quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A VIDA TORRIENSE NOS FINAIS DO SÉCULO XIX, nos caracteres da Imprensa Local (1885-1890)


Retomamos aqui o nosso projecto de registar a vida de Torres Vedras nos finais do século XIX, tendo como fonte a imprensa local do período entre 1885-1890, que corresponde ao início da publicação dos primeiros títulos da Imprensa local (sobre a história da Imprensa local podem ler mais AQUI).

Já publicámos AQUI a selecção das notícias mensais dos primeiros oito meses de 1885.

Completamos agora as notícias dos quatro últimos meses desse ano, esperando continuar a publicar regularmente um resumo .

9 - Setembro de 1885

Os trabalhos da construção da linha férrea continuavam a bom ritmo e este mês anunciava-se que ía “muito adiantada a terraplanagem para a estação”, tendo-se feito “o importante trabalho de desvio de uma das curvas do rio Sisandro, e o grande cano coberto”, esperando-se a chegada de “tubos para canalisar o aqueducto” , enquanto o “túnel da Certã”  de 150 metos, já estava perfurado em 80 metros, “o túnel em seguimento já está perfurado de todo (60 e tantos metros) , e começou o trabalho da abobada; e o da Boiaca (160 metros), também está perfurado em mais de metade da sua extensão” (JTV, 3/9/1885).

As condições sanitárias da vila e dos seus habitantes era uma outra preocupação reveladas nas páginas do “Jornal de Torres Vedras” nesse mês de Setembro, anunciando-se as “visitas sanitárias” dos “srs. administrador d’esta concelho, sub-delegado de saúde, secretário d administração, e bem mais assim todos os mais empregados subalternos  da administração (…) incansáveis nas visitas domiciliárias”. Registava-se então um surto de varíola, e de tosse convulsa e sarampo entre crianças e alguns adultos.

Os trabalhos sanitários tinham permitido fazer  desaparecer “da villa todos os chiqueiros “ permitindo registar a este nível “uma melhoria como nunca se viu n’esta terra”(JTV, 3/9/1885).
Na noite do dia 8, pelas 21.30, chegava à vila “o cyrio de S. João das Lampas em transito para a Nazareth. Trazia uma guarda de honra de 8 praças de lanceiros nº 2 , e a banda marcial de Mafra. Seguiam o cyrio uns 8 a 10 trens. À entrada da villa três anjos lançaram loas, que foram repetidas à porta da colegiada de S. Pedro, onde ficou recolhida a imagem da Virgem.

“No dia seguinte às 10 horas, depois da missa, e posta na berlinda a imagem, continuou o cyrio e a sua penosa peregrinação pela estrada das Caldas da Rainha. Muita gente a ver a desfilada e a admirar os “hectolitros” que o sr. juiz da festa e mais romeiros levavam na cabeça. Finalmente os anjos lançaram ao quatro ventos a despedida:

“Adeus Torres, villa afamada,
“S. Pedro tens por padroeiro…
“E aos desentoados accordes  do “himno da Carta” tudo debandou sem mais incidentes” (JTV, 10/9/ 1885).

Em finais de Setembro começavam a debandar de Santa Cruz algumas das famílias mais abastadas da vila, que aí costumavam passar as férias de Verão, anunciando-se que que se “começa a sentir bastante desanimação n’ aquella praia” anunciando-se a despedida, num dos dias da terceira semana de Setembro com um “pic-nic” no Alto da Vela “a que concorreram mais de sessenta pessoas, d’entre as famílias da praia e outras de fóra idos expressamente.

“A tarde estava formosíssima. Muitos brindes, cincoenta dúzias de foguetes. Os petiscos foram conduzidos por duas dúzias de jumentos, e dizem-nos que tudo foi devorado, menos os sobreditos conductores, Uma bateria de garrafas de champagne, e bella pinga de Torres…a rodo. Sessenta dúzias de perdizes. Tresentos coelhos” (JTV, 24/9/1885).

