sexta-feira, 24 de setembro de 2021

O Ambiente, o Património e a Cultura nos programas eleitorais, em Torres Vedras

 


Termina hoje a campanha para as eleições autárquicas.

Embora na comunicação social quase só passem as gafes, as tricas, as trocas de acusações, transformando, até, umas eleições que são locais, num referendo às políticas nacionais dos vários partidos, aqui em Torres Vedras algumas candidaturas preocuparam-se em divulgar o que pensam defender e fazer para Torres Vedras.

Numa situação normal, seria a leitura dessas propostas que devia estar na base das escolhas e do debate político.

O que nos propomos fazer aqui, para ajudar também à “reflexão” é divulgar, em termos genéricos, as propostas das várias candidaturas para áreas quanto a nós fundamentais, menos dependentes das decisões nacionais, e que dizem respeito à identidade de cada local, pois estas são, recordo, eleições LOCAIS.

Entre essas áreas, destacamos o Ambiente, o Património, a Cultura e a História, sem esquecer um tema abrangente a todas essas áreas, e também preocupante, que é a crescente desertificação do centro Histórico de Torres Vedras.

O PS, como partido no poder desde 1976, apresenta, como destaque, a “obra feita”, uma lista extensa na área do Ambiente e da Cultura,  e aponta, principalmente, a continuidade, apostando forte nas questões ambientais, uma referência extensa no seu programa eleitoral, destacando nós aqui, como novidades, algumas medidas que podem contribuir para reforçar a recuperação do centro histórico, como uma “estratégia local de habitação”, um bolsa de “rendas apoiadas” e a dinamização e reabilitação “dos núcleos urbanos tradicionais”, embora referindo-se mais às aldeias, mas que deve inclui o abandonado centro urbano.

No ambiente, a longa  lista de propostas dá continuidade ao “trabalho feito”, indicando como objectivos concreto a criação de Centros para a Sustentabilidade do Mar e Zonas Costeiras, Centros de interpretação de reservas naturais, apoiando, em concreto, a visitação e a valorização do património natural e cultural nas serras do Socorro e da Archeira, ou a criação de “ecocentros” em cada freguesia, “ecocaminhos”, fomentar a “mobilidade electrica”, entre tantas outras propostas, uma mais vagas, outras mais concretas, algumas de mero senso comum.

Na cultura e no património, também se apresentam propostas de continuidade, nomeadamente em relação ao Castro do Zambujal, aos fortes das Linhas de Torres, ao Museu Municipal, valorização do Castelo e a criação de uma rota “turístico-cultural”, unindo “as Azenhas de Santa Cruz e de A dos Cunhados”.

Na cultura propõe promover a “itinerância cultural”, alargando a que está em curso, a nível da musica, a outras áreas artísticas, “dinamizando marcos territoriais de pequena escala como igrejas, adegas, coretos”, entre outras, com “acções de conservação, restauro e valorização” desse património.

Outras ideias passam pela criação de “um museu e biblioteca móvel”, atribuição de bolsas a artistas e a promotores culturais “residentes em Torres Vedras” e a criação de um “Voucher  Cultural” para crianças  jovens até aos 18 anos.

Esta é uma pequena amostra do que consta no programa divulgado.

O movimento cívico “Unidos por Torres Vedras” , que é o principal rival do PS a disputar a conquista da Câmara, revela igualmente um grande cuidado na elaboração do programa apresentado aos eleitores, dando igualmente um grande destaque ás áreas aqui referidas.

Nalguns pontos é mais “concretizante” do que o PS, até porque, como movimento novo, não pode apresentar “obra”, embora tenha das suas listas gente com experiência autárquica e “obra” feita.

Assim, logo à cabeça, um dos principais projectos que defende, nas áreas referidas, é o da aquisição e requalificação das Termas dos Cucos, uma idéia interessante e a agarrar, mesmo que este movimento não obtenha um bom resultado. De facto, apesar da vontade manifestada de há longa data pelos seus proprietários, aquele espaço tem sido remetido quase ao abandono pelas entidades públicas. Esta é uma das ideias mais originais apresentadas nestas eleições.

Há também outra excelente idéia a reter de entre as propostas da movimento Unidos por Torres Vedas (UTV) que é a elaboração de uma Carta do Património do Concelho, embora mais abrangente do que o Património Histórico (nem todo pertença do município).

Na área da cultura, propõe a criação de um gabinete de apoio às Associações, agregado a um plano de formação e de incentivo às suas actividades.

