quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Foi há 50 anos : Torres Vedras e o Sismo de 28 Fevereiro de 1969.


Pouco passavam das duas da manhã de 28 de Fevereiro de 1969, quando o país foi acordado por um violento sismo que gerou o pânico em muitos locais.

Foi o maior sismo sentido em Portugal Continental nos últimos cem anos, o único com essas dimensões que é recordado neste território por testemunhos ainda vivos, como o autor destas linhas.

Recordamo-nos do abanar das janelas do quarto, que inicialmente atribuímos a uma rajada de vento, até sermos acordados pelos pais.

Chegaram também até nós testemunhos de pescadores em Santa de Cruz que, no momento do abalo, viram a noite clarear, embora não existam relatos do pequeno maremoto que se seguiu, talvez confundido com a maré, até porque o “tsunami” pouco ultrapassou o meio metro.

Também nos recordamos do relato de um vizinho do andar de baixo que, estando a estudar a essa hora, descrevia as paredes a mexerem-se em todas as direcções, ou daquele outro vizinho que, tomado de pânico, abandonou a casa, esquecendo-se da mulher e filhos, de quem só se lembrou quando estava na rua.

Pouco se dormiu no resto da noite e muitos vizinhos passaram-na ao relento na larga praceta frente aos prédios, na Praceta Afonso Vilela.

O Jornal “Badaladas”, na sua edição de 8 de Março registou que em Torres Vedras as “casas foram forte e prolongadamente abaladas e o pânico foi agravado ainda pela falta de energia elétrica. Muitas pessoas saíram das suas casas, com o pavor espantado nos rostos, segurando uns os seus filhos, outros apertando-se mutuamente como que a procurar uma protecção que julgavam humanamente impossível.

“(…).

“Sabemos que, por todo o lado, a par das pessoas que ficaram extáticas, outras houve que fugiram em trajes reduzidos; e não faltaram pijamas e robes a deambular pelas ruas. As camas foram abandonadas e trocadas pelos carros, pelo asfalto ou pela lama. De cobertores às costas ou tiritando de frio, muitos esperaram, na rua, pelo amanhecer, depois de uma noite de vigília, transidos de medo, com receio da repetição do flagelo, repetição que se deu e se tem repetido, várias vezes, mas de pouca intensidade ”.

Não tendo havido vitimas a lamentar neste concelho, registaram-se, contudo, alguns estragos, embora ligeiros.

O autor destas linhas lembra-se bem, quando se deslocou para a escola na manhã seguinte, da grande racha que se abria ao meio da fachada da antiga sede da Associação de Educação Física, na Avenida 5 de Outubro, hoje entrada nobre do edifício camarário, e que, apesar de rebocada, foi visível durante muitos anos.


Por sua vez, na reportagem do “Badaladas”, referiam-se a outros estragos:

“Aqui na vila, rara é a casa que não acusa a passagem do sismo. As igrejas, algumas consideradas monumentos nacionais, estão fortemente fendidas. Algumas fendas sofridas agora outras já do terramoto de 1755, acusam uma maior abertura, mas, felizmente, não há a registar nesta vila, desastres notáveis.

“Segundo conseguimos apurar, fora da vila foram atingidos pelo abalo sísmico em paredes, chaminés e telhados, cerca de duas centenas de casas”.

O sismo teve uma magnitude (1) de 7,9 no epicentro, situado no mar, no chamado Banco de Gorringe, a sudoeste da costa Algarvia, um pouco mais longe do que o epicentro do terramoto de 1755.

A região do Algarve foi a mais atingida, sendo aí que se registou a maior parte das cerca de duas dezenas de vítimas mortais.

Nessa região teve uma intensidade (2) de grau VIII . Na região de Torres Vedras a intensidade foi de grau VI.

Deu-se uma réplica logo às 5h 28 manhã. Várias réplicas , 47 no total, continuaram-se a fazer sentir até 24 de Março (3).






Aquela zona a sudoeste do Algarve está na origem da maior parte dos sismos sentidos no país, alguns sentidos em Torres Vedras.