O “resto da colónia torreense” que ainda se conservava em Santa Cruz “ retirou-se no dia 31. (JTV, 1/10/1885).

Mês de Setembro era  mês de vindimas, esse anos iniciadas com algum atraso:

“Começaram as vindimas na nossa região vinícola; mas por ora estão limitadas à uva branca. Já se vindima a eito no Sobreiro Curvo, Cunhados, Villa Facaia, Amial, Ramalhal e Monte Redondo, onde a grande maioria da uva é de terreno baixo ou varzea.

“Ainda assim, os proprietários abastados, attendendo ao estado de maturação da uva, que n’este anno se atrazou consideravelmente, ocupam-se por enquanto no trabalho da “monda” (…)”.(JTV,  12/9/1885).

A imprensa desse mês também refere algumas medidas tomadas de tratamento e substituição de vinhas atacadas pela filoxera:

“Em Torres Vedras fez-se ultimamente  um tratamento bastante extenso na quinta da Pederneira do sr. Barros e Cunha, o qual custou nos primeiros dias menos de 1$000 réis por milheiro, em vinha regular plantada a 1 metro de distância (…).

“Em Torres Vedras as plantações americanas têem tomado um desenvolvimento extraordinário, mormente os bacellos que já vinham enraizados que têem varas de 3 metros. As plantações feitas em terreno onde se arrancou vinha velha , destruída pela phyloxera, também se mostram bem, apesar do parque ter bastantes insectos nas raízes (…) ( noticia de F. de Almeida e Brito, inspector, retirada do “Boletim Phylloxerico”, in JTV de 12/9/1885).

10 - OUTUBRO de 1885

Como não podia deixar de ser, nesse primeiro mês de Outono de há cem anos, a maioria das notícias então publicadas referiam-se ao modo como decorriam as vindimas : “cootínua o envasilhamento do vinho branco. A produção no geral é abundante, e a qualidade, peto que ouvimos dizer, não é das peores (...) Por ora há fraquíssima vindima de tinto (...)(JTV, 15/10/1885)”.

Mas para os finais do mês chegaram à região os compradores de vinho, entre os quais ingleses com interesses no vinho do Porto. Procurava-se experimentar a possibilidade de uitilizar o vinho de Torres no fabrico do vinho do Porto cuja produção havia sido bastante afectada pela filoxera.

Talvez porque esta região não tivesse sido das mais afectadas por aquela doença da vinha, os preços eram nesse ano bastante lucrativos  para os produtores locais:

“Em Runa já se têm feito compras de vinho a 43$200 reis o tonel de 918 litros, e algumas casas de Lisboa têem offerecido em várias localidades d’esta região por cada tonel  48$000 reis e os vendedores não se mostram ainda muito condescentes, prevendo já uma procura excepcional.

“À última hora, sabemos  que tem concorrido um grande numero da compradores estrangeiros e nacionais às nossas bellas vinhas. 

“Na quinta da Alagôa (...) pertencente ao Sr. José Damaso de Carvalhosa, foi vendido a 55$000 réis cada tonel de 918 litros.

“Há muitas vendas Já realisadas entre 50 e 52$000 réis.

“A procura é extraordinária”.

“(…) Há grande movimento nas ruas da villa, e podemos dizer que a atmosfera está impregnada de vapores do vinho”.

O outro grande acontecimento jornalístico do mês continuava a ser a  construção do caminho de ferro. Outubro foi, neste campo, um mês de grandes novidades, como se pode provar pela selecção de notícias em baixo transcritas:

“Estão abertos e preenchidos os alicerces da estação d’esta villa, que ficará com perto de 90 metros de comprimento.

“Foi cortada parte do antigo aqueduto da villa e substituida por encanamentos subterraneos com fortes manilhas de ferro” (JTV ,  1/10/1885);    

“Foi aprovado o projecto do caminho de ferro de Torres Vedras a Figueira da Foz e Alfarelos (...) (JTV, 8 /10/ 1885).

