domingo, 31 de janeiro de 2010

Antecedentes da afirmação republicana em Torres Vedras

A propósito do início oficial das comemorações do centenário da Primeira República, que hoje tiveram início, recordamos aqui um excerto do nosso livro Republicanos de Torres Vedras (ed.Colibri), sobre os primórdios do republicanismo nesta localidade.
Aproveitamos também para vos recomendar a visita a um blog dedicado ao centenário da República AQUI.


Os Antecedentes da afirmação dos Republicana em Torres Vedras

Data de 1901 o primeiro apelo público local à votação nos republicanos, numa carta publicada na primeira página d' "A Vinha de Torres Vedras", jornal do Partido Progressista, mas que então parecia atravessar um momento de algum descontentamento face à política oficial desse partido. Nessa carta, assinada por José Joaquim Rodrigues, da Ribaldeira, datada de 6 de Setembro de 1901, este entendia "que todos nós, viticultores, devemos ir á urna protestar, para mostrarmos ao governo e á tal benefica real associação," ( refere-se à "Real Associação Central de Agricultura Portuguesa”, defensora dos interesses dos grandes proprietários e de medidas proteccionistas na agricultura) "(...) É necessario irmos todos á urna, não pelos progressistas, que, quando governo, nada fizeram a nosso favor, nem tão pouco pelos francaceos," (apoiantes de João Franco) "pois é tudo a mesma família, mas sim pelos republicanos que o governo teme e odeia.
"Os viticultores de todos os concelhos pódem dar uma severa lição ao governo votando na lista republicana como signal de protesto." (1).
Esta não foi uma opinião isolada, pois o próprio jornal apelou a que se votasse "como protesto" na lista republicana (2).Contudo foi apenas uma atitude de protesto pontual.
Só em Novembro de 1905 temos notícia da existência de alguma organização republicana local, mas ainda longe da formalidade de uma comissão republicana, como se conclui do conteúdo da seguinte notícia publicada pelo órgão local dos "progressistas", insurgindo-se contra a candidatura municipal dos "regeneradores-liberais":
"Estrangeiros revoltados lembraram-se d'uma lista camararia alcunhada de regeneradora-liberal.Para apresentar a publico eram precisos quatorze nomes de respeitabilidade, impossiveis de recrutar no vespeiro. Apezar de terem andado de barretinho na mão, de prometterem este mundo e o outro, a resposta era sempre:
"Deus os favoreça"(...). Ferteis em expedientes, desorientados, imploraram o auxilio dos republicanos! Estes, mais finos do que elles, querendo-se vingar da lei de 13 de fevereiro, e como pirraça, exigiram-lhe representação. A condição, além de humilhante, era dura de roer!
"Convocou-se o vespeiro. Foram presentes todos os zangões. Ordem da noite, o acinte dos republicanos. Uns queriam, outros não. A abstenção ganhou terreno. Por ultimo, para salvarem a honra do convento, foi approvado por unanimidade de votos a colligação com o partido republicano, o unico meio de obterem alguns votos!..." (3).
Contudo, observando a lista proposta à câmara pelos "franquistas", apenas encontramos um nome que veio a estar ligado à organização local do Partido Republicano, o de Júlio Vieira, como suplente da lista candidata. A esmagadora maioria dos candidatos,10 entre 14, pertencia ao Partido Regenerador-Liberal, dois, um como efectivo e outro como suplente, ao Partido Progressista, e um outro, também suplente, sem opção política possível de confirmar, embora o encontremos como efectivo numa comissão paroquial republicana, mas já em 1911.
Mesmo se limitada, esta parece ter sido a primeira intervenção política local conhecida dos republicanos torrienses.
A primeira informação sobre a criação de um comissão republicana, data de Dezembro de 1905 e teve lugar, não na sede do concelho, mas na freguesia rural de Dois Portos, "devido à iniciativa do nosso amigo Faustino Polycarpo Thimoteo, commerciante"(4).O mesmo jornal inclui o nome de 15 dos aderentes, dos quais um deles, Alberto Maria de Magalhães, "mui illustre pharmaceutico e professor ", no número seguinte daquele jornal, vem desmentir a sua adesão à causa republicana, declarando que não fazia parte da "Commissão Parochial Republicana", que se está organisando n'esta freguezia, tendo-se inscripto sim a principio, quando foi convidado, mas para uma commissão de melhoramentos locaes, desistindo porem da sua cooperação, visto predominar a politica, de que a sua vida laboriosa, lhe não permitte occupar-se" (5).
Desta notícia pode concluir-se que uma táctica para cativar aderentes terá sido usar a capa de uma associação com vista à defesa de interesses locais ("commissão de melhoramentos locaes"), e por último que determinadas actividades profissionais, se dependentes do poder, como a de professor, podiam coarctar a participação política activa em organizações marginais ao sistema monárquico.
Quanto aos restantes membros desta comissão paroquial, conseguimos identificar 12, cruzando os seus nomes com os cadernos eleitorais daquela freguesia de 1895 e 1908, pelo que detectamos entre eles 4 comerciantes (ou lojistas), 3 barbeiros, 1 proprietário, 1 taberneiro, 1 carpinteiro, 1 empregado do caminho de ferro (Dois Portos era servida por estação ferroviária), e 1 músico, regente da "Real Philarmonica da Ribaldeira". 8 deles residiam na sede de freguesia, 3 na Ribaldeira e 1 na Caixaria.
Durante a campanha eleitoral para as eleições de Abril de 1906 realizam-se no concelho de Torres Vedras vários comícios de propaganda republicana, denotando um crescendo de organização republicana a nível local.
Dois Portos, assumindo-se mais uma vez como um importante centro republicano, recebe a 12 de Abril "o illustre candidato republicano sr. dr. João de Menezes " , para participar num comício ao "qual assistiram mais de 300 pessoas" (6).
Dias depois, em notícia de primeira página, a "Folha de Torres Vedras" anunciava a realização, a 15 de Abril, "pelas 2 e meia horas da tarde (...) n'esta villa" de "um comicio para apresentação de alguns dos candidatos republicanos e no qual" falariam ", entre outros, os illustres oradores João Duarte de Menezes, Alexandre Braga e Heliodoro Salgado", a realizar "no recinto dos armazens dos srs.A.Galrão & Cª, proximo à estação do caminho de ferro d'esta villa"(7), informação que denota mais uma vez uma certa colaboração entre republicanos e "franquistas", já que esses armazéns pertenciam a um dos líderes franquistas locais.
