segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

A História da Casa Hipólito em livro

No passado Sábado, 16 de Dezembro, foi feito o lançamento oficial da obra de Joaquim Moedas Duarte “Casa Hipólito – História, memórias e Património de uma fábrica torriense”.

A obra resultou do trabalho de dissertação de Mestrado em Estudos do Património da Universidade Aberta, tese defendida por Moedas Duarte no passado dia 17 de Maio.

A história da Casa Hipólito confunde-se com a História de Torres Vedras no século XX, tal a sua importância do ponto de vista económico social e até cultural que teve para este concelho.

Raras serão as famílias torrienses que não tiveram um familiar ou amigo que trabalhou nessa empresa ou, pelo menos, adquiriu um produto dessa fábrica.

O texto de Moedas Duarte não aborda apenas a memória patrimonial da "Hipólito", mas analisa todos os aspectos relacionados com o impacto social e económico dessa empresa na região.

Recorrendo a todo o tipo de fontes, manuscritas, impressas,orais, fotográficas e iconográficas, dá-nos um muito bem documentado e aprofundado registo sobre as marcas que essa empresa deixou na memória colectiva torriense.

A obra divide-se em quatro capítulos.

No primeiro, intitulado “O Homem e a  circunstância”, traça a biografia de António Hipólito (1882-1954), enquadrada na conjuntura da vida torriense de então.

O segundo capítulo dedica-se à História da Empresa, que o autor divide em três grande fases: a primeira de 1902 a 1944, a fase de afirmação de “A Industrial”, nome de origem, fase em que assume grande importância uma figura como Vasco Parreira; a segunda fase, de 1944 a 1980, a fase áurea da empresa, marcada pela afirmação do nome a que passou para a história, a “Casa Hipólito”, e de afirmação nacional e internacional; a terceira fase, de 1980 a 1999, a fase de decadência, que acabaria na sua dramática falência.

O terceiro capítulo avança com a proposta e “projecto para um museu de memórias do trabalho em Torres Vedras", tendo em vista a preservação do valioso património associado à rica vida empresarial torriense.

O quarto e último capítulo faz a recolha de “memórias de quem trabalhou na fábrica”, um conjunto de 22 memórias pessoais de quem este, "por dentro", naquela empresa.

Uma bem elaborada cronologia, um levantamento bibliográfico  rigoroso para quem queira aprofundar o estudo sobre algumas temáticas abordadas no livro e um levantamento iconográfico e fotográfico sobre a Casa Hipólito, completam esta obra fundamental para quem queira conhecer ou estudar a vida torriense.

O livro de Joaquim Moedas Duarte foi editada em parceria entre a Associação para a Defes e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras e a Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial, iniciando o projecto daquela associação torriense de lançar uma linha editorial “com novos títulos de estudo de outras empresas, de biografias de torrienses notáveis ou de abordagem de temas culturais de carácter local".

A Casa Hipólito continua bem viva na memória dos torrienses, existindo mesmo alguma empresas, das mais importantes do concelho, herdeiras da dinâmica da “Hipólito”, como são os casos da Eugster & Frismag, ou da “Transportes Paulo Duarte”, esta última, aliás uma das patrocinadoras desta obra (juntamente com D. Ana Paula Hipólito Carreira Duarte, bisneta do fundador).

Joaquim Moedas Duarte, numa escrita quase poética, como a descrição inicial da saída da fábrica ao som da sirenes, deixa-nos assim uma obra que passa a ser  uma das obras de referência que testemunha uma época marcante na memória de grande parte dos torrienses.  

Em baixo deixamos um resumo da obra, retirado da página da Universidade Aberta:

 “Em 1902 António Hipólito, jovem migrante de Alcobaça para Torres Vedras, fundou uma empresa de metalomecânica ligeira, em nome individual, à qual chamou A Industrial.

“Latoeiro de folha branca, rapidamente se apercebeu das oportunidades facultadas por uma sociedade marcada pela ruralidade em que a vitivinicultura tinha lugar de destaque.

