compatível com esse crescimento. Inicialmente a sede do sindicato agrícola começou por funcionar no “pequeno escritório particular” de Júlio Vieira, cedido gratuitamente para esse fim. No início de 1916 a sede daquelas instituições funcionava numa casa arrendada, que não correspondia às necessidades do seu crescimento.
Por isso tornava-se urgente uma nova sede onde se instalasse o escritório do Sindicato, conjuntamente com o escritório da Caixa de Crédito Agrícola, “uma sede onde exista um gabinete para a direcção poder funcionar e onde haja uma sala para as reuniões da assembleia geral, ao mesmo tempo que nela se possa instalar um laboratório e Ter permanentemente uma exposição de alfaias agrícolas”.
Para obviar o inconveniente de Torres Vedras ser então uma terra “onde não se encontra facilmente uma casa para alugar”, propunha-se que se emitissem 400 títulos de dívida, no valor de “dez escudos cada um, vencendo o juro anual de 4,5% e amortizáveis também anualmente” para serem adquiridos por sócios do sindicato, a fim de se obter os 4 contos calculados como necessários para a edificação da sede “do Sindicato e Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedras”. Quanto ao lugar onde se devia construir a sede a “resposta é fácil, porque, enquanto não forem rasgadas as novas avenidas que a câmara municipal projecta, de acordo com a família Carvalho Martins, desde a Avenida 5 de Outubro até à Fonte Nova, um ponto só existe, onde essa nova construção ficará bem e embelezará o local (...) e que é no angulo ao princípio da Avenida 5 de Outubro, quase em frente do Hotel Natividade e a fazer esquina para a primeira Avenida que fica correndo ao poente do edifício escolar em construção”[10].
Em 1916 o Senado municipal, na sua reunião de 10 de Abril, uma segunda-feira, concedeu ao sindicato agrícola um terreno na Avenida 5 de Outubro para construir a sede do sindicato e da caixa[11].
A essa reunião compareceu uma comissão de vários “cavalheiros” , representando os corpos gerentes do Sindicato e da Caixa Agrícola, cabendo a Júlio Vieira a responsabilidade de apresentar, perante o Senado, os seguintes argumentos em defesa do referido projecto:
“As sabias leis do crédito agrícola promulgadas pela República, vieram contribuir soberanamente para o fomento do principal ramo da riqueza nacional – a agricultura- desenvolvendo e multiplicando nos últimos quatro anos os sindicatos agrícolas que estão irradiando de todos os pontos do país (...).
“À sombra protectora oficial, nasceram o Sindicato e a Caixa de Crédito Agrícola de Torres Vedras, instituições recentes que se estão desenvolvendo para benefício da agricultura do nosso concelho (...).
“É intuitivo que para acompanhar o desenvolvimento destas instituições de crédito e fomnto agrícola, se necessita alargar os meios da sua existência, e, entre eles, o que presentemente avulta como principal, é a construção de uma sede onde se possam activar todos os trabalhos necessários ao bom andamento e progresso destes dois ramos de fomento da riqueza pública.
“Esta sede, que deverá abranger as instalações próprias para o movimento desta natureza, compreenderá também salas para exposições de alfaias agrícolas permanentes, e para igualmente se efectuarem as tão interessantes e educativas exposições regionais agrícolas, incluindo laboratórios e pequeno campo experimental para determinados ensaios.
“Dado o belo e grandioso projecto desta câmara municipal, em rasgar as ruas e avenidas no campo de S. João, para o necessário alargamento da vila, nenhum outro local como esse se presta para a construção da sede do Sindicato e Caixa de Crédito Agrícola de Torres Vedras, o qual virá ainda em auxílio da estética e embelezamento da Avenida Cinco de Outubro, e da rua lateral, lado nascente do edifício escolar em construção.
“Posto isto (...) vêem os corpos gerentes do Sindicato e Caixa de Crédito Agrícola de Torres Vedras, solicitar do digno Senado da Câmara Municipal deste concelho, a cedência gratuita do terreno necessário para a construção da referida sede”.
Após a leitura do documento, Júlio Vieira apresentou aos senadores “uma planta do terreno de que se compõe toda a Alameda de S. João, com frente para a Avenida [ 5 de Outubro] , com o esboço da nova Avenida e ruas projectadas, trabalho levado a efeito e a seu pedido, pelo nosso amigo e inteligente artista, sr. Francisco Maria Peres”.
Por unanimidade, aprovaram os senadores presentes “a cedência do terreno ao lado do edifício escolar”. Este referido “edifício escolar” é aquele onde durante anos funcionaram várias escolas de Torres Vedras e onde actualmente estão instalados a Câmara e a Biblioteca Municipais.
O terreno foi cedido gratuitamente na “quantidade mínima de 30 metros de frente e 60 metros de fundo”.
Registe-se, a título de curiosidade, os nomes dos senadores presentes nessa sessão e que aprovaram essa decisão:
Francisco Avelino Nunes de Carvalho; Germano C. de Araújo; Álvaro Lafaia; David Simões; Francisco Firmino; Januário da Silva Lucas; João Anastácio de Oliveira; João Baptista Carneiro Canha; João de Carvalho Ribeiro; Joaquim da Silva; José Bento Garcia; Justino Alves de Almeida; Miguel José Afonso; Romão da Costa Lopes; Venceslau dos Santos[12].
Contudo, em Dezembro desse ano, ainda aquelas instituições não se tinham instalado na Avenida 5 de Outubro, mudando-se para a rua Tenente Valadim, “no prédio onde esteve instalado ultimamente o quartel general”. Nesse prédio passou a funcionar a sede do Sindicato, a Caixa de Crédito Agrícola e a sede da Federação do Sindicato Agrícola Leiria-Lisboa [13].

