domingo, 28 de março de 2010

Recordar um texto de Alexandre herculano sobre Runa, no dia do seu bicentenário

Passando hoje o bicentenário do nascimento de Alexandre Herculano, um dos primeiros historiadores a interessar-se pelo estudo e divulgação da História Local, em parte devido à importância que deu ao municipalismo na consolidação da nação portuguesa, resolvemos, em memória desse grande vulto da cultura e da historiografia portuguesa, recordar aqui um texto da sua autoria publicado na revista “O Panorama”.

“O Panorama”, revista dirigida por Alexandre Herculano e que se publicou entre 1837 e 1844, publicou no seu número 72 de 15 de Setembro de 1838 um interessante texto, da autoria desse historiador, sobre o então denominado Asilo de Runa (actual Centro Social de Runa), cujas páginas, consultáveis no site da Hemeroteca de Lisboa, reproduzimos em baixo.

(clicar sobre as páginas para ler emtamanho grande)

terça-feira, 23 de março de 2010

Petição contra o pagamento de portagens na "Auto-estrada do Horror"

Depois de terem destruido a Linha do Oeste, parece que agora se procura tornar a única ligação entre Torres Vedras e Lisboa, a A8, num autêntico safari, pejado de armadinhas e perigos, onde se sucedem quase diáriamente os acidentes graves.
Na sua origem aquela auto estrada já revelava grandes problemas de segurança, mas agora, com as obras, viajar nela, ainda por cima tendo em conta a falta de civismo de muitos condutores e a autêntica corrida em que se lançam o imenso número de carros de grande cilindrada que existem nesta região, circular nela, única alternativa para chegar com tempo a Lisboa, torna-se uma imensa aventura à Indiana Jones.
O pior é que continuamos a pagar o mesmo, quando, em determinadas horas do dia, é impossível andar a mais de 40 km hora, principalmente entre a Malveira e Loures.
Em boa hora o PSD de Torres Vedras lançou uma petição para pedir a suspensão do pagamento das portagens enquanto durarem as obra.
A reportagem vem hoje no Público e pode ser lida AQUI.
Quanto à petição, ela pode ser assinada AQUI .

Descendente de Wellington visita as Linhas de Torres Vedras.

(Duque de Wellington, aliás Lord Douro, regressa às Linhas de Torres - Foto Público)

Decorreu este fim de semana um raid hipico, percorrendo as Linhas de Torres Vedras, que contou com a presença do descendente do Duque de Wellington.
O Público de hoje inclui uma grande reportagem sobre mais esse acontecimento comemorativo das "Linhas de Torres", cuja reprodução integral incluimos em baixo, como mais um documento importante para este ano do bicentenário:

"A cavalo pelas linhas onde começou a derrota de Napoleão



Lord Douro é descendente directo de Arthur Wellesley, o general britânico que entrou para a história como herói das guerras napoleónicas. No sábado, montou a cavalo e visitou as Linhas de Torres, o palco onde começou a derrota final de Napoleão. Foi uma viagem no tempo. Por Luís Francisco (texto) e Raquel Esperança (fotografia)
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Um general inglês, tropas portuguesas e inglesas, mão-de-obra lusitana. A mais antiga aliança militar da Europa produziu os efeitos gloriosos há exactamente dois séculos, quando a terceira invasão francesa partiu os dentes às portas de Lisboa. Em apenas um ano, a visão de Arthur Wellesley (futuro duque de Wellington) e o suor dos portugueses criaram uma das mais notáveis linhas de defesa da História. Para comemorar o feito, decorre um extenso programa de celebrações, que no sábado passado incluiu a visita de Lord Douro, o descendente directo do homem que travou Napoleão. Tal como o seu antepassado, o nobre britânico montou um cavalo castanho (emprestado por um criador português de cavalos de raça árabe). Ao peito tinha o número 33, exactamente o mesmo do regimento do seu tetravô. E foi assim que largou para o Raid dos 200 Anos das Linhas de Torres Vedras, prova de resistência hípica que juntou algumas dezenas de participantes num percurso pelas fortificações erguidas no início do século XIX e que agora vão sendo recuperadas.

É uma viagem no tempo, um relance sobre o passado que em muito deve às tecnologias do futuro. "Os moinhos dão um jeitão", explica Clive Gilbert, vice-presidente da Bitish Historical Society of Portugal. A paisagem explica o resto: nas ventosas cumeeiras das serras do Oeste alinham-se os ciclópicos moinhos da era moderna, os geradores eólicos. Para os colocar no local e garantir a sua manutenção, os proprietários construíram estradas que rendilham os pontos mais elevados. E foi exactamente aqui que Wellington mandou construir as fortificações das Linhas de Torres.

São, na sua esmagadora maioria, redutos escavados nos pontos mais elevados, protegidos por fossos e parapeitos e munidos de seteiras para permitir a instalação de peças de artilharia. Foram construídos às dezenas (152 no total) num curto lapso de tempo e travaram as tropas napoleónicas lideradas pelo general francês Massena.

As invasões francesas

Um pouco de enquadramento. As ambições territoriais de Napoleão Bonaparte levaram-no a assinar um pacto com Espanha (em Outubro de 1807) e a invadir Portugal, cujo destino seria ser dividido pelas nações conquistadoras. A ideia era isolar ainda mais a Grã-Bretanha, histórica aliada dos portugueses. O primeiro acto foi pouco heróico para as cores lusas: os franceses chegaram, a família real fugiu para o Brasil (levando 15 mil pessoas consigo) e o general Junot tomou as rédeas do país.

Mas então a história começou a mudar. Os franceses não respeitaram a autoridade real de Carlos IV de Espanha e, perante a insatisfação popular, tiveram de concentrar forças no país vizinho. O desembarque em Portugal de Arthur Wellesley e 10 mil soldados britânicos permitiu expulsar os franceses, entretanto já acossados por vários focos de rebelião popular. Era o fim da 1.ª Invasão e a segunda, menos de ano e meio depois, quase não teve história.

Mas em 1810 os franceses voltaram à carga. Desta vez, porém, havia um plano específico para os travar antes de chegarem à capital. Wellington decidiu que as populações das Beiras retirariam das suas casas e propriedades, recolhendo-se a sul das Linhas de Torres. Para trás não deixaram nada que pudesse sustentar as tropas de Massena. A política da "terra queimada" era apenas um dos pormenores da estratégia. Outros eram a formação de linhas sucessivas de fortificações e o estabelecimento de sistemas de comunicação que permitiam saber rapidamente o que fazia o inimigo e movimentar as tropas para fazer face à ameaça.

Começou aqui a ideia de que a informação é poder, um princípio basilar da guerra moderna. O primeiro correspondente de guerra, no sentido mais actual do termo, foi Henry Crabb Robinson, que exerceu a sua actividade para o jornal The Times, primeiro na Alemanha e depois na península Ibérica, incluindo Portugal. Diz-se mesmo que, desconfiando dos relatos que lhe eram fornecidos pelos seus generais, Napoleão tinha espiões em Londres cuja missão era ler os jornais ingleses e reportar ao imperador o que realmente se passava no teatro de guerra...

