quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Documentos Para a História de Torres Vedras - Cadeira de braçoa do Varatojo


Apresentamos hoje o documento/relatório publicado pelo Museu de Arte Antiga de Lisboa
 sobre a célebre "Cadeira de Braços" que pertenceu ao Convento do Varatojo, e que se encontra actualmente nas instalações desse museu:


"CADEIRA DE BRAÇOS

Cadeira de braços (Estadela)
Portugal, 2ª metade do séculoXV
Carvalho
A 180 x L 68 x P 52,5 cm

Convento do Varatojo, 1913
MNAA inv. 51 Mov

Piso 1, sala 36
__________

"Cadeira de estado, ou estadela, que terá sido usada por D. Afonso V (1438-81) quando se recolhia no Convento do Varatojo que fundou em 1470.
É uma peça de grande raridade, não só por ser sobrevivente de uma época em que os móveis eram escassos, como pela carga simbólica que a sua proveniência comporta.
A rigidez ortogonal da construção é compensada pela delicadeza da decoração entalhada, que estruturada no arco ogival remete para a arquitectura gótica.
Este tipo de móvel de assento é, ainda, frequentemente revestido de ricos têxteis, por vezes formando dossel, reforçando pela cor e brilho do ouro o seu aparato e distinção".
_________

"Esta cadeira, proveniente do convento franciscano de Santo António do Varatojo (Torres Vedras), fundado em 1470 pelo rei D. Afonso V (1438-1481), constitui-se como um dos mais antigos espécimes de mobiliário nacional.
Vários testemunhos associam este móvel ao monarca português. De facto, nos textos dos cronistas da Ordem, a alusão à existência no convento da cadeira de D. Afonso V é recorrente e a sua conservação por sucessivas gerações de frades deverá ser entendida como preservação da fundação régia do convento, pois mais do que um simples objecto pessoal, a “cadeira de estado” revestia-se de uma forte carga simbólica associada ao poder real.
A análise estilística e formal do exemplar permite enquadrar a execução deste móvel de assento na produção europeia do final do século XV. Uma observação atenta de peças congéneres e, sobretudo, a análise de testemunhos visuais de interiores norte europeus que nos são dados quer pela pintura, quer pela iluminura de produção francesa e flamenga, permite constatar estarmos perante um modelo em tudo semelhante. Assim, há que questionar a sua eventual produção em território nacional, eventualmente por artífices estrangeiros, ou a sua produção além-Pirinéus, o que só poderá vir a ser comprovado por documentos.
Diversos desenhos e fotografias antigos da cadeira permitem recuperar as diversas intervenções de restauro do móvel desde a época em que ainda se conservava no convento até à intervenção levada a cabo pelo Conselho de Arte e Arqueologia, antes da sua definitiva incorporação no Museu Nacional de Arte Antiga, em 1913. Em 1977, nova intervenção rectificou esse restauro, eliminando o que então lhe fora acrescentado de acordo com um critério revivalista, responsável pela introdução de elementos não originais".

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A "Praça"




Inaugurado em 1931, o mercado municipal foi reportório de recordações de várias gerações de torrienses.
Deitado recentemente abaixo esse edifício, no seu lugar vai nascer um novo e moderno edifício para abrigar o novo mercado, prevendo-se a inauguração do seu estacionamento para o próximo dia 27.
Entretanto, e segundo a notícia do "Badaladas" abaixo transcrito, a vida do antigo mercado pode voltar a ser recordada, apartir de hoje à noite, numa exposição da Cooperativa de Comunicação e Cultura:

"Exposição sobre “A Praça”


"A propósito do Mercado Municipal, vulgarmente conhecido como Praça, Badaladas pôde apurar que a partir de hoje, dia 20, e até ao próximo dia 2 de Janeiro vai estar patente, na Galeria Municipal de Torres Vedras (piso 0), na Galeria Dois Paços e nas instalações da Cooperativa de Comunicação e Cultura e da associação Transforma uma exposição colectiva de fotografia intitulada “A Praça”. A mostra tem a sua génese num convite formulado pela Cooperativa de Comunicação e Cultura a um grupo de fotógrafos para que estes registassem momentos, rotinas, gentes e espaços do antigo Mercado Municipal de Torres Vedras, que já foi demolido.
Desse trabalho surgiram imagens de singular valor documental e artístico que serão apresentadas da cidade poucos meses antes da abertura do novo Mercado Municipal, que está a ser construído no espaço do antigo.
Os fotógrafos que participam na mostra são: Ana Bastos, Aguinaldo Vera Cruz, Maria João Arcanjo, Luís Farrolas, Jorge Carocinho, Nuno Moura, João Paulo Barrinha, Fernando Correia, Rita Mourão, Manuel Luís Cochofel, Nanã Sousa Dias, Ricardo Barata Salgueiro, Venerando Matos e Rodrigo Ferreira.
A inauguração da exposição “A Praça” está marcada para as 21h30".

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Ainda o Terramoto de 1755 e os seus efeitos em Torres Vedras



(Fonte não identificada)

O meu amigo João Flores Cunha enviou-me recentemente um interessantíssimo documento sobre os efeitos do Terramoto de 1755 em Torres Vedras.

Trata-se de uma informação por ele recolhida do livro de registo de óbitos nº 2 da Paróquia de Santa Maria do Castelo, de Torres Vedras, e que ele me autorizou a divulgar.
Nele pode ler-se:

"Ao primeiro dia do mês de Novembro de 1755 faleceu nesta vila e freguesia na rua da Cruz um menino por nome Manuel filho de Francisco Moreira e de sua mulher Maria Teresa, o qual faleceu no terramoto grande, que neste dia houve e por eleição de seu pai a quem competia eleger-lhe sepultura, por esta igreja ficar ameaçando ruína foi sepultado no cemitério da Misericórdia desta vila. De que fiz este assento por comissão ut supra.
o padre António Ribeiro".

Esta é a primeira confirmação da existência de mortos em Torres Vedras, já que nas memórias paroquiais de 1758 o não referiam.
Desejamos ao João Flores da Cunha um bom trabalho, que sabemos estar a fazer, de forma quase anónima, recolhendo informações em fontes primárias referentes a Torres Vedras, muitas delas inéditas.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Comemorações do Bicentenário (Notícia do Público)


(Fotografia – Luís Balteiro –Vestígios de uma velha estrada militars -  Público)


"Bicentenário das Linhas de Torres começa a ser celebrado em Sobral de Monte Agraço

In Público de 16.11.2009 - Por Jorge Talixa

"As comemorações oficiais do bicentenário das Linhas de Torres, estrutura defensiva constituída por 177 fortes e redutos que impediu as tropas francesas de Napoleão Bonaparte de invadirem Lisboa em 1811, arrancam, na próxima quinta-feira, em Sobral de Monte Agraço. As cerimónias, que serão presididas pelo presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, incluem uma sessão evocativa do início da construção das Linhas de Torres, uma conferência sobre a importância desta estrutura defensiva e a apresentação do programa da Plataforma Intermunicipal das Linhas de Torres.

"Liderado pelo marechal inglês Wellington, quando já se desenhava uma nova invasão francesa do território português, o processo de construção das Linhas de Torres iniciou-se em Novembro de 1809 e ficou concluído cerca de 10 meses depois. Erguida em "segredo", esta rede de fortes, redutos e baterias estendia-se por duas linhas principais compreendidas entre a zona do Tejo (Alhandra) e a costa atlântica e incluía duas linhas mais pequenas nas zonas de Oeiras e Almada. "Estrategicamente localizadas no alto das colinas, reforçando os obstáculos naturais do terreno", estas fortificações "controlavam os acessos principais para a capital" e as Linhas de Torres são referidas por muitos especialistas como "um dos mais eficientes sistemas de fortificação no campo da história militar".

"Certo é que, logo em 1811, as Linhas de Torres tiveram um papel decisivo. Contando com o empenho das populações - que sacrificaram os seus bens para que o exército napoleónico não tivesse condições para se fixar - e com o desconhecimento pelos franceses da existência desta barreira defensiva, as tropas anglo-portuguesas conseguiram travar a sua progressão e obrigaram o invasor a retroceder.

"As cerimónias de quinta-feira são organizadas pela PILT e pelo Exército português e realizam-se num pequeno município do coração do distrito de Lisboa onde se situam importantes vestígios das Linhas de Torres, como o forte de Alqueidão e a quinta onde Wellington estabeleceu o seu quartel-general. Incluem uma recepção com guarda de honra a Jaime Gama na Praça do Município, uma cerimónia em honra dos que tombaram no campo de batalha e o descerramento de uma placa evocativa do início da construção dos fortes e redutos das Linhas de Torres.

"No cine-teatro de Sobral de Monte Agraço realiza-se a sessão solene evocativa, que inclui intervenções da câmara local sobre os projectos da Plataforma Intermunicipal das Linhas de Torres, uma conferência sobre "As Linhas de Defesa a Norte de Lisboa durante a Guerra Peninsular" e alocuções de Jaime Gama e do chefe de Estado-Maior do Exército.

"No quadro dos projectos que a PILT pretende levar a cabo deverá ser criada uma rota histórica, que deverá ficar concluída no final do próximo ano e que pretende vir a atrair turistas e estudiosos britânicos, franceses e espanhóis, atendendo ao envolvimento que estes povos tiveram na Guerra Peninsular".