Foi o que aconteceu com o mais antigo sismo histórico de que há memória, datado de 63 a.C., sentido ao longo de toda a costa, com magnitude de 8,5 e intensidade IX,  provocando um tsunami de grandes dimensões,  com o de 24 de Agosto de 1356, este com intensidade idêntica (entre VIII e IX) e uma magnitude de 8,5, e, o mais bem documentado de todos, o  de 1755, de magnitude 8,7 e intensidade IX, que também foi aqui muito sentido (4).
(sismo de 1 de Novembro de 1755)

Tal como estes dois últimos, muitos outros sismos históricos tiveram epicentro, provável ou provado, a sudoeste do Algarve e do Cabo de S. Vicente, alguns no mesmo Banco de Gorringe, todos muito sentidos em todo o país, e, logicamente, nesta região :

- em 382, provocando  grande Tsunami , de magnitude 7,5 e intensidade  VIII;
- em 26 Maio de  881, com  intensidade entre VIII e X;
- em 15 de Março 1964, de  magnitude 6,2 e intensidade máxima de VII no Algarve, mas apenas  V nesta região;
- por último o mais significativo, até agora, já no século XXI, com epicentro naquela região e sentido em Torres Vedras, teve lugar em 17 dez 2009, com uma magnitude de  6.

Os sismos que costumam provocar maiores estragos na região de Torres Vedras têm o seu epicentro na chamada estrutura tectónica do Vale Inferior do Tejo, incluindo como uma das sub-falhas a de “Torres Vedras- Montejunto” que atravessa, no sentido nordeste-sudoeste, o concelho, dividindo-o praticamente ao meio (5).


Foi o que aconteceu como os sismos de 1344, o de 26 de Janeiro de 1531, este último acompanhado de tsunami, bem como o de 23 de Abril de 1909, que destrui a localidade de Benavente.

O último sismo conhecido com algum impacto com origem no Vale Inferior do Tejo aconteceu em 30 Abril 1999, mas apenas com uma magnitude de  4,5.

O de 1531 é o primeiro sobre o qual existem informações sobre o seu efeito neste concelho.


Teve uma magnitude de 7,1, com intensidade de IX na zona de Vila Franca de Xira, e entre VII e VIII na região torriense, sendo um dos mais destrutivos da História, provocando um grande tsunami.

Segundo um manuscrito coevo, existente na Biblioteca Nacional de Lisboa, Torres Vedras foi muito atingida, referindo o Convento do Varatojo, que foi muito destruído (6) .

Também Júlio Vieira, sem indicar a fonte, refere-se igualmente a esse sismo, precedido de vários tremores de terra entre 1 e 28 de janeiro, “sendo o mais violento o de dia 26 “, em consequência do qual “os muros da vila derruiram, e como eles muitas casas” (7).

Em 1969  eram ainda vivas muitas pessoas que em Torres Vedras ainda se recordavam do sismo de 23 de Abril de 1909, assim descrito pela imprensa local deste ano:

 “Na sexta feira, por 5 horas da tarde, foram os habitantes d’esta villa e concelho sobressaltados por um violento abalo de terra que durou approximadamente 8 segundos e que se repetiu às 2 e 4 horas da madrugada do dia seguinte, mas com menos intensidade.

“Louvores à Providência não houve desastres passoaes, apenas alguns prejuízos materiaes. Na villa abateu uma porção de muro do cemitério, dois bocados da muralha do castello, havendo a registar alguns prejuízos na egreja da Graça, edifício d’ administração do concelho e na cadeia, repartições estas onde abriram bastantes fendas.

“Nas freguesias ruraes há a registar pequenos desabamentos, algumas casas onde as paredes ficaram fendidas e vários telhados, cujas telhas se deslocaram, causando alguns prejuízos” (8).

Na terça-feira seguinte, dia 4 de Maio, às 6 e 20 horas da tarde “sentiu-se novo abalo e ruido subterrâneo, que durou 3 segundos” (9).



Também Julio Vieira foi testemunha presencial deste sismo de 1909, divergindo no tempo de duração e acrescentando outros dados àquelas notícias:

“Durou 20 segundos e estabeleceu um grande pânico na população que fugiu espavorida para as ruas da vila.

“Ocasionou muitas fendas nos prédios. A chaminé da estação do caminho de ferro derruiu, e abateu o tecto de uma sala grande entre o côro da igreja da Graça e a torre do relogio que serve de casa de ensaio de musica.

“No sábado houve mais duas oscilações” (10).

O sismo de 1909, conhecido pelo sismo de Benavente, localidade que foi totalmente destruída e onde se registaram vários mortos, teve uma magnitude de 6,7 no epicentro, com uma intensidade de X naquela localidade. Na região de Torres Vedras a intensidade registada foi entre VI e VII. Foi o sismo mais destruidor em Portugal Continental no século XX.

Ainda segundo a Vinha de Torres  Vedras de 6 de Maio de 1909 anunciava-se  uma “excursão” a Benavente  no dia 10 de Maio, de camioneta, ao preço de “ida e volta de 1$000 réis”, uma importância “diminuta” que permitia “visitar o ponto que mais sofreu com a catastrophe”.

