quinta-feira, 26 de abril de 2012

A VIDA TORRIENSE NOS FINAIS DO SÉCULO XIX, nos caracteres da Imprensa Local (1885-1890) - 4


ABRIL 1885

Nesse mês iniciaram-se as obras do então “novo matadouro” à Cruz das Almas.
Enquanto Isso podíamos seguir pelo jornal da época a evolução do estado das vinhas: “O trabalho das cavas está tomando grandíssimo desenvolvimento, apesar dos elevadíssimos preços dos salários, alguns dos quais já têem regulado por 550 e 600 reis diários”.
No princípio do mês o ambiente era de pessimismo em relação à evolução dos trabalhos do caminho-de-ferro que, “pelos jeitos que leva, promete demorar-se até às Kalendras gregas. A gente que anda trabalhando é tão diminuta que mais parece destinada a conservar o que está feito do que a prosseguir na construção. Os operários, segundo nos consta, são mal pagos, o que por vezes tem originado desinteligências entre eles e os empreiteiros”.
Mas lá para a segunda metade do mês as coisas pareciam ir melhorar pois tinham desembarcado “em Alhandra uns 500 operários com destino à construção da linha”.
Já na última semana do mês mais um sinal que a obra ira avançar: “realizaram-se as expropriações dos terrenos para o local da estação do caminho de ferro d'esta vila. O preço dos terrenos foi o seguinte:
“Às Sras. Tavares, 450$00 réis, ao Sr. José Avelino Nunes de Carvalho, 2.600$00 réis; ao Sr. Molke 1.700$00 réis; ao Sr. João Victorino Pereira da Costa, 4.300$00 réis.»
Entretanto as más condições sanitárias do concelho e a precária medicina da época levavam  a que a Varíola continuasse “grassando na vila e aldeias convizinhas”.
Correu assim o mês de Abril, mês em que se anunciava a chegada do rouxinol que “à tardinha, nos ulmeiros do Sizandro, ou nas maceiras em flor que cobrem os vinhedos, a pequena avesinha solta, em desafio com as outras, o canto variadíssimamente modulado e vibrante que penetra o coração de doce melancolia, e nos faz cismar nos sonhos do passado e nas ilusões do futuro”.

terça-feira, 24 de abril de 2012

UMA HOMENAGEM A DOIS TORRIENSES: Libertação dos presos políticos


Este documento mostra a libertação dos presos políticos no pós 25 de Abril.
Nele é possível ver dois torrienses, Pedro Fernandes e Maria Lucília Miranda Santos, o primeiro libertado de Caxias nesse dia, um lutador contra o fascismo, e a segunda a única advogada portuguesa que defendeu os presos políticos.
Ambos representam o que há de mais genuino na luta anti-fascista e a recordação desse momento e da sua presença é um singela homenagem a todos os torrrienses que contribuiram para liberdade e a democracia.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

TORRES VEDRAS E O 25 DE ABRIL - Um Pouco de História,com memória...


25 de Abril -  Regresso ao Futuro
Por Venerando Aspra de Matos

“TORRES VEDRAS: 15000 habitantes na vila e 60 000 no concelho (...) 412 km de rede de comunicações; 68 000 000 de litros de produção vinícola, 10 000 000 kg de trigo, 14 000 000 kg de batata; um comércio poderoso e uma indústria em desenvolvimento; [a Casa Hipólito empregava então 1028 pessoas] 4000 alunos diariamente nas escolas da vila”(1).