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O Discurso Do Sr. Presidente da República em Torres Vedras



(irónicamente, "Napoleão" também esteve presente... Fotografia do Jornal Badaladas)

Por ocasião da abertura solene das comemorações do bicentenário da construção das Linhas de Torres, que teve lugar em Torres Vedras no passado dia 11 de Novembro, um dos momentos altos foi o discurso pronunciado pelo Sr. Presidente da República.
O interesse do mesmo e o seu significado histórico levou-nos a solicitar à Presidência da República uma cópia do mesmo, que nos foi facultado hoje, por intermédio da Dr. Carla Marisa Brito, da Biblioteca da Presidência, e cujo conteúdo transcrevemos de seguida:


Discurso do Presidente da República no lançamento das Comemorações dos 200 anos das Linhas de Torres Vedras


Torres Vedras, 11 de Novembro de 2009

"Senhor Ministro da Defesa Nacional,
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras,
Senhor Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas,
Senhor Comissário das Comemorações,
Senhoras e Senhores,

Assinala-se hoje o lançamento das Comemorações do Bicentenário das Linhas de Torres Vedras, uma obra ímpar de organização militar do terreno. Para nós, portugueses, estas Linhas são sobretudo o símbolo da vontade de resistir de um Povo. Prestamos, nesta ocasião, homenagem a esses nossos antepassados heróicos que aqui lutaram em defesa da Pátria.

No início do século XIX, a máquina de guerra napoleónica estendeu as suas forças até ao extremo ocidental do continente europeu. Provindo do centro da Europa, que então dominava, a sua longa marcha quedou-se aqui, nestas terras, apenas a uma jornada de atingir o seu objectivo final.

Que mistério foi este? Como conseguiu um pequeno país fazer parar o melhor dos exércitos quando este se encontrava a dois passos da vitória?

Os exércitos napoleónicos não conquistavam territórios, destruíam as forças oponentes. Estavam sempre em movimento até encontrar o momento e o local azados. Aí, e só aí, atacavam ferozmente, com a máxima concentração de homens e de poder de fogo.

Ora, em 1810, o invasor tornara claro que tinha um único objectivo: atingir Lisboa. Esta revelação permitiu ao comando do Exército português e do Exército inglês antecipar os movimentos do adversário e adequar a sua estratégia defensiva.

Pela primeira vez, o Exército francês enfrentava forças que, parecendo recusar o combate, afinal o atraíam ao ponto em que os defensores o queriam colocar.

Chegado às Linhas de Torres Vedras, o espanto do comando francês foi a prova de que a sua construção fora feita no mais absoluto segredo.

Milhares de homens e mulheres, escavando fossos e erigindo muralhas, transportando materiais e artilharia em carros de bois, pelas encostas mais íngremes, deram tudo o que tinham para edificar as defesas. Um trabalho prolongado, esforçado, organizado, eficiente. E feito com total discrição.

É considerado, por muitos especialistas, um dos segredos mais bem guardados da história militar. É notável, de facto, que se tenha podido confiar no silêncio de tantos milhares de pessoas.

E que o invasor não tenha conseguido comprar um único traidor que lhe vendesse a informação crucial. Assim se tornou possível a vitória.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Na cidade que deu nome a esta obra maior de um povo em armas, aproveito para trazer à memória a figura de um grande português.

Recordo um cartógrafo militar de primeira água, que foi vítima de muitas injustiças, e, porventura, da maior de todas: a do esquecimento.

José Maria das Neves Costa foi o oficial do Real Corpo de Engenheiros que procedeu ao levantamento cartográfico em que assentou a decisão, há precisamente duzentos anos, de edificar em tão curto espaço de tempo uma fortificação com aspecto tão imponente e dissuasor. Honremos a sua memória.

Incapaz de vencer o obstáculo, sendo-lhe impossível contorná-lo, não conseguindo forçar os aliados ao combate, vencido pelo tempo e pela usura das tropas, restou ao invasor a retirada.

Aqui se inverteu o sentido da Guerra Peninsular. Foi o princípio do fim da aventura napoleónica que pôs a Europa a ferro e fogo. A retirada terminaria em Waterloo, cinco anos depois.

O maior erro de Napoleão, no entanto, não teve a ver com tácticas ou com estratégias, mas com a verdadeira natureza do adversário que se lhe opunha.

Em Portugal, o grande general subestimou a força anímica de um povo. Decorria já a invasão e ainda ele proclamava que “… os ingleses são o único perigo.”

De tal modo que não contabilizava as unidades portuguesas e, por isso, assinalava uma clara desproporção a seu favor nas forças em presença e exigia uma vitória fácil.

Um simples soldado do exército francês, veterano de muitas batalhas e de todas as campanhas, deixou testemunho nas suas memórias do modo como os cálculos dos invasores foram reduzidos a nada na Península Ibérica por algo com que nunca tinham contado:

“Nas guerras que até então tínhamos feito acostumámo-nos a ver numa nação apenas as suas forças militares e a desprezar o espírito que anima os seus cidadãos.”

Foi o ânimo dos nossos antepassados que fez toda a diferença. O carácter e a vontade de todos os que se aprestaram a combater, uns guarnecendo as trincheiras, outros fustigando a retaguarda do invasor.

Incluindo todos aqueles que, oriundos das Beiras, do Ribatejo, da Alta Estremadura, abandonaram casas e terras, perdendo os haveres que não puderam transportar. Acolhidos atrás das Linhas, sofreram os horrores da fome, animados unicamente pela esperança de manter a liberdade.

Em homenagem a estes portugueses, temos o dever de cuidar da preservação deste património e de tudo fazer para guardar a memória de um povo que se levantou contra o invasor.

Saúdo a população de Torres Vedras e todos aqueles que se têm empenhado na tarefa de preservação das Linhas de Torres, desde a administração central e o Exército português, às autarquias envolvidas e às entidades da sociedade civil.

Felicito, em particular, a Câmara Municipal de Torres Vedras e, na pessoa do seu Comissário, Senhor D. Manuel Clemente, a Comissão Municipal para as Comemorações do Bicentenário das Linhas de Torres Vedras.

A vitória dos aliados neste terreno que pisamos veio inspirar aqueles europeus que não tinham resistido quando invadidos por uma força que lhes parecera avassaladora.

Com o nosso exemplo, renascia, para cada povo da Europa, a esperança de ser capaz de decidir o seu destino.

Julgam-se fortes aqueles que querem impor a sua vontade pela força dos números. Fortes são aqueles que conseguem enfrentar a vontade dos outros com a força da sua razão.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Aqui se derramou o suor e o sangue de muitos portugueses. Aqui se garantiu a independência de Portugal. Aqui se defendeu, com unhas e dentes, a nossa identidade e o nosso modo de ser contra aqueles que queriam forçar a nossa liberdade.

Muito mudou desde então. Mas, dando sentido ao suor e ao sangue derramados, os Portugueses tiveram sempre uma palavra a dizer no traçado do seu próprio caminho.

Estas comemorações bicentenárias cumprem um dever nacional de reconhecimento para com os heróis das Linhas de Torres Vedras. Aquilo que somos deve-se também a eles.

Celebremo-los como merecem.

Muito obrigado".

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Exposição Comemorativa do Bicentenário das Linhas de Torres


Amanhã, dia 11 de Novembro, Dia da Cidade de Torres Vedras, o Museu Municipal Leonel Trindade inaugura uma grande Exposição comemorativa do Bicentenário das Linhas de Torres.
Como é do conhecimento público, a inauguração desse evento contará com a presença do Presidente da Repúblca Cavaco Silva.
Segundo informação do próprio museu, a exposição será organizada do seguinte modo:

"A exposição será composta por três núcleos:

"Núcleo 1: Não Passarão! - A importância das Linhas de Torres Vedras para a Defesa de Lisboa "(Exposição permanente. Patente até 2012)
"Esta exposição de carácter permanente privilegia uma abordagem sobre a importância das Linhas de Torres Vedras, desde o conceito, técnica, construção e eficácia, na 3.ª invasão, para impedimento do avanço do exército francês em Portugal.

"Núcleo 2: As Invasões Francesas: Memórias e Relatos
(Exposição temporária. Patente até Novembro 2010)
"Recuperação de algumas memórias e relatos associados às Invasões Francesas e impactos sofridos pelas populações, no âmbito nacional e local.

"Núcleo 3: De Ciudad Rodrigo a Torres Vedras: Uma viagem pelas gravuras de época
(Gravuras de Ciudad Rodrigo. Patente até 11 Fevereiro 2010)
"Esta exposição enfatiza a estreita relação entre Ciudad Rodrigo e Torres Vedras durante a 3ª invasão, unidas pela passagem das tropas francesas. Apresenta uma série de gravuras que espelham os acontecimentos desencadeados pelo conflito Peninsular".

A exposição é de entrada Gratuita, estando aberta das 10h às 13h, durante a manhã, e das 14h às 18h, durante o período da tarde (encerra às Segundas-feiras).

domingo, 8 de novembro de 2009

Ainda existem peixes nos rios torrienses



BOGAS NO RIO ALCABRICHEL E NO RIO SIZANDRO...