“Começando pelo fabrico de lanternas de acetileno, expandiu-se para os equipamentos necessários à lavoura: pulverizadores, prensas de lagar, bombas de trasfega, torpilhas, etc.

“Apostando na qualidade e em preços acessíveis, ao mesmo tempo que dava atenção especial à divulgação dos seus fabricos através de publicidade na imprensa e participação em mostras e exposições, conquistou paulatinamente mercado local e nacional.

“De tal modo se notabilizou que o Governo Português o distinguiu em 1930 com a Comenda da Ordem de Mérito Agrícola e Industrial.

“Quando, por motivos de saúde, o Comendador António Hipólito, em 1944, entregou a gerência da fábrica aos filhos e ao genro, a empresa passou a sociedade por quotas com a designação de Casa Hipólito.

“Nessa altura já fabricava fogões e lanternas a petróleo, equipamentos domésticos que viriam a torná-la famosa em Portugal e no estrangeiro para onde passou a exportar parte significativa da sua produção.

“Nos anos 50 a 70 atingiu o auge da sua actividade e expansão através da licença exclusiva de fabrico da marca alemã Petromax e alargando a gama de produtos ao sector de gás em parceria com a Cidla, primeiro e a Shell depois.

“Construindo novas instalações e empregando centenas de trabalhadores, tornou-se a maior empresa do concelho de Torres Vedras e uma das principais do país no seu ramo.

“Em 1972 passou a Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada. Todavia, o impacto do ano de 1974 com a Revolução de Abril veio pôr a nu as deficiências estruturais de que já padecia: progressiva incapacidade de autofinanciamento, obsolescência do parque de máquinas e dos produtos fabricados, dificuldade em enfrentar a concorrência no sector vinícola, dificuldades em substituir o modelo de gestão familiar por outro mais adaptado ao crescimento da empresa.

“Nos anos 80 acentuou-se o percurso descendente. Em 1987 os credores impuseram um plano de recuperação e o controlo da gestão por via judicial. Iniciou-se um processo imparável de decadência que só terminou com a declaração de falência em Abril de 1999.

“Do que foi a actividade fabril da Casa Hipólito restam as memórias de quem lá trabalhou, os numerosos e variados testemunhos da imprensa local e um Fundo Documental à guarda do Museu Municipal Leonel Trindade de Torres Vedras.


“Este trabalho que ora se apresenta resulta de uma investigação realizada sobre estas fontes informativas com uma dupla finalidade: preservar a memória social da Casa Hipólito, descrevendo o seu percurso de quase cem anos e registando as memórias de alguns que nela trabalharam; e propor formas concretas de tratamento museológico do património que dela foi possível salvar (texto/resumo da defesa de mestrado de Joaquim Moedas Duarte, feita na Universidade Aberta em 17 de Maio de 2017, publicado na página da internet desta Universidade)”.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Joaquim Moedas Duarte publica livro sobre a Casa Hipólito.

Vai ser lançado no próximo Sábado o livro "Casa Hipólito - História, Memória e Património de uma Fábrica Torriense" da autoria de Joaquim Moedas Duarte e que resulta da sua tese de mestrado.

A sessão de lançamento terá lugar no próximo Sábado, dia 16 de Dezembro, pelas 15 horas, nos Paços do Concelho.

A Casa Hipólito foi a empresa torriense mais importante do século XX, tendo sido, durante anos, a principal empregadora do concelho e aquela que mais dinamizou a economia local.

Podem encontrar mais informações sobre a Casa Hipólito AQUI.

Joaquim Moedas Duarte é um dos mais dinâmicos investigadores da história do nosso património, principalmente na liderança da Associação local de Defesa do Património.

O seu livro é assim um importante contributo para aprofundar a história local de Torres Vedras.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Breve evocação do Padre Joaquim Maria de Sousa



Há trinta anos, no dia 6 de Novembro de 1987, faleceu uma das figuras mais marcante do século XX torriense, o padre Joaquim Maria de Sousa.