Estes alguns dos índices que caracterizavam a então vila de Torres Vedras em 1973, uma comunidade a quem faltava «o golpe de asa que torna perenes ou inesquecíveis as iniciativas. Aquele tipo de vontade colectiva que ergueu uma Colónia Balnear Infantil, uma Física, um Cineclube e que, ainda hoje, realiza um Carnaval. O que acontece para lá da rotina é fruto de vontades isoladas e surge como sucesso do acaso. A carcaça está vazia de humanismo e de interioridade. Onde está o rasgo, a lucidez, a alegria, a juventude que transforma as pequenas coisas oferecendo-lhe um significado social duradoiro? Onde está o futuro e que futuro?” interrogava-se o articulista, António Augusto Sales, sobre Torres Vedras, uma terra para quem «até os jovens abdicam à nascença” (2).
No início de 1974, eram mais ás duvidas que as certezas, perante a evidente derrocada da chamada primavera marcelista, o arrastar, sem soluções, da guerra ultramarina, e o ainda quente e frustrante processo eleitoral de 1973.
Num ano marcado pela crise económica, evidente nas restrições impostas ao uso da gasolina e no seu aumento de preço, notava-se um crescente mal-estar na sociedade portuguesa. Nem a censura conseguia disfarçar a falência do regime.
O debate sobre o IV Plano de Fomento, para vigorar de 1974 a 1979, permitia alguma intervenção crítica que deixava passar algum descontentamento sobre a realidade torriense.
O Dr. Afonso de Moura Guedes, num arti­go intitulado “Torres Vedras - o desenvolvimento que não se fez” (3), interrogava-se porque razão tinha sido o desenvolvimento de Torres Vedras marginalizado naque­le Plano, e concluía:
“Administrar, aos tem­pos que correm, exige lar­gueza de perspectivas, imagi­nação, capacidade criadora, ia a dizer audácia.
“(…)
“Em relação ao nosso meio local, creio que, tudo isso, teria exigido a realiza­ção prioritária de três polí­ticas globais: uma política urbanística e de solos; uma politica rodoviária; uma política industrial.
“Uma politica urbanísti­ca e de solos que, corajosa­mente, pusesse cobro ao que há de sufocante e de caótico no desordenado crescimento da vila e a essa vergonhosa especulação de terrenos, que aqui ocorre, sacrificando toda a população ao proveito de muito poucos.
“Uma política rodoviária que estabelecendo toda uma rede efectiva de ligações, no espaço inter-regional, permitisse uma cómoda e rápida circulação interna, de pessoas e de mercadorias, assegurando, deste modo, a Torres Vedras, a posição, a que tem direito, de pólo de desenvolvimento do Oeste.
“Uma política industrial que, começando por definir uma zona industrial, soubesse ordenar, depois, toda a estratégia conjugada de acções, susceptíveis de criarem condições favoráveis à implantação de novas indústrias, no nosso meio.
“(…)
“Pois foi isso tudo o que não se fez, conto reflecte o Plano de Fomento. O desenvolvimento que não se fez. Que não se soube construir como projecto de futuro. O comboio que mais uma vez se perdeu”
As animadas sessões do CDE da campanha eleitoral de 1973 foram, para muitos então jovens como eu, o primeiro contacto com a realidade política desse tempo. Foi essa a primeira vez na minha vida que encarei com a polícia de choque em Torres Vedras. Esse encontro com a polícia de choque repetir-se-ia a 20 de Janeiro de 1974, frente ao cemitério de S. João, quando da romagem à campa do antifascista, natu­ral de Paul, Fernando Vicen­te. Surpreendentemente o convite para que o povo de Torres Vedras participasse nessa Homenagem seria pu­blicada nas páginas do jornal «Badaladas»:
“Ali, entre ciprestes, pe­las 11 horas do dia 20 de Janeiro, num minuto de re­colhimento, a vida não pa­recerá aquele vazio do quo­tidiano, sem ideais, apenas virada para a materialida­de da exixtência.
“Fernando Vicente mere­ce a simples homenagem póstuma que lhe vai ser tri­butada» (4).
Foram alguns os torrienses com coragem para com­parecer, mesmo assim menos que os “pides” e polícias de choque, aí também presentes, mas por “razões” diferentes.
Também as escolas se­cundárias do concelho co­nheciam pela primeira vez al­guma agitação política através da distribuição clandestina de propaganda política, motivando interrogatórios a alunos e professores «suspeitos» e a intervenção de elementos da PIDE na vida escolar. Terá mesmo sido elaborada uma lista para efectuar prisões a 1 de Maio, o que só não aconteceu graças ao 25 de Abril.
Algumas colectividades locais conheciam igualmente alguma animação político- cultural. Tais foram os casos do Cineclube e do CAC.
Na noite de 24 de Abril, muitos de nós fomos para casa tardiamente, depois de assistirmos a mais uma sessão do cineclube no Teatro-Cine, o filme de Jerry Lewis “O morto era outro”, longe de imaginarmos o que se preparava para essa madrugada.

Fui acordado pelo meu pai às 8.30 horas da manhã de 25 de Abril, eufórico com as primeiras notícias do dia. Durante todo o dia foi um rodopio entre a escola, entretanto encerrada, a casa de amigos e a minha casa, ocupando algum tempo a gravar os comunicados militares da rádio. A televisão só iniciaria a sua emissão pelas sete horas da tarde. À noite realizou-se um primeiro comício no Largo da Graça, onde ainda se manifestava algum receio sobre o desfecho do movimento militar.

“Quando olho o longo caminho percorrido cheio de ásperos reveses, perseguições e mediocridades; quando, subindo ali ao For­te, te contemplo crescendo em todos os sentidos caoti­camente envolta pelo des­prezado Sizandro; quando imagino o que és e o que poderias ter sido, eu me entristeço, Torres Vedras.
“Vila verde, pintada a esperança pelos vinhedos, doirada pelo recorte impar das tuas penedias bravias em Santa Cruz; retalhada impiedosamente pelos crimes do mau urbanismo imposto por certos conhecidos pimpões ultramontanos, quase te desconheço Torres Vedras.
“Vila calada e cansada por anos de paz podre, das divisões estéreis às mesas dos cafés, onde raramente qualquer pedra agitava a calma estagnação dos teus sonhos adormecidos, pálida vila estremenha onde através da inoperância dum arranjismo organizado ias crescendo angustiada sob um colete-de-forças tecido de mentiras, ameaças e subornos, Torres Vedras.
“Hoje é livre”. (Venerando Ferreira de Matos — “Torres Vedras e o Futuro” in BADALADAS de 4-5-74).

Na tarde de 26 de Abril as ruas de Torres Vedras eram percorridas por uma grande manifestação popular de aclamação e apoio ao movimento militar.
“Em 26 de Abril quando ali na Avenida 5 de Outubro o Povo bom e simples de Torres Vedras dava largas à  sua alegria, verificou- se a sua maturidade, devoção e patriotismo.
“Maturidade que sempre foi negada por aqueles que nem sempre serviram com dignidade os seus postos.
“Antes pelo contrário, deles se servindo para os seus interesses pessoais” (5).
A 28 de Abril, na sala do CAC, reunia-se a Comissão Concelhia da CDE, inician­do-se aí a transferência do poder concelhio para as for­ças democráticas, da qual sairia uma primeira comissão para preparar essa mudança política e um manifesto ao povo de Tones Vedras, onde eram abordadas algumas das situações mais gravosas para o concelho, herdadas do regi­me deposto:
“Os graves problemas sempre adiados e jamais re­solvidos, como os da electri­ficação, distribuição de água canalizada, abertura de caminhos e estradas nas aldeias e aglomerados do Concelho, ou de um plano de urbanização jamais pos­to em execução, jamais cumprido, com relevância para o tráfico de imóveis feito por uns tantos que sempre se serviram das Câ­maras Municipais no seu directo interesse pessoal, o acumular de desonestas ri­quezas pela valorização ar­tificial de terrenos (por exemplo os de Santa Cruz), pelas «prioridades» dadas ao asfaltamento de estradas e ruas onde os apaniguados do regime tinham as suas moradias e interesses parti­culares em detrimento dos interesses colectivos; (...) a poluição do Sizandro lesiva do interesse das populações, com relevância para as de Runa, em que certas empresas particulares têm graves responsabilidades de conivência com organismos “ainda” oficiais;(...)”(6).
A transferência do poder concelhio não foi isenta de conflitos e situações caricatas.
Logo a 29 de Abril, o executivo camarário ainda em funções reunia-se e apro­vava, numa manobra de puro oportunismo político, uma moção de adesão ao progra­ma da Junta de Salvação Na­cional, atitude logo aí denun­ciada por vários torrienses que assistiam a tão caricata reunião. Aquela Câmara reu­niria pela última vez a 13 de Maio, continuando a delibe­rar como se o mundo à sua volta tivesse parado, talvez ainda esperançada no resultao da operação de branquea­mento tentada por alguns dos seus membros, num conjunto de artigos publicados nas pá­ginas do “Badaladas”, tenta­tiva desde logo desmascarada por vários democratas de sempre, de entre os quais An­tónio Augusto Sales:
“Quem na devida altura não teve, pelo menos, a co­ragem de dizer NÃO, per­deu a oportunidade. Isto é, quem, na ex-vereação não teve a coragem de se demi­tir depois de verificar a im­possibilidade de fazer um trabalho equilibrado per­deu a oportunidade de se descomprometer com as irregularidades e arbitrarie­dades (...) É preciso que to­dos nos convençamos que Portugal mudou mesmo. É preciso que não nos deixe­mos iludir com histórias da carochinha. Durante qua­renta e oito anos muita gen­te passou fome porque não quis colaborar; muita gente perdeu anos de vida nas ca­deias porque não quis cola­borar; muita gente viveu uma existência de sobres­salto porque não quis cola­borar; muita gente perdeu empregos, família, glórias, dinheiro, comodidade, sos­sego e liberdade apenas porque se negou a colabo­rar. Hoje, no segundo mês da libertação, não podemos permitir que sejam confun­didos estes com os outros. Seria criminoso.” (7).
Num plenário popular rea­lizado a 1 de Maio no campo de jogos do Sport Clube Uni­ão Torreense, foi eleita uma comissão para gerir a Câmara, constituída por 18 pessoas. Dois dias depois essa comis­são reuniria com o capitão Ví­tor Manuel Ribeiro, delegado da Junta de Salvação Nacio­nal. Por sugestão deste, aque­la comissão foi reduzida para 9 elementos que ficaram a constituir o elenco da Comis­são Administrativa Munici­pal, sendo eleito para a presi­dir Francisco Manuel Fernandes, coadjuvado por António Leal d’Ascensão, Jo­ão Carlos, José do Nascimen­to Veloso, Duarte Nuno Pinto, Manuel Carlos Penetra, José Sérgio Júnior, Marcos Santos Bernardes e Carlos Augusto Bernardes. Esta comissão ad­ministrativa tomaria posse do seu cargo a 15 de Maio no Governo Civil de Lisboa e reuniria oficialmente pela pri­meira vez a 20 de Maio.

“Depois da euforia dos cravos vermelhos, de reuniões contínuas e esclarecedoras, urge que se faça o ponto da situação. O trabalho espera-nos. Vamos a ele!
“(…).
“À inflação da palavra terá de suceder o estudo dos problemas e a respecti­va solução às realidades que nos cercam.
“Longas milhas come­çam com o primeiro passo — diz um ditado chinês.
“Pois os primeiros passos estão a ser dados com fir­meza e as longas milhas se­rão vencidas através do Tempo, sem o qual nada de duradoiro se pode fazer.” (8).
Os dados do futuro, estavam  lançados!

NOTAS:
(1)      SALES, António Au­gusto — “Das muitas é vari­adas leituras que alguns acontecimentos de 1973 po­dem oferecer (...)”, In BA­DALADAS de 16 de Março de 1974.
(2)         Idem,  idem.
(3)      MOURA GUEDES, Dr. Afonso de — “Torres Vedras — o desenvolvimen­to que não se fez”, in BA­DALADAS de 26 de Janeiro de 1974.
(4)         “Romagem à campa de Fernando Vicente-Convite”, in BADALADAS de 19 de Janeiro de 1974.
(5)     MATOS, Venerando Ferreira de — “Torres Vedras e o Futuro», in BADALADAS de 4 de Maio de 1974.
(7)    SALES, António Au­gusto— “Saber com quem es­tivemos para saber com quem estamos”, in BADALADAS de 29 de Junho de 1974.
(8)       MATOS, Venerando Ferreira de — “Nortadas”, in BADALADAS de 27 de Ju­lho de 1974.

(este texto foi publicado no semanário Frente Oeste, em 21 de Abril de 1994).

sexta-feira, 20 de abril de 2012

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Associação do património torriense promove várias iniciativas para comemorar o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios.

 
Hoje é o  Dia Internacional dos Monumentos e Sítios.
“A Associação do Património de Torres Vedras vai participar, mais uma vez, na celebração deste dia com as seguintes actividades:

“GRUTA CALCOLÍTICA DA ERMEGEIRA: UM MONUMENTO NACIONAL MAL CONHECIDO

“Maxial é uma freguesia do Município de Torres Vedras com numerosos vestígios de ocupação humana desde a Pré-História. O mais significativo é a Gruta Calcolítica da Ermegeira – aldeia próxima da sede de freguesia – descoberta e explorada no final dos anos 30 do século passado. Do espólio existente avulta um par de pendentes de ouro, guardado no Museu Leite de Vasconcelos, em Belém, cuja valia e raridade explicam a classificação daquela estação arqueológica como Monumento Nacional. Da gruta resta apenas uma parte da calote, o que se explica pela ação do tempo e algum vandalismo. Mas aquele é um vestígio importante a preservar e que está em risco de ser desclassificado devido ao estado de abandono.
“A Associação do Património de Torres Vedras, inspirada no lema deste dia – Do Património Mundial ao Património Local – decidiu realizar um programa de divulgação e sensibilização para este Monumento tão pouco conhecido dos torrienses, a decorrer em Abril no Maxial:

Dias 17 a 23
               Auditório da Junta de Freguesia do Maxial:
              - Pequena exposição alusiva ao período calcolítico, com peças do Museu Leonel 
                Trindade, de Torres Vedras            
      - Sessões com alunos das Escolas do Maxial, em horas a definir.