A notícia foi hoje divulgada pela LUSA:


“Bancários limparam ribeira para evitar extinção de boga do Oeste

“Meia centena de trabalhadores de uma empresa que gere cartões bancários estiveram ontem a limpar as margens de um troço do rio Alcabrichel, no concelho de Torres Vedras, para evitarem a extinção da boga do Oeste, uma espécie de peixe característica da região.
"Estivemos a fazer o corte de um conjunto de canas que abrangem as margens desta ribeira e as canas que foram retiradas vão depois cobrir parte das margens para garantir que ficam estabilizadas, em vez de se utilizar o habitual betão", explicou Francisco Ferreira, dirigente da associação ambientalista Quercus, que promoveu a iniciativa. Praticamente extinta nos rios da região devido à poluição provocada pelos esgotos domésticos e pelas suiniculturas, a boga do Oeste continua apenas a existir - ainda que de forma escassa - nos rios Alcabrichel e Sizandro, ambos no concelho de Torres Vedras.
A acção marcou o arranque de uma parceria de cinco anos entre a Quercus e a Unicre, a primeira empresa de capitais privados em Portugal a aderir ao compromisso de redução da chamada "pegada ecológica". "Temos um conjunto de iniciativas como a redução do papel e a redução [do consumo de] energia nos edifícios", afirmou o administrador da empresa, António Ramalho.
"O objectivo neste tipo de acções é que fora da actividade profissional e em conjunto com uma associação de defesa do ambiente os esforços se juntem no sentido de salvaguardar determinadas zonas naturais e, neste caso, recuperar a boga do Oeste", esclareceu Francisco Ferreira. A Quercus põe a hipótese de vir a desenvolver outras acções de limpeza e despoluição do rio Alcabrichel e de vir a plantar nas suas margens vegetação característica na zona, de modo a combater a erosão”.

É um motivo de orgulho para Torres Vedras que detenha nos seus domínios os dois únicos rios do Oeste ainda habitável por peixes. Mas é também motivo de maior responsabilidade por parte das autoridades para preservação dessas espécies e da qualidade desses rios, que nos últimos anos já foram vitmas de muitas acções criminosas.

Note-se, a título de curiosidade, que nas Memórias Paroquias de 1758 eram referidas outras duas espécies existentes nesses rios, os “Ruivacos” e as “Enguias”. Aliás, ainda sou do tempo em que era possível pescar enguias no Rio Sizandro, ali para os lados das Termas dos Cucos.
Segundo essas Memórias, os Ruivacos, e “outros semelhantes” [resposta do pároco de A-Dos-Cunhados] existiam no Alcabrichel, embora em pouca quantidade [resposta do pároco do Ramalhal]. Mesmo assim referia-se a existência de alguma pesca nesse rio.
Já no Sizandro existia “peixe míudo” [resposta do pároco de Runa], identificado como Ruivacos e enguias [resposta do pároco de S. Miguel], sendo habitual a sua pesca no Inverno [resposta do pároco da Ponte do Rol].


RUIVACO...



E ENGUIA.

sábado, 7 de novembro de 2009

"Escrito à mão, Duzentos anos Depois"

Hoje pelas 16 horas, no Auditório dos Paços do Concelho de Torres Vedras, vai se lançado o livro “Escrito à Mão, duzentos anos depois”, por ocasião das comemorações do bicentenário das Linhas de Torres Vedras.

O livro é da autoria de Luís Filipe Rodrigues (texto) e de José Pedro Sobreiro (desenhos).
Uma obra a não perder, pela qualidade dos seus autores e pela originalidade.



sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O Outro lado da moeda...



(os porcos estragaram a fotografia...)


Depois de ontem termos divulgado, uma notícia abonatória para as medidas ambientais da Câmara de Torres Vedras, leitor anónimo fez-nos chegar parte de outra notícia, que é a outra face das medidas ambientais do município, mostrando que ainda há muito caminho a percorrer.
A notícia integral, editada pela LUSA com a data de 4 de Novembro é a seguinte:

Ministério e Câmara de Torres Vedras condenados em caso de maus cheiros de suinicultura

04.11.2009
Lusa

"O Tribunal Administrativo de Lisboa deu razão a dois moradores do concelho de Torres Vedras, que se queixavam de maus cheiros vindos de uma suinicultura local, condenando o Ministério do Ambiente e a câmara por responsabilidades no licenciamento da exploração.
De acordo com a sentença a que a Agência Lusa teve acesso, o tribunal condenou as duas entidades a obrigarem a exploração agro-pecuária, com perto de 4500 suínos, localizada no Casal do Brejo, freguesia de Campelos, a efectuar melhorias de funcionamento para minimizar os impactos ambientais provocados pelos maus cheiros e pela contaminação de águas nas proximidades da unidade. O tribunal reconheceu que existe um “dano ecológico” que “afecta o ar, o solo e a água envolventes” da localidade.
A acção contra ambas as entidades foi colocada pelos moradores, depois de o Tribunal de Torres Vedras ter absolvido os proprietários da exploração por considerar que a suinicultura estava devidamente licenciada, numa primeira acção colocada em 1998 pelos lesados. Descontentes com a decisão, os dois moradores decidiram pôr um novo processo em tribunal, desta vez contra o Ministério do Ambiente e Câmara de Torres Vedras.
Nesta segunda acção judicial e após uma perícia técnica realizada na unidade, a juíza Dora Lucas Neto entendeu que o ministério “não pode vir a invocar a sucessiva renovação das licenças de descargas” para afastar a responsabilidade ambiental, quando existem maus cheiros e águas contaminadas.
Em relação à Câmara de Torres Vedras, o tribunal concluiu que a autarquia não assegurou a qualidade do ambiente, ao licenciar habitações perto de uma suinicultura ou o inverso, no caso de as moradias serem anteriores à exploração.
Seguindo as orientações da perícia efectuada, o tribunal decidiu condenar as duas entidades no sentido de obrigar a suinicultura a adoptar novas técnicas nas lagoas da respectiva estação de tratamento para minimizar os maus cheiros, como a incorporação de bactérias que auxiliam no processo de digestão da matéria orgânica ou a separação de efluentes sólidos e líquidos. Outra das medidas impostas passa por melhor impermeabilizar as lagoas, face às características do solo, para prevenir a sua contaminação e, por conseguinte, das águas.
O tribunal socorreu-se também da Lei de Bases do Ambiente, segundo a qual a localização de uma actividade industrial só deve ser aprovada quando não interfira com o ordenamento do território e a qualidade do ambiente, tendo em conta que o dever de prevenção compete às entidades fiscalizadoras e licenciadoras".

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Torres Vedras, município com boas práticas ambientais.


Santa Cruz, na vanguarda das preocupações ambientais


Na edição de hoje da revista "VISÃO", uma "edição verde", dedicada ao ambiente e ao papel das cidades na sua preservação, Torres Vedras surge como um dos trinta  municípios portugueses com boas práticas ambientais.
O exemplo apontado refere-se ao uso de painéis foltovoltaicos na Praia de  Santra Cruz :
"Na Praia de Santa Cruz existe um abrigo de passageiros, numa paragem de autocarro, que é auto-suficiente, a nível da sua iluminação, devido a painéis foltovoltaicos que encaminham a energia para LED. Na mesma localidade, também o mercado municipal e a escola do 1º ciclo e jardim-de-infância dispõem de um sistema de microgeração composto por painéis solares fotovoltaicos".
É caso para dizer, um pequeno passo para Torres Vedras, um grande passo para a defesa do ambiente.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

No Bicentenário do início da construção das Linhas de Torres (3 de Novembro de 1808)



O efeito da construção das Linhas de Torres Vedras junto das populações locais




Em Abril de 1809, poucos meses antes do início da construção das Linhas de Torres, quando estas ainda nem projecto eram, já o Teneente Coronel de Engelharia Cipriano José da Silva enviava aos vereadores da Câmara de Torres Vedras uma ordem, em nome da regência, para se fortificar “provisoriamente” a vila .
Com esse objectivo pedia que lhe fossem fornecidos para a manhã do dia seguinte àquela ordem, “na meia laranja da Ponte da Mentira (…) trinta trabalhadores, dez enxadas, dez cêstos, quatro picaretas, duas paviolas” (in Livro nº24 dos Acordão da Câmara Municipal de Torres Vedras (1802-1812), sessão de 8 de Abril de 1809, ff. 193v-194, AMTV).

Só em Outubro é que Wellington se decide iniciar a construção de defesas que protejessem a cidade de Lisboa, pois o “grande objectivo em Portugal é a posse de Lisboa e do rio Tejo e todas as medidas terão de ser dirigidas com este objecto em vista”.
Existiam ainda outos dois objectivo, ”o embarque das tropas britânicas em caso de revés” e “ o de obrigar o inimigo, tanto quanto possível a realizar o seu ataque com o corpo do exército concentrado”, pelo que o exército aliado deveria “ficar em todas as posições que o terreno possa permitir, o tempo necessário para permitir que a população rural local evacue as vilas e aldeias levando consigo ou destruindo todos os meios de subsistencia e meios de transporte que não forem necessários aos exércitos aliados” (Excerto do memorando do duque de Wellington para o tenente coronel Fletcher, datado de Lisboa , a 20 de Outubro de 1809, citado por A.H.Norris e R.W. Bremner, The Lines of Torres Vedras, Lisboa 1986, pp.20-21, segundo tradução de Thomas Croft de Moura).
Deslocando-se de Lisboa, Wellington havia percorrido em Otubro os terrenos a norte da capital na companhia do coronel Murray e do tenente-coronel Fletcher, deixando a este “instruções tão precisas quanto o póde dar um general chefe, para a execução do seu pensamento, que se póde resumir no seguinte: escolher uma posição suficientemente ampla para abrigar todas as tropas, quer da primeira, quer da segunda linha, das duas nações, que lhes permitisse ocupar uma situação vantajosa para cobrir Lisboa, séde dos recursos do país, e que não pudesse ser torneada nos seus flancos pelo inimigo, devendo ter uma comunicação segura com o mar, para permitir o embarque das tropas inglesas no caso de revezes sucessivos as obrigarem a êsse extremo”. (J.J. Teixeira Botelho, História Popular da Guerra da Península, Porto, 1915, pp. 341-342).