“O tunnel da Certã, a 2 Kilómetros d’esta villa. ficou totalmente perfurado na manhã de 2 de Outubro (...).

“Quando appareceu a luz do lado do cabeço do cabeço do Cabrito subiram no ar muitos foguetes (...).

“O Tunnel tem sido percorrido da um a outro lado por muitas pessoas d’esta villa (…).

“Ficou também perfurado no dia 5 o tunnel da Boica, cuja extensão é de 160 metros.

“O tunnel da Azenha do cabaço, o primeiro que foi aberto, já está abobedado” (JTV, 8/10/ 1885).

Era dado assim um passo Importante na concretização do projecto de caminho-de-tferro.
Mas outros acontecimentos marcaram o mês de Outubro.

Um deles foi a visita do Cardeal Patriarca:

“No sábbado 3, já de noite, chegou a esta villa sue emª o sr. Canteal Patriarca, que. depois de descançar alguns momentos em casa do sr. desembargador Abreu Castello Branco, digno vigário da Vara da Tome Vedras; se dirigiu ao colégio do Vratojo, onde pernoitou e se demorou no dia seguinte, annuncian do para segunda feira a sua entrada solene (...)” (JTV, 8/10/1885).

Outro acontecimento foi a realização domercado mensal: “O mercado mensal de domingo último, n’esta villa, que costuma ser o principal de todo o ano, esteve de facto muito concorrido e fizeram-se valiosas transacções nas casas Comerciais da villa e no local do mercado, o largo da Graça” (JTV, 22/10/1885).

Notícia foi também, e para encerrar a crónica deste mês, a partida das andorinhas, anunciando o início do outuno:

“Estas interessantes aves partiram no dia 3 do corrente, às 3 horas, 3 minutos e 3 segundos da tarde”.

11 - NOVEMBRO DE 1885

Este foi um mês importante  na venda do vinho produzido pelo trabalho das vindimas.

Registou-se com agrado a grande procura de vinhos torrienses  por parte de comerciantes portugueses e estrangeiros,  estes últimos em grande parte provenientes da praça de Bordéus, em França. Eram apontadas como razões para essa procura o facto de as vinhas francesas terem sido fortemente contaminadas pela filoxera e pelo míldio, bem como pela fraca produção de vinhos na Itália e em Espanha, assim como o facto de entre “ nós, e principalmente na nossa região, alem de ser muito regular a produção, ella é excellente tanto quanto se pode apreciar na elaboração- dos mostos. 

“Alem d’isso, os nossos vinicultores, geralmente fallando, primam pela honestidade e boa fé. Os vinhos saem das adegas para o poder dos compradores taes quaes foram fabricados, sem materiais extranhos ,nem mesmo corantes, a maior parte sem alcool de sobrecellente, e sobretudo sem gesso, o que não succede na Hespanha, onde este adminiculo é empregado em larga escala, e por isso afasta a concorrência dos conhecedores.

“São estas algumas das causas que no anno corrente attrahiram ao nosso mercado tantos compradores. Outros haverá porventura que se relacionem com a propriedade que têem os nossos vinhos de servirem essencialmente de «typo». Outra será também, a propaganda excepcional que d’elles se tem feito ultimamente, tornando-os conhecidos em muitas partes; e cremos que a última exposição agrícola de Lisboa, não contribuiu pouco para este resultado”(JTV, 12/11/1885).

12 - DEZEMBRO DE 1885

Mês grande para o associativismo local; dava-se início à discussão do projecto de estatutos da “Associação Torrense de Socorros Mútuos”: “O projecto foi elaborado por uma Commissão de três membros ,que espontaneamente tomaram esta iniciativa com os intuitos de protecção e auxilio às classes desprotegidas, e tendo também em mira o progresso e desenvolvimento localidade”. Refira-se,  como aspecto  revelador do espirito progressista que esteve na origem da criação dessa associação, tendo em conta a época que se vivia,  que o “sexo feminino, de ordinário posto injustamente de parte, em tudo o que pode contribuir para a sua educação e engrandecimento, será admitido n’esta associação”(JTV,24/12/1885).

