segunda-feira, 28 de março de 2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

Recordar o velho e abandonado Choupal, neste Dia Mundial da Árvore

Comemorando-se hoje o Dia Mundial da Árvore, aqui recordamos o nosso velho e abandonado Choupal, que espera há anos pelo cumprimento de tantas promessas e que está em risco de cair no esquecimento dos torrienses.
O Parque Verde da Várzea contribuiu em parte para esse esquecimento, mas penso que o desenvolvimento e renovação do Choupal podia ser um contributo para favorecer uma "cintura verde" em Torres Vedas que, começando no Parque da Várzea, teria o seu prolongamento no Choupal, ligado pelo Parque de Exposições e, a partir do Choupal, continuando até às Termas dos Cucos, passando pelo Bairro Arenes, com ciclovias e outros centros de lazer.
Sei que existem planos para essas zonas, mas a sua concretização começa a tardar, correndo o risco de cair no esquecimento, na voragem da actual crise económica.
Homenageamos pois aqui o nosso Choupal, atarvés da divulgação de um conjunto de notícias e documentos onde se refere a importância daquele espaço nos último duzentos anos:








O Choupal na História. 
"A varzea fronteira a S.Miguel, é conhecida pelo Choupal , pelo Jardim ,ou pela Alameda da Senhora do Ameal. Este sitio da Senhora do Ameal chamou-se em tempos remotos do Pinheiro parecendo que houve ali no começo da monarquia algum aglomerado de casas ,como ainda hoje ha ,que se chamaria Aldeia da Ruyna ou da Ruína ,como se depreende do arquivo da Misericordia (maço dos doc. especiais , nº 13 )."(J.Vieira ,Torres Vedras Antiga e Moderna, 1926. ,p.203)

As primeiras àrvores implantadas no Choupal eram anteriores a 1789:
"Nesta Villa (...) Della sahe huma vistosa rua para a ponte de El-Rei toda cercada , e copada de arvoredos ; e outra igualmente vistosa , e formosiada de ambos os lados com arvores ,sahe da mesma villa para o Templo ,ou Sanctuario da Senhora do Amial ,que se avista da Villa.Sem exaggeração se póde dizer ,que nestas duas entradas e sahidas de Torres Vedras excede muito esta Villa a todas ,e ainda a grandes Cidades do Reino."(Frei Manoel de Maria Santissima ,"Historia (...)do(...) Varatojo" ,Porto , ed. 1799 , p.6)


Consequências das Invasões Francesas
“Não contemporizámos com nenhuma casa, jardim, vinha, oliveira, matas ou propriedade particular de qualquer espécie. A única barreira à área sob fogo ainda existente é aquela magnífica alameda de velhas árvores no desfiladeiro de Torres Vedras. O juiz de fora e os habitantes pediram-me tanto pelo último momento, com receio que fossem cortadas desnecessariamente que acedi adiar a operação até ao dia anterior da entrada das tropas. Como tenho homens de confiança com machados prontos no local não tenho qualquer dúvida que elas serão abatidas a tempo e horas. Os pinhais nas colinas de Torres já foram abatidos e transformados em trincheiras”.
(major John Jones citado por A.H.Norris e R.W. Bremner, The Lines of Torres Vedras, Lisboa 1986, p.16, segundo tradução de Thomas Croft de Moura).

Recuperar o que se perdeu com a guerra
"E na ditta  vereação se fez arrematar parte da madeira do concelho a requerimento do Procurador do mesmo, a qual se achava cortada em varios Passeios dest villa por ordem dos officiaes Melitares Inginheiros Inglezes porque a altura e grossura das madeiras incubrião sertos pontos de vista às fortificações circumvezinhas"( Livro nº24 dos Acordãos da Câmara , f.221 V. ,de 11 de Maio de 1811)


Defender as Árvores
"Acordão-Que toda a Pessoa que cortar , arrancar ,ou abalar alguma Arvore silvestre plantadas agora na Entrada desta villa em chão do concelho , e aonde já estiverão outras que pella ocazião das Invazões fes necessario o seu corte ,será prezo por trinta dias , e da cadeia pagara seis mil reis por cada huma (...)(Livro nº 25 dos Acordãos da Câmara ,f. 46 (?) ,de 26 de Fevereiro de 1814).