Breve resenha biográfica das figuras torriense que contribuíram para a fundação da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedras

Procuramos apenas registar alguns pequenos dados biográficos sobre personalidades que, de algum modo, estiveram na origem e fundação da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedras.
Não se procurou construir uma biografia exaustiva. Apenas reunimos algumas informações sobre a sua profissão, morada, idade provável, posição e cargos políticos e funções exercidas no sindicato e na caixa agrícola por volta de 1915.
Algumas das personalidades aqui registadas vieram a exercer em anos posteriores importantes funções associativas, políticas, culturais e/ou profissionais. Com raras excepções, aqui apenas registámos o que de mais importante fizeram até ao início do funcionamento da Caixa Agrícola.
O critério para a elaboração desta lista teve por base a sua participação como associados e/ou em orgãos de gestão nos primeiros tempos do Sindicato e da Caixa Agrícola, ou na tomada de posições públicas sobre a organização destas instituições.

· Dr. Afonso Avelino Pedreira Vilela - Médico de Torres Vedras. Tinha 28 anos em 1915[14]. Foi o primeiro presidente da Assembleia Geral do Sindicato Agrícola. Nesse cargo foi reconduzido para a segunda direcção que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito de T. Vedras. Foi o sócio fundador nº9 da Caixa Agrícola.

· Alberto Gomes Pedreira – Proprietário da Quinta do Infesto, no Turcifal. Tinha 28 anos. Foi escolhido, em 1915, para o concelho fiscal da primeira direcção da Caixa Agrícola de Torres Vedras, da qual foi sócio fundador nº10.

· Albino Duarte Vieira – Fazendeiro do Casal das Quartans, junto à saída sul de Torres Vedras. Tinha 35 anos. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras.

· António Ferreira Nunes - Proprietário de Matacães, de 50 anos. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras.

· António Germano Pedreira Vilela – Proprietário do Infesto, Turcifal, de 34 anos. Monárquico. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras.

