Passam este ano vinte cinco anos sobre o falecimento de Leonel
Trindade.
Foi a 4 de Janeiro de 1992 que essa figura incontornável da vida
cultural torriense nos deixou, aos 88 anos.
Leonel Trindade ficou especialmente conhecido pelas suas importantes
descobertas arqueológicas na região, sendo uma das grandes referências da
arqueologia portuguesa.
Devemos a Cecília Travanca a mais completa biografia daquela
personalidade torriense, pelo que aconselhamos vivamente a leitura desta obra
(1).
Não é nossa intenção traçar aqui o perfil de Leonel Trindade mas, em
sua homenagem, revisitar aqui um dos seus contributos mais importantes para a
história e a arqueologia nacional, a descoberta e exploração arqueológica do
Castro do Zambujal, sendo o arqueólogo torriense coautor de sete textos
fundamentais sobre esse lugar (num conjunto de vinte e duas obras que publicou,
em coautoria com alguns dos mais importantes arqueólogos portugueses e
estrangeiro que por cá trabalharam, sobre a arqueologia da região) .
Esta importante estação arqueológica foi descoberto por Leonel Trindade
em 1938, responsável pelas primeiras
escavações em 1944, às quais se seguiram outras em 1959 e 1960, acompanhando-o,
nos dois últimos anos, o Dr. Aurélio Ricardo Belo. Foi então convidado o
Instituto Arqueológico Alemão a continuar esse trabalho, o que aconteceu entre
1964 e 1973, período durante o qual se efectuaram sete campanhas de escavações
orientadas por E. Sangmeister, H. Schubart e W. Huebener .
Nos anos seguintes foi estudado, por aquele Instituto, o espólio e o
conjunto de informações obtidas naquelas escavações, distinguindo-se nesta fase
o trabalho do arqueólogo Dr. Michael Kunst, que tem liderado as escavações mais
recentes.
O nome de Zambujal “deriva sem dúvida, de uma mata de zambujos (...)
uma espécie de oliveira silvestre, que existia em tempos no local e dos quais
alguns exemplares ainda se vêem vegetando nos arredores, sendo outros
aproveitados para neles se enxertarem oliveiras, tal como ainda hoje se pode
observar num centenário olival que existe no sopé do monte onde está situado o
castro” (2) .
O “Castro” terá sido ocupado entre 2500 aC. e 1700 aC e o local terá
sido escolhido por razões estratégicas:
”Não sendo a maior elevação da cadeia montanhosa a Este da Ribeira de
Pedrulhos, ficam-lhe por trás os pontos mais altos, encobrindo-a de quem se
aproxima vindo de Oeste. Ao escolherem este local relativamente afastado da
costa (...), os seus habitantes tinham a vantagem de avistarem o mar e a
desembocadura do Rio Sizandro sem que pudessem ser observados” (3).
Sabe-se também pelas “ datações de C14 efectuadas em conchas
provenientes dos sedimentos marinhos (…) que, durante o Calcolítico, se
estendia um braço de mar até à actual aldeia de Ribeira de Pedrulhos. No
entanto, ainda é desconhecida a amplitude total deste braço de mar,
principalmente no vale do rio Sizandro. A distância que separava o
Zambujal desta baía era somente de cerca
de 1 Km, mantendo-se assim até à fase 4 da construção. Uma rápida sedimentação,
provocada por uma forte erosão, provocou o desaparecimento gradual deste braço
de mar. Provavelmente, a diminuição da área do povoado, referente à fase 5 da
construção, teve a ver com este fenómeno.”(4).
Os vestígios de fortificações revelam-nos uma das principais
características deste “castro”:
Os “construtores da fortificação desconheciam o método de
travar muros, encostando as novas muralhas contra as anteriores. Do mesmo modo,
eram os muros assentes no solo original, por vezes sobre rocha viva, mas também
em camadas formadas por anteriores derrubes de muros ou mesmo adobe de casas.”
(5).
Quando foi abandonado, por volta de 1700 aC., era um gigantesco e
complexo conjunto, composto por quatro linhas de defesa ( esta quarta linha só
recentemente foi descoberta (6)).