A história a cavalo

Em Portugal, nos idos de 1810, o que se passava era um jogo de xadrez militar. Wellington organizou a defesa nas Linhas de Torres de forma exemplar. "Era um homem extraordinário", explica Clive Gilbert. "Capaz de ver o quadro geral, mas também de estar atento aos pequenos detalhes."

Clive, um inglês nascido em Lisboa - "sou alfacinha, da freguesia de Santa Isabel" -, fala durante o périplo por várias das fortificações instaladas na região. Mostra como as defesas estavam organizadas em duas linhas sucessivas, mas com alguns fortins pelo meio. "Neste [o número 28, tal como o 29], havia forças preparadas para retardar o inimigo se a primeira linha cedesse, permitindo o reagrupamento das milícias na segunda."

O corpo principal do Exército estacionava por perto, pronto a intervir nos pontos críticos. "As Linhas de Torres eram dinâmicas e essa foi a grande diferença", explica Gilbert. Os generais sabiam sempre o que se passava, porque os postos de observação comunicavam entre si através de um sistema de telégrafo visual (com balões e bandeiras) que utilizava os códigos da Marinha britânica. Um código ainda hoje tão secreto que, ao pedir informações para replicar o sistema no alto da serra do Socorro, as equipas portuguesas receberam apenas dois ou três exemplos concretos de mensagens.

Por esta altura, claro, o descendente de Wellington já não vai a cavalo. Ele cumpriu apenas o sector curto da prova, 20 km por montes e vales, menos de metade do que o grande general palmilhava todos os dias durante a guerra. "Já tinha visitado as Linhas, mas fazê-lo a cavalo é muito especial", assume Lord Douro, enquanto petisca qualquer coisa após a chegada. É por esta altura que lhe dizem que foi o vencedor da competição curta, uma vez que o seu cavalo era o que apresentava melhores índices físicos no final do percurso.

É claro que os outros dois "competidores" se limitaram a fazer-lhe escolta e o ilustre visitante não esconde isso. "Mas eu nem corri... Quem quer que tenha visto a velocidade a que passei percebe logo que não se pode usar essa palavra", graceja. Contou com um cavalo de excelente nível, cujo destino será agora o Qatar. "E era da mesma cor do do meu antepassado, o Copenhagen!"

Uma guerra moderna

"Foi uma sensação fantástica, cavalgar pelos locais onde o meu tetravô andou. Ele não deixou memórias, mas era muito prolífico em relatórios e cartas. Por isso, ao ver esta paisagem, foi como se estivesse a reviver o que ele contava." Bom, com algumas limitações... "Não gostei de ver tantos moinhos; sou a favor das energias renováveis, mas não em paisagens belas e históricas como esta. Na Escócia, acontece o mesmo..."

A boa disposição de Lord Douro (nome que adoptou entre os vários títulos honoríficos da família, retirando o "do" da denominação portuguesa) percebe-se. Quando lhe perguntam se a memória de um herói de guerra como Wellington é um fardo ou uma honra, não hesita: "Não pude escolher de quem descendo. Fiz a minha vida independente disso, nos negócios, na política [foi eurodeputado durante dez anos]. Mas a verdade é que me tem sido proporcionada a possibilidade de visitar e conhecer sítios fantásticos, por causa das homenagens ao meu antepassado."

Sempre com um sorriso para as objectivas dos fotógrafos, o herdeiro de Wellington não se coibiu de brincar com os espectadores que se aglomeravam junto de uma descida particularmente íngreme: "Portanto, vieram até aqui só para me verem cair!" Apesar de já não ser um jovem (fará 65 anos em Agosto), não só não caiu como cumpriu aqueles exigentes (e escorregadios) metros na sela, ao contrário de outros participantes, que desmontaram e levaram o cavalo pela arreata.

É tempo de regressar aos carros e continuar o périplo pelas Linhas de Torres, sempre encontrando pelo caminho alguns dos participantes da prova equestre. Entramos no forte do Alqueidão, onde escavações recentes começam a dar melhor uma ideia do que era este grande reduto a mais de 430 metros de altitude, em linha de vista com a serra do Socorro (395 metros), onde, horas depois, se inaugurou uma réplica do telégrafo visual que tanto ajudou no tempo das invasões francesas. "Belo trabalho dos engenheiros portugueses", realça Lord Douro, perante a velha calçada da estrada militar.

Foi neste e noutros cenários, como as quintas onde se instalavam os generais, que se decidiu a batalha que marcou o fim das ambições napoleónicas de dominar a Europa. Era uma guerra de antigamente. Uma guerra que parava no Inverno. Nessas alturas, os piquetes luso-britânicos e franceses encontravam-se. "Os franceses queriam jornais, os britânicos brandy...", ri-se Clive Gilbert. Já os generais ofereciam-se outros requintes. "Os franceses convidavam os britânicos para assistirem a peças de Moliére em Santarém; os britânicos recebiam os franceses para corridas de cavalos e jogos de futebol [um futebol arcaico, antecessor do actual]."

Era, de facto, uma guerra à antiga. Mas que lançou muitas das bases da guerra moderna. E o seu testemunho jaz, em tantos casos ainda escondido, nas serranias do Oeste. À espera que os portugueses o descubram".

segunda-feira, 22 de março de 2010

...Ainda o Sr. Vinho!

Chegados aqui talvez valha a pena fazer um balanço sobre o modo como se tem debatido a aquisição do “Sr. Vinho” pela Câmara de Torres Vedras.

Parece-me a mim que o debate chegou a um impasse, sem que se tenha discutido o essencial.

Neste momento o “debate” começa a variar entre a demagogia economicista e a mera partidarite, começando já a entrar, aqui e ali, pelo mero ataque pessoal.

Para mim a discussão essencial devia passar pelo debate sobre as seguintes questões:

Até que ponto a arte é um bem público?;

Qual o seu papel na identidade de uma comunidade urbana moderna? ;

Até onde estamos dispostos a gastar financeiramente para valorizarmos culturalmente o meio onde vivemos?;

A obra em questão, de Joana Vasconcelos, será ou não digna de integrar a valorização de um espaço público em Torres Vedras?

Em relação à primeira questão, penso que muito do debate tem estado inquinado exactamente por estarmos a falar de arte e cultura, uma actividade ainda menorizada e considerada como um bem supérfluo por muita gente, lamentavelmente gente com responsabilidades políticas e sociais. Tivéssemos nós a falar de grandes superfícies comerciais, de vias rápidas ou de futebol e provavelmente os números avançados não incomodavam tanta gente!

Quanto à segunda questão, basta olhar à nossa volta, e percebermos a importância da arte para a identidade de Torres Vedras. Se os nossos antepassados pensassem apenas com cifrões não nos teriam dado um Chafariz dos Canos, um Convento do Varatojo, uma capela do Sirol, um rico e vasto património de imagens sacras, pintura, azulejaria, uma edifício como o de Runa, umas Termas dos Cucos… e Torres Vedras seria pouco mais que um dormitório sem identidade.