Estava-se já em pleno "consulado" de João Franco, iniciado em Maio, quando, a 21 de Agosto, António José d' Almeida chegou de comboio a Torres Vedras de "passagem para a praia de Santa Cruz, onde foi exercer os seus serviços clínicos", regressando a Lisboa nesse mesmo dia. "Vários correligionarios de sª exª foram esperal-o á estrada dos Casalinhos em trens, acompanhando-o no seu regresso á estação, onde se achava a Fanfarra União Torreense que tocou varias peças . S.ex.ª teve na gare uma despedida deveras affectuosa" (8).
Este ano parece ter marcando o arranque local da organização republicana culminando, em 16 de Dezembro, com o anuncio de que uma comissão republicana da vila estava a organizar o partido republicano em Torres Vedras, tencionando "preparar um comicio no proximo mez de Janeiro no dia em que se effectua a eleição da commissão municipal republicana d'este concelho", publicitando-se a provável presença de Bernardino Machado e António José d' Almeida (9), assim como a tentativa de fundar uma nova comissão paroquial republicana, desta vez na freguesia de S. Domingos de Carmões, vizinha da de Dois Portos .
Curiosamente estas duas freguesia tinham sido a base da constituição do extinto, em 1855, concelho da Ribaldeira, e eram aquelas que mais próximas estavam do vizinho concelho de Sobral de Monte Agraço, terra natal de França Borges, director d' "O Mundo", onde existia, nas vésperas da implantação da República, um forte núcleo da maçonaria, e onde os republicanos obtiveram maiorias em eleições anteriores ao 5 de Outubro.
Só a Abril de 1907 será constituída a comissão republicana paroquial de Carmões, formada por 1 farmacêutico, 1 "proprietário e comerciante", 1 "industrial e comerciante", 1 "comerciante" (taberneiro), 1 "industrial"(ferrador), e 1 "proprietário", sendo mais uma vez notório o domínio de comerciantes e lojistas(10) .
Por sua vez, o grupo organizador da comissão municipal teve a sua primeira reunião em 31 de Janeiro de 1907, uma data que talvez não tenha sido casual, pelo seu simbolismo para a causa republicana, tendo-se na ocasião decidido organizar para Fevereiro um comício republicano.
A mesma comissão decidiu dirigir-se à Ribaldeira par convidar pessoalmente Maximo Brou, "illustre médico municipal, para fazer parte da lista da commissão municipal" (11).Essa notícia refere apenas um outro nome de um membro dessa comissão, o do seu tesoureiro José Anjos da Fonseca.
Por sugestão de António José de Almeida, devido a compromissos pessoais vários, aquele comício republicano apenas se realizou a 21 de Abril de 1907, naquela que foi a primeira grande acção pública dos republicanos em Torres Vedras: "o comicio foi uma manifestação imponente de sympathia ao ideal republicano que já hoje vae deixando de ser olhado com desconfiança pelo camponez ignaro e que está já sendo abraçado por todos aquelles que, um pouco mais instruido, vae comprehendendo os seus legitimos e racionaes principios, compativeis com a epocha de liberdade e de conquistas que a humanidade vae atravessando e que nenhuma mão tyranica poderá fazer affrouxar na sua carreira vertiginosa.
"A anciedade de ouvir o soberbo tribuno da democracia que se chama António José d'Almeida e todos os outros oradores, arrastaram ao local do comício, um vastissimo recinto, junto á Avenida Casal Ribeiro, alguns milhares de pessoas". Segundo a mesma notícia, vieram pessoas de Mafra, Sobral de Monte Agraço e Arruda dos Vinhos assistir ao comício.
À partida do comboio que transportou de regresso a Lisboa os oradores republicanos, "a multidão que enchia a gare rompeu em estridentes vivas ao partido republicano, aos deputados republicanos, directorio, imprensa, etc.". O mesmo jornal insurgiu-se contra o facto de, quer nesta ocasião, quer durante a passagem do comboio pela estação de Dois Portos, respectivamente a Tuna Comercial e a Filarmónica da Ribaldeira terem sido impedidas de tocar, denunciando ainda o facto de terem sido requisitadas para Torres Vedras "12 policias de Lisboa pelo sr. Administrador interino, para reforçar a polícia que aqui existe e mais destacamento de infantaria. Dias antes, a mesma auctoridade, conversando com dois republicanos em evidencia d'esta villa, affiançára-lhes que não requisitaria policia alguma"(12).
Em correspondência enviada pelo administrador do concelho ao governador civil era este informado que aquele comício republicano tinha decorrido "em boa ordem e em harmonia com a lei", acrescentando "que me consta ter havido dentro da gare da estação, alguns vivas a republica, á partida do comboio, manifestando-se os empregados da mesma por uma forma inequivoca a favor do partido republicano, por meio de vivas e palmas"(13).
Nessa mesma data foi eleita a primeira Comissão Municipal Republicana de Torres Vedras, formalizando-se deste modo a intervenção do Partido Republicano na política local.
Presidia a essa comissão Júlio Vieira, sendo vice-presidente o dr. Arthur Maximo Brou, secretários Joaquim Marques Trindade e Manuel Augusto Baptista, tesoureiro José Anjos da Fonseca e vogais Rufino de Carvalho e Estevão Xavier de Menezes Feio, podendo considerar-se este grupo o núcleo fundador do Partido Republicano "histórico" de Torres Vedras. Cinco deles viviam na vila de Torres Vedras, só dois fora do centro urbano, um na Ribaldeira e outro na Maceira. Em termos sócio-profissionais o grupo repartia-se por 3 proprietários e 3 comerciantes, mais um médico.
Logo em Maio aquela comissão decidiu realizar uma série de conferências de propaganda na vila, tendo convidado para o efeito Bernardino Machado, Alexandre Braga, João de Menezes, Magalhães Lima, Agostinho Fortes e Botto Machado.
Organizada a Comissão Municipal e alargando a sua influência às freguesias do concelho, onde se inicia uma intensa campanha de propaganda, quer através da realização de conferências, quer passando a dominar abertamente um órgão de informação local, "Folha de Torres Vedras", o Partido Republicano torna-se uma força importante na vida política local nos três últimos anos do regime monárquico.

