sexta-feira, 26 de novembro de 2021

ELITES LOCAIS E COMPORTAMENTOS ELEITORAIS EM T. VEDRAS As eleições de 10 de Julho de 1921 (estudo completo)


Introdução

Pretende-se neste texto analisar o modo como as elites  políticas locais do concelho de Torres Vedras  se posicionaram  perante  o processo eleitoral de 10 de Julho de 1921, bem como o comportamento do eleitorado do mesmo concelho.

Escolhemos este acto eleitoral como modelo de análise por ter decorrido num período de grande agitação política, no qual, pela primeira vez, pareceu que o monopólio democrático ia ficar em perigo[1], e pelo facto  de essas eleições "apresentarem certas particularidades em relação às eleições precedentes (...): realizaram-se sob um governo não democrático” | “Liberal” | "e insuspeito de fazer a “política invisível” do Partido Democrático; (...) foram as primeiras em que tomaram parte listas retintamente monárquicas (...) foram mais mobilizadoras e participantes do que as eleições anteriores(...)” |as de 11 de Maio de 1919| [2].

Além disso, concorreram eleitoralmente, e pela primeira vez, vários partido republicanos recém criados, nomeadamente o Partido Republicano Liberal | “Liberais” | e o Partido Republicano Reconstituinte Nacional | “Reconstituintes“ |, aparentemente em condições de se baterem, de igual para igual, com o Partido Republicano Português | “Democráticos” | .

Excluindo o curto consulado “sidonista”, foram estas as únicas eleições onde os “Democráticos” foram derrotados.

Escolhemos o concelho de Torres Vedras, não só pela facilidade de acesso ao seu arquivo municipal, onde se reúne bastante documentação sobre esse acto eleitoral, um dos mais bem documentados para a região, mas também porque este concelho era a sede do círculo eleitoral nº 31, ao qual pertenciam ainda os concelhos de Cascais, Lourinhã, Mafra, Oeiras e Sintra.

Por outro lado, em termos locais, podemos acrescentar mais um conjunto de razões que reforçam o carácter original desse acto eleitoral :

- a formação, em Torres Vedras, de um “Núcleo Agrícola de Torres Vedras”, apoiando a candidatura de Tiago César Moreira Salles;

- o facto de ter sido o círculo eleitoral de Torres Vedras, bem como o concelho, um dos poucos que a nível nacional deu, nestas eleições, a vitória  ao Partido Democrático.

- o significativo resultado dos monárquicos neste concelho, tendo mesmo  obtido a vitória em três das seis Assembleias eleitorais  de Torres Vedras.

As principais fontes usadas neste estudo foram a imprensa local, existente na Biblioteca Municipal de Torres Vedras (BMTV), e os cadernos e documentos eleitorais dessas eleições, cujos originais se encontram no Arquivo Histórico Municipal da Câmara de Torres Vedras (AHMTV).

Devemos esclarecer que o universo aqui analisado se restringe à área e às assembleias eleitorais do concelho de Torres Vedras, e não à totalidade do círculo eleitoral .

Nas transcrições de artigos e documentos da época conservámos a ortografia original.

O posicionamento político das elites municipais torrienses em 1921

Em Torres Vedras o ano de 1921 iniciou-se politicamente com a eleição, pelo Senado da Câmara, do novo elenco do executivo camarário.

O jornal Ecos de Torres, orgão local dos “Reconstituintes”, deu conta dessa eleição, informando os seus leitores, não só da composição política do novo executivo, mas também da opinião política dos “reconstituintes” locais sobre esse acontecimento: “(...) Ha na Camara Municipal deste concelho indivíduos filiados em três partidos  republicanos” |Democráticos, Liberais e Reconstituintes |”e há-os não filiados. Antes da eleição da actual comissão executiva, houve da parte de alguns elementos de dois desses partidos,” |Democráticos e Liberais | “combinações e entendimentos -digamos sinceramente- pouco morais. Mas também houve, felizmente, quem dentro desses mesmos dois partidos, não aceitasse, terminantemente, certas conclusões a que se queria chegar. Prevaleceu, afinal (...) o bom senso. Foi eleita uma comissão que não descurará os interesses administrativos em beneficio dos políticos. Podemos falar com autoridade, não só por o nosso passado a isso dar jus, como também o caso de na comissão do ano passado termos dois correligionários e, agora, apenas um. (...). O nosso apoio só será retirado e se transformará mesmo em ataque, logo que os políticos de oficio, os obcecados pela politica partidária, consigam eleger uma comissão executiva ou uma Camara, que transforme a sala das sessões da casa do povo torreense num centro politico para agradar a filhos e afilhados. Pode a comissão executiva eleita contar com o nosso mais incondicional apoio(...)[3].

Ficamos assim a saber que o executivo camarário era de coligação. Desse executivo faziam parte 3 “liberais”, que detinham igualmente a presidência, 3  “democráticos” e 1 “reconstituinte”. Contudo, ainda antes das eleições de Julho, esta distribuição foi alterada devido ao facto de um dos elementos escolhidos para representar os “democráticos” ter aderido ao partido “reconstituinte”, sem ter abandonado aquele executivo. Deste modo os “democráticos” perderam muita da  influencia que ainda lhes restava  no executivo municipal.

O Senado de Torres Vedras, em funções em 1921, e que era o orgão responsável pela confirmação anual do executivo camarário, tinha sido formado de acordo com os resultados das eleições administrativas de 1919. Nesta data, as várias facções republicanas encontravam-se unidas pela resistência à “Monarquia do Norte” e, pelo menos em Torres Vedras, um acordo pré-eleitoral tinha dado a maioria do Senado aos “democráticos” e a minoria aos “evolucionistas”, ficando estes últimos com a presidência do executivo, também maioritariamente “democrático”. Contudo, nos anos seguintes assiste-se a uma mudança radical do espectro partidário republicano, com a formação do Partido Liberal, que resultou da fusão de “unionistas” e “evolucionistas”, e com a formação do Partido Reconstituinte, que resultou de uma cisão nos Partido Democrático. Esta situação provocou grandes alterações na distribuição  política do Senado de Torres Vedras, em prejuízo do domínio até então mantido pelo Partido Democrático: todos os eleitos nas listas “evolucionistas” passaram a representar os “liberais”, enquanto, por sua vez, vários dos eleitos nas listas “democráticas”, aderiram ao Partido Reconstituinte.

Se aparentemente os “liberais” dominavam o executivo, eram, contudo, alvo de fortes ataques oriundos do interior do seu próprio partido. Logo em 16 de Janeiro o jornal O Torreense, orgão local do Partido Liberal, respondendo ao artigo do Ecos de Torres acima transcrito, esclarecia que na “Comissão executiva da Camara Municipal acham-se, na verdade, cidadãos filiados no Partido Republicano Liberal. Este facto, porem, não quer dizer que o aludido Partido esteja representado na referida Comissão executiva.(...). Filiação partidaria, implica disciplina; por isso, a Comissão Municipal politica do Partido Republicano Liberal deste concelho, indicou aos seus correligionários que teem assento na Camara, qual a conduta e atitude que deviam assumir. Fez-se a eleição e o seu resultado não foi de molde a garantir ao Partido Republicano Liberal, a certeza de que a administração do Município será norteada pelas normas e preceitos que reputa mais convincentes. O resultado da eleição não nos surpreendeu; estava previsto. Nestas condições, os republicanos liberais deveriam ter renunciado aos cargos para que foram eleitos, conforme resolução unanime da Comissão Municipal Politica do seu partido, que previamente lhe foi comunicada antes da eleição.(...) Resumindo: da Comissão Executiva da Camara fazem parte individuos filiados no P.R.L. mas estes não teem o apoio do Partido em que teem militado, por haverem desobedecido a instruções  dos seus dirigentes as quais visavam a bem servir os interesses do Municipio[4].

Estas divergências, no seio dos liberais locais, só foram sanadas numa reunião da Comissão Municipal Política desse partido, realizada em Março, onde se resolveu “dar o incidente por liquidado com honra para ambas as partes[5].

Contudo, foram constantes as picardias entre os dois orgãos de informação de Torres Vedras, bem como a diferença de atitudes face à acção camarária. Um dos casos mais significativos teve origem  na reacção ao imposto Ad Valorem, que provocou uma enérgica tomada de posição por parte da localmente poderosa Associação Comercial de Torres Vedras. Um manifesto, dirigido pela direcção dessa associação ao executivo municipal, mereceu publicação integral, em  toda a largura da primeira página d' O Torreense  de 23 de Janeiro e no qual se podia ler  que o “imposto ad valorem lançado sobre todas as mercadorias exportadas e reexportadas pela Vila de Torres Vedras, encerrando-nos dentro da divisão administrativa do concelho por meio de barreiras fiscais, limitando as nossas relações economicas sómente á pequena população concelhia, tornará em breve os nossos balcões desertos e os armazens vazios, e então é que V.Ex.as “ |membros do executivo camarário | “poderão contemplar a tristeza de morte medieval, apagado que seja de todo o sol da liberdade comercial e industrial[6].

Quatro dias depois, na sua edição de 27 de Janeiro, o Ecos de Torres vinha em socorro do município: ”(...)A Camara Municipal de Torres Vedras  tem  necessidade  absoluta de vêr as suas receitas  aumentadas  e, como para o conseguir a única maneira legal que tinha era pôr em execução este imposto, fê-lo(...)não para perseguir uma classe, não por caturrice, mas unica e simplesmente por que não tinha outra maneira de conseguir equilibrar o orçamento.(...). Diz a Associação Comercial que o imposto deveria recair simplesmente nos generos produzidos neste concelho(...). Se se colectasse simplesmente os  generos aqui produzidos, que é, por assim dizer, unicamente o vinho, teria que cobrar maior percentagem do que actualmente se cobra, 1%. Este imposto arrancado apenas dum produto, era alem de violento, por que atingiria apenas uma classe, poderia levantar grande celeuma entre essa classe, a mais sacrificada, em todos os tempos, com impostos, e então viriam eles, e com razão, á Camara Municipal perguntar se os vinicultores eram os unicos que disfrutavam das regalias proporcionadas pelo municipio(...)[7].