Entre as propostas da área do ambiente, ressalta a idéia da criação de “um bosque por freguesia”, entre muitas outras propostas.

Uma outra idéia na área ambiental é a original requalificação da pedreira dos Cucos, a transformar num “Centro Nacional de Eventos”.

Temos ainda um ambicioso plano de reconstrução do Castelo.

Para o Centro histórico propõem-se várias medidas como a criação de um “Centro Comercial a céu aberto”, a promoção do desenvolvimento turístico e cultural dessa zona e criar mais espaços de estacionamento.

Na cultura, para além da criação de uma casa da cultura e da recuperação  da área envolvente da Igreja de Santiago para uma dimensão cultural, muitas das propostas são um pouco mais vagas, numa linha de continuidade com anteriores executivos municipais.

A “Aliança” apresenta igualmente um dos programas melhor elaborados, apostando forte na área da saúde, mas a vertente cultural e do património é um pouco mais vaga que a apresentada pelas candidaturas acima mencionadas, com ideias que são de continuidade, como alguns eventos culturais e de preservação do património, outras mais originais, como o Centro Comercial ao ar Livre no Centro Histórico, idéia inicialmente da sua autoria mas aproveitada no programa dos UTV.

Na área do ambiente, não contestando as ciclovias, apresenta-se o objectivo de as adaptar, melhorando-as, já que o projecto inicial do anterior executivo foi muito criticado publicamente pelo seu traçado discutível.

O PSD/CDS/PPM ("Afirmar Torres Vedras"), na área da cultura, indica intenções genéricas, destacando-se, como originais, a descentralização da Biblioteca Municipal a todas as freguesias e a integração de todas as actividade culturais num plano de Acção Municipal para a Cultura.

Refere igualmente a necessidade de “promover a reabilitação urbana do Centro Histórico”, criando um sistema (não exclusivo para o centro histórico mas, quanto a nós, essencial para o recuperar) de habitação a preços controlados.

No ambiente apresenta, como ponto estratégico, o estabelecimento de políticas municipais para que o município consiga atingir a neutralidade carbónica em 2030. É também de realçar a preocupação com a defesa das zonas florestais, como a proposta de total cobertura de um sistema de vigilância florestal.

A CDU defende a criação de um Gabinete de Apoio às Artes para as aldeias “em articulação” com um “Centro Cultural” a criar. Este centro teria por objectivo oferecer formação gratuita a crianças e jovens, nas diversas áreas artísticas.

Propõe, igualmente, a criação de um Gabinete de Apoio ao Movimento Associativo para incentivar “a participação da população na vida associativa na cidade e nas aldeias”.

No ambiente, uma das preocupações da CDU é possibilitar a fruição, pela população, de áreas aprazíveis ao longo dos rios Sizandro e Alcabrichel, bem como “implementar jardins em todas as freguesias”.

Quanto ao Bloco de Esquerda (BE), não se referindo em concreto à situação no Centro Histórico, defende a defesa do acesso a uma habitação digna, através de uma estratégia de habitação a preços controlados e o combate à especulação imobiliária.

Na área ambiental, entre outras medidas, o BE defende a criação de programas de produção descentralizada de energia e a eliminação de relvados decorativos, a substituir por “zonas verdes com espécies autóctones".

Na cultura, entre algumas medidas mais genéricas, defende a criação de um Conselho Municipal de Cultura para “promover a participação” das associações e dos cidadãos nas acções culturais e apoiar os “criadores locais” e as associações na criação e nos eventos artísticos.

Em relação ao Chega, não conseguimos obter o programa, nem em papel, nem consultando a net, nem a entrevista com o candidato ao “Badaladas” se revelou esclarecedora sobre as áreas que aqui abordamos.

Acreditamos, contudo, que sendo esse partido nacionalista e identitário, tenha preocupações na área do património e da identidade cultural.

Neste breve apanhado não procurámos ser exaustivos nem esgotar as propostas dos vários concorrentes, nas áreas do ambiente, património e cultura, apenas registar algumas tendências e preocupações, bem como algumas ideias mais originais.

Recomendamos, por isso, que cada cidadão, antes de votar, procure conhecer as propostas dos vários partidos e movimentos concorrentes, consultando os programas por eles divulgados, tendo, contudo, consciência que esses documentos não esgotam todas as ideias que eles têm para o concelho.

Sem comentários: