As Cheias de 1967, que ocorreram na madrugada de 25 para 26
de Novembro desse ano, atingiram a região de Lisboa e fizeram um número de mortos
ainda hoje indeterminado, mas que terá rondado os mais de 700.
Oficialmente apenas foram publicamente divulgados cerca de
400 mortos, pois a censura da época quis esconder a verdadeira dimensão da
tragédia, já que ela punha a nu as miseráveis condições de vida de uma parte
considerável da população portuguesa.
Apesar de Torres Vedras ter sofrido os efeitos do temporal,
aqui não atingiu as dimensões trágicas de Lisboa, Loures e do concelhos
vizinhos de Arruda dos Vinhos e de Alenquer. O Sobral de Monte Agraço teve a
registar, pelo menos, três mortos.
Torres Vedras, muitas vezes assolada por grandes inundações,
parece ter escapado desta vez à tragédia, pelo menos a fazer fé na inexistência
de qualquer referência na imprensa local a destruições ou mortes no concelho relacionados
com essa noite trágica, que muitos consideram a maior tragédia portuguesa
depois do terramoto de 1755.
O único contratempo conhecido à vida normal dos habitantes
de Torres Vedras foi o facto mencionado no Diário de Lisboa de 26 de Novembro
de 1967, informando a interrupção do transporte ferroviário da linha do Oeste
até ao Bombarral, devido à queda de várias barreiras que sustentavam as linhas.
Contudo, a imprensa local, neste caso o jornal “Badaladas”,
não foi indiferente à tragédia, noticiando uma campanha de solidariedade para
com as vítimas da tragédia na sua edição de 2 de Dezembro de 1967, referindo-se
em primeira página à “noite trágica de 25 de Novembro de 1967” e ao “luto no
coração dos portugueses”, apelando “aos trabalhadores lusitanos” para darem “uma
hora de trabalho”.
Logo nessa edição anunciava o “gesto magnifico” do “pessoal
da Casa Hipólito”, incluindo “todos os sócios e funcionários superiores”
daquela empresa, oferecendo “horas do seu trabalho, a favor das vítimas.
Também nessa edição indicava que a redacção do jornal já
tinha recebido dádivas em dinheiro, apelando a ofertas dos “particulares” de
apoio às vitimas da tragédia.
Nas edições seguintes de 9 e 23 de Dezembro de 1967 aquele
jornal local listava as várias dádivas recebidas em dinheiro e géneros.
Em dinheiro:
Salão Fotográfico – 100$00;
Carlos da Silva Cardoso
- 250$00;
Afonso de Oliveira – 150$00;
Hermano de Sousa D’Alte – 20$00;
Anónimo de Torres Vedras – 300$00;
“Menino” José Manuel Henriques dos Santos – 20$00;
João Alves Simões (de “França”) – 100$00;
José Feliz dos Reis “das Figueiras” – 100$00;
“Menino” João Manuel Cabaço Ferreira – 20$00;
Júlio dos Santos – 100$00;
Pensão Torreense – 200$00;
Casa Damião – 100$00;
Escola Primária Feminina Armando Paulo dos Santos e seus
empregados – 100$00;
Maria Luisa da Silva – 50$00;
Inácio José – 20$00;
Anónimo – 50$00;
Viuva Cabral, Ldª e seus empregados – 700$00.
TOTAL: - 2 400$00.
Em géneros:
Junta de Freguesia de S. Pedro de Torres Vedras – 6 cobertores;
Anónimo – “diversas roupas de homem e senhora”;
A.C. – roupa de senhora;
Carlos Jerónimo – “3 pacotes com roupa de criança”;
Anónimo – 2 blusões para homem;
Drª Maria Teresa Graça – “diversa roupa de senhora e um par
de sapatos”;
Hermano de Sousa D’Alte – “3 pacotes com roupas e sapatos”;
Dª Maria Soledade Santos – “diversas roupas”;
Dª Augusta de Moura Guedes – “ 2 pacotes com roupa de homem
e sapatos”;
Dª Maria Dimas – “1 pacote com roupa de senhora”;
Escola Primária Feminina – “7 pacotes com roupa de criança”;
Manuel Guilherme, de Catefica, - “1 saco de batatas”.
Além desta iniciativa do jornal, o “Badaladas” anunciou
outras iniciativas solidárias que tiveram lugar pelo concelho.
Na sua edição e 9 de Dezembro anunciava que a “Física de
Torres” tinha transportado para Alenquer e Arruda dos Vinhos “alimentos, roupa,
cobertores e divãs” em quatro camionetes “cheiinhas de boa vontade” e de “magnifica
solidariedade”, informando que a “recepção continua em aberto no Clube
Artístico e Comercial”, registando outros movimentos e de solidariedade em “A
Dos Cunhados e muitas outras freguesias do concelho”.
Entre estas o mesmo jornal, na sua edição de 23 de Dezembro,
destacava o peditório realizado na freguesia de S. Mamede da ventosa, “em
colaboração com a Física”, que consegui recolher:
12 595 quilos de batatas;
1350 de cebolas;
442 de feijão;
60 de grão;
60 de trigo;
20 de banha;
3 de massas;
1 de arroz .
Além disso, foram ainda recolhidos nessa freguesia “uma
embalagem de várias mercearias”, duas “résteas de alhos” e 7 650$20 em
dinheiro , “além de centenas de peças de vestuário e muitos pares de calçado”,
e, “até as crianças das escolas deram a sua colaboração”.
As firmas “Fonseca & Lisboa, Ldª e Ângelo Custódio
Rodrigues ficaram responsáveis por recolher donativo da campanha de auxílio às
vitimas das inundações aberta pelo “Grémio do Comércio” (“Badaladas” de
9/12/1967).
Por último, destaque-se o agradecimento da Junta Freguesia
da Carnota, em Alenquer, e da sua população, uma das mais atingidas pela
tragédia, à ajuda prestada pela população vizinha das Carreiras, na freguesia
torriense da Carvoeira, publicado na edição do “Badaladas” de 23 de Dezembro.
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