Este teme foi um dos principais no debate político local desse ano, tanto mais que aquela Associação Comercial era presidida por um monárquico, ex-líder dos “franquistas” locais, vice-presidente da câmara durante a ditadura de João Franco. Em defesa do município e contra aquela Associação, o Ecos de Torres voltou à carga num artigo publicado em Março : “o sr. Alvaro Galrão" | monárquico | "que é inimigo figadal da Republica e que não vê com bons olhos os melhoramentos que a Camara pretende realisar, em vez de -como presidente da Associação Comercial- agradecer à Camara a boa vontade com que salvaguardou os interesses do comercio que sua ex.ª representa, arrancou a mascara e mostrou a face do político que não cede em campo nenhum e que se aproveita de tudo para fazer o seu jogo. Como representantes da Associação Comercial recorreram para a auditoria administrativa os srs. Alvaro Galrão,  João Crisostomo da Costa” | Liberal | “ e Florencio Augusto das Chagas” [Republicano histórico, à data sem filiação conhecida]”contra a deliberação da Camara Municipal(...). Por politica, sim. Como defensores  do comercio, nunca  (...)[8] .

Uma outra situação, ocorrida com frequência ao longo desse ano, permite vislumbrar as clivagens políticas locais: a tomada de posse dos Administradores do Concelho. Fernando Farelo Lopes refere que “os administradores do concelho, escolhidos pelos governadores civis, são agentes de política partidária[9], daí a importância política que a sua nomeação assumia. Entre o início de 1921 e as eleições de Julho desse ano, Torres Vedras conheceu 4 administradores do concelho, reflectindo a instabilidade política desse período

Já com as eleições marcadas, foi nomeado um novo administrador do concelho, acto que desagradou aos “reconstituintes” torrienses, como se comprova pela leitura do artigo que o Ecos de Torres dedicou ao assunto:

"Acaba de chegar a Torres  Vedras e tomar posse da administração do concelho, o sr. Damião Sant'Ana. A politica tem destas surpresas. Toda a opinião republicana e até mesmo todo o concelho esperava com o maior agrado a nomeação  do  presidente  da comissão executiva," |da Câmara de T.Vedras| " sr. major Almeida Baltazar, para administrador do concelho. Era filiado antigo do ex-partido evolucionista e faz parte do partido liberal, desde a organização deste partido. Porém, como é um homem de caracter e se não curva submisso perante o chefe-mor" |Alberto Vieira da Mota, contador da comarca de Alenquer, director do jornal "O Torreense" | "-vergonha do partido liberal em Torres Vedras-, levou mais um pontapé na boca do estomago. Porque-tenham os liberais paciencia de ouvir estas verdades- a organização liberal aqui só existe para engrandecimento estomacal do chefe-mór, sem vergonha.(...). Agora mesmo já depois de feita esta local, ouvimos da boca de um liberal categorisado a afirmação de que o administrador do concelho que acaba de tomar  posse,  vem unicamente para fazer  as  eleições(..)".E rematava o mesmo articulista, em tom irónico: "À posse do novo administrador, que foi concorridissíma, apenas assistiram os  srs. Manuel Coelho Claudio Graça, Alberto Vieira da Mota, João Alves, da Ribaldeira, e Candido Leitão[10].

Na obra citada de Fernando Farelo Lopes podemos encontrar alguma explicação para esta agitação à volta de novas nomeações administrativas e das  divergências que aparentemente pareciam dividir os liberais sobre este assunto:"(...) a interrupção do exercício do poder pelos democráticos, em Maio de 1921, deu azo a mexidas nos cargos administrativos, se bem que a distribuição dos magistrados gerasse conflitos e dissidências entre as várias facções do novo Partido Liberal[11].

De facto, o governo presidido por Bernardino Machado, e constituído por ministros "democráticos", "reconstituintes", "populares" e independentes, que havia tomado posse a 2 de Março de 1921, foi substituído, a 23 de Maio desse ano, pelo governo "liberal" presidido por Barros Queirós, em funções quando das eleições de Julho. Aquele mesmo autor confirma também uma das preocupações do articulista do "Ecos de Torres"  referindo que eram os administradores do concelho “quem mais influía na preparação das eleições[12] .

Apesar do mesmo autor referir que os "democráticos acabaram por condescender com a substituição de alguns governadores civis, mas apenas a oito dias do acto eleitoral e sob condição de os administradores de concelho permanecerem intocáveis[13], esta situação não ocorreu em Torres Vedras.

A Vida Partidária Torriense em 1921

Podemos constatar que os grandes debates, a nível da política  local, passavam pelas páginas dos jornais Ecos de Torres e O Torreense, ambos comprometidos politicamente, o primeiro com os "reconstituintes" e o segundo com os "liberais", dois partidos  recém- chegados ao espectro partidário do regime republicano.

O Partido Republicano Reconstituinte Nacional era dirigido por Álvaro de Castro, dissidente do Partido Democrático, de onde saiu a maior parte dos seus mentores, tendo-se formado em 1920. Em termos locais os “reconstituintes”  receberam  adesões de vários  ex-militantes do Partido Democrático, a mais importante das quais foi a de Artur Gouveia de Almeida, vereador da câmara, que transformou a representação reconstituinte nesta, de minoritária em idêntica à dos "democráticos"(dois representantes cada).

Por sua vez, o Partido Republicano Liberal formou-se em 1919, tendo por base uma “coalizão de evolucionistas, centristas, unionistas, independentes e presidencialistas, que esperavam formar um segundo partido capaz de se opor  ao P.R.P[14] .

Eram evidentes as grandes divergências que existiam entre os seus partidários a nível local, a mais grave das quais se relacionou com o posicionamento face à acção do executivo. Este, apesar de ter na presidência um "liberal" e de ser  maioritariamente dominado por este partido, principalmente a partir do momento em que um dos vereadores eleitos pelos "democráticos" aderiu aos "reconstituintes", encontrava  mais facilmente  defensores  da sua acção na  imprensa "reconstituinte" do que na "liberal".

Por sua vez os "democráticos"  encontravam-se em acentuada perda de influência a nível local, sem um orgão de imprensa que em Torres Vedras defendesse a sua acção e em acentuada perda de influência a nível do poder executivo, mercê de crescentes dissidências a favor dos "reconstituintes".

Apesar de tudo, tal situação era mais aparente que real, como se veio a comprovar pelos seus resultados nas eleições de Julho.

No outro extremo, os monárquicos, sem imprensa afecta em T.Vedras e afastados do poder político, recuperavam algum poder  de iniciativa, participando activamente na Associação Comercial de Torres Vedras e na crescente organização dos  interesses  corporativos dos agricultores da região, beneficiando da crescente tendência conservadora de alguns sectores republicanos.

Representando os interesses dos agricultores da região, surgiu, a 8 de Janeiro de 1921, o jornal Federação Agrícola, orgão da Federação de Sindicatos Agrícolas do Centro de Portugal e que veio substituir na imprensa o antigo Vinha de Torres Vedras . O jornal era impresso numa tipografia de T.Vedras . A administração tinha por sede o Sindicato Agrícola de Torres Vedras, mas a sua redacção funcionava em Lisboa, no Largo do Carmo, onde estava a sede da Federação de Sindicatos Agrícolas do Centro de Portugal. Oliveira Marques refere que os chamados sindicatos agrícolas funcionaram nos anos vinte como organismos de protecção e defesa dos proprietários  rurais, sendo as federações de sindicatos agrícolas  controladas pelos grandes proprietários[15] .

Procurando adoptar uma postura independente do poder político, foram pouco frequentes as intervenções do jornal Federação Agrícola nos debates políticos locais acima analisados. As suas intervenções, a  nível dos assuntos locais, visavam defender  os  interesses agrícolas da região, como o foi, por exemplo, a proposta feita por um dos seus  colaboradores mais frequentes, Tiago Sales, para a criação de Adegas Regionais.

Tiago Sales era  um médico da Lourinhã, importante proprietário agrícola da região, republicano de primeira hora, mas, com o tempo, assumindo uma postura cada vez mais conservadora, não desdenhando colaborar com monárquicos no seio da Federação dos Sindicatos Agrícolas do Centro, à qual presidia..

Aparentemente à volta deste jornal reuniam-se "meros" interesses corporativos, alheados da vida política local. Contudo, e como veremos mais à frente, quando chegou a "hora da verdade", a das opções políticas, como aconteceu nas eleições de Julho, este jornal fez-se porta-voz de uma candidatura dita "agrícola", apoiada pelo "Núcleo Agrícola de Torres Vedras", onde se acoitavam muitos monárquicos e  "sidonistas", e que apoiou a candidatura de Tiago Sales.

As eleições de 1921 e a luta política local

Em resultado da instabilidade política que se seguiu à queda do governo de Bernardino Machado, em 21 de Maio, e após nomear  o liberal Tomé de Barros Queirós, o Presidente da República, António José de Almeida, dissolveu o parlamento  eleito em 1919, por decreto de 1 de Junho de 1921, usando pela primeira vez os poderes de dissolução que lhe tinham sido conferido pela revisão constitucional de  1919, e convocou eleições para 10 de Julho.

Os políticos locais começaram desde logo a preparar a organização e o apoio às listas, tanto mais que Torres Vedras era o centro de um círculo eleitoral que elegia 3 deputados.

Através da imprensa local, já referida, é possível seguir as movimentações políticas locais, embora com a lacuna, já apontada, de desconhecermos quase completamente o que se passou no seio de "democráticos" e " monárquicos", bem como o tipo de apoios que dispuseram, a não ser através de dados vagos e parciais. Os  “democráticos” apenas fizeram editar um efémero jornal de 2 páginas, intitulados O Democrático , do qual se publicou apenas um número, em 9 de Julho, véspera do acto eleitoral.

 Assim só nos será possível seguir, com algum detalhe, a actividade eleitoral de "reconstituintes", "liberais" e "regionalistas".

