domingo, 20 de setembro de 2009

As Linhas de Torres Vedras em notícia



(Forte do Zambujal. Fonte: "Público")



O Público edita hoje um trabalho do jornalista Luís Filipe Sebastião sobre os projectos existentes para dinamizar as Linhas de Torres.

Pelo seu interesse, transcrevemo-lo de seguida:





“Fortes que travaram invasão francesa abrem-se ao turismo



As fortificações que abrigaram peças de artilharia vão dar lugar a uma rota histórica e cultural onde apenas se poderão escutar os "disparos" de máquinas fotográficas
Dois séculos após terem sido construídos para travar o avanço das tropas de Napoleão, as fortificações das linhas defensivas de Torres Vedras estão a ser reabilitadas para o turismo cultural. O forte do Zambujal, virado para a foz do Lizandro, é o primeiro a ser integralmente recuperado pela autarquia de Mafra no âmbito da rota histórica que junta seis municípios.
As linhas defensivas de Torres são constituídas por 152 obras militares edificadas entre 1809 e 1811. As estruturas militares, dispostas em barreiras mais ou menos paralelas entre o mar e o rio Tejo, foram construídas de raiz ou aproveitando edificações já existentes pelas tropas luso-britânicas para defenderem Lisboa da terceira invasão das forças francesas. Segundo um levantamento histórico, a primeira e a segunda linhas defensivas contavam com 142 fortes. Um rastreio realizado em 2002 confirmou a localização de 114.
O forte do Zambujal (obra 95), juntamente com os da Carvoeira e de São Julião, faz parte do núcleo militar mais a sul da segunda linha defensiva. Estas estruturas tinham por missão estratégica a defesa da foz do Lizandro, apoiando a frota naval inglesa, e o controlo da estrada entre a Ericeira e Sintra. A fortificação do Zambujal, num morro sobre o vale da Senhora do Ó, estava guarnecido com duas peças de artilharia e 250 milicianos portugueses.
Uma campanha arqueológica, levada a cabo entre Abril e Agosto deste ano, pôs a descoberto "estruturas em madeira que são muito raras de encontrar em bom estado de conservação", notou Ana Catarina Sousa, do gabinete de arqueologia da Câmara de Mafra. A escavação quase integral, apoiada nos diários com os projectos dos engenheiros ingleses, confirmou que a fortificação possuía um túnel escavado na rocha e "um aparelhamento de pedra mais elaborado". A arqueóloga precisou que os elementos em madeira recuperados faziam parte da "plataforma para o canhão deslizar e de uma paliçada que protegia [visualmente] a boca de fogo".
"Conseguimos perceber as técnicas construtivas e ao mesmo tempo recolhemos informações para o próprio restauro, de forma a manter a autenticidade da estrutura", adiantou Ana Catarina Sousa. Além das informações ao visitante - que fica a saber tratar-se geralmente de construções em terra, com uso de pedra e madeira -, foram criados dois acessos, um para viaturas e outro pedonal, este com cerca de 500 metros e que permite "usufruir da paisagem envolvente" sobre a foz do Lizandro.
O município de Mafra possui 43 fortes, mas nem todos serão recuperados como o do Zambujal. Para já, a autarquia tem apoiado a Escola Prática de Infantaria na reabilitação do forte do Juncal, no perímetro da Tapada Militar de Mafra. A Divisão de Infra-estruturas do Exército, por seu lado, tem colaborado em diversas acções de desmatação em fortificações nos concelhos que integram a Plataforma Intermunicipal para as Linhas de Torres (Arruda dos Vinhos, Loures, Mafra, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira).
Em Mafra já foram recuperados outros dois fortes da Enxara e o posto de sinais da serra do Socorro. O telégrafo, cuja réplica foi construída em colaboração com o Museu da Marinha, fazia parte do sistema de comunicações das linhas, transmitindo informações codificadas para a capital do reino em sete minutos. Este circuito funciona desde Novembro de 2008. No próximo ano avançará a reabilitação do forte da Feira, em pleno centro urbano da vila da Malveira.





Bicentenário em 2010



O forte do Alqueidão, em Sobral de Monte Agraço, fez parte da primeira linha de defesa, entre Alhandra (Vila Franca) e a foz do Sizandro (Torres Vedras), e seria o posto de comando das forças aliadas. As primeiras escavações, em 2008, permitiram localizar a "casa do governador", duas canhoneiras, dois paióis e um poço. Entre Julho e Agosto deste ano foram escavados exaustivamente o paiol norte e o pequeno edifício revestido a telha. Aqui se reuniriam o comando militar do forte e o marechal Wellesley (duque de Wellington), que instalara o seu quartel-general em Pêro Negro.
"O paiol está menos estragado do que a casa do governador", explicou Sandra Oliveira, responsável pelo projecto das linhas de Torres na Câmara de Sobral de Monte Agraço. A técnica, que dá apoio à coordenação da plataforma intermunicipal (este ano liderada pelo concelho), acrescentou que se trata de um dos cinco paióis do forte, com 15 metros de comprido, "ainda com vestígios de reboco antigo" e do sistema de escoamento de águas pluviais.
O município, que possui nove fortificações, aposta na concretização de "uma rota histórica e cultural, comum aos vários municípios, com acções concertadas para o bicentenário das linhas em 2010". Sandra Oliveira esclareceu que, em colaboração com o Exército e outras entidades públicas, deverá ser apresentado "até Janeiro" o programa comemorativo das linhas que travaram o avanço francês. A construção arrancou em Novembro de 1809 e a primeira linha foi "avistada" pelas tropas de Massena em Outubro de 1810.
Além da musealização dos espaços do Alqueidão (incluindo os fortes do Machado e do Simplício), a autarquia do Oeste prevê a criação de um núcleo de apoio ao visitante na serra do Olmeiro/Montagraço, o restauro da antiga estrada militar para uso pedonal e recuperação do moinho do forte Novo. Embora reconheça a dificuldade em angariar apoios mecenáticos, a técnica municipal confia que Sobral e os restantes municípios consigam dinamizar a rota, quando estiverem concluídas as estruturas de apoio. No caso do seu concelho, contou, já é habitual responder a pedidos de visita às linhas quando as condições climatéricas não são favoráveis para turistas hospedados em resorts da região jogarem golfe.



Luís Filipe Sebastião, in “Público” de 20 de Setembro de 2009.


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