No dia 20 de Abril de 1970 era oficialmente
inaugurado o novo edifício da Escola Industrial e Comercial de Torres Vedras,
na rua Henriques Nogueira, pelo presidente da República de então, o almirante
Américo Thomaz.
Era o culminar de uma história de décadas do chamado
ensino técnico em Torres Vedras.
Aquela escola era herdeira da antiga Escola
Comercial António Augusto Cabral, fundada e mantida, desde 1944, pelo Grémio do
Comércio dos Concelhos de Torres Vedras, Cadaval e Sobral de Monte Agraço, a
designação oficial da antiga Associação Comercial que se batia por uma escola
desse tipo desde 1929.
Em 31 de Julho de 1952 a Escola Comercial António Augusto
Cabral, até então uma escola particular, foi oficializada, de acordo com a nova
lei em vigor, tornando-se Torres Vedras a primeira localidade do país a possuir
uma escola particular oficializada, o que permitia aos seus alunos que
realizassem os exames na sua escola (1).
Por essa altura, no início da década de 50, iniciou-se um
debate nas páginas do jornal “Badaladas” com o objectivo de se criar um curso
industrial que completasse o ensino comercial e correspondesse às novas
necessidades económicas da região, chamando-se a atenção para o Decreto-Lei nº
36409 de 11 de Julho de 1947 que previa a criação de uma escola técnica em
Torres Vedras (2).
Em 21 de Dezembro de 1954 uma “Comissão de representantes
das actividades económicas deste concelho (…) avistou-se com o Presidente da
Câmara Municipal” para lhe solicitar “os seus bons ofícios junto do Ministério
da Educação para que seja criada a Escola Industrial e Comercial de Torres
Vedras” (3).
Pressionada pela opinião pública, a Câmara Municipal iniciou
uma série de diligências par conseguir esse objectivo e, em Setembro de 1956,
enviava ao Ministério da Educação um bem fundamentado memorando em defesa da
criação de uma “escola técnica” em Torres Vedras.
Propunha-se o município subsidiar com 50.000$00 anuais a
formação de uma Escola Industrial e Comercial de Torres Vedras, criada a partir
da Escola dirigida pelo Grémio do Comércio.
Propunha para essa escola o seguinte “plano de estudos”:
“1º - Ciclo Preparatório;
“2º - Curso Complementar de aprendizagem e electricidade;
“3º - Curso de formação : - de serralheiro; - Geral do Comércio” (4).
Acedendo ao pedido do município torriense, o Ministério da
Educação, através do decreto nº 41258 de 10 de Setembro de 1957, criava a
Escola Industrial e Comercial de Torres Vedras, substituindo a Escola Comercial
António Augusto Cabral, entretanto encerrada, da qual herdou alunos,
professores e respectivos processos.
De imediato se iniciaram as obras de ampliação do edifício
municipal situado na Av. 5 de Outubro, onde se localizavam as instalações da
“Física” e das “escolas primárias” da vila.
Acrescentado de um andar, aí vieram a ser instaladas, a
nascente a Escola Secundária Municipal e a poente a nova “Ecola Técnica”, enquanto
as escolas do ensino primário eram instaladas nos novos edifícios a sul
daquelas instalações.
No ano lectivo de 1958/1959 iniciaram-se as aulas da
Escola Industrial e Comercial nas suas novas instalações com 261 alunos, número
que quase duplicou no ano lectivo seguinte.
O rápido crescimento do número de alunos matriculados na
“Escola Técnica”, bem como as crescentes necessidades de recursos educativos
para desenvolver o projecto desta escola, rapidamente levaram a que se
colocasse a questão da urgência em construir um edifício de raiz para o seu
funcionamento.
No dia 1 de Fevereiro de 1962 foi apresentado, em sessão
camarária, um projecto para as novas instalações, da autoria do professor do
ensino técnico Luís Manuel Paulo Ferreira, exposto publicamente no ano
seguinte.
O tempo foi passando e aquele projecto foi caindo no
esquecimento.
Foi mais uma vez nas páginas do “Badaladas” que o assunto
volta a ser recordado, num artigo publicado em 12 de Fevereiro de 1966,
assinado pelas iniciais R.M., com destaque de primeira página, e intitulado
“Interesses Nossos – A Escola Nova”:
“(…) Lembramos hoje, um dos mais importantes [problemas de
interesse regional] e que parece votado ao esquecimento: o da construção de um
novo edifício para a Escola Industrial e Comercial de Torres Vedras.
“(…) Continuando adiada por mais tempo, a construção do
novo edifício, colabora-se na mutilação do desenvolvimento profissional,
didáctico e educacional, de mais de um milhar de alunos que frequentam
actualmente a Escola Industrial e Comercial.
“(…) Sem salas de aula em número suficiente, sem espaço
para a montagem de oficinas e laboratórios, sem um parque de jogos para a
cultura física orientada, sem salão de festas ou reuniões com encarregados de
educação e outros fins, entre os quais o uso de meios audi-visuais no ensino,
não pode haver verdadeira Escola.
“(…) A nova Escola Industrial e Comercial de Torres Vedras
é assunto que não pode nem deve continuar apenas no projecto e na miniatura que
dela existe. (…) Que se iniciem diligencias para a erguer”.