A 3 de Novembro iniciou-se a construção das linhas e, na “primavera de 1810 estava tudo em pleno andamento e a azáfama era grande”(J.J. Teixeira Botelho, História Popular da Guerra da Península, Porto, 1915, pp. 346 a 348).
Como se pode ler nas descrições sueguintes, essas obras implicaram grandes alterações numa paisagem que até então não devia ser muito diferente desde a Idade Média:

“As defesas eram de toda a espécie possível. Os rios foram represados e as vias de acesso aos sopés dos montes, numa extensão de muitos quilómetros, foram transformados em pantânos intransponíveis. As estreitas ravinas foram bloqueadas com abatis, atravessando uma grande ravina elevou-se um muro de pedra com 16 pés [ 4,9 metros] de espessura e 40 pés [12,2 metros] de altura. Ao longo do cume de um monte e por uma distancia de 3 milhas [4,8 kilómetros] amontoaram-se muros de pedra com 6 pés [1,8 metros] de altura e 4 pés [1,2 metros] de espessura. Num ponto o monte foi escarpado numa distancia de 2.000 jardas [1.328,8 metros] de modo a formar um precipício que não podia ser escalado. Num plano geral as linhas consistiam de fortificações fechadas espalhadas pelas duas cadeias de montes. Em certos locais as fortificações expandiram-se até atingir a escala de acampamentos militares sendo o todo ligado com todos os tipos de defesa. As fortificações estavam de tal modo relacionadas umas com as outras que a frente toda era varrida por fogo cruzado; e todas as aproximações da linha exterior tinham sido desnudadas de vegetação até se parecerem com uma ladeira”. (citado por A.H.Norris e R.W. Bremner, The Lines of Torres Vedras, Lisboa 1986, p.14, segundo tradução de Thomas Croft de Moura);

“Para desafrontar o campo de tiro das baterias devastou-se tudo que as podia encobrir, não ficando de pé nem casa, nem jardim, nem vinha, nem oliveira, nem arvoredo de espécie alguma. Só escaparam umas formosíssimas e velhas árvores em Tôrres Vedras, que a rôgo do Juiz de fóra e dos habitantes da vila foram deixados para o último momento, se fôsse necessário destruí-las”. (J.J. Teixeira Botelho, História Popular da Guerra da Península, Porto, 1915, p.351).

Para a construção de uma obra dessa envergadura empregaram-se “os habitantes do paiz e dois regimentos de milicias. Obtinham-se os primeiros por meio de requisições, sendo os operários da semana finda substituidos por outros na seguinte semana, tendo os milicianos o caracter de permanentes n’este serviço.” Essas requisições eram feitas “pelas capitanias móres do termo de Lisboa, Cintra, Gradil, Alenquer, Aldeia Gallega da Merceana e Torres Vedras, sendo esta villa a que quasi sempre deu o maior numero de operarios, depois que o exercito entrou nas linhas”. (Simão José da Luz Soriano, Historia da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal- segunda epocha- guerra peninsular, tomo II, Lisboa, Imprensa Nacional, 1871, pp. 563-564).
A requisição de trabalhadores para as Linhas nem sempre foi fácil, como nos explica Cristina Clímaco na sua tese: “Um dos principais problemas que se colocou a Fletcher e a Jones foi o de obter trabalhadores em número suficiente e de acordo com a dimensão dos trabalhos. Sempre que um engenheiro tinha falta de trabalhadores comunicava-o a Fletcher, que por sua vez o comunicava ao governador militar do distrito onde tinham lugar os trabalhos, sendo este último encarregue de fornecer aos ingleses os homens e os materiais necessários aos trabalhos (…).
“A procura de trabalhadores aumentou todos os dias, sem discriminação de classe social ou de privilégios; segundo os ingleses a requisição devia ser imposta aos eclesiásticos e aos funcionários da administração local: (…) porque quando se trata de se defender do inimigo não há privilégios nem é justo que sómente os miseráveis que nada possuem para além da sua pessoa, venham trabalhar nas fortificações, enquanto que aqueles que têm bens a defender ou a conservar não venham (…)”.
Esta situação provocou alguns conflitos graves com os tradicionais grupos priveligiados, como aconteceu “em Mafra em Março de 1810, porque os ingleses não tomaram em conta a estrutura social do país. O Portugal de 1810 era um país de Antigo Regime, onde a clivagem social se fazia mais pelo direito aos privilégios, do que pela fortuna, sendo o padre o principal símbolo desta situação. Existiam duas classes em Portugal, aqueles que trabalhavam e aqueles que tinham direito aos privilégios, englobando-os os ingleses numa única classe e isto provocou gaves conflitos.
“(…) Os funcionários da administração local (…) recusaram-se a trabalhar nas fortificações, recusa idêntica à que teve lugar entre os eclesiásticos.
“(…) As pessoas que faltavam ao trabalho das fortificações ou que não enviavam ninguém em seu lugar não sofriam na realidade outra punição que a de verem os seus nomes inscritos numa lista que todas as semanas os governadores militares enviavam ao secretário da Guerra (…). Apesar das medidas de compromisso que não implicavam mais que a obrigação de estarem presentes fisicamente no local de trabalho ou de poderem enviar qualquer pessoa em seu lugar, as pessoas continuaram a não se apresentar ao trabalho. (…) Os que oposeram maior resistência foram os eclesiásticos (…).
“A vila de Ericeira foi o centro mais importante dessa resistência anti-inglesa e que tomou carácter de insurreição.Os eclesiásticos da Ericeira não só não enviaram qualquer pessoa em seu lugar, como impediram os outros de o fazer. Existem no Arquivo Histórico Militar listas de eclesiástico daquela vila que recusaram participar no sistema de requisições: em Março de 1810 apenas constam na lista nove nomes, mas em Maio já constam treze, entre os quais o das personalidades mais importantes da vila.
“(…) Um outro meio de obter trabalhadores para as fortificações foi o das condenações de soldados portugueses em conselho de Guerra, condenados a cumprir as suas penas nos trabalhos das fortificações(…)” (Ana Cristina Climaco Pereira, Les Lignes de Torres Vedras et Le Plan de Defense du Portugal Concu par Wellington- Invasion e Resistances (le patriotisme et le nationalisme portugais 1810-1811), tese de mestrado, Universidade de Paris, 1991, pp.66 a 72, tradução adaptada).
“Aos paizanos que eram simples trabalhadores dava-se-lhes o jornal de 120 réis, e o de 240 réis aos que eram officiaes de canteiro, pedreiro, carpinteiro, etc.; os milicianos tinham pela sua parte um terço d’estas sommas. Mais tarde o acrescimo e a duração dos trabalhos, tendo-se estes tornado quasi permanentes, o jornal elevou-se então a 200 réis para os trabalhadores e a 320 para os officiaes e vigias: os milicianos continuaram a ser pagos segundo a antiga taxa. No mez de agosto de 1810 mais de 2:500 homens, reunidos n’um só corpo, se achavam empregados nas fortificações da Alhandra.”  (Simão José da Luz Soriano, Historia da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal- segunda epocha- guerra peninsular, tomo II, Lisboa, Imprensa Nacional, 1871, pp. 563-564).

Richard Fletcher, Jonh Jones e “mais quinze engenheiros militares andaram empregados nas Linhas, quatro dos quais eram portugueses. O trabalho manual foi executado por dois regimentos de milícias e trabalhadores recrutados na região, nas comarcas limítrofes e noutras mais afastadas, até 90 Kilómetros de distância, pois apesar da miséria ser grande, os braços eram poucos, pagando-se á razão de 200 réis por dia os cavadores e 320 os operários artifices. Quando as circunstancias determinaram que o trabalho fôsse acelerado, até as mulheres e os rapazes trabalhavam, aquelas á razão de metade e êstes á de um quarto da jorna dos homens. O número de trabalhadores chegou a 7.000, tornando-se em certos sítios necessária a intervenção da autoridade para lhes assegurar a alimentação, que escasseava. A carência de pão chegou a ponto de ser preciso fornecer a êste exército de obreiros bolachas dos navios ingleses.
“(...) Mercê tambem da boa vontade dos carreeiros, excitando á aguilhada os seus pacientes bois, é que se conseguiu levar pesadas peças de artilharia a montes altíssimos, por caminhos de pé posto, inacessíveis a cavalos. (J.J. Teixeira Botelho, História Popular da Guerra da Península, Porto, 1915, pp. 350-351).