Logo a 9 de junho o Ecos de Torres anunciava o candidato reconstituinte pelo circulo de Torres Vedras, Prestes Salgueiro, “(...),o republicano valoroso que, junto com o comandante Cerqueira, tomou de assalto o forte de Monsanto (...), notabilisou-se, ainda, como governador civil de Lisboa, após a aventura realista, conseguindo exercer esse cargo a contento de todos os republicanos(...)[16].

Estranhamente, em 5 de Julho, o mesmo jornal anunciava outro candidato pelos reconstituintes ao circulo de T. Vedras, o tenente-coronel Helder Armando dos Santos Ribeiro: ”distinto oficial já desempenhou o alto cargo de Ministro da Guerra por cinco vezes, foi chefe do estado maior duma divisão do C.E.P[17]. Esta inesperada alteração do nome do candidato, parecendo revelar alguma precipitação e desorganização por parte dos "reconstituintes" locais, era anunciada na mesma página onde, num artigo intitulado "Serenidade", estes se gabavam de "no meio de toda a barafunda politica que as eleições tem agitado”, notar-se “uma profunda serenidade nos arraiais reconstituinte".

Em vésperas do acto eleitoral, publicava aquele periódico o programa local dirigido aos eleitores do concelho de Torres Vedras:"(...)muito fizemos já em prol da nossa terra. É aos Reconstituintes de Torres Vedras que se deve a fundação da Escola Secundária. Por nossa iniciativa foi ao  hospital desta vila concedido um subsidio de trez mil escudos anuais. É aos reconstituintes de Torres Vedras que se deve ainda o subsidio de cinco mil escudos concedidos para a reparação da rua da Corredoura e muito mais que é ocioso referir. Incansaveis temos sido e incansaveis seremos em tudo o que constitui um melhoramento do nosso concelho.(...)"[18].

Uma outra candidatura a este círculo era dada como provável no jornal Federação Agrícola de 11 de Junho de 1921 e confirmada numa edição especial desse jornal datada de 16 do mesmo mês: a candidatura do Dr. Tiago Cezar Sales, como representante da agricultura e proposto pelo "Núcleo Agrícola de Tores Vedras". Esta organização havia sido fundada em Torres Vedras um ano antes, em 11 de Agosto de 1920, definindo-se como um agrupamento sem caracter político e tendo por objectivo a defesa "da agricultura em geral e dos interesses do concelho de Torres Vedras em particular", tendo já nessa reunião decidido dar "o seu apoio se assim o entender, a qualquer grupo ou partido constituido da Republica"[19].

Os apoiantes de Tiago Sales reivindicavam os louros de terem fundado um Sindicato Agrícola em Torres Vedras "e a seguir uma Caixa de Credito Agricola Mutuo, em terem promovido a fundação da Federação de Sindicatos Agricolas do Centro de Portugal, em terem creado a Adega Regional, de Torres Vedras, em terem trabalhado para as Cooperativas de Consumo junto dos Sindicatos Agricolas, em terem organisado o Nucleo Agricola de Torres Vedras, destinado  á defeza, no campo legal, de todos os interesses que se relacionem com o progresso e levantamento economico da lavoura(...)"[20].

Entre os apoiantes desse núcleo encontramos vários indivíduos que tinham sido nomeados como representantes da autoridade para as assembleias eleitorais do concelho de Torres Vedras nas eleições "sidonistas" de 28 de Abril de 1918 [21], alguns destes, bem como outros elementos daquele núcleo, conotados com o ideal monárquico. O próprio Tiago Sales foi abordado pelos monárquicos do círculo de Torres que procuraram negociar o apoio à sua candidatura, como ele próprio revelou nas páginas do Federação Agrícola, num texto bem elucidativa do modo como os políticos de então se movimentavam nos bastidores:

"(...) procuraram-me na Federação(...) o sr. dr. Alvaro de Vasconcelos que se fez acompanhar do sr. Augusto Pinheiro, cabecilha monarquico do concelho de Torres Vedras. O sr. dr. Alvaro desejou saber a minha opinião sobre uma lista em que entrasse eu e ele, podendo(...) fazer-se um acordo com o governo pelo qual seriam possiveis varios desdobramentos, de modo a resultar a eleição de nós dois e um governamental(...)Respondi que teria pessoalmente, muito prazer em vel-o eleito, mas que me estava vedado o entrar nesse sentido em qualquer combinação que só podia ser feita com os nucleos agrarios que lançaram a minha candidatura(...). O sr. dr. Alvaro de Vasconcelos dirige-me então frases de agradavel critica ao meu modesto trabalho, acrescentando que não hesitaria em associar-se á responsabilidade dos que promoveram a minha candidatura que considerava absolutamente justificada. Disseram-me depois que s. ex. tinha extranhado"(sic)" a minha atitude, apezar de ser a unica que podia ter, e nesse sentido, se manifestou a alguns amigos. Como é genro de um dos maiores influentes eleitorais de Sintra, fiquei logo supondo que de Sintra não obteria um voto a candidatura agricola a não | ser | que acordasse na candidatura do dr. Alvaro. Esta suposição foi inteiramente confirmada, mais tarde, pelo sogro do mesmo senhor, José Antunes, perante uma comissão de agrarios de Torres Vedras que o procurou em Lisboa para averiguar das suas intenções.(...). Surge a candidatura monarquica e, passados poucos dias, os dirigentes monarquicos de Torres propoem ao Nucleo Agrario um acordo oficial eleitoral, monarquico-agrario. Ouvido sobre o caso fui absolutamente de acordo  com o criterio do Nucleo, acrescentando que preferia ficar de fora do parlamento a entrar nele, por auxilio, oficialmente definido, de qualquer partido, e, muito menos, dum partido adverso ao regime. Não podia ou devia aceitar tal coisa quer como presidente da Federação quer como republicano de sempre, embora respeitador de todas as ideias e de todas as crenças.(...). Fui em seguida, informado, que os monarquicos dirigentes de Torres Vedras não se esforçariam por minha eleição, mas que não contrariariam niguem, dando a todos os seus eleitores liberdade de acção, de modo a votarem em mim os que assim quiséssem proceder.(...). Todavia, passa-se o dia da eleição, quando recebo do Sindicato Agricola o seguinte telegrama: "Eleitos circulo maioria democraticos , minoria governo, segue votado Sales  cujo nome aqui  cortado  carga  serrada todo concelho por monarquicos". São estes quasi todos agricultores e alguns, dos mais importantes entre eles, faziam parte do nucleo agricola: Todavia quizéram fazer prevalecer o seu espirito político, faccioso e apaixonado, ferindo pelas costas, e á ultima hora, a causa da candidatura agricola num concelho carateristicamente agricola e contra a opinião da grande maioria dos seus habitantes. Nem mesmo exitaram"( sic ) " em desrespeitar todas  as  pessoas de alta categoria, umas independentes, e outras, inclusivamente monarquicas, que, patrioticamente, leais  à causa agricola, patrocinavam com o maior entusiasmo e a melhor sinceridade a candidatura agraria(...)"[22] .

Os monárquicos não foram os únicos a recear a influência eleitoral do "Núcleo Agrícola". Também os  "reconstituintes" procuraram cativar o potencial eleitorado do "Núcleo", como se pode interpretar do conteúdo do texto publicado a 16 de Junho, nas páginas do Ecos de Torres, significativamente intitulado "Reconstituintes e Agrários": "Com a mais desagradavel surpreza ouvimos da boca de alguem que muita consideração nos merece,(...) que dos filiados no Partido Reconstituinte em Torres Vedras muito desejariam hostilisar o Nucleo Agrario(...). Temos assistido a todas as reuniões do Partido Reconstituinte em Torres Vedras, desde a subida ao Poder do governo liberal, e jamais ouvimos que nessas reuniões qualquer palavra fosse pronunciada contra o referido Nucleo, sendo até certo que por ele se manifestou sempre a maior simpatia e até o maior desejo de lhe ser prestavel. É alem disso o regionalismo que esse grupo pretende efectivar, uma formula politica que ardentemente defendemos e que existe expressamente no programa do Partido Republicano de Reconstituição Nacional. De harmonia com esta doutrina, oficial e particularmente, afirmámos aos Senhores Agrarios a quem temos tido a honra de nos dirigirmos, em nome do Partido a que pertencemos, que muito desejariamos trabalhar conjuntamente, não apenas no que diga respeito a eleições, mas muito principalmente na futura politica local, para nós a mais importante e á qual tem o Partido reconstituinte dedicado em Torres Vedras o melhor dos seus esforços(...)"[23] .

Os "liberais" foram os únicos que concorrerem  à "maioria" do círculo, em plano de igualdade com os "democráticos", com dois candidatos a deputado, Constancio d'Oliveira, "Chefe da repartição da contabilidade da Câmara Municipal de Lisboa e antigo Deputado e Senador", e Alfredo Soares, "Sub-Director da Casa Pia de Lisboa e antigo Deputado"[24].

Definindo-se como corrente agregadora "de varias  correntes  conservadoras  da  República"[25], o principal argumento usado localmente pelos liberais a favor dos seus candidatos era o da estabilidade governativa: "Estamos a oito dias do momento em que o País tem que escolher entre o avançar, progredir, desenvolver-se a dentro da ordem ou retrogradar, e cair para nunca mais se levantar no meio da desordem. Votar no Govêrno é concorrer para que o País se erga da lama para que o arremessaram os politícos sem escrúpulos, cheios de vaidade e ambições, sem ideias nem crenças, vivendo nos partidos que infelizmente os toleram e protegem, enquanto pódem conseguir os seus fins, ou afastando-se dêles, agrupando-se em volta de novos sóis nascentes que os aquecem com o calôr dos seus favores, ou então servindo-se de mil e um pretextos, sem filiação política, procurando conseguir uma preponderância tal que lhes garanta uma força eleitoral que os leve ao Parlamento, e nada mais levando na sua bagagem que os recomende(...)"[26].