Claro que valorizar o nosso património e a nossa identidade passa por não ficar parado no tempo e para isso são necessários meios financeiros. Não deixa de ser curioso que a opinião de parte da oposição política local sobre o assunto seja coincidente com a estreiteza de vistas do governo de José Sócrates em termos de investimento e no estafado discurso da crise para justificar todo o radicalismo economicista que ele tem posto em prática.

Continuo a considerar que os meios financeiros em jogo não comprometem outros investimentos nem alteram os valores da dívida aos fornecedores que são apontados. Os nossos políticos locais, mais do que ninguém, deviam saber que não podem misturar alhos com bugalhos.

Eventualmente a divergência podia passar por se considerar Joana Vasconcelos uma artista menor, pouco digna de receber por uma obra sua o valor em jogo. (Para sossegar a mesquinhez de alguns, convém recordar que Joana Vasconcelos não trabalha sozinha, tem à sua volta uma vasta equipa de artesãos e por isso aquele valor não vai todo para o seu bolso).

Contudo não vejo opiniões fundamentadas que ponham em causa essa obra, do ponto de vista artístico-cultural.

Para aqueles que gostam muito de falar, olhando apenas para a camisola política do “adversário”, convidava-os a visitar a obra de Joana Vasconcelos no Centro Cultural de Belém, perceber o significado da sua obra e fazerem a leitura de alguns textos sobre a história da arte nos últimos cem anos, para poderem aferir da sua importância cultural.

A ignorância, e, ainda pior, o fazer jus dessa ignorância, não costuma ser boa conselheira nestas questões.

Bem sei , comparativamente com Caldas da Rainha e Mafra, que os níveis de analfabetismo e de iliteracia neste concelho eram bastante elevados no ultimo censo, o de 2001, mas acredito que eles hoje sejam ligeiramente diferentes e as pessoas já tenham outras exigências que passam, entre outras, por poderem usufruir de uma cidade que faça da arte e da cultura, e cada vez mais, a sua imagem de marca.

quinta-feira, 18 de março de 2010

SIM, SR. VINHO!

A exposição de Joana Vasconcelos é o tema central da edição do Jornal de Letras desta quinzena, que mostra na capa a artista junto do "Sr. Vinho"


A polémica sobre a aquisição, pelo município torriense, da obra “sr. Vinho” , da artista plástica Joana Vasconcelos, continua acesa.

Pelo que tenho lido quase ninguém questiona a qualidade artística da obra.

A questão tem sido mais discutida na perspectiva política e económica.

Politicamente penso ter havido um erro de estratégia, ao fazer-se tabu sobre a sua aquisição, que só foi conhecida após o facto consumado. Acredito que se se tivesse apresentado a proposta publicamente, antes da aquisição, o ruído seria tanto que nunca a veríamos concretizada. O provincianismo ainda tem muito peso nesta terra. Penso que foi um risco calculado, embora …pouco “democrático”.

Infelizmente a polémica também não tem fugido à “partidarite”, como se estar a favor ou contra a aquisição da obra fosse o mesmo que estar a favor ou contra o presidente da Câmara.

Esta questão é muito mais que uma mera questão partidária. É uma questão de opções culturais e de valorização do espaço urbano torriense.

Sobre a perspectiva económica, grande parte das intervenções contestando o preço da obra roçam a mais imbecil demagogia economicista.

O facto de se gastar dinheiro numa obra de arte não impede que continue a haver dinheiro para outras actividades ou necessidades. Claro que, também aqui, se pecou por falta de informação. Afinal quem são e qual o valor do apoio dado pelos mecenas? Quanto vai ser pago pelo município e de onde vêm esses fundos? Estas questões têm de ser respondidas, de forma clara e frontal, pela vereação.

Seja como for o valor avançado não é excessivo para o orçamento de um município como o de Torres Vedras.

Nada disto deve impedir que os torrienses se esforcem para que se concretize a aquisição do “Sr. Vinho”, pois será sempre uma mais-valia para valorizar esta cidade.

Se têm tantos problemas com o dinheiro a gastar, então encontrem uma solução alternativa que pode passar, por exemplo, por uma subscrição pública, mas, por favor, não criem obstáculos á viabilização dessa aquisição. Não repitam aquilo que outros “políticos” torrienses fizeram no século XVI , impedindo a instalação da Universidade em Torres Vedras.

Podem ler mais sobre o “sr. Vinho” e a exposição de Joana Vasconcelos AQUI.



sexta-feira, 12 de março de 2010

Ainda o O Sr. Vinho...achegas para uma polémica.



Este é o artigo que deu início à polémica:

“Senhor Vinho custa 300 mil euros”

A praça em frente ao futuro Mercado Municipal de Torres Vedras receberá a partir de Maio próximo uma obra d’arte de Joana Vasconcelos. A Câmara torriense vem “namorando” há alguns meses com a artista portuguesa, nascida em Paris no ano de 1971, tendo chegado já ao nível negocial do dito artefacto.

Em causa está a aquisição do “Senhor Vinho”, um garrafão em ferro forjado de dimensões gigantescas (5m x 3,5m), como é aliás apanágio das obras d’arte criadas pela artista de renome e pergaminhos internacionais.

O presidente da Câmara, Carlos Miguel, confessou ao Badaladas na noite da passada segunda-feira durante a abertura da exposição onde está integrada a citada peça, no Museu Berardo do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, que o garrafão tem um custo real de ateliê de 300 mil euros (60 mil contos na moeda antiga).

Todavia, o autarca adiantou que há ainda outros dois preços a ter em linha de conta, a saber: um fixado pela própria artista e outro a cobrar à Câmara no acto da compra, sem contudo revelar os respectivos números. Tudo porque o edil está neste momento a negociar o apoio para a aquisição da obra através de dois conhecidos mecenas.

O primeiro deles, garantido desde já, é o banco Santander Totta, e o outro, ainda em fase preliminar de negociações, é a Fundação EDP.

Carlos Miguel, um reconhecido “amante da Cultura e da Arte”, justificou entretanto que a compra do “Senhor Vinho” não é nenhuma “aquisição casuística”, porquanto se enquadra dentro duma vontade assumida em dotar os novos equipamentos municipais com obras de valor artístico reconhecido.

Aliás, “esse percurso coerente”, como adiantou, vem desde os tempos do Estado Novo, em que existia uma norma que obrigava todos os edifícios e equipamentos públicos a exibirem uma obra de arte. “Coisa que ao longo dos tempos foi caindo em desuso”, lembrou o presidente da Câmara.

Ao ressuscitar agora precisamente uma ideia do “tempo da ditadura”, o edil torriense promete que a veia artística vai continuar a ser alimentada em Torres Vedras e a percorrer os trilhos de todo o concelho, anunciando que, a titulo de exemplo, o futuro Centro Educativo da Ventosa tem uma dotação de cerca de 30 mil euros para esse fim.

Recorde-se que já no final do consolado do presidente Jacinto Leandro, o então vereador Carlos Miguel, liderou a aquisição de outras duas obras de arte de renome que foram muito “contestadas” na altura, nomeadamente de mestre Charrua e de Fernando Conduto, hoje localizadas em duas rotundas da conhecida Avenida Poente.