“O núcleo deste conjunto é uma fortificação circular com
aproximadamente 40 metros de diâmetro interior, cujos muros chegam a atingir a
espessura de 15 metros. Aparentemente, o topo destes muros serviria de
plataforma sobre a qual os defensores se moviam livremente, aproveitando as
vantagens da linha defensiva interior.
“Da muralha sobressaem bastiões semi-circulares, pouco distanciados e
cobertos por cúpulas, a cujo interior as plataformas dariam acesso. Supomos que
estas dispunham de seteiras, de modo a ser possível atirar sobre o inimigo de
uma posição perfeitamente protegida. Um corredor, de apenas um metro de
largura, conduz ao núcleo fortificado, atravessando a muralha num ponto em que
esta atinge o 13 metros.
“Para oriente, a uma distância de 8 a 10 metros da fortificação
central, corre uma segunda linha defensiva com uns dois metros de espessura e
reforçada igualmente com bastiões semi-circulares
“A Este, e a cerca de 30 metros da Segunda linha, numa zona mais alta
do terreno, encontra-se a terceira linha defensiva (...)” (7).
Conhecendo-se bem o sistema defensivo do Castro pouco se sabe sobre o
seu povoado, devido à construção do Casal do Zambujal, “que veio a destruir o
espaço interior da fortificação central até à rocha: todas as pedras utilizadas
na construção do casal procedem da fortaleza”(8).
Actualmente já se comprovou a existência de cinco sistemas de
construção:
“Os “sistemas de construção” resultaram de conceitos estratégicos
diferentes (...). Todos os sistemas têm em comum o seguinte: uma cidadela
central (...) que se encontra num esporão rochoso, é rodeado por cinturas
amuralhadas mais ou menos concêntricas e possivelmente abertas para a escarpa
do esporão” (9).
São as seguintes as principais características dessas fases de
ocupação:
Fase de construção 1 – “Defesa em compartimentos (“labirinto). A
fortaleza era dividida em pátios rodeados por muros autonomamente defendidos,
para assim dividir o inimigo em pequenos grupos”;
Fase de construção 2 – “Defesa tipo “Causeweyed Camps”. Este sistema,
completamente diferente do anterior, baseava-se em pátios com seteiras que
defendiam portas do muro em frente, por onde podia passar uma só pessoa de cada
vez”;
Fase de construção 3 – “Defesa com movimento sobre plataformas
elevadas. Caracterizado pelo fecho e enchimento dos pátios anteriores, com
grandes pedras e terra, de forma a constituirem-se plataformas elevadas onde os
defensores se podiam movimentar com facilidade e melhor visualizar os
movimentos do inimigo. Este sistema dava grande mobilidade à defesa, permitindo
acorrer rapidamente onde ela fosse necessária”;
Fase de construção 4 – “Defesa com cobertura de flancos com torres
ocas, elevadas, mas acrescido por torres ocas no exterior dos muros, de forma a
permitir melhor cobertura dos flancos”;
Fase de construção 5 – “Possivelmente
abandonou-se a terceira linha da fortificação. As duas linhas mais interiores
foram de novo reforçadas. Na linha II são visíveis pequenas entradas num nível
mais elevado. Está-se, agora, em plena Idade do Bronze.” (10).
Correspondendo à fase 2, um dos poucos vestígios actualmente visíveis é
o chamado “Barbacã”: “Na campanha de escavações de 1968 foi encontrado um pátio
semi - circular, que continha ainda conservadas algumas paredes até uma altura
de cerca de 4 metros (...). Na época da sua escavação chamou-se ao pátio
“barbacã”. A sua parede a Leste contém aberturas que se interpretaram como uma
pequena porta e seteiras, pois a elas correspondem pequenas portas na Segunda
linha de defesa (...). Estas portas são
tão estreitas que só permitiam a entrada a um agressor de cada vez (...); no
entanto este podia ser alvejado pelas setas dos guerreiros que se encontravam
no interior da barbacã (...).
“Assim, fica claro que não se trata na verdade de uma barbacã, mas sim
de um sistema de defesa do tipo das
construções neolíticas, chamadas “Causewyed Camps” por G. Childe (...)” (11).