Acordão de 5 de Fevereiro de 1834 fala nos Salgueiros da "Vargea do jardim" (Livro 26 , f.374)


"(...)No outro campo situado ao Norte da Villa,o denominado a Varzea da Feira ,ou de N.Senhora do Ameal,se faz annualmente huma feira pelo S.Pedro ,a qual he de grande concurso (...)Talvaz nenhuma feira tenha huma situação tão aprazivel, e commoda (apezar de ter perdido singular commodidade , e belleza da sombra ,pelo córte de arvoredo desde a sahida da Villa , porque he collocada sobre hum largo campo cortado de diversas estradas , e de dois rios ,proximo a huma fonte , e a hum chafariz ,e entre duas Igrejas nas suas extremidades do Norte , e Sul"(p.282-bis)
"Descripção Historica e Economica da Villa e Termo de Torres Vedras por Manoel Agostinho Madeira Torres - Parte Economica " in Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa ,1835, pp.231-313).


"(...) E na mesma vereação ordenarão que para maior commodidade dos feirantes da Feira de São Pedro desta villa se observase a para bem do Povo o seguinte regulamento de Policia da mesma Feira.Que as Lojas de mercadoria e quais outras que armarem Barraca se formassem debaixo do Arvoredo junto a Feira do Jardim segundo a ordem que lhe for dada nesse acto pelos vereadores encarreados desta commição .
"E que a Vargea entre a Regueira e o Rio fica destinada para a venda de Gado(...)"(Livrº27 ,f.26 ,6 de Junho de 1835).

"(...)Ordenarão que se procedese immediatamente ao concerto do cano que encaminha as Agoas da Fonte do Jardim ao chafariz de São Miguel visto o estado ruinozo em que se acha e prejuiso que soffrem as Arvores ali plantadas"(Livro nº27 ,de 4 de Maio de 1836 ,f.70 v.).

"(...)E na mesma vereação foi presente hum requerimento dos Tendeiros e Quinquilheiros huns residentes nesta villa outros de fora della em que pedem a bem da utilidade publica se remova para a Vargea do Jardim a Feira que se custuma fazer na Vargea denominada da Feira ,em attenção a utilidade que lheresulta de não se estragarem suas Fazendas ,haver ali duas Fontes e o rio de que tirão as maiores vantajes como a todos he notorio , e tomando a camara em consideração seu requerimento.Deliberarão que em utilidade publica defferem o seu requerimento passado se os competentes Editais pelos quais se faça publico a ditta transferencia (...)"(Lº 27,de 22 de Julho de 1837 ,f.136).

"(...) E na mesma vereação (era presidente da Camara Estevão José da Silva) por toda a camara unanimemente foi declarado que lhe constava ter ficado de nenhum effeito a deliberação que tomou e deste Livro consta sobre a mudança da Feira Nova da Vargea Grande para a Vargea do Jardim cuja deliberação se havia feitto o requerimento dos Povos , e em attenção a utilidade dos mesmos sendo certo que o Administrador deste Concelho Antonio Jacinto da Gama Leal por sua determinação mandara rasgar os Editais desta camara que se havião affixado nos lugares publicos.Sendo tambem certo que f.141 que estes Editais forão arrancados pelo official do Porteiro em comparia (sic) do official da Administração Jose da Silva Bizarro , e no lugar em que forão arrancados estes Editais foram afixados outros Editais assignados pelo ditto Ademnistrador do Concelho pelos quais obriga aos Povos não cumprão a deliberação da camara devendo armar a Feira aonde d'antes era com pena de que aquelle que assim a não cumprise ser auttoado e tido como perturbador do Socego publico e desobediente as Authoridades.E porque esta camara se resente de tal procedimento ja pelo acto indecoroso e ja pela colisão em que poem esta camara para com os Povos de não ser obedecida em suas deliberações .Determinarão que se participase este acontecimento ao Ex.mo Snr. Ademnistrador Geral e igualmente se recorrese a Sua Magestade pela Secretaria dos Negocios do Reino medidas para que esta camara possa cumprir suas atribuiçoens sem que o Admnistrador do concelho pretique tais excesos. Documentando-se esta representação com a copia do Edital do mesmo Ademnistrador e certidão do mesmo Porteiro que praticou o arrancamento(...)" (Lº 27 ,f.s. 140v. e 141 de16 de Agosto de 1837)


"Na mesma sessão ordenarão que attendendo ao maó estado em que se achão os Salgueiros - à Vargea do Jardim - os quais por sua antiguidade so tem a casca e muitos d' elles estão cahindo ,fossem arrancados , e em seu lugar se plantassem outros novos"(Livro 28 dos Acordãos da Câmara ,de 8 de Fevereiro 1845).

