quinta-feira, 25 de junho de 2009

Feira de S.Pedro,uma feira com história

Data de 20 de Março de 1293, do reinado de D. Dinis, a doação da primeira carta de feira conhecida no concelho de Torres Vedras.
Foi a mais antiga doada no actual distrito de Lisboa. Era anual, realizando-se entre os dias 1 de Maio e 1 de Junho, sendo a de maior duração a sul de Santarém.
Foi ainda nesse reinado que se doou a T. Vedras uma nova carta de feira, datada de 28 de Abril de 1318, alterando, entre outras coisas, a data de realização daquela para os 30 dias que iam de 1 de Junho a 1 de Julho. [1]
Em nenhum desses dois documentos se refere a designação da feira, conhecida apenas pelo nome da localidade torriense. Contudo parece residir nesta segunda carta a criação da que é hoje conhecida como Feira de S. Pedro, pois a sua realização coincide com o dia de S. Pedro.
O período de realização desta feira manteve-se durante todo o século XIV e no século seguinte, conforme o comprovou o estudo de Ana Maria Rodrigues[2].
A primeira designação de uma feira de S. Pedro neste concelho data de 1456[3], mas parece referir-se á feira de Dois Portos, de acordo com a opinião daquela mesma autora[4].
A atribuição do nome de S. Pedro à feira da vila de Torres Vedras só se terá concretizado em 1521, quando D. Manuel, por carta de 16 de Agosto “ a requerimento dos Juízes e oficiais da Vila de Torres Vedras” ordenou que se fizesse “na dita Vila a feira” que todos os anos se fazia no seu termo, na Igreja de S. Pedro de Dois Portos “por seu dia”[5].
Esse pedido parece revelar alguma decadência da feira criada por D. Dinis, daí tanta preocupação em acabar com a concorrência daquela que tinha lugar em Dois Portos, situação que está na origem da designação da feira de Torres Vedras como Feira de S. Pedro.
Entramos então num período em que pouco se sabe sobre esta feira. Provavelmente acompanhou a decadência geral da economia do país entre os finais do século XVI e o início do século XVII.
A 6 de Abril de 1792, numa carta enviada a D.ª Maria I, o juiz de fora e os oficiais do município torriense, queixavam-se da decadência em que havia caído a feira de S. Pedro, solicitando que a sua realização se prolongasse por mais dois dias, de 29 de Junho a 1 de Julho, sugestão aceite pela soberana por provisão de 24 de Maio de 1792[6].
Contudo, pelo menos no final do século XIX, aquela feira continuava a realizar-se num único dia, situação que se manteve até 1912, data a partir da qual passou a efectuar-se, de forma contínua, durante três dias.
No início do século XIX, o local de realização da feira era junto à capela de Nª Snrª do Amial.
Após 1834 a sua localização foi mudada par o arvoredo junto à “fonte do Jardim”, lugar também conhecido por Varzea do Jardim, próxima do local do actual choupal[7].
Ainda nesse século, numa data não conhecida, algures entre 1869 e 1885, mudou-se para o local onde se manteria durante mais de um século, para a chamada alameda da Porta da Várzea.
A feira de S. Pedro atravessou quase todo o século XX sem grandes alterações..
Foi preciso aguardar pelo 25 de Abril para que ela iniciasse um caminho de radical transformação: de uma feira provinciana e caracteristicamente medieval, para a feira moderna e dinâmica dos nossos dias.
Numa reunião da Comissão Administrativa da Câmara , realizada a 16 de Julho de 1974, o vereador João Carlos propôs a formação de uma comissão que preparasse e planificasse uma proposta para transformar a tradicional feira de S. Pedro numa feira mais dinâmica e moderna, capaz de projectar a realidade económica da região. A proposta foi aprovada por unanimidade, formando-se uma comissão que desde logo começou a preparar a feira de 1975, a primeira de uma nova era.
Uma das novidades desta “nova” feira foi o alargamento do número de dias do certame, passando, dos tradicionais três dias, par nove dias, média que desde então se tem mantido até hoje. Foram construídos pavilhões temáticos e elaborou-se uma vasta programação cultural, desportiva e recreativa.
A partir de 1985 a feira conheceu um novo salto qualitativo, com o rejuvenescimento da comissão organizadora, dirigida agora pelo vereador António Carneiro, sendo então criada uma nova estrutura operacional, os “Serviço de Cultura e Turismo”, constituindo-se uma equipa permanente e polivalente de trabalhadores, nas áreas administrativa e operária, permitindo a realização, a partir de então, de um trabalho em continuidade.
A feira conheceu desde então um novo salto qualitativo, começando a falar-se da necessidade de se redefinir o espaço da sua realização.
Finalmente, na edição de 1999, a Feira de S. Pedro abre no então recém criado Parque Regional de Exposições, o seu espaço actual, numa área de 40 000 m2, onde foi implantada uma nave de exposições herdada da Expo 98 de Lisboa, e, poucos anos depois, um novo pavilhão multiusos. No inicio do século XXI a promoção e organização deste evento passou para a responsabilidade da empresa municipal Promotorres.
Nas palavras do actual presidente da Câmara, criaram-se “condições de qualidade para os expositores”, mantendo-se o lado lúdico e popular desta centenária feira[8].

[Para um conhecimento mais aprofundado do tema aconselha-se a consulta de: ROSA, António da Silva (coord.), Feiras do Concelho de Torres Vedras, 1989, Biblioteca Municipal; MATOS, Venerando Aspra de Feira de S. Pedro – 700 anos de História, ed. C.M.T.V., 1993.]


[1] RAU, Virgínia, Feiras Medievais Portuguesas – subsídios para o seu estudo, Lx., Ed. Presença,1982.
[2] RODRIGUES, Ana Maria, Torres Vedras – A vila e o termo nos finais da Idade Média, Braga, ed. Universidade do Minho, 1992.
[3] SOUSA, J. M. Cordeiro de, Fontes Medievais de História Torreana, T. Vedras, Ed. Câmara Municipal de Torres Vedras, 1957.
[4] RODRIGUES (1992), p.246.
[5] SOUSA (1957),p.166.
[6] VIEIRA, Júlio, Torres Vedras Antiga e Moderna, T. Vedras 1926, p.213.
[7] ANOTADORES, op.cit.
[8] MIGUEL, Dr. Carlos, “Feira de S. Pedro: uma feira para miúdos e graúdos”, in boletim Feira de S. Pedro 07, 2007.

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