O padre Joaquim, como era popularmente conhecido, merece há muito uma biografia aprofundada, nãos sendo o caso desta nossa breve evocação .

Ainda criança conheci o padre Joaquim, não tanto pelas suas funções religiosas, porque eu não era católico praticante, mas como meu professor na disciplina de “Religião e Moral”, durante anos, no Liceu de Torres Vedras.

E logo aí revelou a sua faceta humanista e tolerante, pois, apesar de a disciplina ser obrigatória e a maioria dos alunos serem frequentadores assíduos da Igreja, nunca procurou impor uma visão ortodoxa da disciplina, nem nunca marginalizou os poucos alunos não católicos ou não praticantes.

Além disso, as suas aulas eram um dos poucos espaços de liberdade no seio de uma escola e de um ensino marcados pelo autoritarismo e por métodos pedagógicos que não promoviam a liberdade nem a criatividade.

Foi o padre Joaquim que nos levou à descoberta do espaço envolvente, ocupando grande parte das aulas a mostrar-nos o património histórico e natural do concelho, sempre que o tempo o permitia.

Quando tínhamos de ficar na sala, as aulas nunca eram aborrecidas, mas animadas pelo recurso a pedagogias inovadoras, como o uso dos meios audiovisuais disponíveis, o que representava uma autêntica “revolução” pedagógica para a época.

Devo-lhe o meu interesse pela história e pelo património locais e também pelos audiovisuais, nomeadamente pelo cinema e pela fotografia.

Uma outra faceta sua que conheci foi a de homem do jornalismo, em parte devido   à ligação do meu pai com o jornal “Badaladas”, sendo o padre Joaquim uma das figuras mais respeitadas e apontadas como exemplo de tolerância em conversas de família.

Havia um enorme respeito e amizade entre o padre Joaquim e o meu pai, que era um homem da oposição e que sempre encontrou nas páginas do “Badaladas” espaço para exprimir as suas ideias e a sua criatividade literária.

Por norma, o padre Sousa publicava todos os artigos do meu pai sem os sujeitar à censura, como, a partir de certa altura, como veremos mais abaixo, passou a ser obrigação legal.

Quando, por vezes, o conteúdo, abordava temas sensíveis que podiam provocar problemas ao jornal, o padre Joaquim comunicava ao meu pai, pedindo humildemente desculpa, que “aquele” artigo tinha de ser submetido à comissão de censura. Uns passavam, outros eram publicados com cortes, alguns eram integralmente cortados.

Quando, depois do 25 de Abril, alguns “ferro-em-brasa”, numa assembleia popular onde se decidia a futura administração do concelho, alguém apelou a que se ocupasse o “Badaladas” e se expulsasse o padre Joaquim, o meu pai foi um dos que se levantou em defesa dele, conseguindo que se travasse aquela proposta e prevalecesse o bom senso.

Mas não foi o meu pai o único homem da oposição a encontrar nas páginas do “Badaladas” um espaço de expressão e criatividade, situação que custou alguns dissabores ao padre Joaquim, mas onde revelou toda a sua firmeza na defesa dos valores liberais e de tolerância que o caracterizaram.

A sua relação problemática com o regime então vigente está bem documentada no arquivo da Censura (1)  e no arquivo da PIDE, actualmente disponíveis na Torre do Tombo.


Os problemas com a censura começaram logo por altura da fundação do jornal, cuja primeira edição saiu em Maio de 1948, como boletim mensal da paróquias de Stª Maria e S.Pedro de Torres Vedras, cujas paróquias dirigia desde 1939.

Por uma questão de principio e de mera informação e cortesia, o padre Joaquim enviou uma carta à comissão de censura, datada de 6 de Maio de 1948, informando-a daquela iniciativa .

Essa carta mereceu uma resposta burocrática daqueles serviços, mas em tom de ameaça se não fossem cumpridos certos preceitos legais, e só depois se pronunciaram sobre qualquer autorização para a publicação do “Badaladas”.