"Nesta sessão foi proposto pelo Presidente desta Camara , que também o he da Commissão encarregada da fiscalização boa ordem e arranjo das Feiras , e Mercados, que se fazem nesta villa ,e seu limite.Que tendo requerido os Feirantes ,Canquilheiros e tendeiros volantes a mudança da feira ,que annualmente costuma fazer-se em o primeiro Domingo passado o dia 15 de Agosto ,da Vargea Grande ao sul da villa ,para a Vargea do Jardim ao Norte d'ella attendendo ás muitas comodidades que resultão desta mudança não só para os Feirantes mas para o Povo , que concorre á mesma Feira ,por ali se encontrarem sombras ,abundancia d'agoa , e outras circonstancias de grande utilidade ,que : sucedendo que no anno de mil oitocentos e trinta e sete ,foi por Accordão concedida esta mudança em defferimento ao requerimento que foi presente á camara que então servia(...) (Lº Aª nº 28 ,19 de Julho de 1845).(resolução aprovada pelo Governo Civil em Fevereiro de 1846).

"Tendo o governo reconhecido as vantagens que resultão a agricultura e artes ; e ao comercio da abundancia de Arvoredos ,que ultimamente tem soffrido grande diminuição (...) e querendo obstar a continuação de semelhante mal proporcionar às Camaras Municipais as sementes necessarias não só para as distribuir pelos administradores ,mas para procederem ás competentes plantações nos terrenos concelhios : acaba de resolver ,que pela Inspecção Geral das Mattas se distribuirão gratuitamente por todos os Districtos Administrativos do Reino as porções de semente de penisco ,e pinhão ,e de pés de carvalhos ,sobreiros e castanheiros ,que forem precizas em cada concelho"(circular nº 4 do Governo Civil de 15 de Fevereiro ,sobre uma decisão do governo,recebida pela Câmara de T.Vedras ,e transcrita em acordão de 23 de Fevereiro de 1850, Livro nº 28 dos acordãos)

"(...) que se officiasse à Inspecção Geral das Matas requesitando a semente de tres alqueires de Penisco e tres alqueires de semente de Pinhão "(Livro nº 28 dos Acordãos ,1 de março de 1850).

"Nesta vereação ordenou a camara que se passassem Editaes para se proceder à vistoria no dia seis de Novembro proximo na vargea chamada da Feira Nova , a fim de ser posta d'arvores d'esde o choupo proximo ao Poço do Retiro até ao Muro da terra de João Félix Gomes d' Azevedo e convidando todas as pessoas que quiserem cultivar o dito terreno por espaço de seis anos a fazerem suas petições á Camara : ate aquella epoca , com a obrigação porem de tratarem da conservação das árvores e as vigiarem d'animais d'anninhos"(Livro nº28 dos Acordãos ,30 de Outubro de 1850).

"(...)n'este anno  (1851) se concluio a plantação d' alameda do Jardim que se tinha começado em Fevereiro de 1823 ,e que só tinha compreendido o terreno alem da Rigueira que vem dos Amiaes d'esde o Chafariz de S.Miguel ,até um pouco acima da ponte que da vargea dá serventia para o Jardim ,completando-se em 1851 o resto da plantação em todo o campo que fica entre a estrada e o monte de S.Vicente.(...) antigamente houve (...) um arvoredo (...) em todas as entradas e saidas da Villa que tinha sida mandado cortar pelo General Inglez Sir Arthur Weleslei nos fins do ano ,quando o General Macena ,Commandante do Exercito Francês ,se aproximou das linhas de Torres Vedras "( José Eduardo Cezar ," Livro dos Annaes do Municipio" ,f.5, 1847-1854).

"Ordenou a Camara ao continuo Francisco Antonio Pires intimasse os cultividores do tereno que se achado plantado d'arvores nas duas Vargeas de S.Thiago e Srª do Ameal para se apresentarem na Camara no Domingo 14 de Dezembro para assignarem Thermo de guardarem bem as arvores ,não lhe semearem pão de programa , e de plantarem outras arvores no lugar d'aquelles que se secarem"(Livro nº 28 dos Acordãos , 10 de Dezembro de 1852).