Cerca de 100 pessoas participaram activamente na reunião onde foi discutido o projecto de estatutos, que teve lugar no dia 27 de Dezembro, no salão do Club Torreense.       
  
Nesse mesmo mês anunciava-se que “o  elegante edifício do matadouro municipal, à Cruz das Almas, vae em grande adiantamento. Por todo o proximo mez de Janeiro deverá ficar prompto para funccionamento este importantíssimo melhoramento de primeira necessidade para esta terra”(JTV,  10/12/1885).

Data igualmente  de Dezembro de 1885 a primeira referência à existência de uma instalação telefónica: “Entre Torres Vedras e o Casal da Lapa, na freguesia de A-dos-Cunhados, com sete kilometros de distância , acabou de  colocar-se há poucos dias uma linha telephonica, propriedade do sr. Joaquim Marques Tio, que para tal fim obteve a necessária autorização.

“O aparelho é  de systema  Hermann, privilegiado, e funciona perfeitamente. O  trabalho da collocação dos postes e os da installação foi dirigido habiimente pelo ar Joaquim Pedro Marques Sobrinho, que ha mezes tem dentro da villa montado um  telephone entre a  sua importante fabrica de moagem  a vapor e o estabelecimento commercial na rua dos Balcões”(JTV, 24 /12/ 1885).

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O Cinema em Torres Vedras, em Portugal e no mundo nos “Trinta Gloriosos” da História do cinema (1930-1960).


O texto que aqui se divulga resulta dos apontamentos que reunimos para servir de base à nossa comunicação que ontem teve lugar no Teatro-Cine Ferreira da Silva, por ocasião da passagem do segundo filme da iniciativa, que está a decorrer esta semana, para comemorar a 100ª sessão de “Café com Filmes”, com a exibição integral, em cinco sessões, da monumental obra “A História do Cinema – Uma Odisseia”, de Mark Cousins, e á qual já nos referimos AQUI.
Reproduzimos aqui apenas a primeira parte dessa comunicação (as outras duas podem ser lidas AQUI)..

Torres Vedras – os “Anos do Teatro-Cine"(1923-1956).

Para falarmos da relação de Torres Vedras com o cinema durante o período abordado no filme de hoje, os anos entre 1930 e 1960, teremos de estabelecer uma cronologia ligeiramente diferente para o caso torriense.

Esse período foi marcado pela importância da sala de cinema onde hoje nos encontramos, o Teatro-Cine Ferreira da Silva, para a divulgação do cinema desse período.

Assim estabelecmos uma cronologia própria para o caso de Torres Vedras, balizada nas datas de 1923, ano da inauguração do Teatro-Cine, e 1956, ano de fundação do Cine-clube fe Torres Vedras, que marcaria uma nova realidade cinematográfica local nas três décadas seguintes, sem esquecer a importância do início de transmissões regulares da televisão neste mesmo ano.

Comecemos então por falar, em traços largos, do Teatro-Cine.

A idéia de construção de uma sala de cinema com as características desta sala já vinha de trás, de uma tradição de duas salas anteriores , o “Salão Avenida – Animatographo”, fundado em 25 de Maio de 1911, que durou até 1915, e o “Animatografo” “Salão Central”, inaugurado em 7 de Julho de 1912.

Pela mesma ocasião, a velha sala de teatro do Grémio , inaugurada em 1899, foi adaptada para passar cinema, explorada pela empresa “A Tentativa”, fundada  em 1912 e que iniciou a exibição regular de cinema nessa sala em 9 de Fevereiro de 1919.

Foi a partir dessa empresa que surgiu nos anos 20, devido a divergências com a direcção do Grémio, a idéia de se construir uma nova sala de cinema de raíz.

E foi assim que, em 1921, se iniciou a construção desta sala, realizando-se nela uma primeira sessão experimental em 22 de Março de 1923 e sendo inaugurada oficialmente no dia 1 de Abril de 1923.