De imediato, e de forma frontal, o padre Joaquim informou que já tinha publicado o boletim, porque não precisava de autorização daqueles serviços para o fazer, já que, tratando-se de um boletim paroquial, e de acordo com a Concordata, apenas respondia perante o Bispo, não precisando de ser submetido à censura.

Daí para afrente,  a correspondência entre o jornal e os serviços de censura discutiam se o “Badaladas” era “apenas” um boletim paroquial ou um órgão de informação “regional”, já que, neste último caso, era obrigado a responder perante a censura, interpretando o padre Joaquim que várias informações e reportagens que se publicavam diziam respeito às preocupações sociais e culturais de uma paróquia, enquanto a censura interpretava essa publicações como textos de caracter “regional” que extravasavam o âmbito de um boletim paroquial.

No debate entrou o responsável local pela União Nacional, denunciando, em carta “confidencial”, datada de 5 de Abril de 1954, o jornal “Badaladas”. por não se confinar “nos limites dum jornal exclusivamente religioso”, nem ter um “procedimento correcto, imparcial e justo para com a U.N. e a sua comissão concelhia” (2).

Nesse mesmo ano de 1954 o jornal “Badaladas” passou a ser autorizado a “tratar assuntos de carácter regionalista”, mas, por essa via, passou a ficar “sujeito à censura prévia e ao envio de 2 exemplares de cada nº publicado” (3).

Mas não era apenas a censura ou a União Nacional a desconfiarem do padre Joaquim.

No próprio arquivo da PIDE surgem várias denuncias contra o Badaladas, como por exemplo num relatório datado de 28 de Março de 1960, onde se referia o “periódico regionalista de Torres Vedras “Badaladas”, cujo director, proprietário e editor é o padre Joaquim Maria de Sousa, que também consta não ser afecto à Situação, o que, efectivamente, deixa perceber pela atitudes que tem tomado”, exemplificando com o conteúdo do jornal (4).

Concluindo e resumindo, não pretendemos fazer aqui um análise biográfica do padre Joaquim,  apenas referir, em sua homenagem, algumas das suas facetas talvez menos conhecidas e, em parte, invocando a memória pessoal.

(1)-Ver a obra, abaixo referida, de Carlos Guardado da Silva;
(2)-Carta confidencial de 5/4/1954, in Caixa nº 552 , Badaladas- arquivo da Censura-SNI- Torres do Tombo. Transcrita na referida obra de Carlos Guardado;
(3)-Carta de 24/4/1954, na mesma Caixa nº 552;
(4)- in Relatório Confidencial do Posto do Entroncamento da PIDE, Relatório Semanal nº13/60, de 28 de Março de 1960, no Processo 3194-SR/56, de Armando Pedro Lopes, in Arquivo da Pide, Torres do Tombo.

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Nota: para um aprofundamentos obre a vida do Padre Joaquim Maria de Sousa e sobre a história do Badaladas, recomendamos a consulta das seguintes obras, que serviram igualmente de base para esta evocação :
- “Badaladas – 52 anos de Comunicação Regional”, trabalho  realizado para a disciplina de Relações Públicas e Comunicação Social da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico da Guarda, da autoria de Anabela Saraiva Neto, Cristina Alexandra Barros e Vanessa Sofia Antunes Lourenço, Guarda, 8 de Junho de 2000;,
-MATOS, Venerando Aspra de “Badaladas – um contributo para a identidade Torriense”, in “Badaladas,50 anos depois… - Notícias, Histórias, Factos”, nº 3, 29 de Maios de 1998;
-RIBEIRO, Joaquim (coord,) , “Badaladas,50 anos depois… - Notícias, Histórias, Factos”, conjunto de suplementos integrados nas várias edições do jornal Badaladas ao longo do ano de 1998;
- SANTOS, Andrade, entrevista com o padre Joaquim Maria de Sousa publicada na edição nº 908 do Badaladas, de 19 de Maio de 1973, comemorativa do 25º aniversário do jornal;
- SILVA, Carlos Guardado da, “A Censura e o jornal Badaladas durante o Estado Novo”, suplemento do jornal Badaladas de 25 de Abril de 2008.




sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Torres Vedras e as Cheias de 25 de Novembro de 1967


As Cheias de 1967, que ocorreram na madrugada de 25 para 26 de Novembro desse ano, atingiram a região de Lisboa e fizeram um número de mortos ainda hoje indeterminado, mas que terá rondado os mais de 700.

