Fundado em 19 de Abril de 1973, no exílio alemão, o actual Partido Socialista só surgiu em Torres Vedras já depois do 25 de Abril, embora tenha existido, no início do século XX um primitivo Partido Socialista com alguma actividade em Torres Vedras.
Em Portugal as primeiras manifestações do ideário socialista
ocorreram na década de 70 do século XIX, na sequência da “Comuna de Paris”,
acontecimento que teve lugar entre Março e Maio de 1871, que acabou com a
repressão sangrenta sobre os revolucionários franceses.
Nesse mesmo ano de 1871, em Agosto, o genro de Karl Marx,
Paul Lafargue, deslocou-se a Portugal para reunir com os membros locais da
Associação Internacional dos Trabalhadores, organização fundada por ocasião da
Primeira Internacional (1864-1876), visita que motivou a fundação da
“Fraternidade Operária”(FO) em Janeiro
de 1872.
Devido às perseguições policiais e ao incipiente peso social
e económico do operariado português, a FO extinguiu-se em 1873.
Muitos dos membros da FO, apoiantes em Portugal da Primeira
Internacional, fundaram , em 1875, o primeiro Partido Socialista português.
Entre os fundadores estiveram Aznedo Gneco, José Fontana e,
entre cerca de uma vintena, um homem que veio a estar muito ligado a Torres
Vedras, Manuel do Nascimento Celestino Aspra.
Foi este Celestino Aspra, tipógrafo de profissão, que esteve
ligado à divulgação de algumas ideias associadas a esse primeiro socialismo,
como o mutualismo operário, sendo um dos fundadores da "Associação Mutualista 24
de Julho de 1884” (1).
Fundador da primeira tipografia torriense, a esta estiveram
ligados os dois primeiros jornais editados em Torres Vedras, “O Jornal de
Torres Vedras” (Janeiro de 1885 a Dezembro de 1886) e “Voz de Torres Vedras”
(Fevereiro de 1887 a Janeiro de 1890).
Foi num artigo do jornal “ Voz de Torres Vedras”, de 6 de
Julho de 1889, intitulado “As Classes”, que se publicou a primeira referência local à obra e pensamento
de Karl Marx, a propósito do qual o articulista se interrogava : “Quem não
sente o arruído das classes escravizadas pelo salário, classes que em altos
brados reclamam por toda a parte o seu quinhão no banquete social,
apresentando-se para tomarem nas suas mãos o destino d’este mundo (…)?”.
Em plena 1ª República, o candidato socialista pelo Círculo
de Torres Vedras às eleições para deputado de 1915, Raul dos Santos Palermo,
recebeu um total de 20 votos neste concelho, de um total de 1644 expressos.
Esse mesmo candidato, o único “socialista”, voltou a apresentar-se por este
círculo em 1919, recebendo 23 votos de um total de 860 (2).
Foi em Abril de 1917 que se fundou um “Núcleo de Propaganda
Socialista de Torres Vedras”, iniciativa acolhida “com viva satisfação pela
classe operária”, ficando as adesões a cargo de José Augusto Correia Lemos, na
Rua Mouzinho da Albuquerque, nº 32, r/c. A inauguração desse Núcleo ficou marcado
para 1 de Setembro, numa “sessão de propaganda, numa colectividade”, estando
programada a actuação de um “sexteto” de Lisboa que “executará o hino operário
“A Internacional” (3).
Na sequência dessa iniciativa, o núcleo local do Partido Socialista,
liderado localmente pelo marceneiro António Vicente Santos Júnior, concorreu,
pela primeira vez, e única durante esse regime, às eleições autárquicas, em
Maio de 1919, obtendo 45 votos.
Em 1931, por ocasião da tentativa de formação de uma frente
única republicana para enfrentar a recém criada União Nacional nas eleições
para o parlamento prometidas pela ditadura do 28 de Maio, (4) foi eleito como representante local da
chamada Frente Republicano-Socialista, em sessão realizada no Teatro-Cine em 28
de Junho desse ano, pelo núcleo local do Partido Socialista, aquele mesmo
António Vicente (5).
A partir da década de 30 do século passado não se regista
qualquer actividade do Partido Socialista em Torres Vedras, proibido que estava
pelo Estado Novo. A partir dessa década a oposição é liderada por republicanos
históricos e pelo cada vez mais influente Partido Comunista Português.
Muitos dos fundadores do actual PS torriense vieram da
oposição ao Estado Novo e, em vésperas do 25 de Abril, participaram em eventos
unitários, ora nas acções da oposição, ora assinando documentos contra a
“situação”, junto com outros oposicionista locais, como foi o caso, por
exemplo, de um João Carlos, um Dr. Augusto Troni, uma Leonia Rodrigues ou um
Sérgio Simões.
Foi em documento de 4 de Maio de 1974 que a “Comissão
Concelhia de Torres Vedras do Partido Socialista” apresentou “À População do
Concelho de Torres Vedras” a “declaração de princípios” do partido, anunciando
para breve a inauguração da sua sede local, que se situou numa vivenda na Av. 5
de Outubro, que existiu a poente do “Pacar”.
Para além de ter sido o primeiro presidente eleito da Câmara
Torriense, Alberto Avelino tinha sido deputado na Constituinte de 1975,
voltando a estas funções de deputado mais tarde e exercendo, durante 12 anos, o
cargo de Governador Civil de Lisboa, sendo uma das figuras históricas do novo
PS.
Em termos locais, esse partido tem dominado a liderança municipal desde essas eleições de 1976, caso raro em Portugal.
(1) - leia-se “Associação de Socorros Mútuos 24 de Julho de 1884. Nos primórdios do associativismo operário em Torres Vedras”, in Turres Veteras X - História do Sagrado e do Profano, Lisboa, ed. Colibri-CMTV, 2008, pp.231-245;
(2) - ver “Republicanos de Torres Vedras”, ed. Colibri e CMTV, 2003;
(3) - leiam-se as edições de 5 de Abril e 19 de Julho de 1917 de “A Vinha de Torres Vedras”;
(4) - as tão esperadas eleições para a Assembleia Nacional realizaram-se apenas em 16 de Dezembro de 1934, “disputadas” unicamente pelo movimento da ditadura, a União Nacional, força política que se manteria como “partido” único até ao 25 de Abril;
(5) - ver Gazeta de Torres de 14 de Junho de 1931;
(6) – muitas destas informações foram recolhidas no arquivo pessoal do autor.
ANEXO:
Documentos para a História do PS em Torres Vedras
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