terça-feira, 4 de maio de 2010

Um Comboio de Letras e Memórias


Nesta 4ª feira , 5 de Maio, a Linha do Oeste vai voltar a viver a confusão e a algazarra dos seus bons velhos tempos.

A propósito da divulgação dos trabalhos concorrentes à 2ª edição do Concurso de Fotografia “Ando a Ler”, organizada pela Escola Secundária Henriques Nogueira, as estações de Torres Vedras e Caldas da Rainha voltam a recuperar a confusão desses tempos, quando era por aqui que o mundo entrava pela região Oeste a dentro.

Na estação de Torres Vedras será instalada uma parte da exposição dos trabalhos concorrentes ao concurso que este ano foi dedicado ao tema “Ler nas entrelinhas”, anunciando-se ao mesmo tempo os vencedores.

Depois será a vez de se viajar no tempo, numa ligação por comboio entre as estações das duas cidades do Oeste, uma viagem especial, com leituras, aprendizagens várias e recuperando essa capacidade única que só o comboio permite, que é o de se aproveitar uma viagem para longas conversar ou para desfrutar com calma a bonita paisagem oestina.

Antes das auto-estradas, a identidade desta região foi-se consolidando ao longo da linha do comboio, onde a diferença entre o crescimento e a decadência estava à distância da sua passagem.

Amizades e paixões, conspirações e revoluções, mortes trágicas e descobertas de outros mundos, fizeram a história de gerações de passageiros que frequentaram regularmente os lentos comboios do Oeste, sem índios na paisagem, mas cercados de vinhas, florestas e misteriosos túneis.

Hoje sabe-se que o comboio é o futuro, se todos quisermos ter futuro, por isso esperamos que para muitos este seja apenas o início de um novo caminho pelos carris da Linha do Oeste.

A propósito, recordamos aqui como foi a primeira viagem de comboio a partir de Torres Vedras que teve lugar em 25 de Maios de 1887, ligando esta então vila a Lisboa:

"Era immenso o enthusiasmo que desde a tarde de terça feira animava os moradores d'esta villa, quando souberam que iam definitivamente estreitar-se as suas relações com a capital (...) grande a animação com que era aguardado o primeiro comboio de Lisboa na quarta 25, dia esplendido, de bello sol, que, batendo em cheio nos vinhedos que aformoseiam as encostas que se desfructam do vasto e desafogado recinto da estação(...).

"Pouco depois das nove horas e meia da manhã começou a afluir à gare grande numero de pessoas das diversas classes socias. Às 10 e 40 surgiu do tunnel da Certã a machina nº 127, comboiando quatro carruagens e dois wagonetes.

"N'esta ocasião subiram ao ar muitos foguetes, e a philarmonica Torreense tocou o hynno da Carta e seguidamente outras peças do seu reportório, dando assim ao acto um carácter de festa inteiramente popular, nem por isso de menos valor das outras.

"No comboio chegaram cerca de 100 pessoas, satisfeitas com os panoramas que gosaram em toda a linha (...)

"O primeiro comboio, que de Torres saiu às 6 horas e 15 minutos da manhã, conduziu limitado numero de passageiros para Lisboa. Iam n'elle alguns comerciantes da localidade, aproveitando já o enorme benefício que o progresso lhes facilita." (Voz de Torres Vedras de 28 de Maio de 1887).












1 comentário:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Bela evocação, bonita iniciativa!