· António Inácio Pereira – Proprietário da Ordasqueira, Matacães, de 46 anos. Monárquico. Sócio fundador do Sindicato Agrícola de T. Vedras. Foi um dos primeiros sete proprietários a aderir publicamente à criação do Sindicato Agrícola de Torres Vedras. Foi eleito como suplente do conselho fiscal nos primeiros corpos gerentes eleitos do sindicato. Tornou-se membro efectivo do conselho fiscal na segunda direcção eleita do Sindicato Agrícola e que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito Agrícola de T. Vedras.

· António Marques Trindade – Comerciante de Torres Vedras, de 51 anos. Republicano. Pertencia ao Partido Evolucionista. Foi vereador da Câmara durante a efémera comissão municipal imposta pelo governo de Pimenta de Castro. Foi o sócio fundador nº14 da Caixa de Crédito Agrícola de Torres Vedras.

· António Romão - Do Paúl. Sócio fundador do Sindicato Agrícola de T. Vedras.

· António dos Santos Sala – Proprietário da Freixofeira, Turcifal, de 59 anos. Ex-militante do Partido Republicano Português tinha sido membro da comissão administrativa da Câmara Municipal imposta pelo governo de Pimenta de Castro e afastada após a Revolução de 14 de Maio de 1915. Foi eleito como suplente do conselho fiscal na segunda direcção eleita do Sindicato Agrícola e que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito Agrícola de T. Vedras.

· Artur Gouveia d’ Almeida – Lojista e proprietário de Torres Vedras, de 36 anos. Republicano. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras. Foi eleito secretário da Assembleia-Geral dos primeiros corpos gerentes do Sindicato Agrícola. Foi escolhido, em 1915, para a primeira direcção desta Caixa Agrícola, da qual foi o sócio fundador nº6 .

· Augusto Maria Franco - Proprietário da Ponte do Rol, de 35 anos. Republicano do Partido Evolucionista. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras. Foi eleito como suplente do conselho fiscal nos primeiros corpos gerentes eleitos do sindicato, cargo que manteve na segunda direcção eleita do Sindicato Agrícola e que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito Agrícola de T. Vedras.

· Dr. Aurélio Ricardo Belo – Médico militar do Maxial, de 40 anos. Militante do Partido Republicano Português. Primeiro secretário do Senado Municipal entre 1914 e 1917. Foi administrador do concelho em Maio de 1915, nomeado pelos revolucionários do 14 de Maio. Foi o último administrador do concelho do regime republicano. Tornar-se-ia famoso pelos seus estudos arqueológicos sobre a região. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras.

· Bernardino Soares d’Almeida – Lojista e proprietário de Torres Vedras, de 62 anos. Ex-monárquico, era membro do Partido Evolucionista em 1915. Foi eleito como membro substituto da primeira direcção do Sindicato Agrícola de Torres Vedras. Foi o sócio fundador nº12 da Caixa Agrícola de Torres Vedras.

· David Simões – Farmacêutico e proprietário de Torres Vedras, de 63 anos. Histórico do Partido Republicano Português. Foi o primeiro administrador do concelho após a proclamação da República. Era presidente eleito da Câmara Municipal desde 1914, cargo que exerceu até 1917. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras. Foi eleito vice-presidente da Assembleia –Geral dos primeiros corpos gerentes eleitos do Sindicato Agrícola. Foi escolhido, em 1915, para o concelho fiscal da primeira direcção da Caixa Agrícola de Torres Vedras, da qual foi sócio fundador nº11 .

· Filipe de Vilhena – Proprietário da Quinta do Calvel, de 37 anos. Militava no Partido Republicano Português. Foi administrador do concelho em 1911. Sócio fundador do Sindicato Agrícola de T. Vedras. Foi um dos primeiros sete proprietários a aderir publicamente à criação do Sindicato Agrícola de Torres Vedras. Foi nomeado de entre e pelos sócios fundadores desse Sindicato para a comissão de três lavradores responsável por preparar a legalização e a fundação dessa instituição. Foi eleito como vice-presidente da Assembleia Geral da segunda direcção eleita do Sindicato Agrícola e que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito Agrícola de T. Vedras. Foi escolhido, em 1915, para a primeira direcção desta Caixa Agrícola, sendo o seu sócio fundador nº4.