Oficialmente apenas foram publicamente divulgados cerca de 400 mortos, pois a censura da época quis esconder a verdadeira dimensão da tragédia, já que ela punha a nu as miseráveis condições de vida de uma parte considerável da população portuguesa.

Apesar de Torres Vedras ter sofrido os efeitos do temporal, aqui não atingiu as dimensões trágicas de Lisboa, Loures e do concelhos vizinhos de Arruda dos Vinhos e de Alenquer. O Sobral de Monte Agraço teve a registar, pelo menos, três mortos.




Torres Vedras, muitas vezes assolada por grandes inundações, parece ter escapado desta vez à tragédia, pelo menos a fazer fé na inexistência de qualquer referência na imprensa local a destruições ou mortes no concelho relacionados com essa noite trágica, que muitos consideram a maior tragédia portuguesa depois do terramoto de 1755.

O único contratempo conhecido à vida normal dos habitantes de Torres Vedras foi o facto mencionado no Diário de Lisboa de 26 de Novembro de 1967, informando a interrupção do transporte ferroviário da linha do Oeste até ao Bombarral, devido à queda de várias barreiras que sustentavam as linhas.

Contudo, a imprensa local, neste caso o jornal “Badaladas”, não foi indiferente à tragédia, noticiando uma campanha de solidariedade para com as vítimas da tragédia na sua edição de 2 de Dezembro de 1967, referindo-se em primeira página à “noite trágica de 25 de Novembro de 1967” e ao “luto no coração dos portugueses”, apelando “aos trabalhadores lusitanos” para darem “uma hora de trabalho”.

Logo nessa edição anunciava o “gesto magnifico” do “pessoal da Casa Hipólito”, incluindo “todos os sócios e funcionários superiores” daquela empresa, oferecendo “horas do seu trabalho, a favor das vítimas.

Também nessa edição indicava que a redacção do jornal já tinha recebido dádivas em dinheiro, apelando a ofertas dos “particulares” de apoio às vitimas da tragédia.

Nas edições seguintes de 9 e 23 de Dezembro de 1967 aquele jornal local listava as várias dádivas recebidas em dinheiro e géneros.

Em dinheiro:

Salão Fotográfico – 100$00;
Carlos da Silva Cardoso  - 250$00;
Afonso de Oliveira – 150$00;
Hermano de Sousa D’Alte – 20$00;
Anónimo de Torres Vedras – 300$00;
“Menino” José Manuel Henriques dos Santos – 20$00;
João Alves Simões (de “França”) – 100$00;
José Feliz dos Reis “das Figueiras” – 100$00;
“Menino” João Manuel Cabaço Ferreira – 20$00;
Júlio dos Santos – 100$00;
Pensão Torreense – 200$00;
Casa Damião – 100$00;
Escola Primária Feminina Armando Paulo dos Santos e seus empregados – 100$00;
Maria Luisa da Silva – 50$00;
Inácio José – 20$00;
Anónimo – 50$00;
Viuva Cabral, Ldª e seus empregados – 700$00.

TOTAL: - 2 400$00.

Em géneros:

Junta de Freguesia de S. Pedro de Torres Vedras – 6 cobertores;
Anónimo – “diversas roupas de homem e senhora”;
A.C. – roupa de senhora;
Carlos Jerónimo – “3 pacotes com roupa de criança”;
Anónimo – 2 blusões para homem;
Drª Maria Teresa Graça – “diversa roupa de senhora e um par de sapatos”;
Hermano de Sousa D’Alte – “3 pacotes com roupas e sapatos”;
Dª Maria Soledade Santos – “diversas roupas”;
Dª Augusta de Moura Guedes – “ 2 pacotes com roupa de homem e sapatos”;
Dª Maria Dimas – “1 pacote com roupa de senhora”;
Escola Primária Feminina – “7 pacotes com roupa de criança”;
Manuel Guilherme, de Catefica, - “1 saco de batatas”.