"Além d'estes passeios sôbre as estradas ,havia outro chamado Bosque do Jardim por ser situado no plano inferior á fonte d'este nome ,composto de nove parallelos d'arvores silvestres na maior largura do terreno ,que discorre para o sul ; e era tal a amenidade d'este sítio ,que foi escolhido d'ordem do Principe Regente (hoje 1819 El-Rei Nosso Senhor) para jantar nelle quando voltou da villa de Peniche em agosto de 1806(b)"(...) pág.12
"(b)Este plano bem assentado por natureza ,não é comtudo susceptivel de largura regular,por ficar entalado entre uma profunda valla , e o aqueducto da fonte para o chafariz de S.Miguel,dirigido pela raiz do monte de S.Vicente.O arvoredo d'este bosque era quasi todo de chopos muito elevados(...) pág.12.
"*Hoje (1859 ) existe restaurado o bosque do Jardim desde o anno de 1823 ,em que a Camara o mandou plantar de novo,e as arvores produzem uma excelente sombra ,se bem que muitas se acham principiadas a estragar.E em seguimento d'este bosque caminhando para o nascente,no resto do campo até á Srª do Amial ,se plantou em 1852 outro arvoredo tambem em symetria por ordem da Camara , o qual já hoje se acha bem fechado e formoso ; e fazendo justiça ás camaras modernas ,ellas têm procurado restaurar tambem o arvoredo nos Passeios da villa ,mas seus esforços tem sido egualmente pela maior parte frustrados.Por isso deveriam imitar a Camara de 1789 ,que para evitar a destruição das arvores constituio um guarda ( que era official de justiça) a quem davam de propina 14$400 réis annuaes.Vê-se do dicto l. 23  Livro 23 dos acordãos fol.24. E com graves penas contra quem as cortasse.Dicto l. fol.26 verso .-Dos Edictores." . pág.13.
(Manuel Agostinho Madeira Torres - "Descripção Historica e Economica da Villa e Termo de Torres-Vedras",2º edição ,Coimbra 1861,editada por José Eduardo César e Gama Leal . 1º edição em 1819 ,na 1ª parte do 6º tomo das Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa.Edição fac-similada pela Santa Casa da Misericordia de T.Vedras em Maio de 1988).

"(c) (p.260) temos também hoje as grandes lamêdas da Vargea do Jardim ,e a da Vargea Grande ,pela maior parte modernamente plantadas por mandado das Camaras Municipais ,como já referimos na Parte Historica - Dos Editores -Depois de escrevermos isto ,e antes de hir para a imprensa o nosso manuscripto ,a primeira lamêda na parte plantada em 1822, foi mandada cortar em 1863 pela camara contra o voto de muitos ,vendendo a madeira a huns 600$000 rs. ou mais"(caderno 4 f.16). B.M.T.V. - "Anotações dos Editores à Parte Económica da História de Torres Vedras de Madeira Torres", +- 1865 , J.Eduardo César e Gama Leal)


O Jornal "Ecos de Torres" defendeu nas suas páginas a tentativa feita, em 1917,contra a intenção, por parte de uma Câmara da época, para arrancar totalmente o choupal da senhora do Ameal.


"A 22 de Janeiro faz-se tambem em Torres Vedras uma feira de gado suino chamada de S.Vicente, ignorando a epoca da sua creação.Deve igualmente ser antiga e noutros tempos foi acompanhada de uma festa ao santo daquele nome que se realisava na ermida de S.Vicente , mas tendo esta sido arruinada durante o violento combate de 1846 entre as tropas de Saldanha e o conde de Bomfim ,passou a fazer-se em baixo na ermida da Senhora do Ameal ,para onde a imagem do santo foi transferida e ali ficou."(Julio Vieira "Torres Vedras Antiga e Moderna" ,ed. 1926 ,pág.214)

De 22 a 29 de Agosto de 1926 realizou-se no Choupal ,"então (...) um aprazível espaço arborizado ,tendo à sua ilharga um Sizandro navegável e límpido(...)"(Adão de Carvalho/J.P. ,"Das Gentes e das coisas de Torres Vedras (...)" in BADALADAS de 29 de Agosto de 1986),a 1ª Exposição Agrícola, Pecuária e Industrial de Torres Vedras.