Dia 21 (sábado)
            15H30: Autocarro da Câmara Municipal de Torres Vedras, junto ao Tribunal, para quem  quiser deslocar-se ao Maxial
                 16H00 – Auditório da Junta de Freguesia:
                 Sessão evocativa e documental sobre a Gruta da Ermegeira.
                 Intervenções: Joaquim Moedas Duarte, presidente da Associação do  Património de Torres Vedras e Emanuel Carvalho, Técnico de Arqueologia do IGESPAR – Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico.
                  17H30 – Visita ao local da Gruta Calcolítica da Ermegeira.

Dia 22(domingo)
          09H00:Caminhada com passagem pelo local da gruta. Partida frente à Junta de Freguesia do  Maxial. Percurso com cerca de 10 km, de nível fácil, aberto ao público em geral.

“Participar nestas atividades é uma forma de ajudar a defender o nosso Património.
“A ADDPCTV agradece a colaboração da Junta de Freguesia do Maxial, do Município de Torres Vedras e dos técnicos do Museu Municipal Leonel Trindade, de Torres Vedras”.


Uma das peças mais valiosas encontrada na Gruta Calcolítica  da Ermegeira é um conjunto de brincos em ouro, que estão depositados no Museu Nacional de Arqueologia:

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A Vida Torriense nos Finais do Século XIX, nos caracteres da imprensa local (1885-1890) - 3


Março de 1885
"Os Trabalhos Agrícolas estão muito adiantados. As cepas rebentam já com muita força, o que obriga os lavradores a não se descuidarem".
Os dias corriam ao ritmo dos trabalhos agrícolas. Muito mais que hoje a economia da região dependia em grande parte dessa actividade, principalmente dos extensos vinhedos que cobriam a região. Companhias francesas, principalmente da região de Bordéus, vinham aqui comprar grandes quantidades de vinho, que era vendido por “48 a 50$000 réis o tonel de 918 litros”.
Os proprietários da região descobriam rapidamente a força da imprensa regional como porta-voz das suas preocupações. Assim, o “Jornal de Torres Vedras” fazia eco das queixas de alguns deles contra os responsáveis pela expropriação de terras para a construção do caminho de ferro:
"Há quintas e outras fazendas já dannificadas pelas medições, para verificar, as quaes abriram fundos regos e mutilaram magníficas árvores de fructo, e onde não se fizeram ainda podas, nem outros trabalhos agrícolas, resultando de tudo isto enormes perdas de produção.
"Sabemos não serem exaggeradas as exigências dos proprietários dos terrenos em questão, e também não ignorâmos que os offerecimentos feitos depreciam muito o seu valor, provindo d’aqui um desacordo que, no interesse de todos desejamos termine brevemente».
Enquanto não chegava à villa o desejado caminho-de-ferro, outras preocupações da época seriam o estado deplorável em que se encontravam as ruas da vila e o transporte do correio.
Numa carta enviada pelo município local ao Governo Central, e transcrita pelo jornal alertava-se para a situação das ruas da vila:
“A estrada real nº 61 de Lisboa a Peniche encontra-se na parte que atravessa esta villa por tal forma deteriorada que é, de inadiável necessidade mandar proceder à sua reparação.
“A referida parte da estrada constitue hoje a principal rua d’esta villa, e é extraordinariamente concorrida por peões e vehículos de toda a espécie, mas no estado a que chegou dá péssimo transito (...)”.
Esta situação não impedia que se registassem queixas como esta:
“Pedimos a quem compete que dê as necessárias providências para evitar-se que os indivíduos que andam a cavallo por essas ruas não mettam as cavalgaduras à desfilada, como temos presenceado”.
O mau estado dos caminhos seria igualmente responsável pelo facto das “malas do correio d’esta villa, conduzidas em cavalgadura e alforge" chegarem “quasi sempre em péssimo estado. A correspondência umas vezes vem rasgada, outras vezes húmida e sempre amachucada".
E foi assim, sem grandes novidades para os habitantes da pacata villa, que decorreu mais um mês de há cem anos.