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(1) A Vinha de Torres Vedras, 12 de Setembro de 1901.
(2) A Vinha de Torres Vedras, 3 de Outubro de1901.
(3) A Vinha de Torres Vedras, 23 de Novembro de 1905.
(4) Folha de Torres Vedras , 10 de Dezembro de1905.
(5)Folha de Torres Vedras, 17 de Dezembro de1905.
(6)Folha de Torres Vedras, 12 de Abril de1906.
(7) Folha de Torres Vedras, 15 de Abril de1906.
(8) Folha de Torres Vedras, 26 de Agosto de1906.
(9) Folha de Torres Vedras, 16 de Dezembro de 1906.
(10) Folha de Torres Vedras, 28 de Abril de 1907.
(11)Folha de Torres Vedras,3 de Fevereiro de1907.
(12)Folha de Torres Vedras, 28 de Abril de1907.
(13)Registo de Correspondência - Governo Civil (do Administrador do Concelho)(1905-1910),nº81, de 22 de Abril de 1907, AMTV.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Café com Filmes


Tem hoje lugar no Teatro-Cine Ferreira da Silva mais uma sessão do ciclo Café Com Filmes.

Promovido pelo Académico de Torres Vedras, em co-produção com o Teatro-Cine, este ciclo procura recuperar o espírito do cineclubismo, com a exibição de filmes documentais, acompanhados de debate, 5ªs feiras, de quinze em quinze dias, a partir das 21.30.

Hoje será exibido o clássico de Dziga Vertov “O homem da câmara de filmar”, filme soviético de 1929, considerado um clássico do cinema documental.

A entrada é livre e, antes do filme, realiza-se uma intervenção artística estará a cargo de Rui Gato.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Recordando Jaime Batalha Reis


Por cá pasou quase despercebido o 75º aniversário da morte de Jaime Batalha Reis, que ocoreu no passado dia 24 de Janeiro, uma das figuras mais importantes da vida cultural e política portuguesa com ligação a Torres Vedras.
Aqui possuia uma Quinta, a Quinta da Viscondessa, junto ao Turcifal, onde veio a viver os seus últimos anos de vida, estando sepultado no cemitério daquela vila, e foi o responsável pela visita efectuada por Antero de Quental à praia de Santa Cruz.
Em sua memória transcrevemos uma breve biografia da autoria da investigadora do Instituto Camões Maria José Marinho:

Jaime Batalha Reis: sua vida e obra

Por Maria José Marinho
(Instituto Camões)