"No vale situado entre êste monte  de S.Vicente e a encosta Norte do castelo, está a Comissão de Iniciativa  e Turismo de Torres Vedras  fazendo um aprazivel Parque que já possue boas sombras e amplas ruas ladeadas de lindos e viçosos canteiros" ( "A Hora" ,nº42 , Lisboa 1936 , p.20 )

"Deve realizar-se no corrente mês de Janeiro esta feira  Feira de S.Vicente, onde se fazem grandes transacções de gado suino alentejano ,que nas vésperas vão chegando por via terrestre em grandes manadas.
"(...)
"Na capela de N.ª Sra. do Amial realizava-se nesse dia (dia de S.Vicente ,em Janeiro) a festa de S.Vicente , que era sempre muito concorrida , e a seguir à missa procedia-se ao leilão das oferendas , salientando-se sempre os cargos ornamentados e cheios de gostosos bolos.O pregão era sempre feito por um festeiro que percorria o arraial , gritando "Três mil réis por este cargo ,melhorado para o ano ,quem dá mais", e o preço ia subindo até chegar à conta para se poder entregar ,cuja ordem os masários davam , e alguns chegavam a atingir até cinquente mil réis(...)."
(Zérriques , "Sino da Saudade - Feira de S.Vicente" , in BADALADAS de 20 de Janeiro de1962).

Em 1979 ,Victor Cesário da Fonseca ,num conjunto de artigos publicados no "Badaladas", denunciava o pouco amor revelado pelas autoridades torienses em relação às `arvores e exemplificava com vários crimes recentemente cometidos nessa área, apontando, no caso do Choupal o corte de "uma carreira de lindos plátanos para alargamento da estrada , em frente da Foroeste ,espaço quase sempre ocupado por automóveis ali estacionados" (V.C. da Fonseca "Torres Vedras e a Árvore- 3 - ",in BADALADAS ,10 de Agosto de 1979) entre outras árvores de grande porte,concluindo que "O torriense não gosta da árvore ; mas é preciso que goste.Se não for por uma questão de estética , de beleza ,de regalo pela sombra que ela produz ,seja-o ao menos pelo motivo de saúde e defesa contra as intempéries."(V.C.F. "Torres Vedras e a Árvore - 4-" in BADALADAS,24 de Agosto de 1979).








sexta-feira, 11 de março de 2011

Contos de Tantos Contos


É já amanhã que começa a funcionar a oficina de recolha de contos intitulada "Contos de Tantos Cantos", dirigida por Ana Meireles.
A participação é livre, mas com um número limitado de participantes, exigindo inscrição prévia, e destina-se às populações imograntes dos concelhos da Lourinhã e Torres Vedras.
A primeira sessão realiza-se este Sábado "Fábrica das Histórias", na Rua Maria Barreto Bastos, 36, entre as 15 eas 17 horas.
O resultado dessa oficina de recolha de contos, tradicionais de diversos países, dará lugar a uma possível edição de livro ilustrado.

(Inscrições: CLAII de Torres Vedras, tlf.: 261 322 464 ou e-mail: gabimigrante@cm-tvedras.pt).

quinta-feira, 10 de março de 2011

Está Morto e Enterrado...e para o ano há mais...



A "Quarta-feira de Cinzas" marca o final do Entrudo e o início da Quaresma e a esta ocasião estão ligadas várias cerimónias, entre elas a da "Serração da Velha".

A cerimónia da serração da velha assinala a saída do Inverno e a entrada no Verão. A ”velha” simboliza o Inverno ou a opressora Quaresma. Entre os árabes os sete dias do solstício de Inverno são designados por “dias da velha”.Serrar a "velha" ao meio é uma alegoria à ideia de partir ao meio o ano solar. (1).

Data de 1685 a mais antiga referência em Portugal da realização da cerimónia de “serração da velha”.“Esta alegórica festança ocorria numa quarta-feira do meado da Quaresma e consistia numa paródia da gente nova, conluiada, em época de defeso lúdico, para serrar cada velho, no campo ou na cidade.

“Pela calada da noite, um grupo de embuçados rouquejava, à porta das casas sentenciadas, paródias testamentárias do locatário idoso, enquanto o serrote percutia num bocado de madeira ou de cortiça o seu lúgubre ranger, acompanhando o atroar dos guizos, ferros,latas, cântaros."(2).

Em finais do séc. XIX, em Cuba, no Alentejo, a cerimónia da “serração da velha” consistia em meterem um cão e um gato dentro de um cortiço hermeticamente fechado. Um homem transportava o cortiço, seguido de outros armados de cacetes e varas. Um rapazito, por vezes vestido de anjo, transportava a serra que deveria servir para serrar o cortiço no lugar escolhido para o suplicio. O cortejo percorria as diversas ruas da localidade e a cerimónia terminava com a serração do cortiço, que simbolizava a velha. Não se refere o destino dos animais (3).

Outro costume da Quarta-Feira de Cinzas era o “enterro do Entrudo".Este era um costume antigo, sendo conhecido na antiga Veneza por "Enterro de Baco".Esta tradição era por vezes acompanhada por uma procissão onde se parodiavam várias cenas biblicas, como ainda acontecia em finais do século XIX no Fundão(4).

