terça-feira, 8 de março de 2016

A VIDA TORRIENSE NOS FINAIS DO SÉCULO XIX, nos caracteres da imprensa local (1885-1890) – 14 e 15.


14 - FEVEREIRO DE 1886

O principio do mês começa com o anuncio da chegada das andorinhas, avistadas pela primeira vez na vila no dia 19, “doces mensageiras da primavera” (JTV, 25-2-1886).

A vida cultural da vila também se animou nesse mês com a presença de um teatro infantil:

“O popular empresário mr. Dallot, bem conhecido em Belem e na feira das Amoreiras, improvisou no largo da Graça um teatro espaçoso e com certas comodidades, onde no dia 30 [de Janeiro] se inauguraram os espectáculos com a opera cómica “o traga bullas” e a comédia “os milagres de Santo António” que conheceu “enchentes sucessivas”(JTV, 4-2-1886).

A presença desse teatro ambulante veio animar a discussão sobre a idéia e necessidade de se construir em Torres Vedras um teatro local fixo.

No mês de Fevereiro a imprensa publica alguns dados estatísticos relativos ao ano anterior:

“No anno de 1885, abateram-se no matadouro d’esta villa 952 rezes bovinas, 213 porcos e 916 carneiros” .

Na mesma edição divulga-se o movimento da prisão da vila nos anos anteriores:

Em 31 de Dezembro de 1884 estavam presos 14 homens e 4 mulheres aos quais se juntaram, no ano findo de 1885, “130 homens e 7 mulheres”, número a que talvez não seja estranho o grande número de trabalhadores que afluíram ao concelho para a construção do caminho-de-ferro, foco de muitos conflitos registados ao longo do ano anterior nas páginas do mesmo jornal (JTV .11-2-1886).


15 - MARÇO de 1886

Durante o mês de Março desse na de 1886 os trabalhos do caminho-de-ferro foram interrompido por causa do mau tempo que então de fez sentir (JTV, 18-3-1886).

O Carnaval tinha tido lugar no início desse mês, mas os seus festejos não passaram d algumas festas particulares ou do desfile de grupos de mascarados pelas ruas:

“No domingo [7 de Março] appareceu uma mascarada notável, representando um bom typo da localidade, victima permanente do Deos cupido, aos…sessenta e tantos annos de idade. A imitação do rosto, do traje, da maneira de andar e até da falla era perfeita(..).

“Saiu também em carro descoberto uma bem vestida mascarada politica, representando vários vultos notáveis da política indígena.

“Na terça feira [9 de Março] percorreu as ruas da villa uma Estudantina de emigrantes  hespanhoes, vestidos muito bem a caracter. De tarde , apareceu um carro de mascarados com engraçados costumes.

“Tiradas estas quatro exhibições, o resto foi de uma semsaboria atroz, como é costume aqui e em toda a parte”, registando ainda uma “soirée de terça” em casa entre amigos (JTV, 11-3-1886).

Março foi também mês da Procissão do Senhor dos Passos, acontecimento marcante para a população local de então e descrita pelo ”Jornal de Torres Vedras”:

“Na passada quinta-feira [25 de Março] depois das 9 horas da noite, a devota imagem do Senhor dos Passos foi conduzida processionalmente com grande  acompanhamento de irmãos da Igreja da Graça para a colegiada de S. Pedro, aonde no dia seguinte houve enorme concorrência de visitantes celebrando-se também algumas missas.

“De tarde , próximo das 4 horas, saiu, percorrendo o itinerário dos mais annos, a solenne Procissão dos Passos, uma das que se celebram n’esta terra com mais compustura e recolhimento. Grande número de irmãos e bastantes eclesiásticos, a mesa da irmandade, a autoridade administrativa, a guarda de honra composta de todo o destacamento de cavalaria, a magnifica Banda Torrenese, e uma considerável concorrência de Povo, da villa e de fora , o melhor de cinco mil pessoas, acompanharam a veneranda Imagem”.

“(…) Houve ordem completa . Apenas notámos com desprazer a grande balburdia e barulho na collegiada de S. Pedro. A casa de Deos não é logar próprio para scenas tão pouco edificantes” (JTV, 25-3-1886).

De registar ainda um serão musical no “club torreense, na segunda feira à noite [22 de fevereiro]”, dado por “um artista hespanhol” que “tocou magistralmente e foi grandemente aplaudido em viola franceza”(JTV , 25-3-1886).


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