· Fernando de Carvalhosa – viticultor da Ordasqueira, Matacães, de 26 anos. Monárquico. Sócio fundador do Sindicato Agrícola de T. Vedras. Foi um dos primeiros sete proprietários a aderir publicamente à criação do Sindicato Agrícola de Torres Vedras. Foi eleito como efectivo do conselho fiscal nos primeiros corpos gerentes eleitos do sindicato.

· Francisco Alberto de Bastos - Proprietário de Torres Vedras, de 39 anos. Monárquico. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras. Foi nomeado para a comissão de três lavradores responsável por preparar a legalização e a fundação dessa instituição. Foi eleito como membro efectivo da primeira direcção do sindicato. Foi eleito como membro efectivo do conselho fiscal na segunda direcção eleita do Sindicato Agrícola e que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito Agrícola de T. Vedras. Foi o sócio fundador nº8 da Caixa Agrícola.

· Francisco Avelino Nunes de Carvalho – Proprietário de Torres Vedras, de 60 anos. Ex-monárquico, membro do Partido Republicano Português. Presidente do Senado Municipal. Era um dos 4 maiores contribuintes do concelho de Torres Vedras. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras. Foi nomeado para presidir à comissão de três lavradores responsável por preparar a legalização e a fundação dessa instituição. Foi eleito como membro efectivo da primeira direcção do sindicato e como presidente da segunda direcção eleita do Sindicato Agrícola e que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito Agrícola de T. Vedras. Foi o sócio fundador nº1 da Caixa Agrícola.

· Francisco dos Santos Bernardes - Proprietário de Torres Vedras, com 67 anos. Monárquico. Era um dos 10 maiores contribuintes do concelho. Foi eleito como suplente da segunda direcção eleita do Sindicato Agrícola e que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito Agrícola de T. Vedras.

· Francisco Inácio – Proprietário de Matacães, de 48 anos. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras.

· Henrique Maria Pedreira Vilela – Proprietário do Turcifal, de 29 anos. Monárquico. Foi eleito como membro substituto da primeira direcção do Sindicato Agrícola de Torres Vedras. Foi eleito como tesoureiro da segunda direcção eleita do Sindicato Agrícola e que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito Agrícola de T. Vedras. Foi o sócio fundador nº3 da Caixa Agrícola.

· Dr. Hermínio Duarte Ferreira – Médico e proprietário de Dois Portos, com 59 anos. Monárquico. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras.

· Honorato de Lima Lopes – Proprietário de Torres Vedras, de 34 anos. Republicano histórico, militando em 1915 no Partido Evolucionista. Sócio fundador do Sindicato Agrícola de T. Vedras . Foi um dos primeiros sete proprietários a aderir publicamente à criação do Sindicato Agrícola de Torres Vedras.

· Januário da Silva Lucas – Comerciante da Freiria, de 43 anos. Membro do Partido Republicano Português. Vereador do executivo camarário. Sócio fundador do Sindicato Agrícola de T. Vedras.

· João Cândido Franco – Fazendeiro do Ramalhal, de 50 anos. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras.

· João Ferreira Guimarães Júnior - “Guarda-livros” , negociante e comerciante de Torres Vedras, de 62 anos. Ex-monárquico, aderiu à República, militando então no Partido Evolucionista. Foi efémero Presidente da Câmara durante a ditadura de Pimenta de Castro, nos primeiros meses de1915.Voltou a exercer as funções de vereador durante a ditadura de Sidónio Pais. Foi eleito como suplente da segunda direcção eleita do Sindicato Agrícola e que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito Agrícola de T. Vedras.