Ainda na mesma edição d' O Torreense anunciava-se uma medida nitidamente eleitoralista, com vista a cativar os eleitores de Torres Vedras: "Acedendo ao pedido que para tal fim lhe foi dirigido pela Comissão do P.R.L. deste concelho por intermedio dos candidatos a deputados liberais por este circulo, srs. Constancio de Oliveira e Alfredo Soares, o ilustre Ministro da Instrução Publica, sr. Ginestal Machado, acaba de conceder um subsidio de 6:000$00 para conclusão das obras do edifício destinado às escolas primarias oficiais desta vila. Vai, pois, ser satisfeita uma legitima aspiração de todas as pessoas desta vila, que verdadeiramente se interessam pela causa de instrução. Por seu turno, os republicanos liberais, deste modo mais uma vez, mostram que acima da politica de regedoria, colocam os interesses gerais do concelho."[27].

Esta situação parece comprovar a ascendência do patrocinato político-administrativo que se desenvolveu com o advento da República e a consequente perda de influência do caciquismo clerical, referido por Fernando Farelo Lopes: "A relevância dos empregos e "melhoramentos materiais" mostra que os recursos do Estado constituíam o principal nutriente do caciquismo. Esta conexão traduz o peso estratégico e a ascendência do "caciquismo do Terreiro do Paço"(também designado por "burocrático" e administrativo) sobre as restantes fontes de patrocinato político"[28].

Ia também nesse sentido a propaganda “democrática”, ao indicar como principal razão para os eleitores do concelho de T. Vedras votarem num dos seus candidatos à maioria, Anibal Lúcio de Azevedo, o facto de este ter conseguido “com o seu esforço” vários benefícios  para este concelho, “tais como: ao Asilo de S. José, 2:000 escudos em dinheiro, e assucar, arroz, etc., 5:000 escudos para a estrada da Freiria, diversas verbas para as estradas distritais do concelho, para o Hospital de Torres, etc., etc.[29] .

A acção atribuída àquele candidato esteve mesmo na origem de um dos seus apoios locais mais badalados, o do cónego António Francisco da Silva, administrador do referido asilo de S. José, antigo líder local do  Partido Regenerador, ex-presidente camarário nos tempos da monarquia deposto pela ditadura de João Franco e um dos poucos párocos locais que nunca hostilizou o regime republicano.

Tal como os “liberais”, os “democráticos” concorreram à “maioria” do círculo, apresentando como segundo candidato, Fausto Cardoso Figueiredo.

Nas duas páginas da edição do número único de “O Democrata”, “orgão” local “do Partido Republicano Portuguez” , a única força política abertamente criticada, de entre todas as adversárias nesse acto eleitoral, foi a “reconstituinte”: “O nucleo [local] que compõe o P.R.R.N. comquanto tenha dentro de si individualidades que não nos deixam duvidas sobre o seu republicanismo, tem tantos outros que carecem de escalpelisação, pois consideramos os republicanos novos para a Republica, da mesma fórma que consideramos os novos ricos para o publico consumidor.” E, sobre os dissidentes do PRP que aderiram a esse novo partido, considerava que “ninguem ignora que todos esses individuos sairam do velho e sempre glorioso  P.R.P., de quem receberam todos os benefícios que materialmente estão usufruindo, cujos beneficios são pagos com uma ingratidão descarada; e dizemos descarada, porque os motivos alegados por esses cavalheiros, são que, o Partido Democratico tem praticado irregularidades que os vexaram. Sairam: abandonaram quem lhes deu vida(...)[30].

A Base Social de Apoio às Várias Candidaturas, no Concelho de T. Vedras

A 16 de Junho, o jornal "Fedração Agrícola" publicou um total de 49 nomes, fundadores do "Nucleo Agricola de Torres Vedras" , potenciais apoiantes da candidatura "agrícola" de Tiago Sales. Datando essa lista de 1920, sabendo-se que muitos deles acabaram por apoiar a candidatura monárquica, apenas tivemos em consideração os 11 membros da Comissão Executiva do Núcleo Agrícola, formada em 1921 para apoiar a candidatura de Tiago Sales..

Por sua vez, o "Ecos de Torres" publicou, ao longo do mês de Junho e no início de Julho, as adesões e apoios à candidatura "reconstituinte", num total de 32 nomes.

Finalmente, a 3 de Julho, publicava "O Torreense" uma lista de 22 cidadãos torrienses  apoiantes dos candidatos "governamentais", aos quais, com base nas fontes abaixo referidas, conseguimos acrescentar mais 11 nomes, perfazendo um total de 33 nomes

Através da publicação dessas listas, das listas de delegados às mesas das assembleias eleitorais das várias candidaturas, existentes no Arquivo Histórico Municipal de Torres Vedras, bem como, no caso do PRP, da comparação entre os candidatos e apoiantes municipais deste partido, que se mantiveram entre as eleições de 1919 e 1923,  e cruzando todos esses dados com os cadernos eleitorais usados em 1921, é possível caracterizar socialmente, no Quadro I,  a base de apoio dos vários partidos e grupos que, neste concelho, concorreram às eleições de 1921.

QUADRO I

Distribuição sócio-profissional dos apoiantes dos várias candidatos  (T.Vedras 1921)                 

 

Democráticos

Reconstituintes

Liberais

Agrários

Monárquicos

TOTAL

 

%

%

%

%

%

%

Proprietários

3

10,7

4

12,5

4

12,1

6

54,5

9

56,2

26

21,7

Act. Agrícola

-

-

-

-

2

6

-

-

1

6,2

3

2,5

Primário

3

10,7

4

12,5

6

18,2

6

54,5

10

62,5

29

24,2

Act. Industrial

6

21,4

-

-

1

3

-

-

-

-

7

5,8

Secundário

6

21,4

0

0

1

3

0

0

0

0

7

5,8

Act. Comercial

5

17,9

8

25

21

63,6

1

9,1

2

12,5

37

30,8

Act. Administr.

4

14,3

18

56,3

4

12,1

1

9,1

2

12,5

29

24,2

Act. Saúde

2

7,1

2

6,3

-

-

3

27,3

1

6,3

8

6,7

Terciário

11

39,3

28

87,5

25

75,8

5

45,5

5

31,3

74

61,7

Desconhecido

8

28,6

-

-

1

3

-

-

1

6,3

10

8,3

TOTAL

28

100

32

100

33

100

11

100

16

100

120

100

Fonte : Imprensa local (BMTV); Cadernos Eleitorais; Listas de delegados das várias candidaturas às mesas da assembleia eleitoral (“Eleições”, Caixa nº10, AHMTV).

Analisando o quadro, são significativas as tendências divergentes das bases de apoio de cada candidatura.

Os proprietários agrícolas  dominavam no "Núcleo Agrícola" e nos monárquicos, não sendo de admirar  a convergência política dessas duas as correntes.

Já entre os "Reconstituintes", embora se registe uma maior diversidade de apoios, é de referir o peso dominante do "funcionalismo".

Entre os  "liberais", a sua base de apoio baseia-se quase exclusivamente nos comerciantes .

A maior heterogeneidade de apoios encontra-se entre os apoiantes das candidaturas “democráticas”, sendo de assinalar o facto de esta ser a única facção política a conseguir um apoio significativo no sector secundário.

Em termos gerais, podemos notar o domínio absoluto de actividades terciárias na vida política local, de entre os quais se destacam os comerciantes e os funcionários da administração.

Esta situação parece confirmar  a observação de José Cutileiro, citada por  Fernando Farelo Lopes, que, analisando a estrutura social de um concelho situado no interior do Baixo Alentejo, considerava "que entre 1910 e 1926 o patrocinato político associado à Regeneração e animado pelos grandes latifundiários", que no caso de Torres Vedras pode ser representado pelos "proprietários agrícolas", "entrou em declínio e foi substituído por um novo tipo de petrocinato em que sobressaíam funcionários públicos, professores primários, lojistas e advogados - gente ligada aos partidos republicanos e que reunia à sua volta uma certa clientela"[31].

Significativo é ainda o facto da reduzida participação política do sector secundário, denotando, provavelmente, a tendência nacional da desconfiança deste sector em relação ao regime republicano e a sua  aproximação aos ideais anarcossindicalistas .

O processo eleitoral  nacional visto pela imprensa local

Outro tema que nos parece interessante abordar é o modo como os órgão de comunicação locais viram o processo eleitoral e a campanha a ele associada.

O porta-voz dos "liberais", O Torreense, analisava do seguinte modo o processo eleitoral em curso: "(...) Por todo o País vai uma azáfama enorme, procurando cada influente político obter para o seu candidato preferido, o maior número de votos possivel. A ninguem deve surpreender que assim suceda, porque o contrário é que seria para estranhar, sabido como é que Portugal é um país de políticos.(...). A pulverização das forças políticas que se está evidenciando na propaganda eleitoral, póde ter como consequência a eleição dum Parlamento com o qual não sejam possiveis governos estáveis, como é mister que existam para uma salutar e profícua acção governativa. Em quási todos os círculos os candidatos pulúlam como cogumélos, significando este facto não um fervoroso desejo de vêr o país bem governado, mas sim a ambição de satisfazer vaidades, pessoais umas, políticas outras(...)"[32].

Por sua vez, o  semanário reconstituinte Ecos de Torres descrevia-o em tom irónico:

"(...)Eleições!Eleições!

"Os caciques -ainda ha disto na Republica - desenvolvem a actividade maxima, prometendo beneses das mil e uma noites. É o momento mais feliz para o influentesinho da aldeia.

Os jornais publicam-lhes os nomes, largamente adjectivados, e as suas casa recebem diariamente as visitas dos politicos mais evidentes da região, com pasmo da visinhança, alarmada com as cornetas dos automoveis e o cheiro a ...carneiro com batatas. Depois das eleições voltarão as aldeias á pacatez habitual, os políticos graúdos a esquecerem-se das suas promessas e os pequenos influentes a sentir a desilusão da sua importancia momentanea"[33].

A história dos automóveis e do carneiros com batatas, parece dirigida aos "democráticos", sendo  de algum modo confirmada pelo correspondente em Torres Vedras do jornal A Pátria que, referindo-se à campanha dos "democráticos" neste concelho, escrevia: "Esperam "|os democráticos| "que lhes seja enviado um automovel de luxo para darem os ultimos retoques nos seus trabalhos eleitorais, cujo exito depende muito deste veloz auxiliar. Deve ser um espectaculo interessante ver alguns deles num belo automovel, tratando de eleições(...)"[34].