O assunto voltou a ser abordado nas páginas do semanário
torriense em 23 de Abril de 1966, num artigo não assinado e intitulado “Interesses Nossos – Para quando a
nova Escola Técnica de Torres Vedras”, onde se analisava, com dados, a
dificuldade de funcionamento nas instalações da Avenida 5 de Outubro.
Em junho desse ano surge uma primeira boa noticia, a
doação feita à Câmara, por José Nunes de Chaves “de uma área de terreno a ser
ocupado pela futura escola industrial e comercial” (5).
No final desse ano, para reforçar a necessidade de iniciar
a construção de um novo edifício para a escola, o jornal “Badaladas” publica um
vasto dossier, baseado numa consulta aos alunos, completado com dados sobre o
funcionamento da escola, traçando um interessante retracto da realidade social
e pedagógica dessa escola no ano lectivo de 1965-1966 (6).
Finalmente, na sua edição de 4 de Março de 1967 o
“Badaladas” anuncia o lançamento de concurso para arrematação das obras de
construção do novo edifício da “Escola Técnica”, marcado para “o dia 15 do
corrente, na sede da Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário,
em Lisboa, cuja base de licitação é de 13 991 571$00”.
O jornal “A Voz” , na sua edição de 20 de Abril de 1967 anuncia
o inicio das obras para a construção da nova escola Técnica “dentro de algumas
semanas”.
No folheto editado pelo Ministério das Obras Públicas e
Comunicações, por ocasião da inauguração oficial da “Escola Industrial e
Secundária de Torres Vedras” indica que as obras de “construção civil foram
iniciadas em 31/10/1967 tendo ficado concluídas em 30/10/1969”
A empreitada foi entregue à Sociedade de Construções ERG,
Lda.
O primeiro ano lectivo nas novas instalações teve início
em Novembro de 1969.
Finalmente, no dia 20 de Abril de 1970, foi solenemente
inaugurada essa escola, com a presença do então Presidente da República Américo
Tomás.
A deslocação de Américo Tomás a Torres Vedras foi a
segunda de um chefe de Estado a esta localidade durante o Estado Novo.
Apesar desta ser a primeira visita oficial de Tomaz a
Torres Vedras, não era a primeira vez que visitava o concelho, já tendo
anteriormente visitado o Lar dos Veteranos Militares de Runa e o Convento do
Varatojo (7).
Na sua deslocação a este concelho fez-se acompanhar pelo
Ministro das Obras Públicas e Comunicações, Rui Sanches, pelo subsecretário de
Estado da Administração escolar, pelo Governador Civil de Lisboa e pelo
almirante Henrique Tenreiro, na qualidade de presidente da Junta Central da
Legião Portuguesa, entre muitas outras individualidades.
Todos foram recebidos pelas autoridades locais pelas 15
horas desse dia 20 de Abril, à entrada da localidade da Freixofeira.
A inauguração da nova escola não foi o único motivo dessa
visita. O outro foi a inauguração do sistema de abastecimento de água de Torres
Vedras e Mafra.
Chagada à vila de Torres, a comitiva presidencial seguiu
para os Paços do Concelho, para a sessão solene, antes de se deslocar às novas
instalações da escola “Técnica”, inaugurada e visitada pelo presidente e sua
comitiva, a partir das 16.30.
Referindo-nos apenas à cerimónia de inauguração da “Escola
Técnica”, e seguindo a reportagem publicada no jornal “Badaladas” de (ironia do
destino) 25 de Abril de 1970, a recepção de Américo Tomaz e da sua comitiva foi
feita à entrada da escola, sendo recebido pelo director da escola, o Dr.
Francisco Quaresma de Almeida, “rodeado
do corpo docente e dicente”, sendo descerrada uma “lápide alusiva ao acto”.
Seguiu-se uma visita “às suas principais dependências”,
tendo o Presidente da República “entrado em diversas salas de aulas e oficinas,
em funcionamento, onde travou animado diálogo com professores e alunos”.
Visitou também no último piso “o interessantíssimo museu,
com curiosas peças naturais e humanas, desde a pré-história até ao presente”.
A visita terminou pelas 19.15 com a deslocação da comitiva
à Serra da Vila, para a inauguração das instalações de abastecimento de água ao
concelho.
(1) – in Badaladas,
15/08/1952;
(2) –
“Escola Industrial e Comercial de Torres Vedras – Quando a teremos?”, in
Badaladas, 15/12/1954;
(3) –
“Representantes do Comércio, da Indústria e da Agricultura pediram (…) a
criação duma ESCOLA DE ENSINO TÉCNICO PROFISSIONAL nesta vila” in Badaladas,
1/1/1955;
(4) - Relatório de
Gerência da Câmara no ano de 1956, CMTV;
(5) -
Acta da reunião camarária de 28-6-1966, citada pelo Badaladas, 16/7/1966;
(6) - “O
Valor Social da Escola Técnica”, in Badaladas,
19/11/1966.
(7) - Sobre essa visita, baseámo-nos das edições
do jornal “Badaladas” de 18 e 25 de Abril de 1970.
ANEXO:
Reportagem fotográfica da visita de Américo Tomás a Torres Vedras em 20 de Abril de 1970 (Fonte: Biblioteca Municipal de Torres Vedras, a partir de fotografias tiradas e tratadas pelo autor aos originais):
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