Adquiri recentemente num alfarrabista um folheto editado por ocasião da
realização da Feira de S. Pedro de 1963.
Para além de um excelente texto de apresentação, não assinado, mas
bastante crítico sobre o tempo de então, que penso ser da autoria de António Augusto
Sales, e que transcrevemos em baixo, são 46 páginas preenchidas com vários
anúncios publicitários que nos permitem reconstituir a vida económica,
industrial e comercial de Torres Vedras na década de 60 do século passado, para
além de outros dados e referências estatísticas e culturais feitas com o
objectivo de informar os visitantes que
aquela Feira já então recebia de muitos lugares vizinhos.
A publicação foi editada por António Augusto Sales e Tancredo Costa,
impresso na Gráfica Torriana, com uma tiragem de 2 mil exemplares e de
distribuição gratuita.
Os mesmos justificavam a sua edição nos seguintes termos: “Dentro da
pobreza de meios, impeditiva de plano mais ambicioso, procurou-se dar ao
opúsculo um cuidado equilíbrio gráfico, desde o texto à própria concepção da
publicidade. (…) se entretanto, este trabalho puder contribuir de algum modo
para a melhoria da Feira de S. Pedro e incitar, o espírito de quem dirige, à
iniciativa de a reformar, actualizando-a e engrandecendo-a, nós ficaremos
duplamente felizes, como editores e como torreenses”.
Aqui fica uma breve recordação da feira de S. Pedro de outros tempos,
agora que teve lugar a abertura da edição de 2014 desse evento que continua a
marcar a vida torriense e da região.
“A FEIRA DE S. PEDRO
“A feira é um acto popular. A feira de S. Pedro, em Torres Vedras, é a
marca de ama tradição abrangendo uma área enorme da Estremadura.
“A feira é negócio e diversão, uma fórmula de fundir a aldeia e a vila
num ambiente ruidoso e colorido.
“Para muitos, o dia da feira é o sonho guardado em todo o ano. Sonho de
um negocio bem feito, duma experiência diferente nas suas existências iguais,
duma oportunidade de estrear fato novo e de levar toda a família em passeio. A
feira é uma paragem nas dores da vida.
“Tal como o visitante, cada terra guarda dentro do peito um certo amor
pela sua feira pois não se trata de um acontecimento vulgar mas de um acto vivo
e pleno na estrutura económico-social da região. E, em cada ano, a feira
renova-se numa marcha progressiva de acompanhamento do seu tempo e das
exigências do povo.
“Assim acontece em muitos lados, e seria ocioso enumerar alguns por
sobejamente conhecidos, onde a par do carrocel e da quinquilharia se oferecem
aos visitantes amplos «stands» com as mais modernas máquinas e alfaias
agrícolas.
“Mas o que de mais curioso podemos encontrar, mesmo nos centros
modestos, é um elevado sentido de exposição, alindamento e limpeza por toda a
área da feira.
“Torres Vedras, que se deseja como verdadeiro e importante epicentro do
oeste estremenho, não tem pela sua feira o requinte de carinho que lhe deveria
dedicar. Não tem a perspectiva de a alindar agradecendo assim, ao visitante, a
honra da sua presença. A feira chega..., a feira parte..., ano após ano, sempre
igual, sempre descuidada, sem vida, sem alma, sem atractivos.
“Consideremos, mais uma vez, que será urgente acertar o passo pelos
nossos vizinhos já que não vamos a tempo de os obrigar a acertar o deles pelo
nosso. Não falemos, por enquanto, em festas extra, que bem se poderiam
aproveitar neste período, mas foquemos apenas o essencial: esquema funcional de
disposição de barracas e diversões; alindamento do recinto e conveniente
limpeza; terraplenagem do piso; factores de estímulo para a exposição de
carácter industrial.
“Para já não seria mau pôr-se em prática, alguma vez, tais aspectos.
Olhar o ano seguinte com a esperança de que os poderes transformem os anseios
que anualmente se escutam, em fórmulas concretas de renovação”.
Texto de apresentação do folheto dedicado à Feira de S. Pedro de 1963,
da autoria de António Augusto Sales.
1 comentário:
Excelente!
Estás sempre em dia, com novidades, janelas sobre o passado torriense que o teu faro de investigador vai descobrindo, para nosso deleite.
Obrigado, Venerando!
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