Seria baptizada com o nome do actor Ferreira da Silva em Abril de 1924, por autorização especial da viúva desse actor.

Essa sala assumia assim uma dupla vertente como sala de teatro e de cinema.

Mas, principalmente a partir da década de 30, com a chegada do cinema sonoro que atraiu muito mais gente para o espectáculo da 7ª arte, o cinema tornou-se a sua vertente principal.

Foi nessa sala que, pela primeira vez, foi exibido um filme sonoro, uma primeira vez, de forma experimental, nos finais de 1931, e, regularmente, a partir de 15 de Janeiro de 1932, depois de se efectuarem várias obras de adaptação na sala e de renovação técnica do material de projecção. O primeiro filme exibido nesta ocasião intitulava-se “Revista Hollywood” .

Recorde-se que o cinema sonoro, que se iniciou em 1927 nos Estados Unidos, com a exibição do filme “Jazz Singer” de Al Jolson, teve a sua primeira sessão em Portugal no dia 5 de Abril de 1930 no “Royal Cine”, à Graça, em Lisboa.

A Construção do teatro-cine de Torres Vedras inseriu-se num  movimento mais geral registado nos anos 20/30 de substituir os velhos “salões”, mais rudimentares, pelos novos “teatro-cines”,  construídos de raiz , de maiores dimensões e mais espaçosos, para acolher um público cada vez mais numeroso e meios técnicos cada vez mais sofisticados, contando muitas vezes com a colaboração de arquitectos, alguns de renome, que deram a estes espaços o estilo modernista que os caracteriza.

Nos finais da década de 20 a revista Cinéfilo, uma das mais importantes da história das publicações cinematográficas portuguesas, lançou nas suas páginas, em Dezembro de 1928, um inquérito sobre o mercado de exibição cinematográfico nacional, dirigido “aos leitores da província”.

As respostas foram publicadas ao longo do ano seguinte e entre as respostas encontra-se uma de um leitor de Torres Vedras , um tal Eugénio Silva, que nos traça, em breve palavras , um retrato do Teatro-Cine.

Começa por escrever que existiamm “dois cinemas” em Torres Vedras, mas que só “funciona o Teatro-Cine Ferreira da Silva”. O outro cinema então existente em Torres Vedras, que não funcionava, deve ser um dos acima referidos, talvez a do Grémio.

Continuava a referir-se ao Teatro-Cine, revelando que este dava “espectáculos 3 vezes por semana: domingo, segunda e quinta-feira” e que a sua lotação era de “900 lugares”.

As “fitas” que aí se exibiam eram “modernas” e em “bom estado”, sendo acompanhadas musicalmente (o sonoro só surgiu nesse cinema três anos depois) por “auto-piano”.

O aparelho de projecção “não é mau. É um Pathé reforçado com arco AEG”, permitindo “boa projecção”.

No concelho de Torres Vedras, nessa época, é de realçar uma outra iniciativa, a inauguração do “Cine-Salão” da praia de  Santa Cruz no Verão de 1928, funcionando na época balnear por muitas décadas.

Também é de registar a existência de uma produtora de cinema criada em 1929, a “Torres Film” (tinha existido uma outra fundada em 1924 e dirigida pelo alemão radicado nesta terra Otto Liebell).

Deve-se à “Torres Film” o registo de várias imagens do Carnaval de Torres durante a década de 30, filmes que foram exibidos no Teatro-Cine Ferreira da Silva, pelo menos por duas ocasiões, em Dezembro de 1930 e em Abril de 1936.

Esses filmes estão actualmente na Cinemateca Portuguesa e podem ser vistos AQUI neste mesmo blog.

Também neste período há a registar várias iniciativas para a exibição de cinema ao ar livre durante o Verão.

Há noticias de isso ter acontecido no Verão de 1931 no espaço das Termas dos Cucos e na “praça da Batata” (Praça Machado dos Santos), junto à Igreja de Santiago, cujas paredes serviam de écran, durante as décadas de 40 e 50, por iniciativa de um projeccionista de cinema ambulante que percorria o país.