Para além dos grandes custos humanos dessas obras, implicando o recrutamento de milhares de trabalhadores, como se leu nos documentos acima transcritos, a obra implicou igualmente grandes custos financairos.
Agostinho Madeira Torres procurou, na sua monografia, “dar uma noticia exacta da enorme despeza das Obras da Linha” no termo de Torres Vedras ”mas apenas pude achar, e verificar alguns dados para um calculo aproximado, e de proporção. taes como os seguintes: que na obra das Estradas Militares comprehendidas no Termo de Torres Vedras, em que se trabalhou effectiva, e activamente, desde a Invasão de 1810, pelos dois seguintes annos de 1811 e 1812 (continuando-se ainda depois escassamente até Julho de 1814), se empregavam, além dos Officiaes Militares Inspectores, e Directores, por semana, acima de 900 operarios das classes trabalhadoras, de artifices dos tres officios de calceteiros, pedreiros, e carpinteiros, e de lavradores, sendo essa totalidade detalhada pelas Capitanias Móres do Termo de Lisboa, Cintra, Gradil, Alemquer, Aldeia-galega da Merciana, e de Torres Vedras, da qual sempre se tirou mais effectivamente o maior numero (...): que a despeza liquida e total d’aquelles trabalhos se avalia em 171:000$000 réis; e a dos mesmos no districto da direita em 190:000$000 réis: que as obras dos Reductos novos construidos pelo mesmo tempo se avaliam pelo menos em igual importancia; e que as dos outros feitos antes de epocha da invasão deviam avultar mais; porque sómente as dos dois Fortes do Sobral, e de S.Vicente se julgam exceder a trezentos mil cruzados. Não basta porém este processo deduzido das noticias communicadas por Officiaes de distincto merecimento, empregados na direcção das mesmas Obras, para achar-se a somma aproximada da sua despeza; é preciso accumular-se mais o valor de varios objectos até agora não pagos, como grande porção de lenha para as faxinas, e muito consideravel quantidade de madeiras de pinho para estacas, vigas, e pranchas: finalmente tambem deverá entrar em conta o valor de algumas cazas demolidas, ou inutilizadas; de bastantes moinhos (a cujos dônos se pagou algum tempo uma pensão para indeminisal-os de algum modo dos interesses diarios) que soffreram igual sorte; e de muitos pinhaes cortados para desafrontar os reductos, vindo a ter a mesma sorte o arvoredo dos passeios proximos á Villa (...).”(Manuel Agostinho Madeira Torres, Descripção Historica e Economica da Villa e Termo de Torres Vedras, 2ª edição anotada, 1862, (1º edição em 1819), pp.74 a 76).

O exército aliado chegou às Linhas no dia 9 de Outubro de 1810, perseguido de perto pela cavalaria francesa. “Lord Wellington, com a sua grande serenidade e previdência, ordenára que alguns oficiais e soldados da guarnição das Linhas, a cavalo, esperassem as diferentes unidades, afim de as guiarem ás obras ou localidades que lhes eram destinadas. E assim como se tinha providenciado para que não houvesse confusão á chegada de tantos milhares de homens, assim tambem se cuidára de tudo o que o exército carecia: as guarnições já exercitadas ocupavam os seus postos; acumulavam-se provisões de boca e de guerra em sítios préviamente indicados; cascos embargados nas adegas estavam, cheios de água, em todas as obras: abarracamentos para 35.000 homens, conforme se ordenára, achava-se distribuido pelos seus distritos”. (J.J. Teixeira Botelho, História Popular da Guerra da Península, Porto, 1915, pp. 413-414).
Madeira Torres lamenta-se do efeitos da chegada dessas tropas para o bem estar da população, já que “a copiosa chuva, que cahio desde 7 para 8 do mez d’Outubro, obrigou” os militares “ a buscar arrebatadamente o abrigo das casas, que pela maior parte estavam abandonadas; então se perderam, e foram preza dos soldados nacionaes, e alliados, os fructos não só pendentes, e mal começados a colher, como vinho e azeite, mas os mesmos recolhidos nos celleiros publicos e particulares, que não eram guardados immediatamente por seus donos, e munidos de sentinellas, chegando o excesso a serem a maior parte das casas despejadas dos seus moveis, quasi todos os cartorios publicos, e particulares parcialmente roubados, e o do Escrivão das Sizas, e de um da Correição totalmente destruidos”. (Manuel Agostinho Madeira Torres, Descripção Historica e Economica da Villa e Termo de Torres Vedras, 2ª edição anotada, 1862, (1º edição em 1819), p. 178).
O grosso das tropas francesas foi chegando frente às linhas nos dias seguintes, cuja existência desconheciam: “Vinha á frente, comandando a cavalaria de reserva, o general Montbrun, que na manhã de 11, depois de na véspera á tarde ter repelido as últimas fracções do exército anglo-luso, sob o comando de Craufurd (…), mandára reconhecer a estrada em direcção de Vila Franca. O encarregado desta missão, o brigadeiro Pedro Soult, veio imnformá-lo dos fortes entricheiramentos que vira em Alhandra. A exploração feita na direcção do Sobral, Arruda e Zibreira trouxe-lhe notícias análogas, o que levou o Aludido general, por sua vez, a informar o comandante chefe, então ainda longe, á rectaguarda, de que tinha na sua frente uma linha contínua de fortes entricheiramentos e estendendo-se até um ponto, para oeste, que não podia ainda precisar.
“Os reconhecimentos continuaram nos dias 12 e 13, ocasionando escaramuças, algumas de certa importância, como a que se travou na vila do Sobral (…) “ . (J.J. Teixeira Botelho, História Popular da Guerra da Península, Porto, 1915, pp. 415-416).
As tropas francesas mantiveram-se estacionadas frente às linhas até à madrugada de dia 15 de Novembro, retirando-se durante a noite, a coberto do nevoeiro.

As privações dos habitantes da região não terminaram com a retirada das tropas. Como consequência da “immundice (…) n’algumas terras onde os franceses tinham residido” (Simão José da Luz Soriano, Historia da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal- segunda epocha- guerra peninsular, tomo III, Lisboa, Imprensa Nacional, 1874, pp. 271-472), grassou na vila de Torres Vedras “ e muito mais nas suas visinhanças, um contagio, que foi quasi geral, sendo mais mortifero nas terras invadidas, e nos emigrados por serem mais incommodados, e menos socorridos. Contaram-se tantos mortos, que foi preciso designar-se um amplo cemiterio juncto á Igreja de S. Miguel, e ainda este teve de ampliar-se além dos seus primeiros limites. Pela vigilancia do governo e da Policia determinaram-se socorros para supprir á miseria e indigencia, que justamente se entendia ser o principal motivo do contagio” (Manuel Agostinho Madeira Torres, Descripção Historica e Economica da Villa e Termo de Torres Vedras, 2ª edição anotada, 1862, (1º edição em 1819), p. 179).
Quase “todos os doentes morriam do quinto para o sexto dia, sendo acommetidas, não sómente as pessoas pobres e expatriadas, mas igualmente as bem tratadas. Dois cirurgiões havia n’aquella villa, que sendo n’ella sufficientes em caso ordinario, não o eram depois que taes molestias se engravesceram, circumstancia que deu logar a que o intendente geral da policia mandasse indagar em Lisboa onde estavam os dois medicos do partido que n’ella havia, Manuel Tavares de Macedo, empregado no hospital militar da Junqueira, e Joaquim José Durão, para os fazer recolher a ella, devendo levar comsigo um enfermeiro do hospital de S.José, por terem adoecido todos os que havia em Torres. (Simão José da Luz Soriano, Historia da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal- segunda epocha- guerra peninsular, tomo III, Lisboa, Imprensa Nacional, 1874, pp. 271-472),
Segundo Ana Cristina Clímaco, os “doentes entrados no hospital” [da Misericórdia de Torres Vedras]“eram oriundos das aldeias das redondezas da vila, tais como de Fonte Grada, Paul, Vila Facaia, Amial, Bordinheira, Dois Portos, Orjariça, mas sobretudo das regiões invadidas, S.Martinho, Leiria, Obidos, Torres Novas, Porto de Mós, Pombal, Coimbra… A partir de Outubro de 1811, a epidemia começou a fazer menos estragos, os doente eram agora quase exclusivamente refugiados”. (Ana Cristina Climaco Pereira, Les Lignes de Torres Vedras et Le Plan de Defense du Portugal Concu par Wellington- Invasion e Resistances (le patriotisme et le nationalisme portugais 1810-1811), tese de mestrado, Universidade de Paris, 1991, p.187, tradução adaptada).

Para obstar ás dificuldades económico-socias provocadas nas zonas sujeitas a à movimentação de tropas e às operações militares, foi distribuído um “donativo da Nação Britânica” que agraciou também a região da comarca de Torres Vedras. Esta “apezar de não ter sido a maior parte d’elle invadido, se achava comtudo nas mesmas, e talvez em peiores circunstancias do que algumas terras, que o foram, como fiz palpavelmente conhecer á juncta incumbida de o distribuir. Em consequencia d’esta representação, receberam-se por vezes até a quantia de 8:200$000 rs. além de trezentos pares de cobertores, com o que se soccorreo ás maiores necessidades “. Madeira Torres foi “incumbido pela Juncta dos Socorros da subscrição Britanica de distribuir aquella somma, (…) repartidas, confórme as instrucções da mesma Juncta. Foi o primeiro donativo 1:000$000 réis metalicos, para se repartir pelos habitantes pobres, e necessitados das Freguezias d’este districto, e de 400$000 réis para o Hospital da Misericordia da Villa [de Torres Vedras] exausto de meios, pelas excessivas despezas accrescidas, e falencia das cobranças; outros 400$000 réis para o curativo do hospital de Aldêa-galega da Merceana, e 600$000 para o da Arruda.Tendo esta primeira distribuição sido approvada, repetio-se outro donativo mais amplo de 4:000$000 réis metalicos, dos quaes se applicaram 880$000 réis aos infelizes habitantes da Villa de Arruda, e 270$000 réis aos do lugar do Pêro Negro, Freguezia da Çapataria, que tinham ficado em total desamparo; o restante foi todo applicado dentro no Termo. Ultimamente houve mais dois donativos especialmente destinados para os orfãos desamparados: o primeiro de 800$000 réis, e o segundo de 1:000$000 réis, dos quaes se tem conferido penções para o ensino de alguns Orphãos a officios mecanicos, e para a criação e educação d’outros infelizes, supprindo-se já por uma vez com o auxilio de 200$000 réis á consideravel despesa do estabelecimento da roda dos Expostos, como a Juncta insinuou no seu Officio datado de 10 de Junho de 1813. Além d’este donativo, tambem recebi tres moios de trigo, que me foram mandados n’aquelle tempo pelo Ex.mo e Rev.mo Bispo Patriarcha Eleito, a fim de serem distribuidos para sementes pelos lavradores mais necessitados.” (Manuel Agostinho Madeira Torres, Descripção Historica e Economica da Villa e Termo de Torres Vedras, 2ª edição anotada, 1862, (1º edição em 1819), pp. 179-180).