Não se prova “ a hipótese de terem sido navegantes do mediterrâneo
Oriental que construiram estas fortificações, com o fim de as usar como
feitorias, para assim dominarem as áreas adjacentes e controlarem as
prospecções, produção e comércio do cobre, assumindo o poder. Também poderia
ter acontecido que relações comerciais marítimas (directas ou indirectas)
fizessem com que uma população indígena iniciasse a extracção do cobre,
acumulando assim uma riqueza, que a
levasse a construir fortificações e a evoluir para novas formas de vida urbana
e social. Ambas as soluções são possíveis, a partir de idênticas fontes tal
como a possibilidade de terem existido outras formas intermediárias, diferentes
de lugar para lugar. Não se podem negar, porém, as inovações que surgem com o
Zambujal e estruturas aparentadas, a par de semelhanças de certos elementos com
outros existentes no mediterrâneo Oriental.”(12).
“A sua localização pode (...) depender de factores antropogeográficas,
mais do que de condições naturais” (13).
Para Sangmeister e para
Schubart, a posição do “Castro” é principalmente estratégica. Existem, contudo,
“num círculo de cerca de 10 Km à volta do local “ onde se situa o Castro
“vários locais que teriam sido igualmente favoráveis, ou até mesmo mais, em
termos estratégicos”, como a área do vale do Sizandro entre Torres Vedras e
Runa, com importantes recursos minerais e elevado potencial agrícola. Nesta
área existem zonas que foram povoadas no tempo do Castro do Zambujal, como o
Castro da Fórnea, o povoado do Penedo e a gruta sepulcral de Cova da Moura,
denotando contudo povoados menos importantes que o Zambujal.
“Há evidência indirecta de que o comércio deve ter sido a fonte de
riqueza óbvia do Zambujal (...)”. Nem “ os recursos locais de minerais, nem o
potencial agrícola dos seus arredores podem ter sido a razão do poder económico
do Zambujal. Há apenas um aspecto do seu meio circundante que é único nesta
parte do Centro da Estremadura: o castro encontrava-se muito perto de um
perfeito porto natural.
“Partindo do principio de que a
proximidade deste porto natural foi o factor macro-ambiental decisivo para a
localização do povoado, os factores micro-ambientais para a sua fixação
específica são mais fáceis de compreender. Há vários contrafortes de montanha
de localização estratégica comparável, ainda mais próximos do antigo estuário,
mas nenhum deles oferece um recurso local de pedra sólida pronta para usar como
matéria prima de construção. As lajes de calcário arenoso, com que o castro foi
construído, surge apenas numa estreita
faixa que se estende desde Torres Vedras, passando pelo Varatojo, até ao
Zambujal, onde se aproxima ao máximo do antigo estuário do Sizandro. Mais
próxima do rio, esta pedra calcária é revestida por uma pedra macia, quase
arenosa, que não é boa para uso em alvenaria. O único outro local de onde as
lajes, para edificar uma fortificação, poderiam ser extraídas junto à foz do
Sizandro, nas arribas da costa.
“Uma localização na própria costa teria tido um grande número de
desvantagens”, de entre elas, a exposição a piratas e inimigos vindos do mar e
razões climatéricas.
Mas a “maior desvantagem de um local na costa actual seria (...) também
antropogeográfica. Um porto é sempre um entreposto entre diferentes tipos de
transporte. Num porto comercial florescente os transportes marítimos devem
estar em conexão com estradas eficientes, que conduzam às áreas de produção ou
consumo das mercadorias embarcadas. Um lugar da costa actual teria sido marginal a qualquer das áreas
descritas anteriormente como favoráveis”(14).
Existem vestígios que comprovam a importância da metalurgia para a
economia do castro. “O cobre deve ter constituído o factor mais importante da
economia deste lugar” .
As casas de planta oval “apresentam um socalco de pedra sobre o qual se
elevava uma cúpula feita de adobe (...). No interior das casas foram
encontradas fogueiras não apenas para cozinhar.”