"Jaime Batalha Reis nasceu em 24 de Dezembro de 1847, numa família da burguesa lisboeta, de pai liberal com alguns teres e haveres, proprietário no Turcifal, onde era um conhecido produtor de vinhos. Depois de frequentar, em regime de internato, o colégio alemão Roeder, matriculou-se no Instituto Geral de Agricultura onde, depois de um brilhante percurso escolar, se formou em agronomia.
"Uma noite, prestes a acabar o curso, tendo ido à redacção da Gazeta de Portugal, encontrou Eça de Queirós, com quem se travou de amizade para a vida inteira. Essa relação ampliou-lhe o círculo de amigos, e a sua casa, na Travessa do Guarda-Mór, em pleno Bairro Alto, passou a ser o local de encontro de uma juventude intelectual e boémia, o núcleo do que viria a ser a “Geração de 70”. Mas foi principalmente o encontro com Antero de Quental, por volta de 1868, que lhe veio permitir colmatar algumas fragilidades culturais e desenvolver os conhecimentos filosóficos.
"O brilho da carreira estudantil, durante a qual arrancara vários prémios, e o interesse dos professores, principalmente Ferreira Lapa e Andrade Corvo, haviam-lhe alimentado a esperança de ser convidado para a carreira docente. Mas isso não iria acontecer, pelo menos nessa altura, talvez pelas opiniões expressas numa dissertação em que defendera as teorias de Darwin. No entanto os seus conhecimentos profissionais vão a pouco e pouco permitindo-lhe movimentar-se nessa área, sendo convidado para integrar júris que avaliavam a qualidade da produção agrícola e fazer prelecções aos agricultores. Especializou-se no estudo da nova moléstia da vinha - a filoxera - e começou a colaborar em revistas e jornais. Esta actividade, porém, não o afastava das suas preocupações literárias e artísticas. Foi em 1869 que Eça, Antero e Batalha Reis inventaram, num delírio criativo, “o poeta satânico” Carlos Fradique Mendes; e das poesias publicadas uma, “Velhinha”, era da autoria de Jaime Batalha Reis.
"Já por essa altura encontrara o amor da sua vida, com quem viria a casar, depois de um longo e atribulado namoro. Chamava-se ela Celeste Cinatti e era filha de um dos mais célebres cenógrafos da época – José Cinatti. A necessidade de conseguir a estabilidade económica para “noivar” e casar acicataram-no na procura de emprego, e depois de várias tentativas infrutíferas – administrador de uma propriedade da Casa de Bragança, deputado, agrónomo em Viseu, professor no Brasil - resolveu concorrer à carreira consular. Apesar das esperanças que alimentara, não conseguiu provimento, pois ficou em terceiro lugar. Voltou por isso a intensificar a sua actividade profissional.
"Entretanto Antero e Batalha Reis, tornados inseparáveis, tinham ido morar para uma sobreloja em S. Pedro de Alcântara, lugar que sendo frequentado, na época, pela burguesia lisboeta, se tornara muito barulhento, incomodando Antero. Mudaram-se e no início de 1871 já estavam instalados numa casa na Rua dos Prazeres, sítio sossegado, onde passaram a vir os conviventes habituais – Eça de Queirós, José Fontana, Augusto Fuschini, Manuel de Arriaga, Oliveira Martins, Augusto Machado, Guerra Junqueiro. Foi aqui que se gizou o programa das “Conferências Democráticas do Casino Lisbonense” ou, mais simplesmente, as “Conferências do Casino”. Depois das intervenções de Antero, Augusto Soromenho, Eça de Queirós e Adolfo Coelho, a continuação das palestras foi proibida por uma portaria assinada pelo Marquês de Ávila e Bolama, então presidente do conselho de ministros. Esta interrupção não permitiu que Jaime Batalha Reis fizesse a sua prelecção que versava sobre o “Socialismo”. A atitude do governo, verberada pela opinião pública, seria reforçada pela publicação de dois folhetos dirigidos a Ávila e Bolama, um de Antero de Quental e outro de Jaime Batalha Reis, que começando por afirmar “Eu sou socialista” terminava dizendo: “O que V. Exª fez obriga-me a descrer ou da sua ilustração ou da sua probidade. Eu descri da ilustração. Todos os actos da vida de V.Exª me autorizavam a fazê-lo.”
"Em fins de 1871, depois de se haver esfumado a possibilidade de um consulado itinerante, projecto que não chegou a ser apresentado na Câmara dos Deputados, Jaime Batalha Reis acabou por ser convidado para chefe do Serviço Agrícola do Instituto Geral de Agricultura, cargo administrativo que ocupou em Fevereiro de 1872. Não que fosse o lugar desejado, mas permitia-lhe a entrada para a instituição onde fora um brilhante aluno e a possibilidade de casamento com Celeste Cinatti, que se realizou em Setembro desse mesmo ano. Logo no Outono viria a ser designado para substituir Andrade Corvo nas cadeiras de Botânica, Economia Rural e Florestal, e continuando a carreira docente ocupou, muito mais tarde, depois do respectivo concurso, em 1882, o lugar de lente de Microscopia e Nosologia Vegetal.
"O ano de 1874 e parte de 1875 vai ser preenchido pela elaboração de um projecto também muito caro a Antero de Quental e Oliveira Martins: a publicação de uma revista que reunisse a colaboração de intelectuais portugueses e espanhóis. Depois de muitos contratempos, que Batalha Reis ultrapassou com a habitual tenacidade, o 1º número da Revista Ocidental saiu em Fevereiro 1875, e foi nas suas colunas que Eça de Queirós publicou a 1ª versão de “O Crime do Padre Amaro”. Além de Eça, nela colaboraram Batalha Reis, Antero, Oliveira Martins, Adolfo Coelho, Sousa Martins, Maria Amália Vaz de Carvalho, intelectuais e políticos espanhóis como Pi y Margall, Fernandez de los Rios, Rafael de Labra, Canovas del Castillo. Porém, as dificuldades de coordenar a colaboração, e a falta de financiamento, situação crónica neste tipo de publicações, derrotou o projecto, que não ultrapassou o mês de Julho.
"No ano seguinte, em 1876, recebeu a nomeação para comissário do sector agrícola da Exposição de Filadélfia, que comemorava o centenário da independência dos Estados Unidos da América. A essa missão a portaria acrescentava a incumbência de estudar a cultura da vinha, do algodão e do tabaco. Porém, uma mudança de ministério obrigou-o a um regresso precipitado sem haver concluído as necessárias pesquisas.
"A par da actividade profissional, nunca descurou o interesse pela cultura portuguesa colaborando em jornais e revistas com crónicas sobre ópera, pintura e literatura. Nesse âmbito participou na comissão executiva do centenário de Camões e foi delegado da Sociedade de Geografia nas comemorações de Calderón de la Barca.
"Mas em 1882, quando já era professor catedrático de Microscopia e Nosologia Vegetal no Instituto Geral de Agricultura, viu-se finalmente provido na carreira consular, recebendo a nomeação para 1º cônsul em Newcastle, onde estivera Eça de Queirós que, entretanto, passara para a cidade de Bristol. Jaime Batalha Reis, abandonando o percurso docente e a agronomia, partiu em Agosto do ano seguinte, com a família, para o novo posto, mantendo-se na carreira diplomática perto de trinta anos, até se aposentar em 1921.
"A actividade como cônsul em Inglaterra centrou-se na defesa dos nossos interesses em África, estudando a fundo, para o bom desempenho dessa função, história e geografia. O reconhecimento, a nível oficial, do domínio dessa problemática valeu-lhe a nomeação, como perito, para a Conferência Anti-Esclavagista, que se realizou em Berlim de 1889 a 1891. O seu mérito como diplomata levou-o a desempenhar missões confidenciais em Berlim e Paris ligadas a dois problemas cruciais nesta época para Portugal – as negociações com a Inglaterra sobre África e a situação do nosso crédito na Europa. É no meio desta frenética actividade que recebe a notícia do suicídio de Antero. O texto que escreveu para o In Memoriam do seu amigo - “Anos de Lisboa: algumas lembranças” - será uma peça fundamental para a biografia do poeta e um importante testemunho sobre a geração a que pertenceu, enviado de Newcastle quatro dias antes da morte do seu outro amigo Oliveira Martins. Supomos que foi principalmente graças a esse texto e ao que veio a escrever sobre Eça, prefaciando as Prosas Bárbaras, que o nome de Jaime Batalha Reis voltou a ser reconhecido como um dos activos elementos desta Geração. E no ano em que representava Portugal na Conferência Internacional para a Protecção da Fauna Africana, com onze dias de intervalo, morreu-lhe a mulher e o seu companheiro de muitos anos, Eça de Queirós.
"Até à implantação da República continuou a manter uma intensa actividade. Já fellow da Royal Geographical Society, apresentou em 1895 uma comunicação “On The Definition of Geography as a Science [...]” que teve grande repercussão nos meios científicos. Na reunião da Association Scientifique Internationale d’Agronomie propôs um estudo sobre o trabalho agrícola e o emprego indígena nos países tropicais, sendo relator principal. Como ele próprio explicou, não se pretendia quantificar a mão de obra agrícola, mas estudar as condições da sua existência e o destino dos trabalhadores agrícolas na colónias e países tropicais.
"Depois da implantação da República, Bernardino Machado chamou-o a Lisboa para participar na remodelação do ministério. Em Julho é enviado como ministro plenipotenciário a S. Petersburgo, onde apresentou as credenciais a Nicolau II. Mas logo no mês seguinte regressou para desempenhar comissões em Paris e Londres. No fim do ano de 1813 é enviado de novo à Rússia como representante de Portugal nas comemorações da dinastia Romanov, levando consigo duas das filhas, Celeste e Beatriz. Foi assim apanhado no vórtice da Revolução de 1917 e envolvido nos acontecimentos diplomáticos que então ocorreram. Só em 1818 conseguiu sair por Murmansk.
"Nomeado delegado plenipotenciário à conferência de Paz em Paris, e a seguir representante de Portugal na comissão que iria elaborar o Pacto da Sociedade das Nações, multiplicou a sua actividade pelas comissões a que pertencia, enviando para o respectivo ministro português numerosos relatórios sobre as matérias aí tratadas. No regresso a Portugal criou o Secretariado da Sociedade das Nações e lançou as bases da Associação Portuguesa para a Sociedade das Nações, de que viria a ser vice-presidente.
"Só se aposentou em Agosto de 1821, depois de uma cirurgia aos dois olhos. Retirou-se para a Quinta da Viscondessa, no Turcifal, com as duas filhas solteiras, para se poder dedicar à sua “filosofia”, que no dizer do amigo Viana da Mota se chamaria Explicação do Universo. Mas a aterradora visão dos 19 armários da sua sala de trabalho, repletos de milhares de cartas e rascunhos, tornou-o incapaz de levar a tarefa a bom porto. Seria a filha Beatriz quem, após a sua morte, em 1935, organizou pacientemente o Espólio, oferecendo-o depois à Biblioteca Nacional.

Maria José Marinho

Fontes e Bibliografia

"Espólio Jaime Batalha Reis (Esp.E4) BN:ALPC.; Cartas Inéditas de Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão, Batalha Reis [...] (intr., coment. e notas de Beatriz Berrini), Lisboa: Ed. “O Jornal”, 1987; Correspondência entre Antero de Quental e Jaime Batalha Reis. (int., org. e notas de M. Staack) Lisboa: Assírio e Alvim, 1982; Costa, Fernando Marques da, "Sobre um possível Jaime Batalha Reis [...]", Revista da Biblio­teca Nacional, Lisboa, 3 (1-2), 1983; Cunha, Isabel Férin, "Sobre a estante de Jaime Batalha Reis: o homem e o seu círculo", Revista da Biblioteca Nacional, Lisboa, S.2, 8 (2) 1993; Eça de Queiroz e Jaime Batalha Reis: cartas e recordações do seu convívio. ( colig. e apres. por Beatriz C. Batalha Reis) Porto: Lello & Irmão Ed.,1966; Quental, Antero de, Cartas I e II. (org., int. e notas de Ana Maria Almeida Martins) Lisboa: Universidade dos Açores/Ed. Comunicação, 1989.

Espólio Jaime Batalha Reis (Esp.E4) BN:ALPC.; Antero de Quental: In Memoriam, Lisboa: Presença/Casa dos Açores, 1993, (facsimile); Batalha Reis na Rússia dos sovietes [...]. (análise crítica, recolha e notas de J. Palminha da Silva) Porto: Afrontamento, 1984 ; Carreiro, José Bruno, Antero de Quental, subsídeos para a sua biografia, Lisboa: Ed. do Inst.de Ponta-Delgada, 1948; Cartas Inéditas de Eça de Queiroz [...] (intr., coment. e notas de Beatriz Berrini), Lisboa: Ed. “O Jornal”, 1987; Correspondência entre Antero de Quental e Jaime Batalha Reis. (int., org. e notas de M. Staack) Lisboa: Assírio e Alvim, 1982; Correspondência de J. Batalha Reis para Barbosa Du Bocage. (int., org. e notas de Alice Godinho Rodrigues) Lisboa: INIC, 1990; Costa, Fernando Marques da, "Sobre um possível Jaime Batalha Reis [...]", Revista da Biblio­teca Nacional, Lisboa, 3 (1-2), 1983; Cunha, Isabel Férin, "Sobre a estante de Jaime Batalha Reis: o homem e o seu círculo", Revista da Biblioteca Nacional, Lisboa, S.2, 8 (2) 1993; Eça de Queiroz e Jaime Batalha Reis: cartas e recordações do seu convívio. ( colig. e apres. por Beatriz C. Batalha Reis) Porto: Lello & Irmão Ed.,1966; Garcia, João Carlos, "Jaime Batalha Reis, geógrafo esquecido", Finisterra, Lisboa, XX, 49, 1985; Marinho, Maria José, "A 'Revista Ocidental', 1875: um projecto da Geração de 70", Revista da Biblioteca Nacional, Lisboa, S.2, 7 (1) 1992; Queiroz, Eça de, Prosas Bárbaras. Porto: Liv. Char­dron, 1903; Quental, Antero de, Cartas I e II. (org., int. e notas de Ana Maria Almeida Martins) Lisboa: Universidade dos Açores/Ed. Comunicação, 1989, Reis, Jaime Batalha, Descobrimento do Brasil Intelectual pelos Portugueses do Século XIX. (org., pref. e notas de Elza Miné), Lisboa: Publ. D.Quixote, 1987, Exmo Snr. Marques d'Avila e Bolama, Porto, Tip.Comercial, 1871; Estudos Geográficos e Históricos, Lisboa: Agência. Geral das Colónias, 1941; Revista Inglesa: crónicas. (org., int. e notas de Maria José Marinho), Lisboa: Publ. D.Quixote/BN, 1988; Rodrigues, Alice Godinho, Jaime Batalha Reis geógrafo, historiador, político e diplomata, Porto: [s.n.], 1988; Santos, Andrade, Batalha Reis no Turcifal, Torres Vedras: Tip. A União; Serrão, Joel, O primeiro Fra­dique Mendes, Lisboa: Liv. Horizonte, 1985.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O Carnaval de Torres está à porta...



De 12 a 17 de Fevereiro de 2010, em Torres Vedras.

Programa Oficial:

23 JANEIRO » Sábado
12h00 » Inauguração do Monumento do Carnaval 2010
Praça da República

11 FEVEREIRO » Quinta-Feira
22h00 » Entronização dos Reis do Carnaval 2010
Praça da República
Organização: Real Confraria do Carnaval de Torres

12 FEVEREIRO » Sexta-Feira
09h30 » Corso Escolar
Centro da cidade (Rua Henriques Nogueira, Rua 5 Outubro, Rua Santos Bernardes e Rua José Augusto Lopes Júnior)

22h00 » Chegada dos Reis do Carnaval
Largo da Estação até à Praça da República
Organização: Real Confraria do Carnaval de Torres

22h30 » Dj's Carnaval Party I
Palco 1 » Praça Machado Santos (Praça da Batata)
Palco 2 » Jardins de Santiago

13 FEVEREIRO » Sábado
16h00 » Um Cheirinho a Tócandar
Centro da cidade (Rua Henriques Nogueira, Rua 5 Outubro, Rua Santos Bernardes e Rua José Augusto Lopes Júnior)

21h00» Corso Nocturno (Concurso de Grupos de Mascarados + Tócandar)
Centro da cidade (Rua Henriques Nogueira, Rua 5 Outubro, Rua Santos Bernardes e Rua José Augusto Lopes Júnior)

22h30 » Dj's Carnaval Party II
Palco 1 » Praça Machado Santos (Praça da Batata)
Palco 2 » Jardins de Santiago
Palco 3 » Largo de S. Pedro

00h30 » Tócandar + Banda Baco
Centro da cidade (Rua Henriques Nogueira, Rua 5 Outubro, Rua Santos Bernardes e Rua José Augusto Lopes Júnior)

14 FEVEREIRO » Domingo
14h30» Corso Diurno
Centro da cidade (Rua Henriques Nogueira, Rua 5 Outubro, Rua Santos Bernardes e Rua José Augusto Lopes Júnior)

16h30 » Tócandar + Banda Baco
Centro da cidade (Rua Henriques Nogueira, Rua 5 Outubro, Rua Santos Bernardes e Rua José Augusto Lopes Júnior)

22h30 » Dj's Carnaval Party III
Palco 1 » Praça Machado Santos (Praça da Batata)
Palco 2 » Jardins de Santiago

15 FEVEREIRO » Segunda-Feira

15h00» Baile de Máscaras Tradição
Local a designar

21h00» Corso Trapalhão
Centro da cidade (Rua Henriques Nogueira, Rua 5 Outubro, Rua Santos Bernardes e Rua José Augusto Lopes Júnior)

22h30 » Dj's Carnaval Party IV
Palco 1 » Praça Machado Santos (Praça da Batata)
Palco 2 » Jardins de Santiago
Palco 3 » Largo de S. Pedro

00h00 » Tócandar + Banda Baco
Centro da cidade (Rua Henriques Nogueira, Rua 5 Outubro, Rua Santos Bernardes e Rua José Augusto Lopes Júnior)

16 FEVEREIRO » Terça-Feira
14h30» Corso Diurno
Centro da cidade (Rua Henriques Nogueira, Rua 5 Outubro, Rua Santos Bernardes e Rua José Augusto Lopes Júnior)

16h30 » Tócandar + Banda Baco
Centro da cidade (Rua Henriques Nogueira, Rua 5 Outubro, Rua Santos Bernardes e Rua José Augusto Lopes Júnior)

17 FEVEREIRO » Quarta-Feira
21h00 » Enterro do Entrudo e Fogo de Artifício
Praça da República até ao Tribunal


Outras Informações:

Entrada para o Corso : € 5/ Pessoa

Livre Trânsito para Corsos (Sábado, Domingo e Terça-feira): € 10/ Pessoa

Menores de 10 anos e restantes actividades: entrada livre.

domingo, 24 de janeiro de 2010

A8 - A "Auto-estrada da Morte"?