Há ainda a hipóteses de uma das réplicas do terramoto de 1755, aqui sentida pouco minutos depois do abalo principal, não ter sido uma réplica mas outro tremor de terra com epicentro no Vale Inferior do Tejo.

Perto deste vale, mas no oceano frente a Setúbal, teve também lugar o sismo de 11 de Novembro de 1858, muito destruidor naquela cidade, com as mesmas dimensões do de 1755, que atingiu na região de Torres Vedras a intensidade VIII-IX , embora não existam memórias locais deste violento tremor de terra.
(sismo de 11 de Novembro de 1858)

Com epicentro próximo da região de Torres Vedras, mas não fazendo parte da falha do Vale Inferior do Tejo registaram-se dois sismos em 1962, um em 31 agosto com epicentro no Cabo Carvoeiro onde registou a intensidade V, mas apenas III em T. Vedras e outro em 26 de Dezembro desse ano, com epicentro na Falha da Nazaré, de magnitude 5,7 e intensidade V na região de Lisboa.

São ainda conhecidos muitos outros sismos históricos, registados e sentidos  em Lisboa e que, pela proximidade da capital, também terão sido sentidos nesta região, mas sobre os quais pouco se conhece, quer sobre a sua origem quer sobre a sua e dimensão, a não ser uma ou outra referência dispersa:

- 3 de  Janeiro de 1117;
 -1146 ;
-1183;
-1290;
-22 Fevereiro de 1309;
- 24 de Dezembro de   1337;
- 1340;
- 28 de Novembro de 1347;
- 1350;
- 1355;
- 1357;
- 18 de  Junho de  1366;
- 20 de Agosto de 1395;
- 3 de Maio de  1404;
- 1435 (registado em Alenquer);
-28 de Janeiro de  1512, de magnitude 7 e intensidade VIII a IX em Lisboa e arredores;
- 12 de Março de 1528, sentido em Lisboa e a Norte da capital (11).



Aqui evocámos, a propósito do cinquentenário do último grande sismo sentido em Torres Vedras, um pouco da história dos mais importantes sismos que atingiram esta região, uma história que, fazendo parte da História da Terra, não terminará aqui…

(1)    – A magnitude de um sismo é de ordem quantitativa e mede a amplitude da onda sísmica, a chamada Escala de Richter, com uma escala de magnitude de 1 a 10, sendo que nunca foi registado nenhum de magnitude 10, sendo que só a partir de 3 são preceptiveis e a partir de 6 já são fortes.
(2)    – A intensidade sísmica é qualitativa. Conhecida por Escala Mercalli Modificada (1956), mede-se em numeração romana de I a XII. É a partir do grau V  que se classificam os tremores de terra mais significativos: V – Forte; VI – bastante forte; VII – Muito forte – (abre rachas e fracturas); VIII- Ruinoso – (colapsos); IX – Desastroso – (pânico geral, grandes danos e colapsos); X – destruidor; XI – catastrófico; XII – Danos quase totais.
(3)    – ver MIRANDA,  J. M. e CARRILHO, F. , 45 ANOS DO SISMO DE 28 DE FEVEREIRO DE 1969,  IPMA, 2014 (disponível no site do IPMA).
(4)    – o sismo de 1755 é, de todos os referidos, aquele sobre o qual existem mais informações em relação ao seu impacto nesta região, em especial sobre o tsunami que ocorreu na costa torriense,  e já foi por nós abordado nas páginas deste jornal: MATOS, Venerando Aspra de, O Terramoto de 1755 em Torres Vedras, secção História em Dia, in Badaladas de 11 de Novembro de 2005. De novo em relação a esse trabalho, deve-se acrescentar a confirmação de vários mortos no concelho, registados nos livros de óbitos das freguesias de Matacães, Turcifal e Santa Maria, de acordo com a investigação de João Flores da Cunha (ver: https://vedrografias2.blogspot.com/search/label/Terramoto%20de%201755 e AQUI)
(5)    – sobre esta falha do Vale Inferior do Tejo existem vários estudos, entre os quais, disponíveis na internet, os seguintes: VILANOVA, Susana P., FONSECA, João F. B. D. , “A FALHA DO VALE INFERIOR DO TEJO NA ANÁLISE DA PERIGOSIDADE SÍSMICA” in SÍSMICA 2004 - 6º Congresso Nacional de Sismologia e Engenharia Sísmica, pp. 379 -388; MONIZ, Catarina Maria de Figueiredo Bettencourt, Contributo para o conhecimento da Falha de Pinhal Novo-Alcochete, no âmbito da neotectónica do Vale Inferior do Tejo, tese de mestrado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Lx. 2010; ZÊZERE,  José Luis , FERREIRA, António Bruno ,RODRIGUES, Maria Luis, Actividade Sismica e instabilidade de vertentes na cidade de Lisboa, in IV Simpósio Nacional sobre Taludes y Laderas isntables , Vol III, Madrid, 27 e 30 de Novembro de 2001.
(6)    – in Manuscrito 7638 da BNL, códice do séc. XVI, em inglês e apêndice resumido in  BAPTISTA, M.A.,MIRANDA, BATLLÓ, J., “The 1531 Lisbon Earthquake: A Tsunami in the Tagus Estuary?” In Bulletin of seismological society of America, vol. 104, nº5, Outubro de 2014, pp. 1 a 13. Ver também HENRIQUES, M.C. MOUZINHO, M.T., FERRA, N.M., Sismicidade de Portugal. O Sismo de 26 de Janeiro de 1531, Ministério do Planeamento e Administração do Território, Lisboa, 1989 (as duas obras referidas estão disponíveis na internet).
(7)    - VIEIRA, Júlio,  Torres Vedras Antiga e Moderna , ed. Torres Vedras, 1926, pág. 226.
(8)    - A Vinha de Torres Vedras, 5ª feira 29 de Abril de 1909.
(9)    – A Vinha de Torres Vedras de 6 de Maio de 1909.
(10)                       – VIEIRA, Júlio,  Torres Vedras Antiga e Moderna , ed. Torres Vedras, 1926, pág. 228.
(11)                       – in COSTA, Marisa e  FONSECA, João F.B.D FONSECA, “Sismicidade Histórica em Portugal no Período Medieval”, pp.1 a 14 in  Sismica 2007 – 7º Congresso se sismologia e engenharia sísmica, pp. 1 a 14 (texto disponível na internet).