A iniciativa do género mais bem conseguida e duradora foi a tomada pela Física de Torres que criou a Cine-Esplanada da Colónia Balnear que projectava cinema ao ar livre no ringue da sua antiga sede, adaptado para esse fim ao longo de muitos verões a partir de 1954.

Foi neste espaço que teve lugar a primeira sessão do Cine-Clube de Torres Vedras, em 29 de Maio de 1956, exibindo o filme “Ladrões de Bicicletas”, um dos mais marcantes deste período.

Por fim, não podíamos deixar de referir  a crescente importância que o cinema vai ter nas páginas da imprensa local com espaços regulares dedicados à divulgação e crítica cinematográfica, como aconteceu com o “Torres Sport”, onde se publicou a primeira página desse tipo em 1925, o “Gazeta de Torres”, entre 1929 e 1931, o “Jornal de Torres Vedras” entre 1931 e 1932 e, principalmente, com o jornal “Badaladas” que contou a importante colaboração de António Augusto Sales desde 1955 e cujas crónicas estiveram na origem da fundação do Cine-Clube de Torres Vedras em Maio de 1956.

O Teatro-Cine, e o cinema em geral,começou a perder, lenta e progressivamente, o seu fulgor como espectáculo de massas com o aparecimento da televisão em 1955/1956.

Há que não esquecer também que essa época em Portugal foi fortemente marcada pela censura a todo o tipo de espectáculos e à forte propaganda ideológica do regime que teve no cinema um dos seus principais agentes.

Até ao aparecimento da televisão, o cinema foi o principal meio pelo qual a população pouco alfabetizada de então recebia as notícias do mundo, numa das épocas mais conturbadas da história do século XX.

Fontes : 
- [CEIA, Aurelindo (org. gráfica), MATOS, Venerando Aspra de (recolha de documentos)], "X Encontro Nacional de Cine-Clubes , Torres Vedras, 29 de Outubro a 1 de Novembro de 1982", ed. Cine-Clube de Torres Vedras, 1982 (recolha em plaquete fotocopiada de artigos de jornal sobre a história do Cine Clube de Torres Vedras);
- Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, "Cinema em Portugal - os primeiros anos", ed.Museu da Ciência da Universidade de Lisboa, Dez. 2010 (principalmente pág. 72);
- [MATOS], Venerando António [Aspra de ], "Anos de Luz... Para a História do Cinema em Torres Vedras", in Vedra - revista de Património e História Local, nº 1, pp.23 a 30, ed. APDDPCTV, Janeiro de 1990;
- SILVA, Susana Constantino Peixoto, "Arquitectura de Cine Teatros: Evolução e Registo [1927-1959] - equipamento de cultura e lazer em Portugal no Estado Novo", ed. Almedina-CES, Coimbra, Abril de 2010.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

No Teatro - Cine , de 14 a 18 de Dezembro : Uma semana para evocar a História do Cinema e comemorar a 100ª sessão de "Café com Filmes"


A iniciativa “Café com Filmes” vai comemorar a sua 100ª sessão com  “uma semana muito especial, com a exibição do filme “A História do Cinema – Uma Odisseia”, que será apresentado em 5 partes, em 5 dias seguidos”.

A anteceder  cada sessão, “em que iremos assistir cronologicamente à história do cinema a nível mundial, haverá lugar a uma pequena apresentação, com convidados locais, sobre o que estava a acontecer em Torres Vedras nessa altura, na área do cinema”:

14 de Dezembro / 1895-1930 / Célia Reis

15 de Dezembro / 1930-1960 / Venerando Matos

16 de Dezembro / 1960-1970 / José Travanca

17 de Dezembro / 1970-1990 / Noémia Santos

18 de Dezembro / 1990-2015 / Filipe Roque do Vale

O filme que está na base dessas sessões é  “A História do Cinema – Uma Odisseia” realizada no Reino Unido em  2011 e que, em 15 horas de filme faz uma interpretação muito especial de 120 anos de história “ evocando mais de 1000 filmes e abarcando 6 continentes (…).Desde o tempo do mudo aos blockbusters americanos, de Hollywood a Bombaim, da época de ouro do cinema americano das décadas de 30 e 40, ao eclodir da Nouvelle Vague e do neo-realismo na Europa e depois do Cinema Novo de todos os continentes, visitando o trabalho dos mais importantes realizadores de todos os tempos, através de centenas de entrevistas e depoimentos e muito material inédito este é o documentário definitivo sobre a 7ª arte”.