· João Germano Alves - Comerciante de Torres Vedras, de 33 anos. Foi eleito como suplente da segunda direcção eleita do Sindicato Agrícola e que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito Agrícola de T. Vedras. Foi o sócio fundador nº7 da Caixa Agrícola.

· João Nicolau dos Santos Júnior – Proprietário de Moçafaneira, S. Mamede da Ventosa, de 27 anos. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras.

· Joaquim da Costa Melícias – Proprietário do Casal dos Palheiros, de 42 anos. Monárquico. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras. Foi eleito como suplente do conselho fiscal nos primeiros corpos gerentes eleitos do sindicato, cargo que manteve na segunda direcção eleita do Sindicato Agrícola e que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito Agrícola de T. Vedras.

· Joaquim Jerónimo Rosa – Proprietário de Torres Vedras, republicano, de 57 anos. Foi um dos primeiros sete proprietários a aderir publicamente à criação do Sindicato Agrícola de Torres Vedras. Foi eleito como efectivo do conselho fiscal nos primeiros corpos gerentes eleitos do sindicato.

· Joaquim Maria Franco Sobrinho – Proprietário do Ramalhal, de 47 anos. Republicano. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras.

· Joaquim Rodrigues Quitério – Lojista da Freiria, de 42 anos. Republicano histórico. Sócio fundador do Sindicato Agrícola de T. Vedras.

· José Agostinho Alves Ginja – Proprietário da Ribaldeira, de 52 anos. Monárquico. Sócio fundador do Sindicato Agrícola de T. Vedras.

· José Antunes Martins – Proprietário do Ramalhal, de 37 anos. Sócio fundador do Sindicato Agrícola de T. Vedras. Foi eleito como efectivo do conselho fiscal nos primeiros corpos gerentes eleitos do sindicato, cargo que manteve na segunda direcção eleita do Sindicato Agrícola e que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito Agrícola de T. Vedras.

· José Augusto Lopes Júnior - Proprietário de Torres Vedras, de 26 anos. Foi escolhido, em 1915, para a primeira direcção da Caixa Agrícola de Torres Vedras da qual foi sócio fundador nº13 .

· José Joaquim de Miranda – Proprietário de Torres Vedras, de 45 anos. Sócio fundador do Sindicato Agrícola de T. Vedras. Foi um dos primeiros sete proprietários a aderir publicamente à criação do Sindicato Agrícola de Torres Vedras. Foi eleito como membro substituto da primeira direcção do sindicato. Foi eleito primeiro secretário da Assembleia Geral da segunda direcção eleita do Sindicato Agrícola e que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito Agrícola de T. Vedras. Foi escolhido, em 1915, para o concelho fiscal da primeira direcção desta Caixa Agrícola, instituição da qual foi o sócio fundador nº5 .

· José Manuel de Carvalho Roxo – Funcionário da Câmara de Torres Vedras, de 51 anos. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras. Foi eleito para secretário da Assembleia Geral na primeira direcção eleita do sindicato. Foi eleito como segundo secretário da Assembleia Geral da Segunda direcção eleita do Sindicato Agrícola e que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito Agrícola de T. Vedras.

· Júlio do Nascimento Vieira – Proprietário e comerciante de Torres Vedras, de 38 anos. Republicano histórico, não estando então ligado a qualquer partido político. Dirigia desde 1913 o jornal “A Vinha de Torres Vedras”, após a fusão deste com a “Folha de Torres Vedras”, histórico jornal republicano dirigido por Júlio Vieira desde 1907. “A Vinha...” foi o principal orgão de propaganda e divulgação das actividades do sindicato e da caixa agrícola de Torres Vedras. Ficou conhecido pelos seus trabalhos de investigação histórica. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras. Foi eleito como membro efectivo da primeira direcção do sindicato e como secretário da segunda direcção eleita do Sindicato Agrícola e que foi a responsável pela fundação da Caixa de Crédito Agrícola de T. Vedras. Foi o sócio fundador nº2 da Caixa Agrícola.