Nota:
Consultámos ainda as seguintes obras, todas disponíveis na internet:
BEZZEGHOUD, Mourad, CALDEIRA, Bento, BORGES,  José Fernando, “O impacto dos Grandes Sismos em Portugal” pp. 275-283 (origem desconhecida);
CARRILHO, Fernando José, PENA, José Orlando Areosa , NUNES,  José Adelino Costa Fernando, Catálogo Sísmico de Portugal Continental e região Adjacente para o período 1961-1969, Instituto Português do Mar e Atmosfera, Fev. 2014;
CARRILHO, Fernando, SENOS, Maria Luísa , SISMICIDADE DE PORTUGAL CONTINENTAL in Física de la Tierra,  2003, 15,pp. 93-110:
OLIVEIRA, Rui Jorge Braga de, Risco Sísmico,  dissertação do Projecto de licenciatura em Engenharia Geológica Universidade de Aveiro, Aveiro 26 de Julho de 2010.

(uma versão resumida deste texto foi publicada na edição de 22 de Fevereiro de 2019 na secção "Vedrografias" do jornal "Badaladas").


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

A CENSURA no Carnaval de Torres


(Cartoon de Antero Valério - Facetoon)

Está por fazer a história da censura no Carnaval de Torres Vedras.

Época de irreverência, o Carnaval sempre foi temido por todo o tipo de “autoridades”, que sobre ele tentaram todo o tipo de controle.

Claro que a situação actual não é comparável à dos tempos da ditadura.

Então a transgressão podia acabar com a prisão e/ou um interrogatório pela PIDE.

Em Torres Vedras o primeiro acto de censura conhecido partiu da própria Igreja que, durante o Estado Novo, conseguiu impedir que o cortejo “real” fosse acompanhado por “altos dignatários” da Igreja, como acontecia nos primeiros carnavais organizados da década de 1920, onde, ao lado do “rei” e da “rainha”, desfilavam “bispos” e “freiras”.

Durante o período do Estado Novo poucos se atreviam a desafiar ou criticar as autoridades durante o Carnaval, o que não quer dizer que não o tentassem, mas geralmente nas “entrelinhas” dos discursos dos reis e do enterro do Carnaval, situação que  ainda está por  estudar.

Mas não se pense que a critica politica era a única visada pela censura. As alusões à Igreja e as brejeirices de tipo sexual que atentassem contra a “moral” eram igualmente alvo de perseguições e restrições.

Com a conquista da liberdade não acabaram os actos de censura.

Aí pelos anos 80 ficou célebre a proibição de desfilar a um carro da Associação do Património que criticava a actuação da Câmara.