Farelo Lopes fala na utilização do automóvel  nas eleições como uma nova forma de  apoio comprado, surgido durante a República, obtido com "a "passeata" de automóvel ou camião: na verdade, é bem possível que a "passeata" atraísse muitos eleitores desejosos de partilhar os progressos da civilização”[35] 

Também o referido "carneiro com batatas" se devia inserir neste tipo de práticas, que muito contribuíram para desacreditar o sistema democrático republicano.

Características do eleitorado do concelho de T.Vedras em 1921

Para a elaboração deste capítulo, baseámo-nos num conjunto de seis cadernos, cada um correspondendo às seis assembleias eleitorais deste concelho, datados de 30 de junho de 1921 e intitulados "Copia do livro do Recenseamento eleitoral deste concelho, relativo ao ano de mil novecentos e vinte, que contem todos os cidadãos recenseados pelas freguesia(...)" |segue-se, para cada assembleia eleitoral o nome das respectivas freguesias que a constituem | "para  servir nas  eleições  de deputados, que nos termos do decreto nº7529 de 1 de Junho findo se devem realisar no dia 10  de Julho proximo(...)Paços do Concelho de Torres Vedras. 30 deJunho de 1921".Segue-se a assinatura dos membros do executivo municipal.

Estes cadernos encontram-se arquivados, conjuntamente com outros cadernos idênticos de outras assembleias eleitorais pertencentes a outros concelhos incluídos no Círculo eleitoral nº31,com sede em Torres Vedras, no Arquivo Municipal de Torres Vedras(A.M.T.V.).

Ao Círculo 31 pertenciam, para além do concelho que lhe servia de sede, os concelhos de Cascais, Lourinhã, Mafra, Oeiras e Sintra.

Contudo no A.M.T.V. só estão completos os cadernos dos concelhos de Torres Vedras e Lourinhã. Faltam os registos de algumas das assembleias eleitorais de Mafra, Sintra e Oeiras, e todos os de Cascais.

Junto a estes documentos encontram-se ainda as actas eleitorais com  os  resultados  apurados  em cada assembleia.

Organizado por freguesias, cada caderno eleitoral regista o nome, a idade, o estado civil, a profissão e a residência de cada eleitor. As descargas registadas nesses cadernos, coincidindo com os votos expressos em cada assembleia, situação que só não sucede num caso, permitem conhecer quem se absteve nas eleições de 1921.

Sobre a organização do recenseamento para estas eleições, refere Farelo Lopes "que as pressões exercidas pelos democráticos forçaram o ministério liberal de Barros Queiroz (...) a adoptar o recenseamento precedente, o qual, por sua vez, se tinha baseado no de 1919, elaborado "a favor" do Partido Democrático na "época de terror após Monsanto"[36], situação que terá contribuído para a fraca maioria obtida pelos liberais nestas eleições e para o facto de terem sido derrotados na capital, tal como aconteceu no círculo de Torres Vedras.

Quando da implantação da República, vigorava, em termos gerais, a lei eleitoral de 28 de Março de 1895 que, "grosso modo", considerava como eleitores os homens, maiores de 21 anos e com 500 réis de "censo".

A República substituiu o voto censitário que, com maiores ou menores alterações, havia vigorado ao longo de todo o período da monarquia constitucional, pelo voto capacitário.

A primeira lei eleitoral republicana, publicada em 14 de Março de 1911,extinguiu o censo mínimo.

Contudo a lei eleitoral mais importante da Iª República, e que no fundamental regeu todos os actos eleitorais deste regime, foi o Código Eleitoral de 3 de Julho de 1913 que retirou capacidade eleitoral a todos os analfabetos. Paradoxalmente, só durante o "sidonismo" é que esta lei foi banida, sendo introduzido o sufrágio universal masculino (Lei de 30 de Março de 1918), mas esta foi uma situação efémera, tal como a ditadura de Sidónio Pais. O decreto de 1 de Março de 1919 reintroduziu no essencial as restrições  do Código de 1913.

Terá residido nesta lei uma das principais causas da deslegitimação do regime republicano, ao reduzir drasticamente o número de eleitores, num país que em 1910 tinha cerca de 75% de analfabetos, a maior parte destes concentrados no meio rural, que nessa época correspondia praticamente a toda a população que vivia fora do centro de Lisboa.

Observando o Quadro II, onde se comparam os dados do recenseamento geral da população de 1920, relativos ao total do concelho de Torres Vedras, (estrutura etária dos homens recenseados e homens com capacidade eleitoral, isto é, com mais de 21 anos e que sabiam ler e escrever),com o número de eleitores recenseados para as eleições de 1921,comprova-se a reduzida participação política imposta pela lei, pois só 23,6% dos adultos estavam em condições de se tornarem eleitores. Contudo, e mesmo assim, só 68,5 dos  que se encontravam  nessas condições  estavam  recenseados.

Neste quadro é ainda possível observar o maior ou menor interesse pela participação política nos diferentes grupos etários:

Parece ser entre os 30 e os 45 anos que se revela maior interesse em aproveitar a capacidade que a lei dá para participar na vida política.

QUADRO II

Relação entre eleitores e recenseáveis (T.Vedras -1920 / 1921)

escalão etário

1 -homens

2 –sabem "ler e escrever"

3 -eleitores

% (de 3 p/2)

20-24

1751

437

131

30

25-29

1633

405

266

65,7

30-34

1500

389

318

81,7

35-39

1269

305

244

80

40-44

1119

263

213

81

45-49

911

237

185

78

50-54

927

202

149

73,8

55-59

719

172

139

80,8

60-64

689

153

102

66,7

65-69

528

101

76

75,2

70-74

339

61

44

72,1

75-79

188

34

28

82,3

80-84

141

18

10

55,6

85-89

49

6

1

16,7

90-94

8

0

0

0

95-99

3

0

0

0

    TOTAL

11774

2783

1906

68,5

Fonte: Censo da População de 1920; Cadernos Eleitorais do círculo eleitoral de T. Vedras de 1921(“Eleições”, Caixa nº10, AHMTV).

No grupo etário entre os 45 e os 60 anos regista-se um ligeiro decréscimo no interesse em participar nos actos eleitorais, descrença que se acentua à medida que se avança na idade, sendo estatisticamente pouco significativa a situação que se observa entre os  75 e os 79 anos.

Por  outro lado, mais significativa parece ser de registar a situação dos grupos etários mais jovens, entre os 20 e os 29 anos. Esta situação pode ser explicada pela falta de actualização dos cadernos eleitorais, bem como pelo facto de poder incluir indivíduos com 20 anos à data da elaboração dos mesmos, logo excluídos do recenseamento.

Parecem  existir  assim três tendências nítidas respeitantes à participação na vida política. Aqueles que iniciaram a sua vida adulta quando se deu a queda da monarquia e a implantação da república denotavam um maior  interesse pela vida  política, recenseando-se  em grande número. Pelo  contrário, os mais velhos, embora em condições recenseáveis, demonstravam, aparentemente, um menor interesse em se recensearem.

Contudo, foi entre os que ainda eram menores quando da implantação do regime republicano que o desinteresse pelo processo eleitoral parece ter sido mais evidente.

É óbvio que este tipo de interpretação é feita com algumas reservas, tendo em conta que nos estamos a referir a menos de 1/4 da população adulta masculina do concelho de T.Vedras.

Continuando a tentativa de caracterizar o eleitorado do concelho de T.Vedras em 1921, no Quadro III vemos a distribuição etária dos recenseados por assembleia eleitoral, tendo destacado ainda a mesma situação relativamente à malha urbana de T.Vedras, cujos eleitores se repartiam por quatro freguesias, todas pertencentes à assembleia eleitoral de Stª Maria. No total do concelho os três grupos etários mais bem  representados eram, por  ordem  de importância, o dos 30-34 anos, 25-29 anos e 35-39 anos, que, na sua totalidade representam mais de 43% de todos os eleitores. Observando essa tendência  por  assembleia  eleitoral, aqueles grupos etários  eram dominantes  em três assembleias: Stª Maria, Turcifal e S.Pedro da Cadeira. Contudo, no Turcifal, a ordem de importância era diferente, dominando o grupo dos 25-29 anos.

QUADRO III

Distribuição  Etária  dos Eleitores Recenseados - Assembleias Eleitorais do Concelho de T.Vedras (1921)

escalão etário

1ª StªMaria

2ª Turcifal

3ª S.P.Cadeira

4ª Ramalhal

5ª D.Portos

6ª Runa

TOTAL

Vila

20-24

57

24

14

9

21

6

131

53

25-29

77

61

26

31

30

41

266

65

30-34

118

51

33

38

39

39

318

106

35-39

76

40

24

42

41

21

244

70

40-44

62

26

20

38

42

25

213

52

45-49

63

21

20

23

35

23

185

53

50-54

44

23

16

22

14

30

149

39

55-59

41

19

16

25

16

22

139

31

60-64

27

14

15

19

8

19

102

22

65-69

18

18

7

11

12

10

76

15

70-74

6

12

8

1

8

9

44

4

75-79

5

2

5

8

3

5

28

3

80-84

1

3

1

1

3

1

10

0

85-89

0

0

0

0

1

0

1

0

TOTAL

595

314

205

268

273

251

1906

513

Fonte:  Cadernos Eleitorais do círculo eleitoral de T. Vedras de 1921 (“Eleições”, Caixa nº10, AHMTV).

Em duas assembleias, Ramalhal e Dois Portos, por sua vez, dominava um eleitorado tendencialmente mais velho, respectivamente o dos 35-39 e o dos 40-44 anos. Por sua vez, na assembleia de Runa, dominava um grupo etário mais jovem, o dos 25-29 anos, e aparecia em terceiro lugar o dos 50-54 anos, revelando uma maior heterogeneidade quanto à distribuição etária dos eleitores.

Passemos agora a observar a distribuição sócio-profissional dos eleitores do concelho, representada no Quadro IV.

