Torres Vedras está a participar numa investigação pioneira, orientada
pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, envolvendo 26 municípios.
O objectivo dessa investigação é fazer um retrato nacional dos impactos das alterações climáticas
a nível local , preparando o país para as alterações climatéricas previstas até
ao final do século.
Um primeiro balanço foi apresentado ao público no final do mês passado.
Torres Vedras está entre o lote de municípios que vai registar um maior
aumento de períodos de chuva no Inverno, mais 12%, o sétimo concelho, dos 26
analisados, onde essa situação será mais extrema.
Quanto ao aumento das situações de seca na primavera, onde, pelo
contrário, se registará um redução da pluviosidade, a situação no concelho
ainda será mais grave, sendo o 4º pior, com uma redução de 49% na chuva.
Quanto ao aumento da temperatura, a situação de Torres Vedras será
menos grave que na maior parte dos restantes concelhos, encontrando-se entre os
menos graves, mas mesmo assim prevê-se, no cenário mais extremo, um aumento de
35% de dias com temperaturas superiores aos 35 graus.
Quanto ao aumento médio da temperatura, a situação é igualmente grave,
com uma previsão do aumento médio da temperatura no concelho em 5 graus.
Reproduzimos em baixo o artigo do Público sobre a primeira apresentação
de resultados desse projecto:
“Retrato climático local prevê ondas de calor três a doze vezes mais
frequente
por RICARDO GARCIA, in Público de 18/10/2015 .
“Os municípios portugueses vão ter de se preparar para um futuro com
ondas de calor que podem ser três a doze vezes mais frequentes do que hoje.
Vários concelhos terão de suportar mais de 50 dias adicionais com temperaturas
acima dos 35oC. A chuva pode diminuir para mais da metade no Verão, mas
aumentar até cerca de 20% no Inverno.
“Estes são cenários que resultam de um primeiro retrato nacional dos
impactos das alterações climáticas a nível local no país, traçado por um
programa pioneiro envolvendo 26 autarquias.
“Nesse conjunto de municípios, meia centena de técnicos estão a ser
formados para elaborar e pôr em prática estratégias locais de adaptação às
alterações climáticas. E adaptar-se será inevitável.
“Cientistas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa olharam
para o futuro de todos estes concelhos, segundo dois cenários de concentrações
de gases com efeito de estufa na atmosfera, um mais moderado e outro mais
extremo. Os resultados serviram de ponto de partida para as autarquias
começarem a pensar no que devem fazer.
“E o que se antecipa não é tranquilizador. No cenário mais moderado,
prevê-se em todos os municípios uma subida da temperatura média anual de um a
dois graus Celsius até 2100. No cenário extremo, os valores aumentam para algo
entre três graus, nos Açores e na Madeira, e seis graus em Évora.
“Onze concelhos poderão ver o termómetro subir em cinco graus: Castelo
de Vide, Castelo Branco, Amarante, São João da Pesqueira, Bragança, Montalegre,
Coruche, Ferreira do Alentejo, Tondela, Barreiro e Torres Vedras. Em Lisboa e
no Porto, os valores vão de um a quatro graus.
“O número de dias muito quentes – com mais de 35oC de temperatura
máxima – vai subir em todos os concelhos. No topo da lista está Castelo Branco,
que terá, em cada ano, mais 37 a 61 deles, conforme o cenário climático. Évora, Coruche e Ferreira do Alentejo poderão
chegar aos 60.
“Nalguns pontos do país onde há poucos dias tão quentes, como Seia e
Montalegre, estes passarão a ser frequentes.
“Haverá mais ondas de calor, e mais longas. No pior cenário, prevê-se
um aumento de pelo menos três vezes na frequência destes episódios, chegando a
seis vezes em Tondela, Amarante, Montalegre e Ílhavo, e mesmo a doze vezes em
Loulé.
“A Primavera promete ser muito menos chuvosa, com uma quebra de 58% na
precipitação em Loulé, 53% em Odemira, 52% no Barreiro e 51% em Lisboa. Em
compensação, estima-se um aumento da chuva no Inverno, que pode chegar aos 19%
em São João da Pesqueira e 16% em Viana do Castelo. Lisboa também está entre os
que mais verá um aumento na precipitação no Inverno (15%), um problema
adicional a uma cidade já vulnerável a cheias em dias de muita chuva.
“Para todos prevê-se o mal dos dois lados da meteorologia: mais
episódios de chuvas rápidas e intensas, porém mais secas e incêndios
florestais. Numa nota mais positiva, poderá cair substancialmente o número de
dias com geada.
“Não foram feitos cenários locais da subida do nível do mar. Apenas há
referência ao que se prevê para o mundo como um todo: um aumento de 26 a 82 centímetros
até 2100.
“Estes cenários climáticos são apenas o ponto de partida para o
planeamento das acções dos municípios envolvidos no projecto ClimAdaPT.Local –
liderado pelo centro de investigação climática CCIAM, da Universidade de
Lisboa. O objectivo do projecto é não só chegar a estratégias de adaptação em
cada um dos concelhos, como garantir que nas câmaras municipais haja técnicos
treinados para elaborar, pôr em prática e monitorizar esses planos.
“As 26 autarquias já fizeram parte do trabalho. Identificaram as suas
vulnerabilidades actuais e também as futuras, com base nos cenários para 2050 e
2100. O passo mais recente foi a identificação de possíveis medidas de
adaptação.
“As mais comuns são as que têm a ver com os recursos hídricos, em
particular as destinadas a prevenir cheias. Aí estão, por exemplo, a construção
de bacias de retenção, para segurar a água de ribeiras em dias de forte chuva,
ou o redimensionamento das redes pluviais.
“Entre as medidas estão também a adopção de culturas agrícolas mais
resistentes à seca, a regeneração de cordões dunares, a criação de sistemas de
alerta local para eventos extremos ou a criação de corredores verdes nas
cidades”.
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