Mas o episódio mais célebre aconteceu em 2009 com o “caso Magalhães”, onde aparecia, no “monumento”, uma alusão ao computador Magalhães, cujo ecran apresentava cenas sexuais explicitas, levando a que uma juíza com excesso de zelo, obrigasse a que se retirassem essas imagens.


(a sequência do "caso" Magalhães, em 2019 - Fotos do Público e do autor)

Este ano o Carnaval voltou a conhecer um novo acto de censura.

Tendo por tema “Made in Portugal”, não seria de estranhar que a Nossa Senhora de Fátima fosse uma das figuras a aparecer no Monumento.

A Santa, Nossa Senhora da Bola,  era apresentada com uma bola, em vez da cabeça, uma alusão inofensiva à nova “religião” dominante, o Futebol.

Assim não o entenderam algumas figuras influentes da Igreja local e respectivas “beatas” que exigiram que a imagem fosse retirada do monumento, onde passou poucas horas.

Geralmente o efeito, nestas situações, é o contrário.

Uma imagem, que passaria quase despercebida no meio de tanto “figurão”, ameaça tornar-se “viral” no carnaval deste ano, anunciando-se já a “aparição” da Imagem ao longo de várias ocasiões durante o Carnaval e dando o mote para grupos de mascarados.

Mais uma vez o Carnaval de Torres vai vencer a Censura e o censor vai sair-se mal do “atrevimento”.
(o local onde estava colocada a figura)

Aqui transcrevemos o texto de Bruno Melo, responsável pela escultura em causa, publicado na página do Facebook da Gate7:


(fonte:Gate 7)

"ESCULTURA RETIRADA DO MONUMENTO

“AFINAL NÃO ERA ELA!”

"Caros Torreenses, abro o meu coração para mostrar a minha indignação com algumas pessoas da nossa sociedade e as suas opiniões!

"Enquanto artista plástico que dá o seu melhor pelo nosso Carnaval há mais de 30 anos, respeitando o seu conceito, história e tradição, sinto-me na obrigação de não deixar calar a minha voz e a de todos os artistas plásticos que contribuem para o seu engrandecimento!
"O não entendimento de alguns relativamente a peças que fazem parte do Monumento ao Carnaval de Torres, leva a situações extremas de pressão que em pleno século XXI não têm qualquer sentido.
"A liberdade de expressão criativa sempre foi a imagem de marca do nosso Monumento! Este ano não fugiu à regra!
"Contudo uma escultura criou “alarido” suficiente, diretamente a mim e junto da Câmara Municipal, ao ponto de me ser imposta a sua remoção!
"No espaço dedicado ao futebol, além dos Presidentes, ex-presidentes e jogadores, incluindo o melhor do Mundo, está(va) a Nossa Senhora da Bola. Escultura em tudo igual a uma Nossa Senhora, sem expressão facial, tendo no lugar da face uma bola de futebol.
"Escandalizada está uma sociedade que devido a credos, crenças ou religiões, ainda tem o poder de ver e convencer quem vê, que esta é uma sátira que não pode ser feita, ao ponto da mesma ser retirada do Monumento!
"Em Torres, Carnaval é sátira, connosco e com os nossos, com os heróis e os vilões, os vivos e os mortos, os melhores e os menos bons, os políticos e os artistas, agradecendo nós, os que têm liberdade criativa, tudo o que foi alcançado para a nossa sociedade desde que o lápis azul foi “enterrado”.
"Fica mais pobre o nosso Monumento, fica mais pobre o nosso Carnaval, mas está bem mais pobre uma sociedade que consegue ver tudo, menos o que realmente está à vista!
"Sim, é(ra) uma Nossa Senhora…da Bola, como há a de Fátima, do Alívio, da Ajuda, do Caravaggio, de Copacabana ou do Bom Parto, existindo até uma dos Prazeres…são mais de 50, e em Torres tínhamos a nossa pelo Carnaval!
"Não me entra na cabeça, que alguém que se revê numa igreja que nos presenteia inúmeras vezes com casos de pedofilia e abusos de menores, fazendo “vista grossa”, consiga ter uma vista tão “maldosa” para com uma sátira tão inofensiva e despejada de segundas intenções!
Que o Carnaval de Torres honre as suas tradições, como o mais Português de Portugal, carregando de sátira e simbolismo todas as ações que o engrandecem ano após ano!
Bom Carnaval a todos!"
Bruno Melo

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Carnaval de Torres - 2º acto : inauguração do "monumento".


Tendo por tema "Made in Portugal", o Carnaval de Torres 2019 teve início no passado dia 9 de Fevereiro com a inauguração do "Monumento".

Aqui ficam algumas imagens desse "monumento":