“São dois os casos em que várias fogueiras se agrupam em círculo, ao
redor de uma estrutura plana, de barro, com os bordos elevados, tendo sido
recolhidas nestas mais de 200 gotas de cobre fundido e, a redor das fogueiras,
minúsculas gotas (tal como as que saltam quando se verte metal fundido) foram
igualmente detectadas” (15).Nessas mesmas fogueiras surgiram também grãos de
trigo carbonizados, o que parece indicar a sua utilização para fins culinários,
pelo que se pode concluir que o cobre era fundido em indústrias caseiras.
“Para todo o período de ocupação do povoado (...) está documentada a
metalurgia por vestígios de instalações destinadas à fundição do cobre” (16).
O cobre era importado, trazido de longe, “pois na zona não há notícia
de jazidas de cobre. Supõe-se que o minério era fundido em pequenas
quantidades, com carvão vegetal, procedendo-se logo à conversão do metal
recém-obtido em barras e outros objectos.
“Há apenas um recurso destes [ minério de cobre] próximo do Zambujal.
Trata-se de uma jazida de malaquite (...) que vêem à superfície próximo de
Matacães, a pouco menos de duas horas a pé do Zambujal, seguindo o vale do
Sizandro. A área é precisamente a Norte da bacia de Runa”, onde existia uma
fonte de sílex. “Não existem ainda indicações de que tenha sido feito qualquer
uso, durante o calcolítico, do minério de cobre de Matacães, mas a sua simples
existência é um factor importante para a compreensão da paleo-economia da área.
“Devido à concentração de diversos minerais de uso potencial, a área à
volta de Runa e Matacães, no vale médio do Sizandro, constituiu uma região
privilegiada no que se refere a recursos abióticos. Não obstante, o Zambujal
como o maior povoado calcolítico nesta região estava situado ainda a uma certa
distância daquela área, num meio que não possuía nenhuns minérios úteis no seu
limite de alcance imediato”(17).
A proximidade de jazidas de cobre do local do castro pode ter sido
importante na determinação da sua localização.
Por outro lado, a utilização de outros recursos minerais, como o sílex,
o basalto e o grés, não teria sido determinante, segundo UERPMANN. Estes
minérios terão sido obtidos a alguma distância do castro:
“A bacia de Runa, que fica a 7 Km. em linha recta, ou a duas horas de
caminho a pé do Zambujal, foi utilizado pelos habitantes do calcólitico como
uma área de recurso. Há apenas um outro recurso de sílex a uma distância mais
próxima do local: os depósitos plistocenicos de praia, os declives a Norte do vale inferior do Sizandro, que contêm
seixos de quartzito de granulação fina, de má qualidade para talhe, mas que
foram usados no Zambujal como percutores (...).
“Entre os minerais mais frequentes usados para o fabrico de
instrumentos no Zambujal, o basalto é o mais acessível, situando-se a uma
distância de cerca de 30 minutos a pé (...) ( surgem em vales tifónicos e
noutros locais a Sul do Sizandro, entre a costa próxima da Praia de Assenta, a
ocidente, e a bacia de Runa a Oriente).
“Os grés do Cretácio Inferior, usados no castro para o fabrico de
algumas mós, poderiam ser quase
considerados “locais”, embora tivessem sido trazidos de uma distância de pelo
menos 3 Km, dos montes a Norte do Sizandro”(18) .
Foram encontrados vários objectos que revelam os contactos comercias do
Castro do Zambujal: objectos em marfim, cuja matéria-prima era importada do
Norte de África; “os cilindros e agulhas de osso poderão ter sido produzidos no povoado, mas apresentam
uma assombrosa semelhança com os correspondentes objectos egípcios e do Mar
Egeu; as vasilhas de pedra calcárea e de alabastro são muito semelhantes às que
se conhecem do Próximo Oriente” ” (19).
Outro “artigo exótico pode ter sido o diorito, utilizado no fabrico de
contas, e as grandes quantidades de rocha anfibolítica importada para o fabrico
de instrumentos”, esta, provavelmente, importada do rio Sado. Também o vinho
pode ter sido importado
Com base no levantamento arqueológico do lugar podemos indicar como
actividades existentes no castro: cerâmica, metalurgia, moagem, tecelagem,
agricultura, criação de gado (vacas, cabras, porcos e ovelhas), comércio, caça,
pesca, actividade militar.
