Estão a decorrer este mês várias actividades comemorativas do 30º aniversário da Cooperativa de Comunicação e Cultura (CCC), uma das associações culturalmente mais inovadoras e dinâmicas da região.
Tendo sido um dos fundadores dessa associação, sou o seu sócio nº 2, recordo aqui um texto, por mim escrito por ocasião do 20º aniversário dessa associação, e onde se descrevia, em breves palavras, a história da CCC. Algumas partes foram actualizadas.É um ponto de vista.
Outros terão outras histórias para contar, esperando que aproveitem a ocasião para o fazerem.
Tudo começou porque um grupo de então jovens irreverentes de Torres Vedras, que ainda não tinham “arrefecido” do calor da “revolução”, resolveu tornar visível as suas preocupações culturais e sociais, discutidas horas a fio à mesa dos cafés, na casa de uns e de outros, na sede do cine-clube, ou no festival da Figueira. Foi de facto na Figueira da Foz, no intervalo dos filmes, que o “núcleo torriense” de espectadores desse festival, em Setembro de 1978 , começou a delinear esse novo projecto, aprofundado em incontáveis reuniões em casa do Fernando Mouro, mais tarde nas velhas instalações do Convento da Graça, alargando o número de participantes caçados ao nosso círculos de amigos do “liceu”, do “cine-clube”, do “café”, do “Impulso”,...
A construção do jornal “Área” congregou uma geração, hoje entre os “qurenta e muitos” e os “sessenta”, os mais novos então a acabar o Liceu e os mais velhos recém licenciados em início de carreira docente, que tinham em comum um passado recente de activa vivência política e cultural durante os anos quentes de 74-75 e chegaram aos finais dessa década politicamente desalinhados à esquerda.
Editado pela primeira vez em Novembro de 1979, o seu conteúdo e o seu inovador grafismo, que muito deve ao Aurelindo Ceia, representaram uma verdadeira lufada de ar fresco no panorama editorial e cultural local, e mesmo nacional, de então.
Se um dia se fizer uma história rigorosa da inovação do jornalismo nacional após o 25 de Abril, de certeza que o “Área” irá figurar num lugar de destaque.
De publicação mensal, entre Novembro de 1979 e Junho de 1981, editaram-se treze números, sob a direcção do José Eduardo Miranda Santos.
Em 1979, no ano em que surgiu o “Área”, vivia-se um momento de viragem em Torres Vedras, simbolicamente representado pela mudança do título de vila para o de cidade.
Começavam a surgir novas preocupações, reflectidas em muitas reportagens do “Área”, como o ambiente, a expansão dos “mamarrachos”, o desordenamento territorial, a invasão do automóvel, o desenvolvimento da cibernética, temas tratados por este jornal, também nisso pioneiro a nível local, sem esquecer que este foi dos primeiros jornais a nível nacional a alertar para a situação em Timor Leste.
Contudo a realidade acabou por se revelar mais complicada que o sonho. Iniciaram-se as primeiras rupturas pessoais no interior do projecto, inevitáveis quando a paixão era o motor que mantinha a chama do “Área”. A “Cooperativa de Comunicação e Cultura”, que sustentava a estrutura legal do jornal, deparando-se com essa realidade, ganhava um peso crescente, ambicionando outros caminhos, deixando o “Área” de ser o seu objectivo principal.
Duas faces da mesma moeda, “Área” e “Cooperativa...” representaram então duas visões para um mesmo projecto que, infelizmente , se revelaram inconciliáveis.
O “Área” conheceu então uma nova reestruturação, deixando de ser um regular e irreverente órgão de informação local, para se transformar ele próprio num objecto cultural, integrado num projecto mais vasto e ambicioso que apostou num outro tipo de intervenção .
A Cooperativa de Comunicação e Cultura apostou então em actividades mais viradas para o meio, como os célebres e inovadores passeios culturais. Revolucionou o panorama das artes plásticas a nível regional com as actividades desenvolvidas à volta da primeira galeria de arte em Torres Vedras, realizou eventos de grande impacto, como a inesquecível “Performarte”, organizou uma das primeiras exposições nacionais de Banda Desenhada, lançou livros e divulgou ciclos de cinema.
Hoje num novo espaço, com novos projectos, com uma direcção de gente mais nova, a Cooperativa de Comunicação e Cultura, na senda dos seus fundadores, é uma das raras associações que continua a renovar-se, quem em gente, quer em projectos.
Enfrentando hoje novos desafios, saradas feridas passadas, mesmo que à custa de novas feridas, o 30º aniversário da Cooperativa de Comunicação e Cultura deve reflectir sobre os caminhos trilhados no passado para melhor se consolidar como espaço cultural alternativo e inovador no panorama cultural da região.
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