Entretanto, o famoso garrafão gigante, depois de terminada a exposição no lisboeta CCB, viajará até França onde, em Paris, integrará uma mostra de arte internacional. Só depois virá a ser instalado na praça do novo Mercado Municipal torriense, após sofrer algumas transformações de última hora, fazendo jus ao rendilhado das varandas da zona histórica da cidade.

A título de curiosidade, refira-se ainda que o próprio Joe Berardo se mostrou interessado na aquisição da peça, mas já foi tarde pois a Câmara de Torres Vedras adiantou-se ao negócio.

Memória descritiva do “Senhor Vinho”

Uma enorme estrutura em ferro forjado adopta a forma de um garrafão de vinho. A estrutura é percorrida e assim decorada com videiras, impondo a sua presença monumental no exterior do novo Mercado Municipal de Torres Vedras.

Nas grades em ferro que dão forma ao garrafão reconhecemos os padrões característicos de vedações e guardas de varandas. A relação aparentemente distante entre o objecto representado e o elemento que o estrutura é contrariada pela especificidade da zona de implantação da obra.

“Senhor Vinho” assume-se como uma autêntica escultura-caramanchão, onde o elemento industrial e o elemento natural se conjugam numa simbiose perfeita, em clara comunhão e complemento com a malha circundante.

O ferro forjado, material arquitectónico simultaneamente funcional e decorativo, surge investido de importância estrutural na construção do objecto, cuja domesticidade é negada pela hiperbolização da sua escala. A estrutura alusiva ao garrafão e sobretudo as videiras que o envolvem, constituem um micro universo rural transportado para a realidade urbana, contrariando a tradicional incompatibilidade entre esses dois mundos.

Fortemente enraizado na sociedade portuguesa, o vinho assume inegável importância em diversos contextos – social, económico, religioso –, mas a universalidade que se lhe reconhece excede a especificidade única de um país ou região, conferindo à obra uma leitura transfronteiriça e a possibilidade de um diálogo enriquecedor, complexo e estimulante com outras culturas, regiões e países.

Assertivas referências históricas e culturais, e alusões relativas à realidade urbana e ao ambiente doméstico, colaboram numa estratégia de apropriação, descontextualização e subversão da banalidade, transportando o observador para um universo desafiador das rotinas programadas do quotidiano, um mundo estranho e simultaneamente familiar”.

Fernando Miguel ,in  Badaladas 5-3-2010

… e esta foi a resposta do presidente do município à polémica desencadeada:

“Sr. Vinho - DESINFORMAÇÃO

“Na sequência da notícia publicada na edição de 05/03/10 do Jornal Badaladas, cumpre-me esclarecer:

Pela mão do seu Director, o Badaladas, na sua edição de 05/03/10, deu notícia sobre a aquisição pela Câmara Municipal, de uma obra de arte de Joana Vasconcelos, sob o título “Senhor Vinho custa 300 mil euros”.

Não querendo pôr em causa o conteúdo da informação, não posso deixar passar em claro a desinformação que o título contém, pois é falso e o Sr. Director sabe que é falso.

É bom que se diga que os órgãos de comunicação social regionais foram convidados a estarem presentes na inauguração da exposição retrospectiva da artista plástica Joana Vasconcelos, que ocorreu no dia 01/03/10, no Centro Cultural de Belém, tendo o Badaladas enviado o próprio Director do Jornal.

Na declaração aos jornalistas ocorrida no local, à primeira e única pergunta feita pelo Badaladas, “quanto é que custa?”, por mim foi dito que teríamos que equacionar três valores: o valor da obra atribuído pela Artista que é de € 300.000,00, o valor de aquisição pela Câmara Municipal que não estava em condições de revelar, a pedido da Autora, mas que é muito inferior ao valor da obra e, ainda, o valor dispendido pela Autarquia que será inferior ao valor da aquisição, pois estamos a negociar o patrocínio da peça com duas instituições nacionais.

Fácil é concluir ser errada e falsa a informação que “Senhor Vinho custa 300 mil euros”.

Mais grave ainda, é não se tratar de um lapso ou de um erro de interpretação, pois o Sr. Director tem consciência que esse não é o valor de custo da escultura para a Câmara Municipal, tendo agido e escrito de forma deliberada.

Lamento que o “Badaladas”, neste caso, e por intermédio do Sr. Director, não tenha cumprido a sua função de informar as pessoas, nomeadamente os torrienses.

Por último, um reparo, uma informação e uma sugestão.

O reparo pelo facto do Sr. Director tendo estado na inauguração da exposição da Joana Vasconcelos, que será certamente um dos acontecimentos do ano no mundo das artes plásticas em Portugal, não tenha dedicado uma palavra, uma letra sequer, ao currículo da Artista e ao seu percurso internacional, o que revela o espírito e propósito da peça (des)informativa.

A informação, é que ao contrário do que é dito no artigo, a Câmara Municipal não se adiantou a ninguém na aquisição do “Sr. Vinho”.

A Câmara Municipal convidou a Joana Vasconcelos a apresentar proposta de uma obra de arte para o Mercado Municipal, tendo a mesma respondido através de dois projectos, onde se incluía o “Sr. Vinho”, sobre o qual recolheu a escolha.

Depois de negociado o valor da aquisição, em condições verdadeiramente excepcionais para a Câmara Municipal, a escultura foi produzida para Torres Vedras, ficando prevista a possibilidade de vigorar na exposição do CCB, caso ficasse pronta a tempo.

A sugestão, é que visitem a exposição da Joana Vasconcelos no Centro Cultural de Belém, onde encontrarão um percurso muito coerente e quase sempre divertido pelas obras da Artista e, à entrada e/ou à saída, vejam o “Sr. Vinho” que está no Jardim das Oliveiras, sendo já um pedaço de Torres Vedras em Lisboa.

Numa altura em que a pressão sobre os órgãos de comunicação social está na ordem do dia, faço questão de pessoal e publicamente dar conta do que considero uma desinformação, não para pressionar quem quer que seja, mas tão só para repor a verdade.

Ao “nosso” Badaladas, mas muito especialmente ao Sr. Director, apresento os meus votos sinceros de melhor (in)formação".

Carlos Manuel Soares Miguel
(Presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras)
5 de Março de 2010.

Entretanto surgiram no facebook dois movimentos:
Um contra aquela iniciativa , intitulado “300 Mil Euros por um Garrafão … não”e que justifica a sua iniciativa com os seguintes argumentos:

"Num cenário de profunda recessão em Portugal, motivada por uma crise económica que fez a taxa de desemprego e o défice dispararem para níveis históricos, e onde cada dia mais Portugueses e Portuguesas ficam sem emprego, esta tende fazer verdadeiros milagres para assegurar a sua subsistência, onde também deve ser dado um exemplo por parte dos nossos governantes, que incentive a recuperação económica e ponha fim ao despesismo, o Presidente da CMTV propõe-se a gastar mais de 300 mil euros num garrafão. Não pondo em causa a qualidade artística do mesmo, e verdade é que existem muitas outras prioridades neste nosso concelho.
O Presidente da Câmara não colocou o assunto à consideração da vereação, nem sequer o referiu em Assembleia Municipal, optando, antes, por agir por sua livre iniciativa".

