quinta-feira, 30 de abril de 2015

Torres Vedras - Festa da Árvore, o "primeiro" 1º de Maio:


(Festa da Árvore em Torres Vedras, arquivo de Alexandre Caetano)

Comemorar o Primeiro de Maios tem uma longa tradição no concelho de Torres Vedras, muito para lá do seu significado político.

AQUI, no ano passado, recordámos os primeiros de Maio em liberdade comemorados em Torres Vedras, através do olhar do fotógrafo Ezequiel Santos.

Hoje recordamos uma outra época, quando o 1º de Maio foi, pela primeira vez, feriado em Torres Vedras, data escolhida pelo municipio torriense como feriado municipal, e que foi comemorado com a "Festa da Àrvore":

A FESTA DA ÁRVORE

Uma das festas com mais simbolismo para os republicanos  foi a chamada “Festa da Árvore”.
Esta  festa foi introduzida em Portugal nos últimos anos da monarquia. Era uma cerimónia cívica organizada pelos professores das “escolas primárias”, envolvendo nelas os seus alunos.

Procurou-se dar a essas festas um cunho de “religiosidade cívica”, tão do agrado do espírito republicano, que apropriou dessa festa transformando-a numa manifestação de cunho anticlerical, atitude que em muito contribuiu para esbanjar o capital de simpatia que essas festas granjearam no seu início.

Um texto publicado no jornal “A Vinha de Torres Vedras”, em 1914, explicava o “Culto da Árvore” como uma “reminiscência do culto da árvore que remonta às próprias origens pré-históricas” e que na actualidade tinha uma feição “meramente sentimental e educativa”, pelo que , “presentemente” se ensinava a “venerar a árvore pelos múltiplos prazeres e serviços que ela dispensa ao homem”, desejando o articulista que tal culto se enraizasse “progressivamente, pela forma mais bela que se pode desejar e que é a forma estética e o lado moral que o acompanha”.[1]

Em Torres Vedras a primeira festa da árvore realizou-se no 1º de Maio de 1914, coincidindo com o primeiro feriado municipal comemorado naquele dia.

Constava de um cortejo, saindo da sede do “Grémio”, prestigiada colectividade local, nele se incorporando os alunos e professores, na companhia de uma banda que desfilava até um determinado local (geralmente a Várzea, a Avenida 5 de Outubro ou a Praça Mouzinho de Albuquerque), onde eram plantadas árvores.

Não faltava o “hino da árvore” e “a  portuguesa” tocados e cantados a preceito.

Regressava-se depois à sala da colectividade de onde tinham saído, onde se realizavam várias actividades culturais e desportivas.

No final da década de 10 esta festa estava praticamente moribunda nesta localidade.
  
(extracto do meu estudo “Festas da Igreja / Festas Republicanas – Uma década de conflitos em Torres Vedras (1910 – 1920)”, apresentado numa edição dos encontros de história local)



[1] A Vinha de Torres Vedras, 26 de Março de 1914.

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