Nas escavações efectuadas foram recolhidos cerca de 160 000 fragmentos
de cerâmica. Existem três grupos
característicos dessa cerâmica : Campaniforme, decoração do tipo “folhas
entalhadas” e “copos cilíndricos” (20).
É “seguramente correcto relacionar as pontas de projéctil com uma
componente militar, nas indústrias de pedra das fortiicações calcolíticas. Isto
terá tido também os seus reflexos no estilo de vida dos habitantes. A ideia de
uma forte componente militar no campo sócio-económico das fortificações
calcolíticas não é nova e é ainda favorecida pelo esforço bem visível
despendido na fortificação dos povoados (...).
“Com base na ausência de instrumentos para a ceifa, devemos assumir que
a maior parte do grão transformado nas mós encontradas no Zambujal, foi obtido
por uma população agrícola que habitava
fora do povoado”(21).
As condições do vale frente ao castro não seriam na época favoráveis à
agricultura, por ser alagadiço. Quanto aos declives acima do Zambujal, embora
não se lhes possa negar “um certo potencial agrícola, a zona, no seu conjunto,
não pode ser considerada excelente para a agricultura”, pelo que “o potencial
agrícola local não pode ter sido muito importante para o desenvolvimento do
povoado”(22).
Quanto à alimentação dos seus habitantes, além da que tinha origem na
agricultura e pecuária, foram encontrados vestígios de que os seus habitantes
se alimentavam igualmente da caça (carne de veado, de auroque, de javali, de
cavalo, de coelho, aves) e também de peixe, moluscos, caracóis e, com menos
frequência, de corço, lebre e baleia.
Com a farinha dos cereais (trigo e cevada), produziam farinha, papas e
pão. Encontraram-se ainda vestígios de favas, sementes de linho, azeitonas e
videiras.
“No que diz respeito ao sector animal da economia de subsistência do
Zambujal, a alta proporção de porcos nos vestígios ósseos encontrados indica um
uso extensivo das florestas de carvalho, que devem ter coberto grandes áreas da
Estremadura, durante o Calcólitico. O mesmo nicho ecológico terá sido utilizado
para a criação de gado bovino, que constituiu o recurso mais importante de carne
no castro”(23) .
Embora menos significativa, a criação de ovelhas e cabras era usada
para obter leite e, no caso das ovelhas, também, provavelmente, para a obtenção
de lã.
“Deve ser dada uma atenção especial ao facto de terem sido encontrados
no Zambujal esqueletos de cavalo” não se sabendo se eram selvagens ou
domésticos.
“No que se refere à localização do Zambujal, o sector animal da sua
economia não foi factor de pressão para a escolha do local.
“O único sector de uma economia de subsistência de base animal, que
depende até certo grau da localização, é a pesca e a recolha de moluscos. A
razoável quantidade de vestígios de animais marinhos encontrados no Zambujal é
surpreendente, num local que fica, pelo menos, a duas horas a pé da costa
actual. Contudo, com um estuário a invadir a zona inferior do Vale do Sizandro
até à área da Ponte do Rol e, talvez mesmo, até à confluência com a Ribeira de
Pedrulhos, o Zambujal torna-se um povoado costeiro. Este facto é de extrema
importância para a ecologia do castro, embora não em termos da sua
subsistência” (24).
Existem vestígios que nos permitem descrever com alguma fidelidade qual
seria o meio ambiente envolvente do castro: “Encontraram-se ossos de pequenos
mamíferos (toupeiras de água, rato cabrera), indicadores de um meio-ambiente
mais húmido do que o de hoje (...).
“Como o indicam determinados ossos de animais selvagens, restos
carbonizados de madeira e cortiça e sementes de plantas, a vegetação que
rodeava o Zambujal devia ser principalmente uma floresta composta por pinheiros
e árvores como o carvalho e o sobreiro, ainda existentes na mata do Convento do
Varatojo. “Restos de madeira de freixos, lodão e , sobretudo, de amieiro e
choupo, indicam a presença destas espécies nas margens dos rios.