Organizámos esse quadro por sectores de actividade e, dentro destes, por actividades sócio-profissionais, indicando o peso percentual de algumas, as mais significativas, em cada assembleia eleitoral, e ainda os totais do concelho e da então vila.

Em termos gerais, 47,8% dos eleitores pertenciam ao sector primário, 25,3% ao secundário e 25,4% ao terciário.

O sector primário apresentava um peso inferior à sua representatividade real, pois o analfabetismo  tinha um peso considerável nesse sector. Contudo, se analisarmos o peso do sector primário ao nível de cada assembleia eleitoral, todas elas apresentam um valor superior aos 60%,atingindo o máximo de 66,7% na assembleia de Dois Portos. Mais reduzido era o peso deste sector na assembleia de Runa, enquanto que na assembleia de Stª Maria era evidente o peso do centro urbano, sendo este sector o menos representado, com 19,3%. Neste sector é ainda evidente o peso dos proprietários agrícolas, sempre em número superior aos "trabalhadores", excluindo o caso da assembleia do Ramalhal. No Turcifal e em Dois Portos os proprietários rurais representam cerca de 1/3 de todo o eleitorado.

Quanto ao sector  secundário, o seu peso rondava 1/5 a 1/4 do eleitorado em todas as assembleias, menos em S.Pedro da Cadeira, onde esse peso era ainda menor, e na freguesia de Stª Maria onde, pelo contrário, o seu peso era  significativo, ultrapassando 1/3 dos eleitores, mercê da influencia urbana de Torres Vedras. O grupo do "vestuário e calçado", dominado

pelos sapateiros, era o que registava  maior peso dentro deste sector, excepto em Stª Maria onde dominavam os  "trabalhos em madeira", subsidiários em parte quer da construção civil, quer da industria de mobiliário ou de manutenção e construção de carroças. A mesma situação registava-se na Assembleia de Runa, aqui igualando em importância o sector da construção civil.

Em relação ao sector terciário, a  média concelhia  deste devia-se quase exclusivamente ao seu extraordinário peso na assembleia de Stª Maria, onde representava a maior parte do

QUADRO IV

Distribuição sócio-profissional dos eleitores do concelho de T. Vedras – 1921

Actividade

Vila

%

St Marª

%

Turcifal

%

S.P.Cad.

%

Ramalhal

%

Dois

Portos

%

Runa

%

Total

%

proprietário

39

7,6

69

11,6

112

36

52

25,3

65

24,3

91

33,3

56

22,3

445

23,3

trabalhador

15

2,9

31

5,2

59

19

44

21,5

70

26,1

78

28,6

45

18

327

17,1

outros

4

0,8

15

2,5

29

9,2

34

16.6

26

9,7

13

4,8

33

13,1

150

7,9

TOTAL (primº)

58

11,3

115

19,3

200

64

130

63,4

161

60,1

182

66,7

134

53,4

912

47,8

industrial

9

1,8

9

1,5

 

 

 

 

 

 

 

 

1

0,4

10

0,5

vestuário.e calç.

47

9,2

50

8,4

22

7

15

7,3

27

10,1

19

7

13

5,2

146

7,7

contrução civil

22

4,3

24

4

9

2,9

4

2

13

4,9

5

1,8

20

8

75

3,9

trab. madeira

64

12,5

68

11,4

16

5,1

11

5,4

7

2,6

19

7

20

8

141

7,4

ferro e metalur.

20

3,9

21

3,5

8

2,5

6

2,9

8

3

6

2,2

7

2,8

56

2,9

outros

27

5,3

29

4,9

11

3,5

3

1,5

4

1,5

6

2,2

2

0,8

55

2,9

TOTAL (secundº)

189

36,8

201

33,8

66

21

39

19

59

22

55

20,1

63

25,1

483

25,3

comerciante

58

11,3

59

9,9

11

3,5

10

4,9

10

3,7

15

5,5

15

6

120

6,3

negociante

10

1,9

10

1,7

2

0,6

1

0,5

 

 

1

0,4

 

 

14

0,7

lojista

20

3,9

24

4

17

5,4

15

7,3

15

5,6

2

0,7

8

3,2

81

4,2

barbeiro

11

2,1

11

1,8

1

0,3

 

 

1

0,4

1

0,4

4

1,6

18

0,9

emp.º comércio

52

10,1

54

9,1

6

1,9

2

0,9

6

2,2

3

1,1

7

2,8

78

4,1

funcionalismo

59

11,5

60

10,1

3

0,9

1

0,5

2

0,7

3

1,1

1

0,4

70

3,7

tranporte e com.

30

5,8

30

5

6

1,9

 

 

3

1,1

2

0,7

2

0,8

43

2,3

outros

25

4,9

25

4,2

2

0,6

7

3,4

5

1,9

7

2,6

15

6

61

3,2

TOTAL (terciárº)

265

51,7

273

45,9

48

15

36

17,6

42

15,7

34

12,5

52

20,7

485

25,4

não identificada

1

1,9

6

1

 

 

 

 

6

2,2

2

0,7

2

0,8

16

0,8

TOTAL

513

100

595

100

314

100

205

100

268

100

273

100

251

100

1906

100

Fonte:  Cadernos Eleitorais do círculo eleitoral de T. Vedras de 1921 (“Eleições”, Caixa nº 10, AHMTV).

eleitorado, 45,9%,enquanto que no centro urbano representava  mais  de 50%. Nas restantes assembleias rondava os 15%, só ultrapassando significativamente estes valores a assembleia de Runa, em grande parte graças ao número de militares recenseados do "Asilo Militar de Runa".

Em termos gerais, eram os  eleitores designados como "comerciantes" que dominavam  este sector, mas era igualmente significativo o número de lojistas das mais variadas modalidades, os empregados do comércio e os funcionários do estado e corpo administrativo. Como era de supor, a maior parte destes últimos concentravam-se no centro urbano, sendo aqui dominantes. Os lojistas  eram dominantes entre eleitores deste sector nas assembleias de S.Pedro da Cadeira, Ramalhal e Turcifal. 

O comportamento eleitoral do concelho de Torres Vedras em 1921

A abstenção

Depois de termos registado algumas das características do eleitorado do concelho de Torres Vedras, passamos a analisar qual foi o seu  comportamento  nas eleições de 1921, começando por observar os índices de abstenção eleitoral..

Segundo Farelo Lopes, as eleições de 1921 "foram mais mobilizadoras e participantes do que as eleições anteriores"[37],tendo-se registado, a nível nacional, uma abstenção de  36,4%.

No concelho de Torres Vedras registou-se uma abstenção de 30%, embora no centro urbano essa percentagem tenha sido superior, 38,2%.

Em quatro das assembleias o nível de abstenção foi inferior, quer à média nacional, quer à média concelhia: Ramalhal-22,7%; Runa-24,3%; Dois Portos-26%; S.Pedro da Cadeira -26,3%.

Nas outras duas assembleias, embora o índice de abstenção tivesse sido inferior à média nacional, ele foi superior à média concelhia: Stª Maria-35,6% e Turcifal-36,3%.

Por  idades, o maior  índice de abstenção registou-se entre os eleitores maiores de 70 anos, ultrapassando os 50% em todos os  grupos etários a partir dessa idade, o que se pode compreender pela idade dos mesmos. Elevados índices de abstenção, em relação à média concelhia, registaram-se ainda nos grupos 55-59 anos, com 36,8%, 30-34, também com 36,8% e 25-29,com 35,7%.

Pelo contrário, o mais baixo índice de abstenção registou-se nos grupos dos 50-54 anos, 24,4%, 20-24 anos,28,7%  e 35-39 anos, com 30,1%.

Em termos gerais, parece-nos que o maior  interesse pelas eleições se encontra no eleitorado com mais de 35 anos e menos de 54, enquanto que entre os pouco jovens que se mostraram interessados em se recensearem, como vimos em capítulo anterior, também se tivesse registado interesse na participação eleitoral.

Analisando a abstenção por sectores de actividade, o  sector  terciário foi aquele que registou um maior índice de abstenção -31,8%-, seguindo-se o primário -29,2%- e o secundário -27,1%. Só o terciário registou um nível de abstenção superior à média concelhia, o que não deixa de ser significativo, tendo em conta que residia neste sector a principal base de apoio do regime republicano.

Observando mais de perto cada sector, e tomando apenas em linha de conta os casos estatisticamente significativos, isto é, pelo menos  1%  ou mas dos casos registados  em relação ao total de eleitores, o que dá um mínimo de 20 casos, é possível detectar  o maior ou menor  interesse de alguns grupos sócio-profissionais pelo acto eleitoral.

No sector primário os fazendeiros e os proprietários agrícolas foram aqueles que registaram um índice de abstenção mais baixo, respectivamente 27% e 28,9%,enquanto que entre os assalariados ("trabalhadores") esse índice foi de 30,9%.

Entre as actividades de tipo secundário, foram as ligadas ao vestuário e calçado, com 21,2%, e à construção civil, com 25,3%, que registaram o menor índice de abstenção, enquanto que nas ligadas à produção alimentar  se registou um valor superior à média do sector, mas inferior à média concelhia -29,1%.  Nas profissões do "trabalho em madeira" e do "trabalho em ferro e metalurgia", registaram-se níveis de abstenção significativamente mais elevados, respectivamente de 31,2% e 32,1%.

Finalmente, se o sector terciário regista um elevado índice de abstenção, o comportamento das actividades que o integram  revela tendências significativamente divergentes. Entre  os  comerciantes, os empregados de comércio e os "lojistas" o índice é baixo, 25,8% nos primeiros, 24,3% nos segundos e 23,5% nos terceiros. Pelo contrário, revela-se tendencialmente mais elevado entre os "funcionários de estado e corpos administrativos" (35,7%) e entre os ligados aos "transportes e comunicações" (46,5%). Não chegando a representar 1% do total de eleitores, mas aproximando-se bastante (0,9%), é  mesmo assim interessante registar que entre os eleitores ligados às forças armadas a abstenção atingiu os 68,8%.

Resultados eleitorais

Tendo observado o comportamento dos eleitores face às eleições através dos níveis de participação, passamos agora a analisar os próprios resultados eleitorais neste concelho.

Já referimos, na introdução deste trabalho, algumas das  características  mais importantes  deste acto eleitoral.

Recordemos que as eleições de 10 de Julho de 1921 se caracterizaram por terem sido as únicas, durante a vigência do regime republicano, excluindo o período "sidonista", em que o Partido Democrático saiu derrotado, fenómeno que se explica, entre outros motivos possíveis, pela situação que caracterizou todos os actos eleitorais da Iº República, a de "o sucesso eleitoral "coincidir  "quase sistematicamente com o exercício do poder"[38] . Daí não ser de estranhar que os "Liberais" tenham ganho as eleições a nível nacional, já que detinham o governo, chefiado por Barros Queirós.

A poucos dias das eleições, o anónimo correspondente em Torres Vedras do jornal A Pátria apontava  aquelas que eram as principais expectativas em relação ao círculo nº31, com sede em T. Vedras, e  que elegia  3  deputados: "democratas, reconstituintes, liberais, agrarios, monarquicos, etc., etc., trabalham activamente para demonstrarem as suas forças nas próximas eleições. Não há centro de cavaco onde não se discutam as probabilidades de serem eleitos uns ou outros candidatos. Ninguém pode contar com a vitória, excepto os agrários que, se os monarquicos lhes não retirarem a colaboração, elegem certamente o seu candidato dr. Tiago Sales. Os democratas, que supõem levar ao parlamento os srs. Anibal Lucio de Azevedo e Fausto de Figueirado não conseguem talvez fazer vingar mais que uma candidatura (...).Os liberais disputam as maiorias tambem, não se sabe com que fundamento. Apresentam os srs.Constancio de Oliveira e Alfredo Soares. Se conseguirem que o primeiro seja eleito andarão com muita sorte, apesar das suas promessas de ...governamentais. Os reconstituintes trabalham com grande entusiasmo a favor da candidatura do sr. Helder Ribeiro, que deve ter uma boa votação neste concelho. Como popular propõe-se o sr.Afonso Macedo, que devido a amizades pessoais, será também muito votado. Os monarquicos -dizem- vão disputar as maiorias, falando-se nos nomes dos srs. Visconde Palma de Almeida, da Lourinhã, e dum filho do sr. conde Tarouca. A confirmar-se este boato veremos o numero de probabilidades a favor dos democráticos"[39] .

Apenas a dois dias do acto eleitoral, o correspondente em Torres Vedras de outro jornal de Lisboa, A Capital, descrevia um panorama um pouco diferente, e que se aproximou mais do que veio a ser o resultado final neste círculo: "Informações chegadas hoje de Torres Vedras dizem que nos ultimos dias se torna bastante confuso o aspecto eleitoral. Parece que o partido liberal, que esperava ganhar a maioria, terá de contentar-se só com um deputado, não se podendo prever se sahirá eleito o sr. Alfredo Soares ou o sr. Constancio de Oliveira, porque em varios concelhos foi introduzido o nome do sr. Tiago Sales na lista do governo, sem que isto obedeça a qualquer combinação. Os democraticos continuam a garantir a victoria da sua lista. Em muitas listas aparece o nome do sr. Afonso Macedo como o do sr. Helder Ribeiro. Noutras o nome do deputado popular figura ao lado do sr. Tiago Sales(...)"[40].

O resultado eleitoral neste círculo confirmou em parte esta notícia, tendo sido eleitos dois candidatos do Partido Democrático, Lucio de Azevedo e Fausto Cardoso de Figueiredo, e um dos "liberais", Constâncio de Oliveira. Este foi dos poucos círculos nacionais onde os democráticos sairam vencedores. O êxito dos democráticos nalguns círculos terá  ficado a dever-se ao facto do governo liberal não ter conseguido "evitar que a máquina eleitoral continuasse em grande medida nas mãos dos seus poderosos adversários [os  democráticos ]"[41].

Os resultados no concelho de Torres Vedras deram igualmente a vitória aos democráticos, mas em terceiro lugar surgia o candidato monárquico  José Maria Teles da Silva, enquanto que o "agrário" Tiago Sales, que muitas esperanças tinha alimentado em relação a estas eleições, principalmente quanto ao apoio deste concelho, se quedava pelo 4º lugar como candidato mais votado. Ainda mais decepcionante foi a prestação eleitoral, neste concelho, de "liberais” e "reconstituintes", como se pode ver pelo Quadro V, com os resultados eleitorais neste concelho e nas respectivas assembleias eleitorais:

Analisando os resultados ao nível das assembleias eleitorais, ressaltam algumas características mais evidentes:

O bom resultado dos monárquicos em todas as assembleias rurais, tendo vencido as eleições em três delas,(Ramalhal, Dois Portos, e Runa) e obtido a segunda posição noutra (S.Pedro da Cadeira).

O seu pior resultado foi obtido na assembleia do Turcifal, onde talvez tenha funcionado o voto útil na candidatura de Tiago Sales e na assembleia "urbana" de Stª Maria.

Aliás, foi o peso eleitoral desta ultima assembleia que deu a vitória concelhia aos "democráticos", pois, se retirarmos os votos obtidos por todas as candidaturas na assembleia de Stº Maria, o candidato monárquico teria ganho neste concelho.

Foi igualmente significativo  que o melhor  resultado conseguido por um  candidato "reconstituinte" (Helder Ribeiro) e um dos dois melhores obtidos  por  um candidato "liberal" (Constâncio de Oliveira), fosse na  assembleia "urbana", onde a influencia da imprensa  partidária, conotada com  esses  dois  partidos, terá  exercido alguma influência.

QUADRO V

Resultado das Eleições de 10 de Julho de  1921 no Concelho de T.Vedras (nº de votos)

Nomes dos candidatos a deputados

filiação partidária

1ª St.ª Maria

2ª Turcifal

3ª S.P. Cadeira

4ª Ramalhal

5ª D .Portos

6ª Runa

total votos

Aníbal Lúcio d'Azevedo

Democrático

166

108

12

67

78

48

479

Fausto Cardoso de Figueiredo

Democrático

156

101

21

58

70

47

453

José Maria Teles da Silva

Monarquico

54

20

47

77

91

83

372

Tiago Cezar Moreira Sales

Regionalista

58

68

63

52

33

33

307

Constancio d'Oliveira

Liberal

90

31

45

42

20

30

258

Helder Armando dos Santos Ribeiro

Reconstituinte

102

37

31

34

12

33

249

Alfredo Soares

Liberal

62

16

21

20

21

17

157

Afonso de Macedo

Popular

16

11

25

0

4

0

56

João de Deus Guimarães

Presidencialista

1

0

1

31

2

5

40

António da Costa Mateus

Independente

2

0

0

0

0

0

2

Afonso Costa

Democrático

0

0

0

0

0

4

4

Fonte: Actas eleitorais das eleições de 10 de Julho de 1921(“Eleições”, Caixa nº 10, AHMTV).

A candidatura "agrária" de Tiago Sales apenas beneficiou de resultados acima das expectativas nas assembleias  do Turcifal e de S.Pedro da Cadeira, as duas únicas freguesias rurais onde os monárquicos não ganharam, o que parece revelar uma dependência dessa candidatura em relação ao comportamento eleitoral dos monárquicos, tendo os seus apoiantes razão em denunciarem a "traição da ultima hora de alguns monarquicos"[42].

Mas o facto mais significativo foi o facto de os "democráticos", apesar  de não beneficiarem neste concelho de uma "boa imprensa", com escassa influência a nível do executivo camarário, e apesar do desgaste da sua base de apoio eleitoral, como se comprova pela forte abstenção no sector terciário, terem  conseguido  ver  os  seus  dois  candidatos serem os mais votados neste concelho, o que em muito contribuiu para a sua vitória no círculo.

 Terão beneficiado de muitos factores que já referimos ao longo deste texto, mas também, provavelmente, do voto útil de outros sectores republicanos, preocupados com a crescente influência dos monárquicos, bem como da pulverização partidária dos republicanos que se pretendiam apresentar como alternativa aos “democráticos”.

A opinião da imprensa local sobre os resultados eleitorais.

Por último, talvez seja interessante registar o modo como a imprensa local reagiu aos resultados eleitorais.

O Federação Agrícola, apoiante de Tiago Sales escrevia que "(...) se o Nucleo Agricola, que foi quem propoz essa candidatura, não viu completar-se o exito dos seus esforços, deve, no estanto, sentir-se orgulhoso pelos resultados obtidos e que provam, ao menos, que nos pontos onde ha organisação agricola, a corrente separatista das influencias politicas partidarias é muito grande e constitui já uma força respeitavel com que todos teem de contar", salientando ainda "a circunstancia de, no concelho de Torres Vedras, o nome do Dr.Tiago Sales ter vencido, por grande maioria, os candidatos governamentais que neste concelho contavam com o seu melhor e mais bem organisado baluarte" e "o acontecimento palpitante do seu nome ter obtido uma estrondosa victoria no concelho da Lourinhã (...). Mas, assim como os povos teem os governos que merecem, assim o circulo de Torres Vedras, que abrange os concelhos da Lourinhã, Torres Vedras, Mafra, Cintra, Oeiras e Cascais e é um circulo essencialmente agricola, tem os deputados que merece(...)."[43] .

Por sua vez , O Torreense, orgão local dos liberais, sem se referir directamente aos resultados eleitorais locais, comentava que "jámais houve em Portugal eleições tão livres, tão honestas, e em que o exercício do direito de voto fôsse mais escrupulosamente assegurado (...). A grande maioria dos candidatos eleitos pertence (...) aos  dois mais fortes partidos organisados  dentro  da República. É um voto significativo do eleitorado, de ilacções faceis e claras (...). A luta foi titânica, gigantesca; mas a vitória coube ás instituições republicanas, a despeito dos esforços empregados pelos monárquicos, que inadvertidamente supunham ser-lhes possivel dar um cheque na República, aproveitando-se, para tanto, da magnanimidade e tolerância do govêrno liberal, a quem estão confiados os sêlos do estado. Em nosso entender, mal avisadamente andaram todos aquêles que, de qualquer modo, concorreram para a pulverização das forças eleitorais, com manifesto prejuízo para o govêrno, o qual, por esse facto, não pôde assegurar-se duma forte e segura maioria parlamentar.(...) É precisamente na ocasião em que está no poder um Govêrno  de indole e processos moderados, e em  que  abundam competências que são seguro penhor duma sã administração, que os conservadores ou moderados, como queiram chamar-lhe, se apresentam a fazer uma dispersão de votos, que outro resultado não teve, nem podia deixar de ter, senão dar força e relêvo aos elementos extremistas, cujos processos de govêrno todos, una voce, vinham estigmatisando. A atitude dos conservadores, ou antes, dos monárquicos que negáram os seus votos aos candidatos governamentais, outra justificação não tem, que não seja o quanto pior, melhor(...)"[44].