Além desta iniciativa do jornal, o “Badaladas” anunciou outras iniciativas solidárias que tiveram lugar pelo concelho.

Na sua edição e 9 de Dezembro anunciava que a “Física de Torres” tinha transportado para Alenquer e Arruda dos Vinhos “alimentos, roupa, cobertores e divãs” em quatro camionetes “cheiinhas de boa vontade” e de “magnifica solidariedade”, informando que a “recepção continua em aberto no Clube Artístico e Comercial”, registando outros movimentos e de solidariedade em “A Dos Cunhados e muitas outras freguesias do concelho”.

Entre estas o mesmo jornal, na sua edição de 23 de Dezembro, destacava o peditório realizado na freguesia de S. Mamede da ventosa, “em colaboração com a Física”, que consegui recolher:

12 595 quilos de batatas;
1350 de cebolas;
442 de feijão;
60 de grão;
60 de trigo;
20 de banha;
3 de massas;
1 de arroz .

Além disso, foram ainda recolhidos nessa freguesia “uma embalagem de várias mercearias”, duas “résteas de alhos” e 7 650$20 em dinheiro , “além de centenas de peças de vestuário e muitos pares de calçado”, e, “até as crianças das escolas deram a sua colaboração”.

As firmas “Fonseca & Lisboa, Ldª e Ângelo Custódio Rodrigues ficaram responsáveis por recolher donativo da campanha de auxílio às vitimas das inundações aberta pelo “Grémio do Comércio” (“Badaladas” de 9/12/1967).

Por último, destaque-se o agradecimento da Junta Freguesia da Carnota, em Alenquer, e da sua população, uma das mais atingidas pela tragédia, à ajuda prestada pela população vizinha das Carreiras, na freguesia torriense da Carvoeira, publicado na edição do “Badaladas” de 23 de Dezembro.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Eleições Autárquicas - Resultados e análise dos resultados em Torres Vedras

Estes são os resultados para Torres Vedras:

Câmara:

Resultados de 2017
 (entre parêntesis, os resultados de 2013 – [o PNR não concorreu em 2017: O PSD e o CDS concorreram separados em 2013, pelo que se apresenta entre parêntesis os votos do PSD + os do CDS nessa data])
PS

51,06% (54,26)
18.560 votos (18 457)



PPD/PSD.CDS-PP


31,31% (19,72 + 4,53))
11.382 votos (6 707 + 1 541)



PCP-PEV


6,74% (8,57)
2.450 votos (2 914)

 0 (1)

mctnl


3,17% (3,48)
1.154 votos (1 184)

B.E.


3,16% (1,97)
1.149 votos (670)

(PNR em 2013)

(0,48%)
(162 votos)

EM BRANCO


2,69% (4,26)
978 votos ( 1 448)

NULOS


1,85% (2,74)
674 votos (932)

Votantes
53,87% (50,87)
36 347 (34 015)

36.347 votantes (34 015)
67.470 inscritos (66 871)



Contrariando uma tendência nacional, em Torres Vedras foi a direita
que mais cresceu, pois a aliança PSD/CDS conseguiu mais de três mil votos do que os obtidos pela soma do PSD e do CDS em 2013.

A aliança PSD/CDS terá ido buscar votos à abstenção (cerca de 2 mil) e aos brancos e nulos (cerca de mil).

À esquerda, a maior mobilidade de votos deu-se entre o PCP e o BE em benefício numérico deste último partido, mas acabando por contribuir para o PCP perder o seu único deputado, sem que o BE tenha sido beneficiado.

Tanto o PS como a Lista independente Torres Nas Linhas, pouca diferença fizeram face ao votos obtidos em 2013.



