sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Torres Vedras e as Cheias de 25 de Novembro de 1967


As Cheias de 1967, que ocorreram na madrugada de 25 para 26 de Novembro desse ano, atingiram a região de Lisboa e fizeram um número de mortos ainda hoje indeterminado, mas que terá rondado os mais de 700.

Oficialmente apenas foram publicamente divulgados cerca de 400 mortos, pois a censura da época quis esconder a verdadeira dimensão da tragédia, já que ela punha a nu as miseráveis condições de vida de uma parte considerável da população portuguesa.

Apesar de Torres Vedras ter sofrido os efeitos do temporal, aqui não atingiu as dimensões trágicas de Lisboa, Loures e do concelhos vizinhos de Arruda dos Vinhos e de Alenquer. O Sobral de Monte Agraço teve a registar, pelo menos, três mortos.




Torres Vedras, muitas vezes assolada por grandes inundações, parece ter escapado desta vez à tragédia, pelo menos a fazer fé na inexistência de qualquer referência na imprensa local a destruições ou mortes no concelho relacionados com essa noite trágica, que muitos consideram a maior tragédia portuguesa depois do terramoto de 1755.

O único contratempo conhecido à vida normal dos habitantes de Torres Vedras foi o facto mencionado no Diário de Lisboa de 26 de Novembro de 1967, informando a interrupção do transporte ferroviário da linha do Oeste até ao Bombarral, devido à queda de várias barreiras que sustentavam as linhas.

Contudo, a imprensa local, neste caso o jornal “Badaladas”, não foi indiferente à tragédia, noticiando uma campanha de solidariedade para com as vítimas da tragédia na sua edição de 2 de Dezembro de 1967, referindo-se em primeira página à “noite trágica de 25 de Novembro de 1967” e ao “luto no coração dos portugueses”, apelando “aos trabalhadores lusitanos” para darem “uma hora de trabalho”.

Logo nessa edição anunciava o “gesto magnifico” do “pessoal da Casa Hipólito”, incluindo “todos os sócios e funcionários superiores” daquela empresa, oferecendo “horas do seu trabalho, a favor das vítimas.

Também nessa edição indicava que a redacção do jornal já tinha recebido dádivas em dinheiro, apelando a ofertas dos “particulares” de apoio às vitimas da tragédia.

Nas edições seguintes de 9 e 23 de Dezembro de 1967 aquele jornal local listava as várias dádivas recebidas em dinheiro e géneros.

Em dinheiro:

Salão Fotográfico – 100$00;
Carlos da Silva Cardoso  - 250$00;
Afonso de Oliveira – 150$00;
Hermano de Sousa D’Alte – 20$00;
Anónimo de Torres Vedras – 300$00;
“Menino” José Manuel Henriques dos Santos – 20$00;
João Alves Simões (de “França”) – 100$00;
José Feliz dos Reis “das Figueiras” – 100$00;
“Menino” João Manuel Cabaço Ferreira – 20$00;
Júlio dos Santos – 100$00;
Pensão Torreense – 200$00;
Casa Damião – 100$00;
Escola Primária Feminina Armando Paulo dos Santos e seus empregados – 100$00;
Maria Luisa da Silva – 50$00;
Inácio José – 20$00;
Anónimo – 50$00;
Viuva Cabral, Ldª e seus empregados – 700$00.

TOTAL: - 2 400$00.

Em géneros:

Junta de Freguesia de S. Pedro de Torres Vedras – 6 cobertores;
Anónimo – “diversas roupas de homem e senhora”;
A.C. – roupa de senhora;
Carlos Jerónimo – “3 pacotes com roupa de criança”;
Anónimo – 2 blusões para homem;
Drª Maria Teresa Graça – “diversa roupa de senhora e um par de sapatos”;
Hermano de Sousa D’Alte – “3 pacotes com roupas e sapatos”;
Dª Maria Soledade Santos – “diversas roupas”;
Dª Augusta de Moura Guedes – “ 2 pacotes com roupa de homem e sapatos”;
Dª Maria Dimas – “1 pacote com roupa de senhora”;
Escola Primária Feminina – “7 pacotes com roupa de criança”;
Manuel Guilherme, de Catefica, - “1 saco de batatas”.

Além desta iniciativa do jornal, o “Badaladas” anunciou outras iniciativas solidárias que tiveram lugar pelo concelho.

Na sua edição e 9 de Dezembro anunciava que a “Física de Torres” tinha transportado para Alenquer e Arruda dos Vinhos “alimentos, roupa, cobertores e divãs” em quatro camionetes “cheiinhas de boa vontade” e de “magnifica solidariedade”, informando que a “recepção continua em aberto no Clube Artístico e Comercial”, registando outros movimentos e de solidariedade em “A Dos Cunhados e muitas outras freguesias do concelho”.

Entre estas o mesmo jornal, na sua edição de 23 de Dezembro, destacava o peditório realizado na freguesia de S. Mamede da ventosa, “em colaboração com a Física”, que consegui recolher:

12 595 quilos de batatas;
1350 de cebolas;
442 de feijão;
60 de grão;
60 de trigo;
20 de banha;
3 de massas;
1 de arroz .

Além disso, foram ainda recolhidos nessa freguesia “uma embalagem de várias mercearias”, duas “résteas de alhos” e 7 650$20 em dinheiro , “além de centenas de peças de vestuário e muitos pares de calçado”, e, “até as crianças das escolas deram a sua colaboração”.

As firmas “Fonseca & Lisboa, Ldª e Ângelo Custódio Rodrigues ficaram responsáveis por recolher donativo da campanha de auxílio às vitimas das inundações aberta pelo “Grémio do Comércio” (“Badaladas” de 9/12/1967).

Por último, destaque-se o agradecimento da Junta Freguesia da Carnota, em Alenquer, e da sua população, uma das mais atingidas pela tragédia, à ajuda prestada pela população vizinha das Carreiras, na freguesia torriense da Carvoeira, publicado na edição do “Badaladas” de 23 de Dezembro.

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