No Alentejo no "enterro do Entrudo",os"foliões iluminados pela luz de archotes ou lampiões de petróleo, levavam aos ombros um simulacro de urna funerária que continha um boneco de palha. O caixão era coberto com panos pretos pintados de cruzes brancas e os brincalhões iam fantasiados de viúva e órfãos que carpiam o defunto em alta gritaria. Outros, com saias brancas, fingiam de padres que, sobraçando jornais ou outros papéis velhos, aspergiam com água ou outros líquidos menos próprios os observadores, usando um pincel a simular de hissope. Um, de encarnado, fingia de sacristão e ia fazendo momices e outras brincadeiras, guizalhando um chocalho. Percorriam todas as ruas e o rei momo era finalmente queimado fora de portas. Ia começar o tempo da abstinência e os aldeãos aproveitavam os últimos momentos de alegria consentida” (5). O fogo nesta cerimónia simbolizaria a purificação dos penitentes, perante os pecados do Entrudo.

Em Alenquer entoavam-se pela ocasião"uns versos em que se diz que o Entrudo deixa sete coisas ridículas a certas pessoas, por exemplo:"sete ratos mortos"(6).J

Cerimónia semelhante às referidas é o"Enterro do Bacalhau ", só que esta costuma realizar-se em Sábado de Aleluia, para festejar o fim das restrições impostas pela Quaresma.

Ainda no século passado este dia era ocupado em Torres Vedras com a Procissão das Cinzas, organizada pela Ordem Terceira de S.Francisco que a isso se obrigava por compromisso declarado no "breve" dessa instituição , datado de 21 de Novembro de 1676.

Com 9 andores, muitos "irmãos" , uma filarmónica (durante anos a "Phylarmonica Torreense"), gente da vila e arredores , e uma guarda de honra com forças militares destacada para Torres Vedras , todos os anos , por essa ocasião, a procissão percorria o Largo de S.Tiago , a "rua da olaria" , a do "Espírito Santo", a praça municipal ,a rua de S.Pedro , a "travessa dos canos",as ruas "de trás do Açougue" e dos "celeiros".("Jornal de Torres Vedras" de 19 de Fevereiro de 1887 e "A Semana" de 16 -02-1888).

Bem diferente é a "procissão" que actualmente tem lugar em Quarta-Feira de cinzas.

Com origem nos tradicionais "enterro do entrudo" e "serração" da velha", costumes a que nos referimos acima, e muito referenciados na região Oeste , o enterro do carnaval já por cá se fazia pelo menos em 1908 como se pode ler na seguinte notícia:

"Na quarta feira ainda se realisou o enterro do entrudo no qual tomou parte um numeroso grupo que percorreu desde as 8 horas da noite até cerca das 10 horas as principaes ruas da villa acompanhado de uma musica que tocava uma marcha funebre em passo cadenciado e levando n'um esquife a figura do Carnaval que terminou os seus dias de 1908 , n'uma fogueira accesa no largo da Graça.

" A esta romaria funebre não faltou grande numero de devotos que em magotes a acompanhou (...)" . ( in Folha de Torres Vedras de 8 de Março de 1908 )

Esse costume realizava-se regularmente nos anos 30, quando se fazia um desfile pelas ruas da então vila , à luz de archotes, terminando no Largo de S.Pedro com a leitura do testamento do "defundo", realizando-se depois o "auto de fé" onde se queimava um boneco que o representava.

Hoje , o enterro do carnaval , mantendo as mesmas carecteristicas , conta com um maior aparato pirotécnico , realizando-se na Várzea, acompanhado da respectiva "viuva" e da leitura do testamento , com referências jocosas à vida social e política do concelho.

E com esta cerimónia todos os anos se encerra mais um carnaval de Torres Vedras.


Notas:
(1).citado por Theophilo Braga , em "A Tradição" p.49, Abril de l899 ).
(2).p.251, ob. cit. de Mª Micaela Soares).
(3).citado por Fazenda junior em “A Tradição” , ano 1, p.45, Março de 1899).
(4).Alvaro de Castro em “A Tradição”, ano 1 p.122-agosto de 1889).
(5).p.246, ob.cit. de Mª Micaela Soares).
(6).J.Leite de Vasconcelos , Etnografia Portuguesa,Vol.IX,Pág. 133, ed.I.N.C.M.,1985).