(fotografia de Octávio Neves)
O Sérgio era um bom conversador.
Era, acima de tudo, um grande amigo cheio de curiosidade por tudo o que
o rodeava.
Gostava muito de estudar o passado da sua região, da terra da sua
família (a Ponte do Rol) e da sua família.
Há um velho ditado, julgo que africano, segundo o qual quando um velho
morre é uma biblioteca que se perde.
O Sérgio não era velho, nasceu em 1952, tinha 63 anos feitos no passado
dia 27 de Janeiro, mas tinha uma memória prodigiosa. Infelizmente, a sua
humildade nunca o levou a passar para
papel muito daquilo que ele conhecia, e por isso, sem a designação de velho,
que não encaixava nele, aquele ditado aplica-se perfeitamente à perda que
representa o seu desaparecimento.
Mas o Sérgio era também uma pessoa com um humor fino, por vezes corrosivo,
quase sempre desconcertante, único mesmo.
Usava o humor para, não só se questionar a si próprio, como tudo aquilo
que o rodeava e, com essa atitude, obrigava-nos a um exercício de profunda
reflexão sobre os temas das conversas.
Ao longo dos anos teve de combater várias doenças, todas enfrentando
com uma enorme coragem e descontracção, gozando mesmo com a sua própria
situação, pelo que quase nos levou a acreditar que era quase imortal.
Infelizmente a última, detectada no final do ano passado, foi mesmo
fatal.
Agora fica a memória de alguém que nos vai fazer falta, principalmente
sempre que passarmos por algumas ruas de Torres Vedras, nomeadamente pelo
“largo da Havaneza”, onde ele nos fazia passar alguns bons momentos de
conversa, versando quase sempre aspectos da história local, sempre temperadas
pelo seu grande sentido de humor.
No verão passado encontrava-o quase todas as manhãs no alpendre da sua bonita casa de família em Santa Cruz, tomando com a sua calma o pequeno almoço e com um jornal pela frente. Esta é das últimas imagem que guardo dele.
Na nossa vida cruzamo-nos com pessoas que nos marcam, que fazem parte
da “paisagem humana” em que vivemos e cuja falta nos leva um pouco de nós.
Para mim o Sérgio Roque do Vale Cruz, falecido no passado dia 9 de
Março é uma dessas pessoas.
Enquanto eu, os teus amigos, a tua família andarmos por cá, tu vai
continuar a andar por aí.
Até sempre amigo.
Belo texto evocatvo, Venerando.
ResponderEliminarSubscrevo inteiramente!
Abraço
J Moedas Duarte
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarFoi por lapso que removi o meu comentário, se um dos autores da página Vedrografias o puder repor agradecia.
EliminarUm senhor, na verdadeira acepção da palavra. Felizmente tive o privilégio de ser colega dele e sei que aprendi muito. Um bem haja onde quer que esteja.
ResponderEliminarObrigada Sergio.
Uma bela evocação, Venerando.
ResponderEliminarA ela me associo com saudade de um Amigo
Obrigado