… outro de apoio, intitulado “Eu sou fão do garrafão”.
Deste último transcrevemos um “post” da autoria de Alfredo Reis:

2Grande polémica que anda aí por Torres!
Só me apercebi disso ontem (o Badaladas chega-me à 3ª feira).
Tentei, através dos grupos de fãs do Facebook perceber o que se passava.
Pelo que me parece, o que está em causa não é a qualidade artística da peça ou a capacidade da sua autora. Não tenho sequer conhecimento ou sensibilidade suficientes para poder dar uma opinião definitiva sobre qualquer uma delas (obra e autora).
Não sou daqueles que, pelo facto do país se encontrar na complicada situação que todos conhecem e reconhecem, acha que não se deve investir em mais nada e que não há mais vida para além do combate à crise.
Não! O investimento em arte é pedagógico e aconselhável”.

A polémica continua…

quarta-feira, 10 de março de 2010

Em defesa do "sr. Vinho"

(Fotografia de Teresa Lamy)

A Lusa já tinha dado a notícia no passado dia 12 de Fevereiro: “Um garrafão de vinho em ferro forjado com cinco metros de altura” ía “receber os visitantes do Museu Colecção Berardo”, onde foi inaugurada no passado dia 1 de Março uma grande exposição da artista plástica Joana Vasconcelos.


Já então a mesma agência anunciava que a “peça, intitulada "Sr. Vinho",” tinha sido adquirida pela Câmara Municipal de Torres Vedras para instalar na cidade” e ía “ser mostrada pela primeira vez ao público no Jardim das Oliveiras, no Centro Cultural de Belém, onde está situado o Museu Berardo”.

Dizia ainda a mesma notícia que, de “acordo com o atelier da artista, as grades de ferro que dão a forma ao garrafão possuem padrões de vedações e guardas de varandas tradicionais, enfatizando o papel social, económico e religioso do vinho na sociedade portuguesa”.

Infelizmente o ambiente político em que se vive não é muito propício ao investimento em arte, caindo-se facilmente na demagogia economicista.

E foi assim que esta questão, que devia ser entendida como um enriquecimento cultural, se tornou polémica. Eu próprio cai na esparrela de assinar uma petição contra a aquisição da obra, desconhecendo então a sua origem e a sua qualidade.

Digo-o agora que essa aquisição devia ser aplaudida por todos os torrienses, e, se não houver dinheiro para a mesma, então que se abra uma subscrição pública para a adquirir.

A obra, merece ser apreciada como deve ser, reproduzindo-se neste blogue as fotografias que sobre a mesma foram realizadas pela Teresa Lamy para melhor se aferir sobre a sua qualidade.

A cultura e a arte, que têm sido tão mal tratadas por políticos e economistas merecem todos os apoios, principalmente quando são de grande qualidade e estão relacionadas com a identidade de uma região.

(Fotografias de Teresa Lamy)

Entretanto, na sua edição de hoje, o jornal Público noticia a polémica sobre o assunto

(Fotografia do Público)

Garrafão de Joana Vasconcelos divide opiniões em Torres Vedras

Por Ana Rita Faria

Câmara comprou escultura gigante para colocar no mercado municipal. Oposição contesta "despesa supérflua"
Desta vez não é um lustre feito com tampões higiénicos, nem um sapato gigante feito com tachos. É apenas um garrafão de vinho de cinco metros de altura, em ferro forjado, também da artista Joana Vasconcelos, mas nem por isso menos digno de causar polémica, pelo menos no círculo político de Torres Vedras. A oposição no executivo camarário está a contestar a compra por parte da autarquia da obra Senhor Vinho, de Joana Vasconcelos, dizendo tratar-se de uma "despesa supérflua" para o contexto de crise que o país atravessa.
"Não faz sentido gastar 300 mil euros numa obra de arte, num momento em que Portugal está em contenção de gastos, em que a própria câmara deve milhões a fornecedores e, sobretudo, quando há prioridades muito maiores no concelho em termos de melhoria da qualidade de vida das pessoas", disse ao PÚBLICO Paulo Bento, vereador e cabeça de lista à câmara pela coligação PSD/CDS-PP nas últimas eleições autárquicas.
A oposição vai levar o tema à próxima reunião de câmara, no dia 16, e exigir ao presidente da autarquia que revele o real valor da compra e qual a comparticipação dos mecenas. Em declarações ao jornal local Badaladas, o presidente da câmara, Carlos Miguel, disse que o valor de mercado da peça era de 300 mil euros. Contudo, segundo o site das contratações públicas, a obra foi adquirida pela autarquia por 149 mil euros. O restante poderá ser agora pago por mecenas (entre os quais deverão estar o Santan- der Totta e a Fundação EDP).
A oposição critica ainda o facto de a compra da peça, que estava encomendada desde Janeiro e que será colocada na praça do mercado municipal, não ter sido discutida com os restantes vereadores. Porém, o valor da aquisição permitia que a contratação fosse efectuada por ajuste directo, sem deliberação do executivo, justificou o presidente à Lusa".

in Público, 10 de Março de 2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulher e Feitiço - um caso em Torres Vedras no século XV


Neste dia internacional da Mulher, parece-me bastante interessante reproduzir este texto, publicado na net (ver indicação no final) e que tem como tema de base os actos de uma feiticeira no concelho de Torres Vedras em 1492.
A situação das mulheres, mas também dos judeus na região de Torres Vedras no século XV tem aqui um valioso documento de estudo:


“Aviziboa: a feiticeira judia de Torres Vedras em 1492

Por Reuven Faingold*

1. Magia e herança medieval

"A crença em forças ocultas e a possibilidade de acioná-las através da magia e dos feitiços foi uma herança medieval que penetrou com intensidade em diferentes círculos judaicos. Essas atividades, quase sempre proibidas, geraram movimentos no mundo mediterrâneo em geral e nos países ibéricos em particular, atingindo dimensões pouco comuns no final do século 14 e durante os séculos posteriores.

Na história do Ocidente, particularmente na Idade Média e durante o Renascimento, não se distinguia magia, feitiços e ciências naturais. A filosofia e a teologia, por exemplo, focavam a sua atenção separando a “magia natural” da “magia popular”; esta última relacionada com forças demoníacas.

Seguindo essa linha de pensamento, a alquimia era vista como sinônimo de “magia natural” enquanto o “feitiço” era tido como crime, um verdadeiro pecado contra Deus e contra o próprio homem. Em outras palavras, a magia era entendida como uma transgressão grave que devia ser punida com todo rigor.

Nas pequenas vilas e aldeias distanciadas dos grandes centros urbanos, nas quais moravam pessoas simples e carentes de recursos, esse tipo de crença popular se expandiu com extrema facilidade.

O período 1470-1570 apresenta uma guinada no desenvolvimento da magia entre os intelectuais europeus, e, consequentemente, entre os judeus. Nesses anos, a magia e os magos foram alvos de fortes polêmicas; especialmente no Renascimento italiano e suas áreas de influência.