O documentário foi realizado por Mark Cousins.

Esta é uma boa forma de iniciar as comemorações do 60º aniversário da fundação do Cine Clube de Torres Vedras (idealizado em 1955 e concretizado em 1956), e de destacar a longevidade da iniciativa “Café com Filmes” que, actualmente em Torres Vedras, mais se aproxima do espírito  cineclubista.

Data/Semana 14 a 18 de Dezembro | Segunda a Sexta-Feira

Duração 900 min (3 hrs/dia)

Classificação Etária M/6

Trailer
https://vimeo.com/79975831
https://www.youtube.com/watch?v=jAQNc6aQtO0
https://www.youtube.com/watch?v=ACpzquBsC6k

Local : Teatro-Cine de Torres Vedras

Horário 21h00

ENTRADA LIVRE


O Café com Filmes é uma atividade realizada em co-produção entre o ATV e o Teatro-Cine de Torres Vedras

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Queijo Saloio - uma empresa torriense na lista da Rede PME Inovação da COTEC.

A propósito da entrega esta semana do Prémio Inovação COTEC-BPI de 2015, o jornal Público de hoje revela a lista do pequeno número de empresas nacionais que fazem parte da Rede PME Inovação COTEC, 

Dela faz parte uma empresa sedeada no concelho de Torres Vedras, a "Queijo Saloio".

Esta empresa foi fundada em 1968 e está sedeada na Ponte do Rol, tendo-se expandido recentemente para Abrantes, fazendo parte daquela rede desde 2008 (ver a sua breve história AQUI).

É mais um exemplo da dinâmica empresarial de Torres Vedras e vale a pena visitar a sua página oficial AQUI.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Hoje e Amanhã : VISITAS GUIADAS À MOSTRA EXPOSITIVA DA CASA HIPÓLITO


Esta mostra está patente ao público no Museu Municipal de Torres Vedras (Convento da Graça) até 30 de Dezembro deste ano.
Visitas guiadas pelo prof. Moedas Duarte, um dos responsáveis pela Mostra:
Dia 5 de Dezembro (Sábado) - 15H30 às 16H30
Dia 6 de Dezembro (Domingo) - 10H30 às 11H30

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

6 Empresas torrienses entre as 1000 maiores do país.


Quase em simultâneo, mas com base em critérios e fontes ligeiramente diferentes, acabam de ser publicados os rankings das maiores empresas portuguesas, na revista Exame, nº especial de 2015, e no jornal Diário Económico [DE], edição de 2 de Dezembro de 2015,com base em dados de 2014.

A revista Exame divulga as  “500 Maiores e Melhores”  e o DE as “1000 Maiores Empresas”.

Entre as 500 maiores estão três empresas com sede administrativa no concelho de Torre Vedras, as mesmas nas duas listas, ocupando contudo lugares ligeiramente diferentes: Riberalves, 211ª na revista e 203ª no jornal; Eugstar e Frismag, 418ª no primeiro caso e 399ª no segundo; Florêncio Augusto Chagas, respectivamente em 473º e 452ª.

Outras três empresas surgem na lista divulgada pelo DE, já que estão classificadas abaixo do 500º lugar: Auto-Estradas do Atlântico, em 547º, Luis Vicente, em 695º e Transportes Paulo Duarte, em 854º lugar.

