O PS joga a manutenção das maiorias absolutas que detém na Câmara e na
Assembleia Municipal, bem como a liderança na maioria esmagadora das 13
freguesias (lidera 10).
O PSD (agora coligado como o CDS) procura, no mínimo, retirar essa
maioria absoluta e, no máximo, quebrar 40 anos de domínio socialista, ao mesmo
tempo que defende a sua única freguesia, a Freiria e procura aumentar o seu
peso nesse meio.
A CDU procura, no mínimo, garantir o seu vereador e a liderança na
freguesia da Carvoeira/Carmões e, no máximo, conquistar um segundo vereador,
eleger mais de 3 deputados municipais, reforçar a sua influência na maior parte
das freguesias, e tornar-se a força charneira da governação no município e
nalgumas freguesias.
O BE vai procurar eleger pela primeira vez um vereador e um (ou mais)
representantes na Assembleia Municipal, não concorrendo nas freguesias.
Os independentes da “Torres nas Linhas” vão procurar, no mínimo, repetir
o feito das eleições de 2013, onde elegeram um deputado para a assembleia e
colocaram um representante na mais populosa freguesia do concelho e outro numa
freguesia rural ( na Ventosa, onde não concorrem este ano, situação que procuram
repetir noutra freguesia) e, no máximo, aumentar essa representação.
Esta é uma visão simples, ou mesmo “simplista” das ambições que estão
em jogo no concelho de Torres Vedras neste acto eleitoral.
Mas, se analisarmos mais em pormenor a situação conjuntural, tudo o que
acima indicamos como estando em jogo, pode ser baralhado e resultar numa
situação completamente diferente.
O PS vive uma situação nova que os adversários procuram aproveitar ao
máximo, que é o de não ter na liderança à corrida à Câmara uma figura
carismática como o foi Carlos Miguel, para além de sofrer um certo desgaste por
dominar este concelho há 40 anos, apesar de apresentar uma equipa que tem
produzido algum trabalho interessante nas áreas da cultura, ambiente e
educação, mesmo que pontualmente possam ser alvo de críticas.
Por outro lado, o candidato do PS tem sofrido algum desgaste devido a
uma acusação de plágio, que tem feito esquecer a sua imagem de homem esforçado
e de vereador competente na área do ambiente.
Pode ter cometido outro erro que foi o de subestimar o adversário à sua
direita, deixando que este se posicionasse no terreno muito cedo, ainda antes
do verão, assim como não caiu bem o facto de ter recusado participar em debates
promovidos pela comunicação social local.
Contudo, não é previsível que perca as eleições, embora a reconquista da
maioria absoluta esteja em risco.
Já o PSD, que na conjuntura local tinha, pela primeira vez em muitos
anos, a possibilidade de ameaçar seriamente a Câmara torriense, está em
desvantagem pelo facto de apresentar um candidato pouco conhecido, embora tenha
tentado colmatar esse facto com uma campanha agressiva, com grandes outdoors,
iniciada ainda antes do verão, mas que leva muita gente a questionar a origem
financeira do apoio necessário a essa campanha. Além disso é prejudicado pela
má imagem que o PSD tem actualmente sob a liderança nacional de Passos Coelho.
Apesar de, ao contrário do que aconteceu em 2013, não ter a
concorrência de candidatos à sua direita (o CDS concorre desta vez em coligação
como o PSD e o PNR desistiu da candidatura), a distância que está do PS é
enorme (cerca de 10 mil votos nas últimas eleições) e só uma hecatombe nas
hoste socialistas podia provocar uma reviravolta, se bem que seja uma incógnita
o destino dos quase 50% de abstencionistas e dos quase 5% de votos brancos das
últimas eleições,que podem contribuir para uma reviravolta se deste vez votarem,
e era preciso que o fizessem escolhendo maioritariamente o PSD.
Se o PS perder a maioria absoluta torna-se mais importante a situação
das outras três forças politicas concorrentes, o PCP, o BE e o “Torres nas Linhas”,
pois o número de candidatos que consigam eleger pode vir a ser fundamental para
uma coligação na Câmara.
Das três o PCP tem sido o tradicional aliado do PS, quando este esteve
em minoria, e é o único que tem um vereador. Resta saber se é desta vez que o
BE elege um vereador, já que me parece que, para esta eleição, o Torres nas Linhas apresenta um candidato pouco conhecido (ao contrário do que acontece na
junta de freguesia da cidade), e que não teve os meios do PSD par se dar a conhecer.
Resumindo e concluindo, para a Câmara Municipal, estão várias questões
em aberto, umas mais credíveis do que outras:
- vai o PS perder a maioria absoluta?;
- será desta vez que o PS perde a Câmara que detém há 40 anos?;
- vai o PCP conseguir manter o seu vereador, ou mesmo reforçar a sua
presença?;
- será que o BE consegue eleger o seu primeiro vereador?
Em relação à Assembleia Municipal, é provável que não se registe grande
alteração, pois o PS, mesmo que não chegue à maioria absoluta pelo voto directo
para esse órgão, costuma obtê-la através dos representantes das freguesias.