Nunca esta região tinha conhecido um tão amplo movimentos de gentes e tropas, ou uma alteração tão profunda da sua paisagem rural.
A população de Torres Vedras entrava assim, de forma violenta e dramática, na época Contemporânea, e a vila ganhava fama mundial graças ao esforço de tanta gente na construção do sistema defensivo imortalizado com a designação de “Linhas de Torres Vedras”.


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

...Em Dia de Finados, recordar a instalação do Cemitério Público em T. Vedras


Torres Vedras e a Criação de seu Cemitério Público

(excerto do trabalho, da nossa autoria, apresentado no Congresso de História Local em 2003, intitulado “Elementos para o estudo da Saúde Pública e da Criação dos Cemitérios Públicos em Torres Vedras no século XIX”)

A primeira proibição de enterramentos junto dos lugares de culto na Europa foi promulgada em França por Napoleão, por decreto de 12 de Junho de 1804.
Em Portugal a primeira vez que se ordenou a criação de cemitérios públicos foi através dos alvarás de 27 de Março de 1805 e 18 de Outubro de 1806, mas essas ordens não se cumpriram.
Só após a vitória do regime liberal e com a publicação do Decreto de 22 de Setembro de 1835, da autoria do Ministro do Reino Rodrigo da Fonseca Magalhães, se legalizou em definitivo a criação de cemitérios públicos em todas as povoações.
Mas a legislação mais completa ficou a dever-se a Costa Cabral, ao promulgar o decreto de 18 de Setembro de 1844 que proibia expressamente o enterramento dos “mortos dentro de qualquer igreja, ou capela da Freguesia, ou Concelho, onde houver cemitério público” (TORRES, Ruy de Abreu, “Enterramentos”, in Dicionário de História de Portugal, (Dir. de Joel Serrão), Vol. II, ed. Livraria Figueirinha, Porto, 1985, pp. 402-403.
Como se sabe, este decreto foi um dos motivos da “Revolta da Maria da Fonte” em 1846, mas, apesar desse contratempo, aquela decisão acabou por se cumprir nos anos seguintes, implantando-se mais ou menos rapidamente conforme a região do país.
O Norte foi a região que mais resistiu àquela medida. Em Lisboa os primeiros cemitérios públicos, o do Alto de S. João e o “Dos Prazeres”, já tinham sido inaugurados em 1835.

Em Torres Vedras a inauguração do primeiro cemitério público levou algum tempo, mas sem que se tivesse registado a resistência de outros lugares.
Aqui, a construção de cemitérios fora dos adros das igrejas era esporádica e andava associada a crises epidémicas, como sucedeu em 1810, solução geralmente aceite sem contestação conhecida.
Sabe-se contudo que, nos finais do século XVIII, em 1795, quando, por ocasião de uma peste que se declarou com especial violência na localidade da Ponte do Rol e se procurou evitar os enterramentos na igreja paroquial, houve alguma resistência da população.
Em 11 de Fevereiro desse ano o médico do partido da Câmara Manoel Tavares de Macedo, considerando que “hera tal o cheiro de corrupção que exhalava a Egreja da Ponte do Rol por cauza dos cadaveres dos fallecidos da epidemia ali enterrados, mas sem a profundidade necessária”, requeria a proibição de se “sepultar outros cadaveres dahi em diante na dita Egreja”.
Os cadáveres das vítimas daquela epidemia acabaram por ser sepultados na Ermida de Nª Sª da Nazareth de Fonte Grada, “porque o cemiterio, que se pretendeo fazer no sítio das Faias junto ao lugar, não pôde hir avante por causa do povo” (Anotadores de Madeira Torres – parte económica, manuscrita, 4º caderno, folhas 2 e 3).
Na vila de Torres Vedras o único local de enterramento fora das igrejas paroquiais era junto de outra Igreja dentro da vila, a Igreja da Misericórdia, chamado de cemitério da Misericórdia situado entre a Igreja e a rua da Misericórdia. Nele se enterravam os pobres falecidos no Hospital,.

A primeira tentativa de estabelecer um cemitério público em Torres Vedras data de 1805 quando, por alvará de 23 de Agosto, se concedeu à Ordem Terceira, até aí instalada na Igreja de S. Tiago, a Ermida dedicada a S. João Baptista e as casas contíguas, então em ruínas, para aí se instalar na condição de estabelecer junto da ermida, no “pequeno Quintal das casas e no bocado de terreno público” aí existente “um cemitério para as quatro Freguezias e Hospital da villa”( Madeira Torres e anotadores – parte histórica, pp. 161 a 166).
Logo em 1807 a cerca dessa ermida serviu de cemitério às tropas francesas falecidas no hospital que se tinha estabelecido no Convento da Graça e, mais tarde, em 1811, aí foram sepultados soldados e oficiais ingleses (Madeira Torres– parte histórica, p. 163.
Contudo, em 1837 ainda não se tinha estabelecido naquele local o cemitério público para os habitantes da vila, motivo pelo qual o administrador do concelho enviou nesse ano um ofício ao executivo municipal para que ordenasse à “Ordem 3º desta villa para fazer cemitério publico junto da Irmida de S. João” e designasse um dia para se reunirem com o representante daquela corporação (Lº de Acórdãos da Câmara, nº 27 (1834– 1842), sessão de 18 de Março de 1837 AHMTV).
Essa reunião realizou-se no dia 1 de Abril de 1837, com a presença do administrador do concelho, dos vereadores e do “Ministro da (...) veneravel ordem como representante da mesma Jorge Lourenço Nunes da Cunha” para , na conformidade do alvará de 26 de Agosto de 1805, se escolher o dia para “proceder a verificação do terreno mencionado no ditto Alvará”.
Marcou-se o dia 4 ou o dia 5 de Abril para esse efeito (Lº de Acórdãos da Câmara, nº 27 (1834– 1842), sessão de 1 de Abril de 1837 AHMTV), mas, em 26 de Maio, o administrador do concelho voltou a oficiar a câmara para que esta o informasse “circonstancialmente do local destenado para cemitério, sua extenção, as obras nelle feito, e quaes os obstaculos que impediam a sua execução” (Lº de Acórdãos da Câmara, nº 27 (1834– 1842), sessão de 31 de Maio de 1837 AHMTV).
Na vereação de 17 de Junho o executivo tomou conhecimento de um ofício “do Ministro da Ordem 3ª desta villa” participando “não poder continuar com a obra do cemitério no citio de S. João emquanto se não colherem as novidades pendentes por não ser praticavel a condução de pedra e do cal que ainda se está cozendo”( Lº de Acórdãos da Câmara, nº 27 (1834– 1842), sessão de 17 de Junho de 1837 AHMTV).
No princípio do ano seguinte as obras estavam interrompidas “por causa de hum requerimento de alguns moradores” (Lº de Acórdãos da Câmara, nº 27 (1834– 1842), sessão de 24 de Janeiro de 1838 AHMTV), cujo teor desconhecemos, mas dias depois o executivo deliberava, após examinar “todos os papeis constantes de representaçoens e auttos de vestoria a que procedeu”, oficiar a mesa administrativa da “veneravel ordem terceira” para levar a efeito a “faetura do cemitério do citio de S. João”( Lº de Acórdãos da Câmara, nº 27 (1834– 1842), sessão de 31 de Janeiro de 1838 AHMTV).
Contudo, em Agosto de 1839 encontrava-se aquela obra suspensa, desta vez devido a um parecer da Junta de Saúde, desaprovando o local de S. João para a construção do cemitério, pelo que a Câmara, procurando um lugar alternativo, propunha a escolha do sítio do “extinto Convento da Graça, podendo construir-se em huma parte da serca do mesmo convento, que hoje pertence à Fazenda Nacional”( Lº de Acórdãos da Câmara, nº 27 (1834– 1842), sessão de 7 de Agosto de 1839 AHMTV).
Ainda na sequência deste novo projecto, o executivo deliberou “que se fisesse huma representação a Sua Majestade a Raynha pedindo lhe queira dignar-se mandar dar-lhe o claustro do extinto Convento da Graça para cemitério de pessoas que falecerem nas quatro freguesias e Hospital desta villa por alli se encontrarem todas as proporçoens que se requerem para tal fim sem despesa do Municipio” (Lº de Acórdãos da Câmara, nº 27 (1834– 1842), sessão de 28 de Agosto de 1839 AHMTV).
Mas também esta alternativa se gorou, retomando-se o projecto inicial de construir o cemitério público no lugar de S. João.
Contudo, em 1845 ainda se continuava a arrastar o processo de construção do cemitério, pois nesse ano a vereação da altura voltava a ordenar que “se oficiasse ao Ministro e mais Irmãos da Veneravel Ordem Terceira desta villa pedindo-lhe hajão de declarar com a maior brevidade qual tem sido o obstaculo que até hoje se lhe tem offerecido (...) para levar a effeito a construção do cemitério que são obrigados a fazer junto à Irmida de S. João”(Lº de Acórdãos da Câmara, nº 28 (1842– 1856), sessão de 8 de Janeiro de 1845 AHMTV). Ao que parece a situação continuou a arrastar-se ao longo desse ano, sem solução à vista, notando-se na linguagem usada num acórdão dirigido ao “Ministro e mais mesários da Venerável Ordem 3ª”, em Julho desse ano, um tom quase ameaçador, mandando oficiar os representantes daquela corporação que “até 15 do mês próximo” deviam “continuar na construção do cemitério até sua conclusão, e não cumprindo se daria conta ao Governo de Sua Majestade e se usaria dos meios competentes a fim de se levar a effeito a começada obra” (Lº de Acórdãos da Câmara, nº 28 (1842– 1856), sessão de 12 de Julho de 1845 AHMTV).
Tal intimação não produziu resultados já que a vereação, em sessão realizada em 25 de Outubro desse ano, resolveu remeter “ao Governo Civil todos os papeis que dizem respeito ao cemiterio publico desta villa de onde vinha a obrigação em que se acha a Ordem Terceira de fazer cemitério à sua custa” (Lº de Acórdãos da Câmara, nº 28 (1842– 1856), sessão de 25 de Outubro de 1845 AHMTV).
Só depois do período politicamente turbulento de 1846 – 1847 é que se registam alguns progressos que conduziram à conclusão daquele projecto.