Conclusão

Douglas Wheeler considera o ano de 1921 como "um importante ponto de viragem na história do fracasso da democracia em Portugal" durante a primeira república, isto porque tendo as eleições de 10 de julho de 1921 levado ao "aparecimento de um segundo partido, com possibilidades  que lhe permitiam fazer  pressão para reformar e remodelar o P.R.P., foi cortado cerce por uma insurreição militar" que, a 19 de Outubro de 1921, depôs, de forma dramática, o governo de António Granjo, um dos assassinados nessa chamada "noite sangrenta", levando à dissolução do parlamento e à convocação de novas eleições para Janeiro de 1922, nas quais os "Democráticos" recuperaram a sua "usual maioria". "Sem uma outra alternativa além do P.R.P., não podia haver um sistema político equilibrado, razoavelmente estável, em que o poder pudesse mudar de mãos, onde os Governos pudessem entrar e sair em paz, onde se pudessem fazer reformas, com algum significado, da situação social e económica". A partir de então "os resultados das eleições passaram a ter cada vez menos importância como expressão da opinião pública ou como um exercício democrático"[45].

Parece assim evidente a importância do estudo  das movimentações  políticas que estiveram por detrás do acto eleitoral de 10 de julho de 1921.

No caso por nós estudado, apesar de limitado a uma parte dos intervenientes, foi evidente que, apesar de algum desânimo face ao  domínio do P.R.P., se acreditava ainda nas potencialidades do regime, como se revelou, por exemplo, pelo entusiasmo das adesões que, a nível local, marcaram a formação dos partidos "liberal" e "reconstituinte" e pelos vivos debates nos meios de comunicação editados no concelho.

A entrada dos monárquicos no jogo democrático republicano  parecia, por sua vez, evidenciar, por parte destes inimigos   do regime, uma aposta no jogo democrático e uma tentativa de integração num regime que, depois da derrota da "Monarquia do Norte", parecia inquestionável.

Contudo, surgiram também alguns sinais de inquietação para o próprio regime democrático, nomeadamente a crescente influência de algumas forças de tipo corporativo, como o eram o "núcleo agrícola" e a Associação  Comercial, ou  a crescente influencia de ideias de tipo conservador no seio das recém-criadas organizações políticas, nomeadamente no Partido Liberal, bem como num certo discurso "anti-política" evidente nalguns textos dos orgãos de comunicação consultados.

Por último, no que ao próprio resultado eleitoral estudado diz respeito, foi evidente a crescente influencia de tendências anti-republicanas, como  demonstraram  os resultados obtidos pelos  monárquicos e mesmo pelos "agrários", enquanto, por outro lado, se  evidenciou  um certo desinteresse pela participação política democrática, quer por parte dos mais jovens, quer por parte daqueles  que até então constituíam a principal base de apoio do regime.

Esperamos ter conseguido com este trabalho caracterizar, mesmo se limitados pelas fontes consultadas, o modo como as elites políticas locais se posicionaram  em relação aos debates mais marcantes da vida política e o modo como esse posicionamento se acabou por reflectir  no resultado desse  acto eleitoral .

                                                               Venerando António Aspra de Matos (escrito  em 1998)

    

Bibliografia

Fontes Manuscritas

Copia do livro do Recenseamento eleitoral deste concelho, relativo ao ano de mil novecentos e vinte, que contem todos os cidadãos recenseados pelas freguesia(...) para  servir nas  eleições  de deputados,que nos termos do decreto nº7529 de 1 de Junho findo se devem realisar no dia 10  deJulho proximo(...)Paços do Concelho de Torres Vedras.30 deJunho de 1921 .Arquivo Municipal de Torres Vedras,Caixa nº 8 -Eleições.

Representantes da autoridade nas assembleias eleitorais do concelho de Torres Vedras-eleições em 28 de Abril de 1918, Arquivo Municipal de Torres Vedras,Caixa nº7-Eleições.

Fontes Impressas

A Capital, Lisboa, Junho e Julho de 1921.

O Democrata, Torres Vedras (1921)

Ecos de Torres ,Torres Vedras (1921)

Federação  Agrícola ,Torres Vedras(1921)

A Pátria, Lisboa, Junho e Julho de 1921.

O Torreense, Torres Vedras (1921).

Obras de consulta

- BRANDÃO, Fernando de Castro, A I República Portuguesa - uma cronologia., Livros Horizonte,1991

- LOPES,Fernando Farelo Poder Político e Caciquismo na 1ª República Portuguesa,Editorial Estampa,1994.

- MARQUES , A.H. de Oliveira (coordenaação),Portugal da Monarquia para a República ,vol XI da Nova História de Portugal,ed.Presença,1991.

-   WHEELER,Douglas L. História Política de Portugal de 1910 a 1926.Publicações Europa-América,s/d(edição original:1978).



[1] WHEELER, Douglas L., História Política de Portugal de 1910 a 1926, Publicações Europa-América, s/d. (edição original:1978),pág.226.

[2] LOPES, Fernando Farelo, Poder Político e Caciquismo na 1ª República Portuguesa, Editorial Estampa,1994, pp.152-153.

[3] “Um de Torres” ,"Politica Local - O Significado Duma Votação", in  Ecos de Torres, nº123 de 11/1/1921.

[4] "Politica Local - Definindo situações", in O Torreense,nº65 de 16 de Janeiro de 1921.

[5] "Vida Politica", in O Torreense nº73, de13 de Março de 1921.

[6] Contra o Imposto "Ad Valorem" - Representação da Associação Comercial de Torres Vedras", in O Torreense, nº 66 de 23 de Janeiro de 1921.

[7] “Imposto "Ad Valorem”, in  Ecos de Torres, nº125 de 27 de Janeiro de 1921.

[8] “Politica na Associação Comercial", in Ecos de Torres, nº 131, de 17 de Março de 1921,

[9] LOPES, Fernando Farelo, ob.cit. p.102

[10] “Administrador do Concelho", in  Ecos de Torres, nº 144 de 16 de Junho de 1921.

[11] LOPES, Fernando Farelo, ob. cit., pp.106 e 107.

[12] LOPES, Fernando Farelo,ob.cit.,p.107

[13] LOPES, Fernando Farelo,ob. cit., p.107.

[14] WHEELER, Douglas L.,ob.cit.,p.293.

[15] MARQUES, A.H. de Oliveira (coordenação), Portugal da Monarquia para a República, vol. XI da Nova História de Portugal, ed.Presença,1991, p.205

[16] Ecos de Torres, nº143 de 9 de Junho de 1921.

[17] “Eleitores do circulo de Torres Vedras”, in Ecos de Torres, nº146 de 5 de Julho de 1921.

[18] “Palavras Sinceras”, in Ecos de Torres ,nº146,de 5 de Julho de 1921.

[19] “As bases do Núcleo”, in Federação Agrícola, suplemento ao nº23,16 de Junho de 1921.

[20] “Uma Eleição”, in Federação  Agrícola, nº28 de 16 de Julho de 1921

[21] Representantes da autoridade nas assembleias eleitorais do concelho de Torres Vedras - eleições em 28 de Abril de 1918, A.M.T.V., Caixa nº7-Eleições.

[22] SALES, Tiago "A minha Candidatura", in  Federação Agrícola, nº29 de 23 de Julho de 1921.

[23] “Reconstituintes e Agrarios”, in Ecos de Torres, nº 144 de 16 de Junho de 1921.

[24] O Torreense, nº87 de 19 de Junho de 1921

[25]“Aos Eleitores do Concelho de Torres Vedras”, in O Torreense, nº89 de 3 de Julho de 1921.

[26] "Votai nos candidatos governamentais", in O Torreense,nº89 de 3 de Julho de 1921.

[27] "6 contos para as escolas", in O Torreense,nº89 de 3 de Julho de 1921.

[28]LOPES, Fernando Farelo, ob. cit., p.30.

[29] O Democrata, nº único, T. Vedras, 9 de Julho de 1921.

[30] O Democrata, nº único, T. Vedras, 9 de Julho de 1921.

[31] LOPES, Fernando Farelo,ob.cit.p.24

[32] "Ao Eleitorado", in O Torreense, nº87 de19 de Junho de 1921.

[33] "Eleições", in Ecos de Torres, nº144 de 16 de Junho de 1921.

[34] in A Pátria, nº 333,de 25 de Junho de 1921.

[35] LOPES, Fernando Farelo,ob.cit.,pp131 e 132.

[36] LOPES, Fernando Farelo, ob. cit., p.122

[37] LOPES,Fernando Farelo,ob.cit.,p.153.

[38] LOPES, Fernando Farelo,ob.cit.,p.54.

[39] in A Pátria, Lisboa, nº333 de 25 de Junho de 1921, página 2

[40] “Ultima Hora -Eleições- o que se passa em vários circulos”, in A Capital ,nº3828 de 8 de Julho de 1921.

[41] LOPES, Fernando Farelo, ob. cit., p.112

[42] VIEIRA, Júlio "Uma Eleição", in Federação Agrícola, nº28 de 16 de Julho de 1921.

[43]VIEIRA, Júlio, "Uma Eleição", in Federação Agrícola, nº28 de 16 de Julho de 1921.

[44]“Lição das Urnas”, in O Torreense, nº91de 17 de Julho de 1921,

[45] WHEELER, Douglas L., ob. cit, pp. 186 e 187.

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