A fotografia que acima se reproduz foi retirada da página britânica da Amazon e retrata uma cena das vindimas no principio do século XX, passada na Quinta de Charniche.
Através de uma investigação mais aprofundada na internet, partindo do nome do autor que se encontrava noutra fotografia que acompanhava aquela e do facto de o canto das duas fotografias referir aquilo que podia ser um número de página, conseguimos encontrar a origem daquela fotografia.
Fomos encontrá-la na obra, editada por J.A. Hammerton, no principio do século XX, People of all Nations (...), publicada em vários volumes. O capítulo dedicado a Portugal é dirigido por um tal Prof. George Young e intitula-se "Portugal: A History", sendo incluido no 6º volume da obra (ou no 11º numa outra edição). A Fotografia aqui reproduzida encontra-se na página 4163.
As fotografias são da autoria de um fotógrafo quase desconhecido, A.W. Cutler, talvez australiano, e que colaborou como fotojornalista no National Geographic nas duas primeiras décadas do século XX. Sabe-se que Cutler esteve em Portugal por volta de 1922. Podem consultar mais informações sobre este fotógrafo AQUI.
Já que falamos da Quinta de Charniche (ou Charnixe como se pode ler no carro de bois da fotografia), situada na freguesia de S. Mamede da Ventosa, no concelho de Torres Vedras, aqui deixamos algumas notas sobre essa quinta que recolhemos para um projecto nosso, entretanto abandonado:
Quinta de Charniche
Também chamada de
“Sarniche”, pertencia em 1862 ao
bacharel Fillipe de Souza Belfort
Era então importante a produção de vinho nas propriedades
desta quinta(anotadores, p.te econ., caderno 3º ff.8/9, nota à alínea c) p.
248., AHMTV).
Junto dela foram encontrados importantes vestígios pré-históricos, um monumento funerário encontrado junto e “acima” da Quinta de
Charniche, (Serra das Mutelas) “monumento funerário do tipo tholos, que ocupou arqueólogos de renome
como Virgílio Correia e Leite de Vasconcelos: circular, pré-histórico, produziu
abundante espólio, em que se encontram caveiras humanas e outros ossos, facas
de sílex, pontas de seta de cobre, vasos de barro negro, machados de calcário,
ídolo cilíndrico, etc. ..” (Enciclopédia Luso-brasileira, Ventosa, p.579)
Pelo menos entre
1888 e 1904 pertenceu a Joaquim Gomes de Sousa Belford (Anuário Comercial e Agrícola -ACA, A
Semana 1 – 5 - 1888).
Este foi, talvez, o mais
famoso proprietário da Quinta, chegando a ocupar a presidência da Câmara de T.
Vedras. Este “descreveu a sua propriedade, em 1900, dizendo que a Quinta com130
hectares, tinha bosque, pinhal, cereais e, sobretudo vinha” (autoras de “O
Património Local e a Escola”).
No final do século XIX
torna-se conhecida pelas suas águas minerais .
Em 1899 vendiam-se em garrafas
como “água de mesa Minero-Medicinal”. Era considerada “uma agua de mesa
diurética e reguladora de todas as funções digestivas”, sendo indicada “nos
casos de atonia intestinal, gastrite e enterite Chronica, congestão e catharro
do fígado, dos rins, da bexiga, próstata e do útero, casos de arthrismo, gotta,
albuminuria, diabetes, rheumatismo, etc.”. O seu uso regular curava e evitava
“a prisão de ventre, dispepsia, gastralgia, cólicas, vertigens, nevralgias e
doenças da pelle, como urticária, herpes, eczema, etc.(...) . Brilhante e
inalterável, de sabor agradável”, podia-se “tomar em jejum ou às refeições;
misturada com o vinho” tornava este “mais agradável, sem lhe alterar, como as
aguas alcalinas, o seu gosto e qualidades”.
Era vendida em garrafas de 1
litro, custando a água 100 réis e a garrafa 50 réis, e em garrafões de 5
litros, custando a agua 350 réis e o garrafão 300, recebendo-se o vasilhame,
desde que tivesse o rótulo da empresa.(Folha de Torres Vedras – FTV- , 31 de Dezembro de 1899.).
Por alvará de 26 de Março de
1909, era então sua concessionária Dª
Sara Belford Street. (COSTA, Américo, Dicionário Corográfico de Portugal Continental e Insular, Liv.
Civilização, Porto 1948, vol. XI, p. 785).
Recebeu novo alvará de licença
para exploração das águas minero-medicinais
datado de 31 de Dezembro de 1928. Eram classificadas como meso-salinas,
cloretadas sódicas, sulfatadas magnesianas e cálcicas, bicarbonatadas cálcicas
e magnesianalinitadas. (Anuário
Estatístico de Portugal, ed. 1928).
Esta família Belford era de
origem irlandesa, “refugiados em Portugal por ser católica, mas que” no século
XIX “foi aqui perseguida pelo seu apoio
a D. Miguel” (autoras de “O Património Local e a Escola”).
Em 1895 por decreto publicado no Diário do Governo de 17 de Junho, o vinicultor Joaquim
Gomes de Sousa Belford, residente na
Quinta de Charniche, foi nomeado inspector dos Serviços de Fiscalização de
Vinhos e Azeites. Era membro do Conselho Superior da Agricultura e da Real
Associação Central de Agricultura Portuguesa. (A Semana, 23/6/1895).
No século XX foi frequentada
pelo escritor Joaquim Paço D’Arcos, neto de Joaquim de Sousa Belford.
Possui capela.
1 comentário:
Dr. Venerando, escrevo em nome da Pró-Memória de A dos Cunhados. Antes de mais os parabéns pelo trabalho minucioso que apresenta sempre. Estive hoje a tentar contatá-lo pelo telemóvel, mas ainda não consegui. Gostaríamos de poder usar esta foto num trabalho sobre o Ciclo do Vinho. Dá-nos essa autorização? Será suficiente indicar o Blog, ou teremos de mencionar outra fonte? Obg. Cpmts
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