“Estas matas abrigavam um grande número de animais para caça, como o
auroque, a corça, o veado e o javali, e ainda animais predadores, como o lince,
o gato bravo, o urso, o lobo, a raposa, a doninha e o texugo.
“Nas escarpas rochosas havia mato rasteiro, como o que ainda existe
hoje nas áreas não cultivadas à volta do
Zambujal, indicado pelos achados de pistácia, espinheiro alvar, Sistus spec.
(provavelmente roselha) e pelos ossos de pequenos pássaros, perdizes, lebres e
coelhos.
“As tetrazes e abetardas habitavam em pradarias ou estepes, sendo ambas
as espécies bons indicadores de que
naquela época já havia grandes planícies de campo aberto nos locais mais
elevados”(25).
Por razões de segurança e preservação do lugar, penas uma pequena parte dessa extensa povoação é visível aos que
queiram visitar o lugar.
Quem quiser aprofundar o conhecimento sobre a importância desse povoado
pode faze-lo, não só consultando alguma da bibliografia aqui referida, como
visitando a excelente exposição que está patente no Museu Municipal Leonel
Trindade até o final do próximo mês de Junho.
BIBLIOGRAFIA
(1)
–
TRAVANCA, Cecília, Reconhecer Leonel Trindade, ed. Cooperativa de Comunicação e
Cultura, T. Vedras, Outubro de 1999;
(2)
– in
SCHUBART, Hermanfrid, e SANGMEISTER, Edward, TRINDADE, Leonel Escavações no
Castro Eneolítico do Zambujal (Torres Vedras – Portugal) 1964, ed. CMTV, T.
Vedras, 1966, pág 3;
(3)
– in SCHUBART,
Hermanfrid, e SANGMEISTER, Edward, Zambujal – povoado fortificado da Idade do Cobre,
ed. CMTV, T. Vedras, 1987;
(4)
–in KUNST, Michael (org. e textos), Zambujal –
Exposição comemorativa dos 20 anos do Instituto Arqueológico Alemão em Portugal
– catálogo da exposição, CMTV, Torres Vedras 1992, pág. 27;
(5)
–in SCHUBART e SANGMEISTER, ob. Cit., (1987);
(6)
–KUNTS,
Michael, “Zambujal (Torres Vedras, Lisboa) – ralatório das escavações de 2001”,
in Revista Portuguesa de Arqueologia, Vol. 10, nº 1, 2007, pp.95-118;
(7)
– in
SCHUBART e SANGMEISTER, ob. Cit, (1987);
(8)
–in
SCHUBART e SANGMEISTER, ob. Cit. (1987);
(9)
– in
KUNST, Michael, As cerâmicas decoradas do Zambujal e o faseamento do
Calcolítico da Estremadura Portuguesa, separata de Estudos Arqueológico de Oeiras, nº 6,
pp.257-286, Ed. C.M. Oeiras, 1996, págs. 257 e 258;
(10)
–in
KUNTS, Michael, ob.cit. (1992), pp. 22 e
23;
(11)
-in
KUNST, ob. Cit. (1992), pág.23;
(12)
– in
pág. 20 de SCHUBART, Hermanfrid, “As
Escavações do Zambujal – Retrospectiva e planificação” in KUNST, Michael
(coord.), Origens, Estruturas e Relações das Culturas Calcolíticas da Península
Ibérica, Actas das I Jornadas Arqueológicas de Torres Vedras, 3-5 Abril 1987,
Trabalhos de Arqueologia 7, IPPAA, Lisboa 1995, pp. 17 –20;
(13)
– in
pág. 51 de UERPMANN. Hans-Peter, “Observações sobre a ecologia e economia do
Castro do Zambujal”, in KUNST, Michael (coord.), Origens, Estruturas e Relações
das Culturas Calcolíticas da Península Ibérica, Actas das I Jornadas
Arqueológicas de Torres Vedras, 3-5 Abril 1987, Trabalhos de Arqueologia 7,
IPPAA, Lisboa 1995, pp. 47-53:
(14)
–in
UERPMANN, Hans-Peter,ob. Cit. (1987),
pp.51-52);
(15)
– in
SCHUBART e SANGMEISTER, ob. Cit., (1987);
(16)
–
in KUNST, ob. Cit. (1996), p.258;
(17)
- in UERPMANN, Hans-Peter, ob. Cit. (1987), p.
