segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O 5 de Outubro em Torres Vedras


Paços do Concelho. Com a implantanção da República, o Poder Local ganhou uma nova dinâmica.

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Ao contrário de muitas localidades do país, onde a República "chegou por telégrafo", Torres Vedras foi uma das localidades que desempenhou um papel activo no "5 de Outubro", tendo sido importante a acção dos republicanos torrienses, ao destruírem a linha férrea, impedido a chegada a Lisboa de tropas do Norte: "Pela manhã ( do 5 de Outubro) havia estacionado na villa o regimento de infanteria 15, de Thomar e tres destacamentos de lanceiros 2 e cavallaria 4, que vinham do norte, pela via ferrea, mas que não puderam seguir para Lisboa em virtude de grupos armados, d'esta villa, terem destruido as linhas, afim dos comboios que por ventura quizessem marchar com reforços sobre Lisboa, não pudessem transitar.

"O regimento bivacou no campo de S.João, proximo à estação, tendo durante o dia feito a sua adhesão á Republica, foi á noite muito acclamado pela multidão que percorria as ruas da villa, em marcha à "aux flambeaux ( com archotes)"(1).

Seguindo a descrição feita pela "Folha...", esse dia 5 de Outubro foi vivido com grande intensidade pela população da vila :

"Á mesma hora a que foi proclamada a Republica na camara Municipal de Lisboa, era desfraldada a bandeira republicana, do Centro Republicano, d'esta villa, nos Paços do concelho de Torres Vedras, ao som da "Portugueza".

"O enthusiasmo do povo, n'esse momento, tocou as raias do delirio, sendo ao mesmo tempo acclamado administrador do concelho o cidadão David Simões.

"Em seguida o povo percorreu as ruas da villa, com uma banda de musica á frente e foi á administração do concelho onde se lavrou o auto de posse"(2).

Por ironia do destino, "A Vinha de Torres Vedras" foi o primeiro órgão de imprensa local a noticiar os acontecimentos do 5 de Outubro, na sua edição do dia 6, publicando a composição do novo governo e o nome dos governadores civis, e dando conta do destino da família real, dedicando algum espaço àquilo que apelidou como "os destroços da contenda", assinalando os "desastres pessoais, tanto em vidas, como em ferimentos, que causaram horror" e publicando a lista de "prejuzos materiaes, occasionados pelos canhões de terra e mar" em Lisboa. Referindo-se à situação em Torres Vedras, destacava, em título, a "prisão dos professores e seminaristas do Barro", na manhã desse mesmo dia 6, por "uma força de cento e tantos praças de infantaria 15, e outro de quarenta praças de cavallaria" que, apresentando-se "inesperadamente no Collegio do Barro (...) intimaram os professores e seminaristas, a que por ordem do governo os acompanhassem.

"A intimação foi rigorosamente cumprida, e os moradores, em numero de 82, condusidos para esta villa, onde a população os recebeu com respeito, foram horas depois condusidos para Lisboa, no comboio, acompanhados pela força de infantaria 15.

"No collegio do Barro ficou uma força commandada por um alferes, guardando o edificio, onde se encontram dois moradores doentes e as pessoas que d'elles tratam"(3).

Em notícia divulgada na mesma edição, o até então porta-voz do Partido Progressista, referia o assassinato de um camponês da Serra da Vila, localidade vizinha daquele convento pelo guarda do Colégio do Barro, não lhe dando qualquer carácter político, ao contrário da "Folha.." que , na sua descrição dos acontecimentos de 5 e 6 de Outubro, se referia ao facto de se ter tido conhecimento, no dia 6 de "que um empregado do convento dos Jesuitas assassinara com um tiro um pobre homem do campo" (4), associando esse facto com a ordem para aprisionar os Jesuítas do Barro.

Um dos primeiros actos do novo poder neste concelho foi encerrar os dois conventos deste concelho e arrolar os seus bens, motivo de uma das primeiras comunicações do novo administrador do concelho para o governo, dirigida ao Ministério dos Negócios da Justiça, datada de 13 de Outubro:

"Em cumprimento das ordens de Vª Exª tenho a honra de informar que estão fechadas 5 casas das ordens religiosas neste concelho, que são as seguintes:

"1º O Convento do Barro, que se compõe de tres grandes edificios, tendo todo o mobiliario que se encontrou á sahida dos Jesuitas, 4 vacas leiteiras, 2 mullas, 4 porcos e algumas galinhas. Está situado longe de povoações e guardado por uma força militar d'Infantaria 7.

"2º Pertencendo ha (sic) mesma ordem á (sic) outro edificio denominado a quinta da Cadriceira, freguesia do Turcifal, o qual já está fechado e lacrado, tendo todo o mobiliario, 3 vaccas pequenas, 1 porco e 35 galinhas, ficando depositario Angelo Custodio Botelho da Cadriceira.

"3º O convento do Varatojo, quando o fui fechar e lacrar só lá estava um padre, parte do mobiliario já ali se não encontrava e animaes só lá existiam 1 porco e algumas galinhas, andando já o juiz desta camara fazendo arrolamento. Este padre ficou em casa particular esperando pela resposta de um abaixo assignado do povo d'aquelle lugar que junto envio a v. Ex.ª para os effeitos que tiver por convenientes.

"4º No mesmo logar do Varatojo existe uma casa de religiosos habitada por irmãos de caridade, que encontrei fechado e com pouco mobiliario, ficando depositario desta casa e do convento Jose Eduardo Cezar do Varatojo.

"5º Na Praia de Santa Cruz ficou fechado e lacrado e com pouco mobiliario uma casa pertencente ao convento das freiras, onde vinham tomar banho de mar.

"N'esta villa ha duas irmandades, as quaes cada uma dava 200.000 reis annuaes e dois padres que vinham dizer missa, e estes padres pertenciam ao convento do Varatojo, os quaes me mandaram pedir se puderiam continuar a dizer as missas e ficaram rezidindo n'esta villa"(5).
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(1) Folha de Torres Vedras, 9 de Outubro de1910.

(2)Folha de Torres Vedras, 9 de Outubro de 1910.

(3) A Vinha de Torres Vedras, 6 de Outubro de1910.

(4) Folha de Torres Vedras, 9 de Outubro de1910.

(5) Livro de Correspondência Externa (do Administrador do Concelho),(1908-1912), nº 304 de 13 de Outubro de1910, AMTV.

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