Outubro de 1961
Prestes a terminar um ano charneira para a história do regime
salazarista…
De facto, esse ano assinalou o início da guerrilha angolana, marcado por
massacres de parte a parte, entre os africanos comandados por Holden Roberto e
os brancos defensores do colonialismo.
Por cá, nessa altura, já o “Badaladas” se editava semanalmente.
Era notória o impacto dos acontecimentos “ultramarinos” nas páginas do
jornal torriense, nos artigos de opinião de “notáveis” da terra em defesa do
governo e na rubrica “Correio do Ultramar”, onde os jovens torrienses que
partiam para a guerra em África comunicavam com familiares e amigos.
Aliás, a leitura atenta dessa correspondência, regularmente publicada
nas página desse periódico local, é um documento fundamental para se conhecer o
reflexo da guerra colonial entre a população torriense, nomeadamente entre a
juventude que partia para essa guerra, à espera de quem as estude.
Por cá, no dia 9 de Outubro, era apresentado publicamente o “Rancho
Folclórico do Varatojo”, formado no seio da Associação Cultural e de
Beneficência de Santo António do Varatojo.
Em 10 de Outubro falecia um dos professores mais prestigiados da Escola
Secundária de Torres Vedras, António Fivelim Costa, aos 67 anos.
No dia 16 de Outubro realizou-se a 1ª Feira de S. Gonçalo de Lagos,
padroeiro de Torres Vedras, que coincidiu com a habitual feira mensal na última
segunda-feira de cada mês.
A feira teve lugar na Porta da Várzea e incluiu a bênção do gado e a
escolha dos melhores cavalo e égua, junta de bois e parelha de muares, com
distribuição de prémios aos vencedores.
A Banda dos Bombeiros de Torres Vedras animou essa noite, actuando no
Largo da Graça.
Nesse mesmo Largo da Graça teve lugar a inauguração, nesse mesmo mês de
Outubro, da nova sede do jornal “Badaladas”, no sítio onde funcionou até há
poucos anos.
A vida cultural torriense era então marcada pelas actividades do Cine Clube
de Torres Vedras e pelo Suplemento Cultural do jornal “Badaladas”, com
publicação mensal e de grande qualidade, quer gráfica, quer de conteúdo.
Na edição de Outubro desse mesmo suplemento António Augusto Sales
entrevistava o Grupo de Teatro Procenium e Cordeiro Melo analisava a “Guernica
de Picasso”, enquanto Claro Ceia e Ruy de Moura Guedes divulgavam os seus
originais.
Mas a notícia mais importante desse suplemento era a referente à
presença em Torres Vedras do Coro da Academia de Amadores de Música dirigido
por Fernando Lopes Graça, uma iniciativa do Cine clube local e que muito
preocupou o establishement ligado ao Estado Novo, cada vez mais preocupado com
as iniciativas “subversivas” dessa associação.
António Augusto Sales, um dos torrienses de então mais tento à
realidade local, publicou em 28 de Outubro, nas páginas do “Badaladas”, uma
Carta Aberta à Comissão Municipal de Turismo, criticando as condições dos
balneários da Praia de Santa Cruz, carta que fez corres muita tinta por parte
de uma administração municipal pouco habituada a ouvir críticas sobre a sua
actuação, numa época em que fazê-las era perigoso.
Foi assim o mês de Outubro de 1961, há 55 anos.
(texto baseado numa crónica lida em 1986 numa rubrica da Rádio
Extremadura intitulada “Aconteceu no Oeste”).
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