No fim da Idade Média, a Igreja cristã se encontra numa verdadeira encruzilhada, mostrando-se totalmente contrária a atos de feitiçaria, argumentando que estes não fazem nenhum sentido, pois nunca poderão superar as forças que emanam de Deus. Tudo indica que as duras perseguições aos culpados de feitiços e magia, estavam sustentadas por superstições, crenças populares e tradições transmitidas por via oral de geração em geração.

Os primeiros historiadores que estudaram a relação do Cristianismo para com a magia, concluíram que esta religião, apesar de contar com uma maioria absoluta na Europa, se opôs drasticamente a essa atividade supersticiosa. Por isso, a Inquisição perseguiu essa heresia até seu desaparecimento. Nos últimos anos vem surgindo trabalhos de pesquisa que propõem uma nova leitura da magia, chegando-se a conclusões contrárias: não só a Igreja fez vista grossa à magia e feitiços, como também utilizou essas crenças para impor sua superioridade sobre as heresias.

Para realizar as referidas pesquisas, os historiadores penetraram profundamente no complexo universo das classes populares; a rigor uma população geralmente marginalizada do processo histórico majoritário. Afinal, o registro dos acontecimentos foi sempre obra das classes privilegiadas e urbanas, que sabiam ler e escrever.

É notório também que, nas últimas décadas do Renascimento, tenham sido publicadas obras de cunho cabalísticomágico como o Sêfer Há-Meshiv (Livro das Respostas), abordando com detalhes o tema da magia e a caça às bruxas. Cabe destacar, nesse contexto, a repercussão que teve o movimento de repressão à bruxaria na cidade de Logronho, território vasco, ao norte da Espanha.

No acervo documental da chancelaria do rei D. João II de Portugal (1481-1495), preservado no ANTT (Arquivo Nacional da Torre do Tombo), descobri e decifrei um curioso documento que relata atos de magia e feitiços acontecidos na vila de Torres Vedras, ao nordeste de Lisboa.

Nele tomamos conhecimento da realização de uma cerimônia de “magia negra”, envolvendo um casal local e uma judia. A seguir, tentarei incorporar novos elementos à história da magia em Portugal.

2. A magia no Judaísmo

"No Judaísmo, o termo “magia” é atribuído a atos que desde tempos remotos eram considerados abomináveis, pecaminosos e totalmente proibidos. Estes eram tidos como atos relacionados aos antigos cultos pagãos. O versículo bíblico “Não deixarás viver uma feiticeira” (Ex 22:18) ensina claramente que as mulheres apareciam, com maior freqüência, envolvidas em feitiços. Um antigo ditado da autoria do rabino Meir Aldabi esclarece: “Muitas mulheres representam muitos feitiços” (heb. Harbé nashim, harbé kshafim). Há outros documentos em que judeus testemunham uma variedade de atos mágicos, cultos da morte e leitura de augúrios ou do zodíaco. No entanto, a Bíblia não especifica a essência da magia, a força em que age, sua relação com os diferentes deuses, entre outros.

O Talmude, a Lei Oral judaica, está repleta de contos sobre magia, feitiços e superstição em geral, mas estes atos são concebidos como uma forma de cegueira e desvio de comportamento. No Judaísmo um desvio de atitude e de caráter pode ser interpretado como esperteza, trambique ou enganação.

Embora exista um significado negativo nas concepções bíblicas e talmúdicas, tudo indica que no universo medieval essas idéias eram comuns, carregando uma aura de negativismo. Geralmente, toda feiticeira era associada a uma mulher não-judia, e apenas algumas vezes encontramos uma judia ganhando sua vida com essa atividade.

Contrário a pensamentos averroistas (filosofia de Averroes), Maimônides rejeitou a idéia de que feitiços e magia fazem parte do cotidiano. Já o rabino de Barcelona Moisés ben Nachman (Nachmânides), revendo afirmações do primeiro, acha extremamente necessário conhecer fatos vinculados com magia e feitiços, para fazer a eles oposição.

Para os judeus, magia e feitiços são quase sempre encarados como uma atividade satânica. Nesse sentido, as atividades desenvolvidas em Portugal não foram menos diabólicas e macabras das registradas em outras partes da Europa como no leste da França, sul-oeste da Alemanha, centro da Inglaterra e Países Baixos.

Portugal nos legou menos casos de feitiços e magia, mas o tema foi tratado de forma marcante nas palavras do médico luso Teixeira de Aragão (1823-1903) que teria afirmado que: As feiticeiras levam muito longe as suas crueldades pelas sugestões do diabo no seu intestino de ódio. Chegam a fazer bonequinhos de cera, barro ou trapo, figurando a pessoa que pretendem martyrisar (sic), e, conforme a aversão que lhes tem, com instrumentos, quase sempre agulhas ou alfinetes, vão picando o coração, os olhos, os rins e outras partes do boneco, invocando sempre o demônio”. Cf. Diaburas, Santidades e Prophecias, 1894, p. 43.

Que podemos extrair desse culto macabro? As terríveis dores ocasionadas à boneca são transferidas ininterruptamente ao corpo do homem que deseja ser enfeitiçado. Mesmo que na Idade Média e no Renascimento ficasse difícil distinguir feitiços de outras tantas áreas científicas como a medicina; a dor provocada aparece inúmeras vezes em descrições citadas pela literatura médica. Uma fonte sobre este tipo de procedimento é o tratado “De Praxi Medica” (livro III, p. 139) do sábio judeu português Abrão Zacuto.

Uma sensação de medo se apoderou das mulheres portuguesas no final do século 15. Por diversos motivos elas temiam perder seus maridos. Então, para retornar seus amados ao convívio diário, optavam pelos caminhos da magia e da superstição. Algumas fontes testemunham essas antigas crenças.

Exemplos:

1. Em 18/03/1435, Maria Secco e sua irmã Catarina, filhas de Pedro Secco, não acreditavam em Deus e, por isso, faziam feitiços; como meretrizes, deitavam com homens casados, padres, etc.;

2. Em 24/11/1441, Beatriz de Sousa fez atos de feiticeira a mulheres casadas ou prestes a casar, para que seusesposos “possam saciar suas vontades”;

3. Em 04/07/1442, Leonor Affonso deitou com seu marido Martins Queixada causando nele feitiços;

4. Em 27/02/1486, Beatriz Roiz, mulher de Pedro Gonçalves fez feitiços na mulher de Rui Gonçalves, para que esta melhore o trato de seu marido;

5. Em 15/07/1486, Isabel Pires era tida como “feiticeira pública” realizando feitiços e magia em alguns homens “para que amassem mais as respectivas mulheres”. Assim, ela teria enfeitiçado o serralheiro João Fernandes e o procurador Rui Gomes, ambos moradores de Lisboa;

6. Em 09/02/1487, Maria Eanes teria dito ao tribunal que Catarina Esteves era uma feiticeira pública que enfeitiçou seu marido, ao ser pego em flagrante com uma amante;

7. Em 29/08/1487, Maria Affonso teria feito feitiços contra o marido de Joana Gomes, pois este a teria desapontado;

8. Em 02/07/1488, Isabel Martins foi acusada de realizar feitiços em Affonso Camagueiro e em Pedro Martins, “para que os dois amassem mais suas respectivas mulheres”;

9. Em 23/10/1490, Inês, mulher solteira, filha de Catalina Affonso, fez magia em Lopo Fernandes. Ela o advertiu para que se cuidasse por onde andava, já que era visto como “uma pessoa desonesta e falta de credibilidade diante das mulheres”;

10. Em 11/08/1491, dona Beatriz Eanes, moradora da ilha de Madeira, realizava feitiços com cera e água. Corria o rumor que era amante do clérigo de missa João Gonçalves, também habi-tante da ilha. Na hora em que foi pega no “pecado mortal” ela decidiu distanciar-se dele.