Pode haver, contudo, algumas novidades da parte dos partidos mais pequenos,
sendo curioso ver se a CDU ultrapassa o número de 3 eleitos, aproximando-se da
época em que elegia 6, se o Torres nas Linhas, não só mentem o seu representante,
como acrescenta mais algum, e se o Bloco de Esquerda consegue eleger alguém.
É nas eleições para as juntas de freguesia que as coisas podem ser mais
animadas e surpreendentes.
Nas últimas eleições o PS detinha a liderança em 10 das 13 freguesias,
enquanto as outras três ficaram sob a liderança, respectivamente, da CDU (Carvoeira
e Carmões), do PSD (Freiria) e independentes apoiados implicitamente pelo PSD e
pelo CDS (Ponte do Rol ).
Não se esperam grandes surpresas em freguesias como Maxial/Monte
Redondo, S. Pedro da Cadeira, Silveira, Turcifal e Ventosa, onde o PS parece
sólido, restando apenas saber se mantem as maiorias absolutas.
A dúvida, quanto muito, está em saber quem ganha o mandato do “Torres
nas Linhas” na Ventosa, movimento independente que desta vez não concorre nesta
freguesia , mas concorre agora em S.Pedro da Cadeira, estando aqui a outra
dúvida, saber se este movimento repete aqui o resultado que conseguiu na
Ventosa em 2013.
Nas restantes freguesias a situação é mais complexa e incerta.
Na Freiria, conquistada pelo PSD nas últimas eleições, a disputa com o
PS vai ser renhida e a CDU pode ter uma
palavra a dizer no equilíbrio de forças.
Naquela que é uma das maiores freguesias do concelho, A Dos Cunhados e
Maceira, a disputa é ainda mais renhida e imprevisível, pois, matematicamente,
o PSD pode beneficiar da coligação com o CDS e tirar a liderança ao PS, e, para
animar ainda mais, a candidatura da “Torres nas Linhas” pode baralhar ainda mais
a situação.
No Ramalhal a dúvida é saber se o PS mantém a maioria absoluta e se a
CDU e a “Torres nas Linhas”, não só mantêm o eleito de cada um, como aumentam a
sua representação.
Em Campelos e Outeiro da Cabeça, um tradicional “feudo” do PSD, mas que
o PS ganhou em 2013, o aparecimento de um movimento independente, “Movimento
Social Dinâmico”, pode alterar a situação.
Em Dois Portos e Runa, onde o PS governou em minoria, tendo como
principal adversário uma lista independente, o facto desta não concorrer este
ano pode baralhar o jogo, restando saber até que ponto o PSD/CDS ou a CDU, cada
um com um representante eleito, podem beneficiar dessa situação, da qual foram
os principais prejudicados em 2013.
Na única freguesia liderada pela CDU, a de Carvoeira e Carmões, a
dúvida está entre a possibilidade de essa força politica recuperar a maioria
absoluta ou se a quebra de votação anterior se mantem, podendo beneficiar o PS,
que em 2013 se bateu taco a taco coma CDU.
Deixamos para o fim as situações mais complexas e imprevisíveis, a
freguesia da Ponte do Rol e a maior do concelho, a de Torres Vedras (Stª Maria,
S.Pedro e Matacães), onde votam mais de 20 mil eleitores.
A freguesia da Ponte de Rol é liderada por uma lista independente, que
em 2013 teve o apoio implícito do PSD e do CDS e obteve a maioria absoluta,
relegando o PS para a oposição, mas desta vez aqueles dois partidos concorrem
em coligação contra ela. O resultado torna-se uma grande incógnita, e a disputa
vai ser renhida, sendo o PS o principal a beneficiar dessa situação.
A freguesia da cidade foi liderada em maioria absoluta pelo PS, mas
apenas com a diferença de um mandato em relação aos representantes das outras
forças (PS – 10, PSD – 4, CDU – 3, Juntos por todos – 1 e “Torres nas Linhas” –
1). Desta vez o “Juntos por Todos” não concorre e alguns dos seus elementos
integram a lista do PSD.
A candidatura do PSD é aqui bastante forte, sendo liderada por uma
figura carismática e simpática e com trabalho feito a nível social, podendo
surpreender e, no mínimo, levar o PS a perder a maioria absoluta. Também é uma
incógnita o que vai acontecer com as outras candidaturas e quem vai beneficiar
mais do facto de apenas concorrer uma lista independente e de o BE não
apresentar candidatura nesta eleição, ao contrário do que aconteceu em 2013.
No meio de todas as incógnitas, soma-se a incógnita do que vão fazer os
abstencionistas, quase 50% nas últimas eleições autárquicas, ou os que optaram
então pelo voto em branco, quase 5% (onde estão quase todos os 7 mil votos perdidos pelos dois partidos dominantes entre 2009 e 2013).
Talvez nunca como neste ano, esteja tanta coisa em jogo e existam tantas
situações imprevisíveis.
Por último duas notas:
As opiniões aqui expressas apenas comprometem o seu autor, não têm uma
base científica e o que se prevê não espelha o desejo do autor, sendo apenas uma reflexão empírica.
Em segundo lugar, uma declaração de interesse: o autor concorre como
independente à Câmara de Torres Vedras na lista da CDU, em posição não
elegível.
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