O jornal "Público" publicou hoje, no seu suplemento "Cidades" um interessante artigo sobre o estado da A8, a principal via que liga Torres Vedras e a região Oeste a Lisboa.
Pela pertinência desse artigo resovemos inclui-lo na nosa página.
Ainda ontem, ao regressar de Lisboa à noite e debaixo de chuva, pude comprovar mais uma vez os perigos a que essa reportagem se refere.
A visibilidade das faixas é práticamente nula, e o perigo espreita a cada "muro" protector que se aproxima do veículo:

"Os riscos da auto-estrada que colocou uma região no mapa Oeste


Bela e perigosa, a Auto-estrada 8 recebe nota negativa do Observatório de Segurança de Estradas e Cidades devido a violações de normas de construção, que colocam em perigo os automobilistas. Não deixa, porém, de ser uma ligação importante para a economia e a vida de milhares de pessoas e empresas do Oeste. PorLuís Filipe Sebastião(texto) e Daniel Rocha(fotos)


"A Auto-estrada 8 (A8) aproximou o Oeste de Lisboa. Há mesmo quem a prefira como alternativa à A1 para chegar ao Porto. Mas o Observatório de Segurança de Estradas e Cidades (OSEC) avaliou as condições de perigo rodoviário que subsistem nesta ligação entre a capital e Leiria e alerta para a necessidade de serem adoptadas medidas que atenuem o risco de acidentes provocados por hidroplanagem e reduzida visibilidade em curvas mais apertadas.
"Francisco Salpico, coordenador do levantamento realizado pelo OSEC, alerta que a auto-estrada do Oeste "está entre as mais perigosas do país". Este engenheiro, responsável pelo relatório preliminar da peritagem à A8, conclui que se impõe a execução de trabalhos "que reponham as condições de segurança rodoviária", que consistam na correcção do traçado, do pavimento e das ranhuras no piso para drenar com eficácia o excesso de água. E defende que devem ser desencadeadas intervenções urgentes "para modelar a velocidade de tráfego para níveis correctos".
"Instado há mais de uma semana a fornecer dados sobre acidentes na A8, e quais as zonas de maior acumulação de sinistros, o comando-geral da GNR prometeu disponibilizar as informações. Um dia depois, o gabinete de imprensa da força policial fez saber que não podia satisfazer o pedido, encaminhando para a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária. Este organismo, que coordena a política do Governo em matéria de segurança rodoviária, também não respondeu. Como frisava recentemente o ex-ministro Luís Campos e Cunha, sempre que percorre a A8 e tem de pagar como se fosse uma auto-estrada, "gostaria de chamar o gerente, mas não há ninguém para responder, ninguém é responsável".

A caminho do Oeste

"O quilómetro zero da A8 nasce ao fundo da Calçada de Carriche, nos limites dos concelhos de Lisboa e de Odivelas. Os pouco mais de 132 quilómetros até Leiria estão devidamente sinalizados nos pórticos que orientam para o caminho do Oeste.
"Na travessia da várzea de Loures, logo ao quilómetro dois, o anúncio de obras impõe a limitação de circulação para 80 quilómetros por hora, com estreitamento das vias de rodagem. A entrada a partir do Eixo Norte-Sul (através do túnel do Grilo), entupida a qualquer hora do dia, despeja na faixa da A8 uma fila compacta de viaturas ao longo de umas centenas de metros até à saída para Frielas e Santo António dos Cavaleiros. De um lado da estrada, densas urbanizações encavalitam-se em altura nos montes, numa mancha contínua que se espalha desde o concelho de Odivelas. No lado oposto, impõe-se o mastodôntico Loureshopping, um dos muitos centros comerciais plantados em terrenos outrora destinados à agricultura.
"Os trabalhos em curso, a cargo da empresa Auto-estradas do Atlântico, participada pela Brisa e que detém a concessão da A8, fazem parte da empreitada de reabilitação e alargamento do lanço CRIL (Circular Regional Interior de Lisboa)-Loures, numa extensão de 6,3 quilómetros. O investimento é de 34,1 milhões de euros, deve ficar concluído até ao final do ano.
"No traçado plano e com curvas pouco acentuadas até à saída para Loures e Bucelas, a generalidade dos automobilistas circula dezenas de quilómetros acima da velocidade permitida. Isto, apesar da redução da largura das vias e do mau estado do piso. E de existirem, segundo o tal estudo do OSEC às condições de segurança na A8, diversas zonas de risco de hidroplanagem (aquaplaning), ou seja, zonas de acumulação de água no pavimento, por deficiente escoamento, o que cria condições propícias a despistes.
"Só a aproximação à praça de portagem impõe algum abrandamento. Porém, mesmo aqui, há quem teime em quase colar-se ao carro da frente nos corredores da Via Verde.