· Dr. Justino Xavier da Silva Freire – Médico de Torres Vedras, de 69 anos. Monárquico. Era um dos 40 maiores contribuintes do concelho. Não sendo sócio fundador, foi um dos primeiros a associar-se no Sindicato Agrícola de Torres Vedras.

· Miguel José Afonso - Proprietário de Abadia, Matacães, de 68 anos. Membro do PRP. Vereador do executivo municipal. Sócio fundador do Sindicato Agrícola de T. Vedras.

· Tiago César Moreira Salles – Médico e proprietário da Lourinhã. Republicano histórico, foi eleito deputado às constituintes de 1911 pelo círculo de Torres Vedras. Fundador do Sindicato Agrícola da Lourinhã, foi o primeiro a sugerir, em artigo de opinião publicado no jornal “A Vinha de Torres Vedras”, logo em Janeiro de 1914, a fundação de um sindicato agrícola em Torres Vedras e da respectiva Caixa de Crédito Agrícola.

· Valério da Costa – Proprietário de Dois Portos, de 54 anos. Republicano histórico. Sócio fundador do Sindicato Agrícola de T. Vedras.

· Vasco de Moura Borges – Proprietário da Quinta de Paio Correia, freguesia de A-Dos-Cunhados, de 37 anos . Sócio fundador do Sindicato Agrícola de T. Vedras .Foi um dos primeiros sete proprietários a aderir publicamente à criação do Sindicato Agrícola de Torres Vedras.

Conclusão

Limitou-se este trabalho a traçar, de forma genérica, a conjuntura e os primeiros passos de uma instituição que soube atravessar as vicissitudes de um século marcado por grandes convulsões históricas, políticas, culturais, sociais e económicas.
Torna-se agora necessário procurar alargar esse estudo à forma como esta instituição evoluiu num tão longo período histórico e como se soube adaptar às mudanças, que foram acentuadamente dramáticas num sector que esteve na sua raiz, o sector agrícola.
Talvez o segredo tenha residido na forma como Caixa Agrícola se soube integrar no tecido local e regional, sendo essa ligação e proximidade uma das originalidades dessa instituições financeira.
Esperamos com este trabalho abrir as portas a futuros trabalhos de investigação sobre a evolução e o impacto na região de uma tão original instituição.

(excertos de um estudo, mais vasto, publicado em Abril de 2005, a pedido da administração daquele banco e publicado no relatório e contas desse ano)

[1] Diário do Governo nº 49 de 2 de Março de 1911, pp.890 a 894.
[2] “A Vinha de Torres Vedras”, 20 de Abril de 1916.
[3] “A Vinha de Torres Vedras”, 15 de Janeiro de 1914.
[4] “A Vinha de Torres Vedras”, 29 de Janeiro de 1914.
[5] “A Vinha de Torres Vedras”, 5 de Março de 1914.
[6] Resenha Histórica [da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedras], organizada pelo Dr. Jacinto Leandro [2004].
[7] “A Vinha de Torres Vedras”, 1 de Abril de 1915.
[8] “A Vinha de Torres Vedras”, 17 de Junho de 1915.
[9] Título de constituição da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedras, cartório do escrivão-notário Teodoro da Cunha de Torres Vedras, 8 de Junho de 1915.
[10] “A Vinha de Torres Vedras”, 17 de Fevereiro de 1916.
[11] Relatório da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedras in “A Vinha de Torres Vedras”, 13 de Julho de 1916.
[12] “A Vinha de Torres Vedras”, 13 de Abril de 1916.
[13] “A Vinha de Torres Vedras”, 7 de Dezembro de 1916.
[14] As idades referidas, daqui para a frente, repostam-se à situação em 1915, ano da fundação da Caixa de Crédito de Torres Vedras, e o seu cálculo tem por base os dados dos cadernos eleitorais da época, existentes no Arquivo Histórico Municipal de Torres Vedras , podendo haver um desvio de, pouco mais ou menos, um ano.