Em finais de 1848 ficou finalmente edificado o cemitério público junto à ermida de S. João, “em virtude d’ordens do Governo dirigidas à Câmara obrigando-se a fazel-o” Anotadores de Madeira Torres – parte Histórica, p. 160).
Foi necessário ainda ultrapassar um último obstáculo, este de ordem religioso.
Como no terreno do cemitério público tinham sido enterrados “protestantes”, isto é, soldados ingleses da guerra peninsular, a Câmara teve de recorrer às entidades eclesiásticas para desbloquear o impedimento que esta situação provocou entre os cidadãos de aceitarem a realização de funerais para o novo cemitério.
Só uma ordem do Cardeal Patriarca, autorizando o reverendo “vigário da vara do Arciprestado de Torres Vedras” a proceder “à Benção de Reconciliação do terreno destinado para o cemiterio ecclesiastico commum” desta vila, permitiu que a sua utilização fosse aceite pelos habitantes de Torres Vedras (Lº de Acórdãos da Câmara, nº 28 (1842– 1856), sessão extraordinária de 14 de Novembro de 1848 AHMTV).
Ainda antes da sua inauguração decidiu-se alargar a área prevista para o cemitério público, ajustando-se com Aleixo José Bernardes a compra de um pedaço de terreno, “ pelo lado nascente e norte” e “pela quantia de cinco mil réis” (Lº de Acórdãos da Câmara, nº 28 (1842– 1856), sessão 17 de Novembro de 1848 AHMTV).
O primeiro enterramento no novo cemitério público teve lugar no dia 30 de Junho de 1849 (Anotadores de Madeira Torres – Parte histórica – pp. 166 e 167.
A abertura do novo cemitério provocou um conflito com a Santa Casa da Misericórdia, que pretendia continuar a sepultar os falecidos no hospital no seu cemitério privado, pelo que, por denuncia do município, o Ministério do Reino ordenou ao Governador Civil de Lisboa, por ofício de 7 de Outubro de 1849 que expedisse “as ordens que tiver por conveniente para que” cessassem “no cemitério da Misericórdia quaisquer enterramentos, porque todos se devem effectuar d’ora em diante no Cemitério Público” (Lº de Acórdãos da Câmara, nº 28 (1842– 1856), sessão de 26 de Outubro de 1849 AHMTV.).
A entrega da administração do Cemitério Público à Ordem Terceira foi oficializada por ordem do Ministério do reino de 13 de Outubro de 1849 (Lº de Acórdãos da Câmara, nº 28 (1842– 1856), sessão de 11 de Dezembro de 1849 AHMTV).

Tendo-se arrastando durante tanto tempo a concretização do estabelecimento de um cemitério público na vila, desconhecemos quase por inteiro o que, sobre esse assunto, se passou nas freguesias rurais do concelho.
Uma primeira ordem para estabelecer cemitérios em todas as paróquias do concelho data de finais de 1838 (Lº de Acórdãos da Câmara, nº 27 (1834– 1842), sessão de 24 de Janeiro de 1839 AHMTV).
Marcando-se várias datas para se examinar os terrenos desses cemitérios elas foram sucessivamente proteladas e só em Setembro de 1839 se realizaram as primeiras vistorias aos terrenos onde se deviam construir os cemitérios das freguesias rurais do concelho(Lº de Acórdãos da Câmara, nº 27(1834– 1842), sessão de 28 de Agosto de 1839 AHMTV).
É preciso esperar pelo ano de 1842 para se encontrar de novo referência a este assunto, quando se mandou “examinar os trabalhos dos cemitérios nas várias paróquias”(Lº de Acórdãos da Câmara, nº 27(1834– 1842), sessão de 3 de Fevereiro de 1842 AHMTV).
Em 1855 ainda não estavam construídos os cemitérios públicos na maior parte das freguesias, como se conclui do conteúdo de um ofício do Governo Civil mandando estabelecer, para prevenir da possibilidade da chegada da epidemia de cólera, “um cemitério em, pelo menos cada uma das freguesias rurais” (Lº de Acórdãos da Câmara, nº 28 (1842– 1856), sessão de 29 de Agosto de 1855 AHMTV).
Contudo, quando em 1869 se publicou o primeiro mapa estatístico nacional sobre as condições de enterramento no país, com dados de 1862,( Ministério da Justiça e dos Negócios Eclesiásticos, Mappas Estatísticos dos Baptismos, Casamentos e Óbitos que houve no Reino de Portugal durante o Anno de 1862, Lisboa, Imprensa Nacional, 1869)
neste concelho já não se efectuavam enterramentos fora de Cemitérios Públicos, ao contrário, aliás, do que ainda acontecia nalgumas regiões do país.

Os distritos de Lisboa e Leiria eram ainda um excepção no país. No primeiro, 98 % dos enterramentos eram feitos em cemitérios públicos e no segundo essa percentagem era de 96,3. Contudo, em 7 distritos, essa percentagem não chegava aos 60%, sendo os casos mais graves os dos distritos de Braga, onde essa prática apenas se aplicava em 6% dos enterramentos, de Viana do Castelo, com 17,6%, de Viseu , com 44,6% , de Vila Real, com 44,6% e do Porto com 46,7% (CABRAL, João de Pina, e FEIJÓ, Rui G., “ A Questão dos cemitérios no Portugal Contemporâneo”, in A Morte no Portugal Contemporâneo, ed. Querco, Lx. 1985, pp.175 a 208).

domingo, 1 de novembro de 2009

O Teremoto de 1 de Novembro de 1755 em Torres Vedras


(ruinas do antigo Convento de Penafirme)


Rezam as crónicas que aquele Sábado, dia 1 de Novembro de 1755, amanheceu sereno e soalheiro.
Era dia de Todos os Santos e muitas igrejas estavam cheias de fiéis desde as 9 da manhã.
Nessa manhã o padre António Duarte, pároco de A dos Cunhados, entregava-se às cerimónias litúrgicas do dia, quando, pelas 9 horas e meia dessa manhã começou a sentir um forte abalo. Na realidade o abalo iniciou-se às 9h40.
A ele devemos um dos mais completos relatos sobre a forma como o terramoto foi sentido na região.
Afirma o pároco que este durou cerca de um quarto de hora. Segundo outras testemunhas, referindo-se à forma com foi sentido em Lisboa, o abalo durou 9 minutos, divididos por três abalos. Outros ainda referem que a terra tremeu por três vezes durante 17 minutos, tendo o mais forte durado 7 minutos.
António Duarte descreve o momento nos seguintes termos: pulsava “a terra para cima e ao mesmo tempo balanceava para as quatro partes, norte, sul, oriente e poente, e sendo maiores os balanços que dava do oriente para poente”.
Um dos maiores impulsos deu-se nessa direcção, “a meio do terramoto”. Nessa altura o padre António Duarte estava no interior da Igreja de A-dos-Cunhados, “de joelhos junto ao altar-mor capitulando as preces que nesse acto se fazem” e viu “a tribuna da capela-mor” sobre ele, “o que tão bem viram as mais pessoas que estavam no corpo da Igreja e além disso viram o coro e porta principal ir submergindo para o fundo”. Quando o abalo terminou, os paroquianos, vendo a sua igreja ilesa, em reconhecimento de tal facto, prometeram “à Senhora de mais se não apagar a sua lâmpada, nem de noite, nem de dia”, mantendo a cera acesa nos oito dias seguintes.
No lugar de A-dos-Cunhados não caiu qualquer casa, “só duas moradas de casas ficaram somente com sinais do que foi e as mais delas totalmente ilesas”, situação atribuída a milagre “de Maria Santíssima Senhora da Luz”.