Assembleia Municipal - 2017
(entre parêntesis : resultados em 2013)
PS
47,84% (47,92)
17.388 votos (16 301)  


14 (15)
PPD/PSD.CDS-PP
31,32% (21,54 + 4,70)
11.384 votos (7 328 + 1598)


  
9 (7 + 1))

PCP-PEV

7,83% (9,99)
2.845 votos (3 999)

2 (3)
B.E.

4,11% (2,98)
1.493 votos (910)

1 (0)
mctnl

4,00% (4,74)
1.455 votos (1 614)

1 (1)
(PNR)

(0,54%)
(183 votos)

EM BRANCO

2,98% (2,68)
1.084 votos (910)

NULOS

1,92% (2,96)
698 votos (1007)

Excluindo o PS e o PSD, os restantes partidos conseguiram, nestas eleições, mais votos para a Assembleia do que para a Câmara.

Não deixa de ser significativo que a diferença de votos no PS, entre a Câmara e a Assembleia, seja de mais de mil votos, jogando aqui o voto útil da esquerda a favor dos candidatos ao executivo.

Por sua vez os votos do PSD foram práticamente iguais nas duas votações (uma diferença de 2 votos).

Contudo, comparativamente com 2013, o PCP perdeu na assembleia mais de mil votos, aproximadamente o mesmo número que o PS teve a mais comparativamente com as eleições de há quatro anos.

O BE conseguiu mais cerca de 500 votos nestas eleições do que as conseguidas em 2013. Quase outros tantos votos teve o candidato deste partido a mais do que o seu candidato à Câmara.

O que parece ter acontecido aqui é que o PS foi buscar parte dos votos ao PCP e à abstenção, enquanto O BE terá ido buscar votos ao PCP, mas também alguns ao PS.

Em termos práticos, na assembleia, o PS perdeu um mandato, embora mantendo a maioria absoluta, a favor do PSD, que teve mais um mandato do que a direita tinha tido em 2013 , e a CDU perdeu um mandato para o BE.

O Torres em Linha conseguiu manter o seu mandato.

Nas freguesias o resultado foi o seguinte:

Na maior freguesia, a de S:Pedro, Stª Maria e Matacães, com mais de 22 mil eleitores,  venceu o PS com maioria absoluta com 10 mandatos, exactamente os mesmos que detinha anteriormente;

O PSD/CDS com 6 mandatos, conquistou mais dois, um conquistado a uma lista independente que não concorreu este ano, mas cujos candidatos em parte apoiaram essa lista, e outro à CDU, que perdeu um representante ;

A CDU conquistou 2 mandatos (perdendo um).

A candidatura Torres nas Linhas manteve o seu mandato.

O PCP perdeu a única freguesia que dominava no concelho, a de Carvoeira/Carmões, para o PS por 3 votos:

PS - 4 mandatos:
PCP-4 mandatos;
PPD/CDS - 1 mandato

A distribuição de mandatos é a mesma de 2013;

Na Ponte do Rol, outra freguesia que prometia mudança, a coligação PPD/CDS ganhou e derrotou a lista independente que dominava a freguesia:

PPD/CDS - 4 mandatos;
Jppr (Independente) - 3 mandatos:
PS - 2 mandatos;

Em relação a 2013, o PS perdeu um mandato, a lista independente, que tinha então sido apoiada pelo PSD, perdeu 3, todos conquistados pela coligação de direita.

No resto do concelho, não se registaram alterações na liderança, tendo o PSD mantido a única que detinha, a da Freiria, e o PS repetindo a vitória nas restantes:

A dos Cunhados e Maceira

PS - 6 mandatos;
PPD/CDS- 5 mandatos;
Torres na Linha - 1 mandato
PCP - 1 mandato

Aqui o PS continua sem maioria absoluta e a diferença é que o CDS, que detinha um mandato, não contribuiu para aumentar, agora em coligação com o PSD, o número de mandatos da direita (o PSD tinha os mesmos 5 em 2013). O mandato anteriormente detido pelo CDS foi agora conquistado pelo Torres nas Linhas, que se estreia nesta importante freguesia.