48;
(18)
– in
UERPMANN,Hans-Peter, ob. Cit., (1987),
p.47);
(19)
–
in SCHUBART e SANGMEISTER, ob.Cit.
(1987);
(20)
– in
KUNST, Michael, “Cerâmica do Zambujal – Novos resultados para a cronologia da
cerâmica calcolítica”, in KUNST, Michael (coord.), Origens, Estruturas e
Relações das Culturas Calcolíticas da Península Ibérica, Actas das I Jornadas
Arqueológicas de Torres Vedras, 3-5 Abril 1987, Trabalhos de Arqueologia 7,
IPPAA, Lisboa 1995, pp.21-30;
(21)
– in
pág. 41, UERPMANN, Margarethe, “A
indústria da pedra lascada do Zambujal”, in KUNST, Michael (coord.), Origens,
Estruturas e Relações das Culturas Calcolíticas da Península Ibérica, Actas das
I Jornadas Arqueológicas de Torres Vedras, 3-5 Abril 1987, Trabalhos de
Arqueologia 7, IPPAA, Lisboa 1995, pp.37-44;
(22)
– in
UERPMANN, Hans-Peter, ob. Cit., (1987), p.48);
(23)
- in
UERPMANN, Hans-Peter, ob. Cit. (1987), p.50);
(24)
– in
UERPMANN, Hans-Peter, ob. Cit. (1987), p.50):
(25)
– in
KUNST, ob. Cit. (1992), p.25.
Ler Também:
- FERREIRA, Octávio
da Veiga, La culture du vase campaniforme au Portugal, tese de doutoramento apresentada à Faculté des Sciences de l’Université de
Paris, Lisboa 1966.
- GONÇALVES, João
Ludgero Marques, “O Castro da Fórnea (Matacães-Torres Vedras)”, in KUNST,
Michael (coord.), Origens, Estruturas e Relações das Culturas Calcolíticas da
Península Ibérica, Actas das I Jornadas Arqueológicas de Torres Vedras, 3-5
Abril 1987, Trabalhos de Arqueologia 7, IPPAA, Lisboa 1995, pp.123-140.
- HOFFMANN, GERD e
SCHULZ, Horst, “Cambio de situación de la línea costera y estratigrafía del
holoceno en el valle del río Sizandro/Portugal”, in KUNST, Michael (coord.),
Origens, Estruturas e Relações das Culturas Calcolíticas da Península Ibérica,
Actas das I Jornadas Arqueológicas de Torres Vedras, 3-5 Abril 1987, Trabalhos
de Arqueologia 7, IPPAA, Lisboa 1995, pp.45-46.
- JIMÉNEZ GÓMEZ,
María de la Cruz, “Los amuletos en el Eneolítico portugués: Zambujal”, in
KUNST, Michael (coord.), Origens, Estruturas e Relações das Culturas
Calcolíticas da Península Ibérica, Actas das I Jornadas Arqueológicas de Torres
Vedras, 3-5 Abril 1987, Trabalhos de Arqueologia 7, IPPAA, Lisboa 1995,
pp.31-36.
- KUNST, Michael
(coord.), Origens, Estruturas e Relações das Culturas Calcolíticas da Península
Ibérica, Actas das I Jornadas Arqueológicas de Torres Vedras, 3-5 Abril 1987,
Trabalhos de Arqueologia 7, IPPAA, Lisboa 1995.
- KUNST, Michal, und
TRINDADE, Leonel Joaquim, Zur Besiedlungsgeschichte des Sizandrotals, Madid, 1990.
- PAÇO, Afonso do e
TRINDADE, Leonel, Subsídios para uma carta arqueológica do concelho de Torres
Vedras, separata do “Arquivo de Beja”, vol.XX-XXI, 1963-1964, ed. Minerva
Comercial, Beja, 1964.
(um resumo deste texto foi publicado na secção Vedrografias do Jornal Badaladas, na edição de 27 de Janeiro de 2017)
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