Esse breve levantamento prova que quando um homem não honra a sua mulher ou descumpre suas promessas em relação a sua parceira, quando a desaponta em seus relacionamentos sexuais ou quando a trai com amantes, era comum que este fosse enfeitiçado pelas feiticeiras da aldeia. Essa era a fórmula mais freqüente de afastar os maus espíritos que corrompem o interior do ser humano.

3. Atos de magia em Portugal

"Em 10 de maio de 1492, ano da descoberta do Novo Mundo e da expulsão dos judeus da Espanha, a Chancelaria Real Portuguesa se dirigiu ao rei D. João II, para que este emitisse sua opinião sobre um episódio de feitiços acontecido na vila de Torres Vedras, envolvendo uma judia.

Esse pedido, enviado ao monarca, documentado no Livro de Chancellaria V, fol. 34v, teria partido de uma moradora da região chamada Lianor Pires, que denunciou a “hua judia [Aviziboa] que hordenara feitiços ao dito seu marido [Pero Nunes]”. Da leitura do documento surge, então, a pergunta: Quais seriam os feitiços atribuídos a essa mulher judia?

Revisando os textos, vemos que os feitiços efetuados na vila de Torres Vedras divergem das cerimônias mencionadas acima na lista cronológica. Há nesse culto mágico duas etapas distintas:

1. Aviziboa prepara “hum bollo para lhe dar a comer e elle lhe querer bem e outras cousas, na[m] declarando que cousas eram...”

2. Aviziboa “tomava chumbo derretjdo com terra e lançava-o em aguoa, e fazia hua fegura [figura] de homem e outra de molher de barro, e que lhes dava com hum cordell e dizia sobresto [sobre isto] suas horações e pallavras, e que per esta via o dito seu maridolhe querrya grande bem e não seria sallvo o que ella sopricamte quisesse...”.

O costume de assar um bolo para os maridos aparece com muita freqüência em Portugal. Tudo indica que era um culto essencial para o sucesso dos feitiços. Mas, nem sempre os preparativos ajudavam a enfeitiçar.

Assim, em 10 de abril de 1490, “huma Maria Álvares fizera hum bollo, e que fizera feitiços e o dera a comer a hum homem seu amigo... etc” (Liv. XII, fol. 115). Desse bolo não teriam surgido seus feitiços, como o bolo da judia Aviziboa tampouco teria ajudado a enfeitiçar Pedro Nunes.

Então, o que fazer quando o bolo não ajuda na hora dos feitiços? Num momento como esse, para obter êxito, a feiticeira deve passar a um outro culto. Ela prepara uma escultura ou um desenho de boneca que represente a figura à qual estariam direcionados os feitiços.

Os elementos que possibilitam feitiços são de vários tipos e cada um deles tem uma função específica, a saber: feitiços através do ar são denominados aerimância; por meio de água hydromância e por ação do fogo pyromância. Feitiços através da terra ou barro são conhecidos como feitiços de geomância.

O caso de magia acontecido em Torres Vedras com Aviziboa enquadra-se, portanto, nessa última categoria.

De que forma entender os atos de magia relatados no trecho citado? Primeiramente, devemos dizer que modelar uma figura de chumbo ou de qualquer outro material sólido é um fenômeno aceito e inclusive “permitido” no Judaísmo. Rash”ba (R. Shelomo ben Aderet), um dos maiores exegetas sefaraditas, permitia essa atividade em consultas incluídas na sua literatura de Responsa. Da mesma forma, proferir preces, salmos ou apenas palavras sagradas com pedidos especiais eram freqüentes nos círculos hispano-judaicos medievais.

O Judaísmo recebeu essas influências externas das sociedades em que os judeus participavam, dentre elas, sociedades em que se estudava a Cabalá.

Os judeus do século 19 que condenavam a Cabalá representada pelo Chassidismo, aceitavam a superstição com facilidade. Porém, um estudo detalhado do perfil dos feiticeiros ou das feiticeiras nos revela que estes não sabiam quase nada acerca de mística, pois nela não havia sequer vestígios de uma literatura ocultista ou das Sefirot.

O Zohar serviu como texto de magia tanto quanto o “Livro dos Salmos”. Para os judeus ibéricos, a força dos nomes, das letras, das palavras e dos números, poderia ajudar a preconizar o futuro, decifrar enigmas e preparar o homem para uma determinada situação. Essa força é basicamente celestial e aparece na época do Talmude como literatura da charrete ou merkavá.

Não há como afirmar que Portugal tenha desenvolvido uma tradição cabalística própria, similar daquela encontrada na vizinha Espanha. Pelo contrário, no decorrer do profícuo século 16 os textos lusitanos não lembram o uso da literatura mística e/ou cabalística nos diversos círculos de cristãos novos. O silêncio das fontes é total e basta lembrar que somente em 1724 aparecerá em Lisboa o primeiro texto de um cabalista de nome Francisco Manuel de Mello.

Em seu Tratado da Ciência Cabala ou notícia de Arte Cabalística, ele registra, como meta principal, mesmo que resumidamente, ensinar ao leitor lusitano os rudimentos da Cabalá. Já no início do seu texto, explica o conceito “cabalá” a partir de pensamentos expressos pelos próprios rabinos: "Est enim cabala, divinae revelationis ad salutiferam Dei et formarum separatarum contemplationem traditae symbolica receptio, quam qui coelesti afflatur sequuntur recto nomine Cabalici dicuntur” (Tratado da Ciência Cabala, 1724, cap. VI, p. 35).

Em relação aos feitiços aplicados num homem casado, encontramos na literatura duas situações contrárias nas quais é permitido realiza-los: primeiro, quando o homem “não ama sua mulher”, e, em segundo lugar, quando o homem “ama demais sua mulher” servindo, nesse caso, para atender a todas suas carências, vontades e/ou necessidades.

A seguir, apresento uma breve análise de um documento da Chancelaria Real Portuguesa que descreve atos de feitiçaria.

4. Quem era Aviziboa?

"Quem era essa enigmática figura de nome Aviziboa? Quais eram seus atributos e qualidades?

A primeira leitura não permite obter maiores informações da judia Aviziboa. Não há referências a idade, inserção social nem aos seus hábitos ou estilo de vida. Não obstante, há três possibilidades para identificá-la:

1. É plausível que seja uma figura de carne e osso, que tenha realmente existido e habitado na antiga vila de Torres Vedras, porém, com o seu nome não foi possível identificar nos arquivos da cidade, perdidos no tempo;

2. O documento descreve os fatos acontecidos com uma mulher que habita na periferia de Torres Vedras e visitou o lugar por um período relativamente curto. Também aqui não há certeza alguma;

3. É possível que Aviziboa seja um personagem imaginário, uma figura fictícia, uma mulher que legitime imputar sérias culpas à população judaica local.

Uma vez que a documentação está incompleta, as duas primeiras possibilidades não fazem nenhum sentido, restando apenas acreditar que a terceira possibilidade, mesmo especulativa, possa elucidar.

Por que seria, pois, Aviziboa um personagem imaginário?

Primeiramente, o nome Aviziboa desperta perplexidade. Numa revista sistemática de nomes, sobrenomes e toponímicos portugueses do século 15, não consta o nome. Parece difícil também acreditar que possa ser um nome de uso comum entre judeus. Sobre o significado filológico do nome há lugar para várias interpretações. Encontramos a forma Avi-ziboa que na tradução ao árabe seria “Ibn Ziboa”, da mesma forma que Avi-cena aceitaria o árabe “Ibn Sina”, ou Avi-zohr seria a tradução para o árabe da forma “Ibn Zohr”. Seja como for, todas essas variações são apenas hipóteses do significado e da grafia da forma Aviziboa.

Em segundo lugar, em relação aos nomes do casal Pires e Nunes, não há motivo para especulações. Ambos são nomes ou sobrenomes bastante difundidos que aparecem com freqüência também entre os judeus, antes e depois da conversão forçada de 1497, decretada pelo édito do rei D. Manuel I de Portugal.

O nome Pires aparece em vilas de judeus como Torre de Moncorvo, Trancoso, Barcelos, Fundão, Covilã e Lamego. Vale lembrar que Diogo Pires, um personagem cujos poderes mágicos o fizeram centro das atrações na História de Portugal e na História Judaica, era Salomão Molcho (Shelomó Molko), um dos mais importantes falsos messias, discípulo de David Reuveni, o judeu responsável por uma forte onda messiânica entre cristãos novos portugueses do século 16.

O sobrenome Nunes aparece difundido especialmente entre judeus e conversos. Basta mencionar o nome de Heitor Nunes, judeu que migrou para Inglaterra na segunda metade do século 16, ou o célebre geógrafo e matemático Pedro Nunes, autor do Tratado da Esfera. Este último lecionou na Universidade de Coimbra e em 1529 foi agraciado com o título de “Cosmógrafo da Corte”. Mas, após as perseguições terem atingido também numerosos cientistas,

Pedro Nunes e seus familiares foram presos e processados pelo Santo Ofício da Inquisição.

Terceiro, os feitiços de Aviziboa não permitem determinar se eles eram aplicados num espaço aberto ou fechado. Na Idade Média, era freqüente observar atos de magia ao ar livre, em meio a natureza. Vejamos alguns exemplos:

1. Em 13/11/1453, Gil Lourenço costumava fazer feitiços e magia nos caminhos e cruzamentos de caminhos;

2. Em 21/07/1462, Elvira de Ribeiro fazia feitiços causando danos graves à terra, atingindo [com seus atos] moinhos de farinha e máquinas para triturar cereais.

A leitura do documento referente aos feitiços de Aviziboa, no entanto, permite concluir que seus atos teriam sido realizados em lugares fechados longe do grande público.

5. A magia na legislação portuguesa

"Nos diferentes sistemas legislativos vigentes na Europa medieval e nos países mediterrâneos, foram fixados processos e punições para todos aqueles que foram acusados por feitiços e/ou magia. As penas aplicadas variavam desde reclusão perpétua para casos leves, até morte na fogueira, para casos mais graves. Nas leis bíblicas (depois, talmúdicas) os castigos aplicados aos feiticeiros (I Sm 28) também incluíam a morte.

Na Espanha cristã, as penas aplicadas àqueles que realizassem atos de magia e/ou feitiços, ficaram registradas no Livro de las Siete Partidas, compiladas por Alfonso X, “O Sábio”. Outras penas podem ser encontradas nos protocolos dos Conselhos das cortes medievais.

O sistema jurídico lusitano foi solidamente representado nas “Ordenações Manuelinas” compiladas pelo rei Manuel I em 1516. Ali foram publicadas as penas que deveriam ser aplicadas a todos aqueles que realizam curas com feitiços.

Diz o texto: "se for piam ou di pera bayxo, seja pubricamente açoutado com baraço e preguam pola villa, e mais pague dous mil reaes pera quem o acusar. E se for vassallo ou escudeiro ou di pera cima, ou molher de cada hum destes, seja degradado pera cada hum dos lugares dalém [= d’além] em África por dous annos, e mais pague quatro mil reaes pera que[m] o acussar. Pero esto nom [h]averá lugar os astrologos que por sciencia e arte de astrologia”. (Ordenações Manuelinas, Liv. V, fol. 33).

Emitir uma opinião definitiva sobre o grau de rigor das penas aplicadas é impossível. Tampouco sobre o conceito de justiça existente naquela época. Pela documentação sabemos apenas que Aviziboa não foi punida por seus atos, e isso gera dúvidas e suspeitas; ainda mais no século 15, quando magia e feitiços eram punidos rigorosamente com cárcere, expulsão da cidade ou do distrito, açoites em público, multas, e uma série de “medidas educativas” destinadas a ensinar o que é proibido e o que é permitido.

A falta de um castigo diante dos feitiços reforça a idéia de que estes foram feitos num recinto fechado longe do público. Talvez seja por isso que esse episódio não teve repercussão geral. É possível também que nos documentos de chancelaria achados em Portugal não era costume registrar as medidas judiciais aplicadas aos transgressores da lei. Era comum, pois, colocar as penalidades em outros documentos jurídicos. Portanto, as penas aplicadas a Aviziboa ficarão como um verdadeiro enigma.

6. Palavras finais

"Mesmo existindo uma total proibição nas fontes judaicas, os atos que envolviam tanto feitiços como também magia negra, conquistaram espaços significativos na vida judaica medieval, principalmente entre os judeus portugueses.

Contrariando as afirmações do historiador Pedro de Azevedo, que afirmava existir “uma supremacia intelectual entre os judeus e era de certo que entre eles se recrutavam os feiticeiros mais famosos”, a nossa opinião é bastante diferente: Não existe relação alguma entre o nível intelectual dos judeus com a cura através da magia ou dos feitiços.

Até por que a magia nunca foi uma atividade das elites. Pelo contrário, a história de Aviziboa representa um episódio único dessa natureza. Ele nos ensina também que crenças e superstições populares penetraram de forma profunda na tradição judeu-portuguesa no medievo. Concluímos este estudo com a célebre frase do inquisidor espanhol D. Alonso de Salazar, o homem que reprimiu o forte movimento de bruxaria em Logronho, na região dos vascos, entre 1609 e 1614: “No hubo brujos ni embrujados en el lugar hasta que se comenzó a tratar y escribir de ellos”.
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* Reuven Faingold é Doutor em História e História Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Professor no

Departamento de História da Arte da FAAP em São Paulo e Ribeirão Preto.

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