Aparecem nesses rankings outras empresas com fortes ligações a Torres Vedras, quer administrativamente,  quer pela quantidade de torrienses que nelas trabalham, como a Avibom, a Sicasal ou as Rações Valouro, mas todas com sede fora do concelho de Torres Vedras.

Existem ainda muitas empresas e serviços com importância económica e social em Torres Vedras mas com sede noutras localidades.

Com base naquelas duas edições procuramos em baixo retractar, em poucas palavras, e com alguns dados delas retirados, aquelas seis maiores empresas torrienses:

RIBERALVES

É uma empresa que se dedica ao comércio e indústria de produtos alimentares, sedeada na Estrada Nacional 8, antes do Carvalhal, na freguesia do Turcifal, de capitais privados.

Em 2014 as suas vendas foram de 129 436 milhares de euros, tendo registado uma quebra de 12,7%, descendo do 161º lugar ocupado no ranking publicado em 2014 na revista Exame para o actual 211º lugar.

Os valores de exportações ultrapassaram os 15 milhões e 700 mil euros.

Emprega 401 [444 segundo o DE] trabalhadores e regista uma produtividade de nível 41 (valor obtido dividindo o Valor Acrescentado Bruto pelo número de trabalhadores ao seu serviço, medindo a eficiência na utilização dos recursos humanos).

EUGSTER & FFRISMAG

Empresa de fabrico de material eléctrico e de precisão, de capitais Suiços, localiza-se na estrada que liga a Fonte Grada às Palhagueiras, na freguesia da Ponte do Rol.

Em 2014 as suas vendas foram de 74 131 milhares de euros, vendas que cresceram 3% em relação ao ano anterior. No ranking da Exame desceu do 398º lugar para o actual 418º lugar.

O valor das suas exportações atingiu quase os 11 milhões de euros.

Emprega 544 trabalhadores e regista uma produtividade de nível 20.

FLORÊNCIO AUGUSTO CHAGAS

É uma empresa de comércio por grosso de material metalúrgico, principalmente para a construção civil, de capitais privados, localizada no Paúl, freguesia de Torres Vedras.

Em 2014 registou vendas de 66 855 milhares de euros, registando um crescimento de 5,3%.Também desceu no ranking da revista Exame, do 466º lugar para 473º.

As exportações ultrapassaram os 6 milhões e 300 mil euros.

Emprega 252 trabalhadores e regista uma produtividade de nível 25.

As restantes três empesas que registamos em baixo, são apenas referidas no ranking do DE:

AUTO-ESTRADAS DO ATLÂNTICO

Explora a concessão da A8, tem a sua sede junto a Catefica, freguesia do Turcifal.

Em 2014 o seu volume de negócios foi de 55 milhões e 656 mil euros, registando um crescimento de 3% e ocupando o 547º lugar do ranking.

Registou um valor de exportações (??) de mais de 48 milhões de euros, empregando 184 trabalhadores.

LUIS VICENTE

Empresa de produção e comercialização de produtos frutícolas, tem a sua sede na Freixofeira, freguesia do Turcifal.

O seu volume de negócios em 2014 foi de 46 milhões e 886 mil euros, registando uma quebra de 9,27% face ao ano anterior, ocupando o 685º lugar do ranking.

As exportações ultrapassaram os 5 milhões de euros, empregando 196 trabalhadores.

TRANSPORTES PAULO DUARTE

É uma empresa de transportes rodoviários, com sede no Ramalhal.

O seu volume de negócios foi de 37 milhões e 880 mil euros, registando um aumento de 6,46% nas vendas. Ocupa  o 854º lugar no ranking.

As exportações atingiram os 15 milões e 617 mil euros, empregando 502 trabalhadores.

Fica aqui o registo das empresas do concelho de Torres Vedras com maior peso económico, sendo de registar que as duas únicas empresas do sector alimentar aqui representadas foram as únicas a registar uma quebra de vendas.

Não temos a certeza se nos escapou alguma empresa, das sedeadas em Torres Vedras, registadas nesses rankings, mas fica aqui a informação daquelas que identificámos.