As obras de Loures

"As três vias de circulação vão escoando o tráfego até à saída para a A9 (Circular Regional Exterior de Lisboa). Na subida íngreme, muitos sinais das obras de alargamento estão tombados. Presume-se que devido ao mau tempo. Neste lanço entre Loures e a Malveira, a concessionária está a investir 35 milhões de euros no alargamento para três vias (também no sentido norte-sul, onde agora só tem duas vias) ao longo de cerca de dez quilómetros. A empreitada, que deve ficar pronta durante 2010, inclui o aumento de mais uma via para lá da área de serviço de Loures (onde actualmente passa a duas), no sentido sul-norte, até à saída para Ericeira/Mafra/Malveira. A necessidade do alargamento é ditada pelo facto de o tráfego médio diário anual entre Loures e a Malveira já ultrapassar os 35 mil veículos.
"O piso irregular em betão, em notório mau estado, será substituído por uma mistura betuminosa modificada a partir de borracha reciclada de pneus. Esta solução permite reduzir o barulho provocado pela circulação de tráfego - além de aumentar o conforto para os utilizadores e, espera-se, assegurar também melhores condições da drenagem transversal e longitudinal à auto-estrada.
"A este nível, Carlos Barbosa, presidente do Automóvel Clube de Portugal, é taxativo: "É urgente acabar rapidamente com o alargamento, porque aquilo é um perigo assim." Barbosa admite utilizar a A8 como alternativa à A1 em deslocações ao Porto - através da ligação à A17 e à A29 "fica a 500 metros da Ponte da Arrábida". Reconhece, contudo, que o traçado inicial, "como foi feito à pressa", não reúne as condições de segurança para uma auto-estrada. No troço entre Loures e Torres Vedras, nota, "há sítios onde para se fazer a 120 [quilómetros por hora] é preciso ter-se cuidado".
"Nesta zona, o estudo do OSEC, organismo não governamental composto por magistrados, técnicos e autoridades de segurança, salienta a violação das normas técnicas relativas à inclinação excessiva da via, com descidas em distâncias muito superiores ao estabelecido. Além disso, há inúmeros pontos de risco de hidroplanagem, incumprimento dos raios para as curvas verticais (lombas) o que reduz "de forma grave" as distâncias de visibilidade e de paragem. Mais problemas detectados por aquele organismo: curvas em planta muito apertadas, geradoras de elevadas acelerações centrífugas, que potenciam a perda de controlo da direcção do veículo.
"Francisco Salpico destaca um caso entre as inúmeras situações de violação: uma curva, pouco antes do quilómetro 19, com um raio de 430 metros, onde a velocidade específica (factor que define até onde estão asseguradas condições mínimas de segurança) é de apenas 97 quilómetros/hora. Este valor é muito inferior à velocidade de tráfego (que se admite ser praticada por 85 por cento dos condutores) e que ronda os 145 quilómetros por hora. Mesmo circulando à velocidade máxima permitida na auto-estrada, o automobilista corre perigo de acidente muito acima do valor limite de segurança do traçado da via.

Torres queixa-se do preço

"Um condutor atento à estrada só de relance pode contemplar a paisagem que se estende desde o cabeço vulcânico de Montachique, ainda no concelho de Loures, até para lá de Torres Vedras. Isto porque a auto-estrada serpenteante possui apenas duas vias até à saída para Sobral de Monte Agraço, o que dificulta a vida a quem queira apreciar o contraste entre as encostas bucólicas pintalgadas com moinhos em ruínas e, do lado contrário, as modernas e gigantescas hélices de ferro das torres eólicas. Mais adiante, ainda se pode aproveitar durante uns quantos quilómetros o alargamento para três vias e deixar para trás os camiões de mercadorias. Isto, se toda a faixa de rodagem não ficar ocupada com pesados a ultrapassarem outros - como acontece frequente. Em Portugal, parece ser assim: quando não é a via que complica, são os condutores que insistem em colocar em risco a sua segurança e a dos outros...
"Em Torres Vedras, que conta com duas saídas (sul e centro), a auto-estrada motiva elogios e críticas. O presidente da câmara, Carlos Miguel (PS), disse ao Cidades, através de um assessor, "que não tem nada a dizer sobre o assunto [A8]". Fica por se saber se o autarca socialista mantém a opinião, expressa num relatório elaborado pela sua própria assembleia municipal e apresentado ao executivo em Março de 2009, de que, "subtraindo questões técnicas como a má qualidade do piso, partes do traçado com curvas demasiado pronunciadas e locais com mau escoamento de águas pluviais, a A8 tem servido muitíssimo bem Torres Vedras e o Oeste".
"Com a auto-estrada, a região ficou a meia hora da distânciade Lisboa, atraiu investimento estrangeiro, traduzido nomeadamente em empreendimentos turísticos.
"O que se passa na A8 é uma vergonha, quer ao nível da qualidade do piso, quer dos preços praticados", contrapõe, em declarações ao Cidades, o vereador Paulo Bento (PSD), da oposição em Torres Vedras. Este autarca apoia-se no relatório de avaliação das portagens para salientar que se trata da "mais cara" do país.
"A comissão da assembleia municipal concluiu que o troço Malveira-Torres Vedras Sul (17,9 km/1,45 euros), comparado com o troço Loures-Malveira (11,4 km/0,75 euros), "tem um valor de portagem substancialmente mais caro". A diferença resulta de contratos de concessão assinados em épocas distintas. Essa foi, aliás, a explicação avançada pelo presidente da Auto-estradas do Atlântico, José Costa Braga. Num ofício remetido à câmara, o responsável sustenta que "os sublanços com mais anos de serviço têm uma tarifa (euro/km) mais baixa, devido a coeficientes de actualização inferiores". O presidente da câmara recorreu da diferença de preços para a associação de defesa do consumidor Deco, mas em Torres desconhece-se o resultado dessa diligência.
"O recente temporal deixou marcas nas áreas de serviço de Torres Vedras. Os ventos dobraram os grossos ferros de uma protecção do parque de estacionamento (sentido norte) e deixaram meio tombada a placa informativa do acesso na direcção sul. A via nesta zona, para o OSCE, apresenta sobretudo deficientes condições de visibilidade, devido a curvas verticais e algumas planas e riscos de hidroplanagem, em diferentes pontos nos dois sentidos. O troço entre a saída para o Bombarral e Óbidos padece dos mesmos problemas. Esta última vila, cujo casario muralhado se avista da auto-estrada, tem sabido tirar partido desta ligação. O presidente da câmara, Telmo Faria (PSD), já lhe chamou mesmo "a coluna vertebral do Oeste".

A sorte das Caldas

"A saída da zona industrial é perigosa." Quem o admite é o presidente da Câmara das Caldas da Rainha, Fernando Costa (PSD), esclarecendo, por seu lado, que se trata de um acesso à A8 que foi projectado inicialmente para servir uma variante à cidade e que acabou por ser transformado em auto-estrada. O social-democrata não poupa nos elogios pelo que a via representa para a região. Os motivos para sorrir também se devem ao facto de os oito quilómetros (sem portagem), com quatro acessos à volta das Caldas, terem retirado "cerca de 60 por cento do trânsito do centro da cidade". E sublinha que a auto-estrada, além de aproximar o concelho de Lisboa e de Santarém, constitui uma alternativa a ter em conta na ligação ao Porto.
"O perfil a partir das Caldas da Rainha torna-se menos acidentado, para benefício do conforto.
"Jorge Barroso, presidente da Câmara da Nazaré, independente eleito pelo PSD, também aprova a infra-estrutura rodoviária, apesar de a vila piscatória não ficar logo à beira da A8. "As auto-estradas são boas para trazer, mas também levam mais facilmente", salienta o autarca numa alusão à necessidade de os municípios saberem tirar partido do dinamismo económico proporcionado pela melhoria das acessibilidades. "Não podemos dizer que não queremos pagar portagens e depois ter a estrada alcatifada. A A8 de hoje não é igual à de anteontem", afirma Jorge Barroso. Tal não o impede de lamentar que os valores praticados no troço após as Caldas da Rainha e a ligação ao seu município sejam dos "mais caros do país". Por isso, defende que, se "o preço fosse igual para todos, o pagamento seria mais justo". Em termos de segurança, o autarca destaca que "o traçado é bastante melhor", apesar dos riscos acrescidos de hidroplanagem na zona de Alfeizerão. Problema que também é assinalado pelo estudo do OSEC.
"A ligação à Marinha Grande é garantida através da A17, a via que depois permite continuar pela A29 até ao Porto. O socialista Raul Castro, presidente da Câmara de Leiria, onde termina a A8, realça que a via proporciona um "acesso mais rápido ao litoral do Oeste". O autarca da cidade do Lis salienta que esta acessibilidade tem sido um dos principais motores para a produtividade industrial da cidade, uma vez que "facilita muito a vida das empresas". Em termos de segurança, Raul Castro chama a atenção para "alguns pontos de maior acumulação de água", que aumentam o risco de acidentes provocados por aquaplaning, mas garante que "a própria concessionária tem mostrado preocupação em melhorar o pavimento e resolver estes problemas".