Os estragos do terramoto no concelho de T. Vedras

Nem todos os lugares do concelho tiveram a mesma sorte de A-dos-Cunhados. Nas proximidades, no “lugar da Póvoa (…) e seus arrabaldes (…) ficaram assolados por terra e de todo destruídas seis moradas de casas; outras ainda que em pé, inabitáveis e todas padeceram mais ou menos ruínas”. Na Maceira “ficaram inabitáveis, e em muita parte destruídas, cinco moradas de casas e todas as mais, ainda que habitáveis, com mais ou menos ruína”. Noutros casais da freguesia “não houve ruína que obrigasse aos seus moradores a mudar sua morada, porém em todas se vê ou méis ou menos sinais do que foi”.
Ainda na freguesia, o Convento de Penafirme, o de segunda fundação, ficou em ruínas e o novo, que estava em construção, junto à actual escola de Penafirme, “ficou tão arruinado que é preciso tornar dos fundamentos”.
Nas respostas ao inquérito paroquial de 1758 é possível perceber o impacto do terramoto nas outras freguesias do concelho:
Na Carvoeira a capela-mor da Igreja paroquial padeceu de ruína, bem como a torre sineira, e em toda a freguesia arruinaram-se sete casas.
Em Dois Portos caiu um sino e a abobada da capela-mor ficou gravemente danificada, sendo necessário deitá-la abaixo para a reparar. Nesta freguesia os edifícios das localidades da Maceira e do Mato da Granja ficaram fortemente danificados, ficando por terra a totalidade das habitações deste último lugar, vendo-se os seus habitantes obrigados a viver algum tempo fora desses lugares. Só a Caixaria não registou qualquer prejuízo.
A vizinha freguesia de Runa sofreu igualmente “grande ruína”, desconhecendo-se mais pormenores.
Em Carmões “padeceram as habitações todas da freguesia, umas com maior ruína por se demolirem paredes e pedaços delas, por isso inabitáveis, e outras com menor, mas fendidas e abertas de sorte que causavam medo para se habitarem”. A igreja paroquial foi parcialmente destruída, tendo caído dois pedaços da abóbada, “um sobre o coro que todo o abateu e outro junto ao arco do cruzeiro, e toda a abóbada ficou fendida pelo meio e a da capela-mor mais traçada e moída, e as paredes laterais da mesma sorte: o arco do cruzeiro desuniu-se em várias partes e a tribuna da capela-mor”. A torre sineira “ficou com muitas aberturas e fendas, mas não caiu, talvez por estar presa na parte superior com linhas de ferro”.
O pároco da Freiria limitou-se a referir ter padecido “esta Igreja” e toda a freguesia “tanto o terramoto, tanto, que se conta pela mais destruída de todas”.
A freguesia da Ventosa sofreu igualmente grandes estragos. A Igreja paroquial sofreu estragos nas colunas que sustentavam as naves e em todo o corpo. Igualmente arruinada ficou a Ermida de Nª Srª da Piedade, no Cadouço.
A abobada e uma torre que “se achava feita havia poucos anos” na Igreja de Ponte do Rol foi o principal estrago registado nesta freguesia, embora “quase todas as habitações desta terra” tivessem “padecido” com o terramoto.
Ao contrário das anteriores freguesias, a do Ramalhal foi das que menos sofreu com o terramoto: a “ruína que padeceu do terramoto não foi muito grande nem fez muita destruição”.
Desconhece-se o que se passou nas freguesias de Matacães, Monte Redondo e Maxial, S. Pedro da Cadeira e Turcifal, devido à escassez de informações sobre este tema referidas na resposta ao inquérito de 1758. As freguesias de Campelos, Silveira, Outeiro da Cabeça e Maceira, não existiam então como tal, pertencendo, respectivamente, a Stª Maria, a S. Pedro da Cadeira, ao Maxial e A-dos-Cunhados.


Na vila de Torres Vedras

A então vila de Torres Vedras foi “das mais bem livradas do terramoto”, segundo o relato do pároco de Stª Maria, o padre António Ribeiro. Contudo conheceu alguns estragos consideráveis nas suas casas e monumentos.
A igreja de Stª Maria do Castelo viu as suas duas torres caírem.
A torre do relógio “caiu para dentro sobre o coro”, quebrando “as grades e a imagem do Santo Cristo que nelas estava”. Uma estante de livros “levou abaixo uma linha de ferro que estava correspondente ao órgão, o qual pegando por ele o botou abaixo a igreja”.
A torre sineira caiu para fora “quebrando os dois sinos que tinha” e a sineta.
Quanto aos edifícios particulares “padecerão muitas ruínas (…), uns totalmente caídos, os mais todos ficaram vários sentimentos, principalmente nas paredes da rua, que sobre ela ficarão pendentes”.
Sabe-se também que o Castelo, embora não habitado e já em parte arruinado, sofreu graves estragos, ainda hoje visíveis.

O maremoto no litoral torriense

Dos fenómenos associado ao terramoto que mais impressionaram os homens daquele tempo, o maremoto que se seguiu ao abalo de terra, atingindo toda a costa portuguesa, foi sem dúvida o mais assustador de todos.
Deve-se mais uma vez ao pároco de A-dos-Cunhados a única descrição conhecida desse fenómeno no nosso litoral
Quando se deu o terramoto, o “mar estava acabando de encher”. O maremoto deu-se nesta costa cerca de 1 hora e 1/4 depois do abalo, por volta das 11 da manhã.
A descrição daquele padre confirma as descrições do que por essa altura se passou em Lisboa, registando-se três grandes fluxos de subida e descida da água: “o fluxo e refluxo extraordinário só foi por três vezes (…) porém, toda aquela tarde continuou enchendo e vazando, recolhendo as águas com tanta velocidade que ficava tudo enchuto até à distância em que se tinha levantado e mandando-as com a mesma velocidade para terras”, ou seja, para além daquelas três grandes ondas, outras ondas mais pequenos tiveram lugar nesse dia, calculando-se actualmente que se registaram ao todo 16 ondas de grandes dimensões, destacando-se, contudo, aqueles três momentos.
Observada a partir de Penafirme e Porto Novo, “a novidade que se viu do mar (…) foi o levantar-se esta coisa de meia légua
cerca de 2 quilómetros e meio
distante da terra em um grande monte em que algumas pessoas divisaram diversas cores nas águas, pondo esta novidade em tão grande pasmo e temor a toda aquela vizinhança, que quase toda, imaginando era chegado o tremendo dia do juízo, da mesma sorte que estavam, ou bem ou mal compostos, sem fecharem suas casas e sem cuidarem de seus bens, fugiram para este lugar e igreja”.
Continuando a relatar-nos o tsunami, refere o cura António Duarte: “esse grande monte de mar veio discorrendo com voracidade para terra e combateu as arribas na altura de nove ou dez braças (…) Em um vale que corre do Sul para o norte e desagua na praia de Porto Novo, passando-se naquele tempo a pé enchuto correu tão cheio de água que por algum tempo se não pôde passar, cuja enchente lhe procedeu dos muitos olhos de água que circunvizinhos rebentaram (…). Os palmos que cresceu mais do ordinário se pode conjecturar pela altura das nove ou dez braças
algures entre os 16 e 20 metros de altura
em que combateu as arribas (…) chegando pela terra dentro a distancia que não há tradição chegasse em tempo algum
de facto, terá entrado, na zona de Porto Novo, pelo menos até às proximidades da actual “fonte dos frades".
Hoje pensa-se que a onda maior, que pode não ter sido a primeira, a atingir, em impacto directo, a costa portuguesa tinha um altura de cerca de 15 metros, com uma velocidade junto ao litoral de cerca de 60 Km por hora, embora a que atingiu Lisboa tenha sido mais pequena, talvez com uns 6 metros, devido ao factor atenuante da menor profundidade do rio Tejo.

Consequências na vida das pessoas

No concelho de Torres Vedras não existe qualquer registo conhecido sobre mortos ou feridos. A lenda refere apenas o caso de um frade de Penafirme que, ao subir ao monte em frente ao convento para fugir ao maremoto, teria falecido de ataque cardíaco.
Pior foi o agravamento das condições de vida das populações, como revela o pároco de Carmões: “Padeceram todos a falta de condutos para a sustentação costumada por ficarem destroçados os engenhos de moer pão, nas lojas ou tendas faltaram coisas comestíveis, e isto por tempo de mês e meio (…): houve também falta de materiais para a reedificação das casas”. E, à laia de conclusão, rematava o pároco Baltazar Freire da Costa: “esta freguesia é pequena e pobre (…) e no tempo presente estão mais necessitados pela falta e custo do pão, por cuja causa estão mais aptos para pedirem esmola” do que para ajudar a reconstruir a igreja paroquial.
No inquérito realizado dois anos depois daquele evento, vários párocos referem o atraso na reconstrução das igrejas paroquiais e habitações mais atingidas, bem como das dificuldades por que passavam os seus paroquianos desde aquela data.
Embora Torres Vedras não tenha sofrido o que sofreram outras localidades do país, com destaque para o que sucedeu em Lisboa, este trágico acontecimento ficou bem marcado no inconsciente colectivo de gerações de torrienses.

Fontes : Cópia do manuscrito do Padre António Duarte, existente nos registos paroquiais de A-Dos-Cunhados original de 1756, cópia de 1908 ; Dicionário Geográfico memórias Paroquiais de 1758, depositadas no Arquivo Nacional da Torre do Tombo.