Campelos e Outeiro da Cabeça:

PS-6
PPD/CDS-3

Embora mantendo a maioria absoluta, o PS perdeu um mandato e a coligação de direita conquistou mais um do que aquele que tinha o PSD.

Dois Portos e Runa:

PS - 5 mandatos;
PPD/CDS - 3 mandatos:
PCP - 1 mandato;

Aqui o PS , que liderava anteriormente, mas sem maioria absoluta, recuperou um mandato.

A lista independente que tinha ficado em segundo lugar nas anteriores eleições, não concorreu este ano e os seus três mandatos foram distribuídos um para o PS e dois para a coligação de direita (o PSD tinha então apenas um eleito). O PCP manteve o seu representante.

Freiria:

PPD/CDS - 5 mandatos;
PS - 4 mandatos;

A única freguesia que era dominada pelo PSD em 2013 manteve exactamente  mesma distribuição de mandatos;

Maxial e Monte Redondo:

PS - 6 mandatos;
PPD/CDS- 3 mandatos.

Aqui o PS manteve o seu número de mandatos e a sua maioria absoluta. O PCP perdeu o seu representante, que ficou na posse do PSD/CDS;

Ramalhal:

PS - 5 mandatos;
PPD/CDS - 3 mandatos;
Torres Nas Linhas -1

Aqui, igualmente o PS manteve a maioria absoluta e o número de mandatos, bem como o “Torres Nas Linhas” e foi, mais uma vez, o PCP que perdeu o seu representante a favos de mais um para o PSD/CDS;

Silveira:

PS - 9 mandatos:
PPD/CDS- 4

Aqui, teoricamente, a coligação de direita absorveu os candidatos que tinham em separado (em 2013 o PSD tinha 3 e o CDS 1), beneficiando o PS do mandato que o PCP aqui perdeu, reforçando a sua maioria absoluta;

S.Pedro da Cadeira:

PS - 7 mandatos;
PPD/CDS - 2 mandatos.

Aqui manteve-se tudo igual ao que aconteceu em 2013;

Turcifal:

PS - 6 mandatos;
PPD/CDS - 3 mandatos;

O PS manteve-se igual, mantendo também a maioria absoluta, mas a aliança PSD/CDS conquistou o mandato que anteriormente era mantido pela CDU;

Ventosa

PS - 6 mandatos;
PPD/CDS - 3 mandatos

Por último, também nesta freguesia o PS manteve a maioria absoluta, mas a aliança PSD/CDS ficou com o mandato que anteriormente pertencia aos independentes do Torres em Linha que desta vez não concorrerem nesta freguesia.

Resumindo e concluindo, em Torres Vedras o PS conseguiu quase todos os seus objectivos, mantendo a liderança nas freguesias que já dominava, algumas em maioria absoluta, conquistando uma nova freguesia, a da Carvoeira/Carmões, que era CDU, só não tendo conseguido vencer o PSD na freguesia da Ponte do Rol.

Na Câmara e na Assembleia conseguiu manter as suas maiorias absolutas.

A coligação PSD/CDS não conseguiu retira a maioria absoluta ao PS na Câmara, mas manteve a freguesia da Freiria e conquistou uma nova, a Ponte do Rol. Em termos globais viu a sua votação aumentar globalmente no concelho, contrariando a tendência nacional, surpreendendo pela positiva.

O Bloco de Esquerda conseguiu conquistar, pela primeira vez, um lugar na Assembleia Municipal.

O Torres Nas Linhas manteve quase tudo o que tinha conquistado em 2013, consolidando-se como movimento a ter em conta em futuros actos eleitorais.

O grande derrotado em Torres Vedras foi o PCP, perdendo mandatos em várias freguesias, perdendo a única freguesia que detinha há vários mandatos, perdendo o seu único vereador e perdendo mais um deputado municipal.

Inicia-se assim um novo ciclo de quatro anos dominados pela gestão PS, sendo esta uma das pouca Câmaras do país que se mantem sob controle do mesmo partido desde 1976.

Um bom trabalho, em prol do concelho, é o que desejamos a todos os eleitos.