Observatório quer rever normas

Concessionária garante que o alargamento vai tornar a A8 "mais amigável"

"A segurança rodoviária, para Nuno Salpico, presidente do Observatório de Segurança de Estradas e Cidades, "é sobretudo um problema de engenharia de transportes". O responsável deste organismo não governamental, criado em 2004, salienta sobre a A8 que, "na construção rodoviária em Portugal, com demasiada frequência a segurança é escandalosamente descurada".
"O relatório do OSEC defende a revisão da Norma de Traçado portuguesa, como aconselha o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, de forma a estimar correctamente a velocidade de tráfego, para evitar que se permita, "ilicitamente, a construção de estradas mais baratas à custa da insegurança". Nuno Salpico (na foto) sublinha que o levantamento efectuado na A8 detectou "elevados factores de risco proibido a que se sujeitam os condutores", perante uma "gama de violações técnicas muito graves" do traçado. As curvas de raio reduzido (dos 430 aos 600 metros), que deviam ultrapassar os mil metros, associadas à perda de atrito com pavimento molhado, "potenciam o despiste", para além de a introdução de diferenças de velocidade aumentarem o risco de colisões - o que acontece também na violação das normas para as lombas. O OSEC recomenda, por isso, a correcção dos defeitos estruturais da via e "medidas de redução da velocidade de tráfego nos locais mais perigosos" onde não seja possível avançar já com obras.
"A Auto-estradas do Atlântico explicou que a A8 foi construída em diversas épocas e que todos os projectos "tiveram de ser previamente aprovados pelas entidades fiscalizadoras". A empresa garante que o troço inicial, Loures-Torres Vedras, "cumpre todas as normas aplicáveis em termos de perfil exigido para as auto-estradas". O traçado resulta da orografia e as obras em curso entre Loures e a Venda do Pinheiro "irão nalguns casos corrigir o eixo da auto-estrada". No entanto, segundo a empresa, "essas correcções serão praticamente imperceptíveis aos condutores" e com o alargamento, apesar de condicionado pelo atravessamento de zonas urbanas, o traçado "parecerá mais amigável". Os sublanços com maior número de utilizadores situam-se na proximidade de Lisboa". L.F.S.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

THE FOX - A estreia de um grupo de musica rock de Torres Vedras


Os The Fox é um projecto de musica rock que se tem faz uma brilhante fusão entre o uso das novas tecnologias e o trabalho quase artesanal.
Além disso é um grupo de Torres Vedras, onde este tipo de projectos tem sido raro.

Este Natal fui surpreendido pela oferta que me foi feita por um dos membros desse grupo, amigo de longa data, e sempre ligado ao mundo da divulgação e produção musical, o Mário Fernandes (aliás “Neco” para os amigos), via Ana Isa, do primeiro CD dos The Fox.
Esse CD foi produzido pelo Tiago Gomes e remisturado em Londres. Além disso é uma pequena obra de arte, com cartões individuais, onde se reproduzem as letras do grupo, graficamente elaborados pela Catarina Sobreiro.

Conforme noticiam agora, é já amanhã, Sábado à noite, dia 16 de Janeiro, pelas 22 horas, que o grupo se revela ao público, na Tuna de Torres:
 “The Fox em parceria com a Cooperativa de Comunicação e Cultura de Torres Vedras têm o prazer de vos convidar para um momento muito especial: O lançamento do primeiro álbum da banda, "Hunting Grounds".
“O nosso desejo agora é fazer uma grande festa com todos os nossos amigos! Temos rock'n'roll, temos convidados especiais e temos uma grande vontade de fazer desta noite uma noite inesquecível para todos nós”.
Quem quiser conhecer melhor o grupo pode consultar o seu espaço de divulgação no Myspace AQUI.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Mais uma "CHEIA GRANDE"



Depois do tremor de terra, do ciclone, do frio, hoje foi dia de chuva.

A estrada de Torres Vedras a Santa Cruz tem estado encerrada em vários troços por causa do Rio Sizandro que saltou das margens em muitos sítios.
Nesta fotografia, tirada esta tarde do Varatojo, pode-se ver o efeito das cheias junto ao lugar do Paúl, fazendo assim jus ao seu nome.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

UM FIM-DE-SEMANA CULTURAL EM TORRES VEDRAS

Este vai ser um fim-de-semana em cheio em Torres Vedras, no que respeita a eventos culturais.

Assim logo à noite a dificuldade vai ser de escolha.

Quando foram 21.30, nesta sexta-feira 8 de Janeiro, a dificuldade vai ser escolher entre a apresentação pública do GRUPO CORAL GAUDEMIS, que terá lugar na Igreja da Misericórdia para um concerto com “Canções Tradicionais de Natal e Janeiras” e a primeira sessão de “Imagens em Discussão”- CINEFORUM, organizado na sede do Académico de Torres Vedras (Largo frei Eugénio Trigueiros nº 7), que inclui “uma sessão, um tema, um filme”.


Amanhã, Sábado dia 9, a escolha volta a ser difícil, com a inauguração em simultâneo e em locais próximos, pelas 18 horas, de duas exposições, uma, “DIÁRIOS GRÁFICOS, DESENHOS EM CADERNOS”, na Galeria Municipal dos Paços do Concelho, comissariada por Eduardo Salavisa e Carlos Mendes, outra, uma exposição de pintura e Design de EVA GATO MOURA GUEDES e INÊS GATO, na Cooperativa de Comunicação e Cultura.



Finalmente, Domingo dia 10 decorrerá o já tradicional concerto de ano novo organizada pelo ENSEMBLE D’ARCOS, com vários convidados, destacando-se a Camarata du Rhone, que terá lugar no Teatro-Cine de Torres Vedras a partir das 18 horas.



É caso para dizer que não há fome que não dê em fartura.