quarta-feira, 24 de março de 2021

TORRES VEDRAS NO SÉCULO XIX - O Tempo e o Modo na construção de uma vila.

 


1 - Introdução- As três dificuldades.

Quando fui desafiado a escrever uma síntese actualizada sobre o século XIX em Torres Vedras, deparei-me, à partida, com três dificuldades: definir as balizas cronológicas adequadas ao caso torriense; lidar com um vasto e diversificado manancial documental; existirem sínteses muito completas e de grande qualidade sobre esse período da vida torriense.

No que respeita à definição das balizas cronológicas adequadas à realidade do século XIX torriense comecei por me questionar: “que século XIX para Torres Vedras”? Um século que se encaixa na evolução global da humanidade? Um século integrado na realidade portuguesa? Ou será que existe um século específico que identifica a história local torriense?

A definição de balizas cronológicas para o século XIX é tema de vários debates entre historiadores.

Claro que, em rigor, um século …é um período de cem anos…uma verdade de La Palice!!!

Assim, o século XIX começou no dia 1 de Janeiro de 1801 e terminou no dia 31 de Dezembro de 1900.

Mas os ritmos e as rupturas da história, sejam a global, a nacional ou a local, não respeitam a formalidade das datas. Não muda tudo naquelas datas e o que caracteriza um século tem uma parte que vem do passado, outra que caracteriza o próprio século e outra que se prolonga para lá do tempo e tudo isso está aquém e além daquelas balizas que definem um século.

Numa perspectiva global fala-se muito num “longo século XIX” em oposição a um “curto século XX”.

Nessa corrente de opinião as divergências prendem-se principalmente com a “baliza” do inicio, já que todos são unanimes em indicar a 1ª Guerra Mundial de 1914-1918 como o período que “encerra” o século XIX.

O “início” desse longo século XIX varia de autor para autor, ora apontando a Revolução Americana de 1776, ora apontando a Revolução Francesa de 1789, ora recuando mais tempo, considerando a Revolução Comercial iniciada na década de 1750 como o início.

Contudo, se nos focarmos na realidade portuguesa, esta não encaixa totalmente naqueles limites. Para Portugal, ora se apontam as “reformas pombalinas” como inicio do longo século XIX português, ora se aponta um século ligeiramente mais curto, iniciado com as invasões francesas (1807-1810), ou ainda mais tardio e curto, iniciado na afirmação do regime liberal só concretizável a partir de 1834.

Como baliza de final de século, alguns fazem coincidir o encerramento do século na 1ª guerra, embora outros antecipem o final de século na proclamação da República de 1910.

E Torres Vedras?

Será que o “seu” século XIX encaixa nalguma daquelas situações?

A realidade histórica torriense segue de perto a realidade nacional, ou não se desse o caso de estar geograficamente próxima do centro do poder nacional, a cidade de Lisboa. As novidades e as consequências da história nacional sempre chegaram aqui mais depressa do que a zonas mais afastadas do país, muitas vezes com a participação activa deste concelho nesses acontecimentos.

Contudo, mesmo assim, será possível detectar ritmos próprios, identitários deste concelho?

Para mim, balizar o século XIX torriense cruza os impactos globais e nacionais com aspectos identitários e característicos da região.

Contudo, as balizas que ensaiamos construir para o século XIX torriense não são claras, são por vezes elásticas, conforme o foco que utilizarmos.

Para Torres Vedras temos que definir uma primeira baliza algures entre as Invasões francesas (1807-1810), das quais esta região foi um palco privilegiado e activo, nomeadamente na 1ª e na 3ª invasões, e a instauração do regime liberal, que introduziu alterações profundas nas estruturas socias, económicas e políticas do concelho. Aqui existe coincidência com a realidade nacional.

Já a 2ª baliza, a que “encerra” o século, é bem mais fluida, marcada pela afirmação daquilo que chamamos “modernidade”, que começa na década de 80, com a instalação da 1ª tipografia (1884) , a publicação do primeiro jornal local e instalação do primeiro fotógrafo (1885) e a inauguração do caminho-de-ferro (1886-1887), factos estes com grande impacto na economia local e no tecido urbano, que pela primeira vez rompe com os limites medievais, período que se prolonga até à inauguração da luz elétrica em 1912, sem esquecer o grande impacto na estrutura rural e económica do concelho da crise da  filoxera na segunda metade da década de 80 do século XIX.

A segunda dificuldade na construção desta síntese é a enorme quantidade de documentação existente e a sua dispersão para este século, comparativamente com os séculos anteriores.

Não nos podemos esquecer que este é o século das estatísticas, e existem muitas elaboradas ao longo do ´século com dados sobre este concelho, algumas publicadas, mas muitas dispersas por vários organismos.

Em Torres Vedras temos uma vasta documentação no Arquivo Municipal, grande parte dela do século XIX.

Sem esquecer o sempre vasto espólio da Torre do Tombo, não podemos deixar de referir o ainda quase inexplorado Arquivo do Governo Civil de Lisboa.

Durante o mandato do torriense Alberto Avelino como governador civil de Lisboa este arquivo foi organizado e classificado, dando origem a uma publicação onde se divulgou o conteúdo e organização desse arquivo. Com a extinção dos governos civis esse arquivo foi incorporado na Torres do Tombo, desconhecendo-se se manteve a organização então realizada.

Para além da documentação oficial e manuscrita, espalhada por várias instituições (como os livros de décimas do principio do século depositados no Arquivo do Tribunal de Contas), há que referir a difusão da imprensa neste século, estando por levantar a presença de reportagens e correspondências de Torres Vedras publicadas em jornais nacionais. Em Torres Vedras passou a existir uma valiosa documentação com a publicação de títulos regulares a partir de 1885, a maior parte em depósito na Biblioteca Municipal de Torres Vedras.

Ora a existência de tanta documentação, alguma de difícil acesso, outra inédita e espalhada por tantas instituições, é um outro limite a este trabalho, uma mera síntese, elaborada num reduzido período de tempo.

A terceira dificuldade está relacionada com a existência de outras sínteses bastante completas sobre o período em causa, o que torna difícil ser-se inovador e  não cair em repetições.

Recordo aqui os trabalhos de José Travanca Rodrigues (1), de João Pereira (2) , de Célia Reis (3), bem como vários trabalhos de temática mais específica como os de António Rosa  ou Henrique Vieira (ver bibliografia final).

Temos ainda duas excelentes sínteses coevas, a parte Histórica e a parte económica da “descrição histórica de Torres Vedras” da autoria de Madeira Torres e publicadas nas Memórias da Academia de Ciências, respectivamente em 1819 e em 1836, e que foram alvo de um trabalho de aprofundamento com notas ainda hoje muito valiosas para uma segunda edição, da autoria de José Eduardo César e António Jacinto Gama Leal, que deram origem à publicação, em 1862, da parte histórica, continuando o manuscrito da parte económica, escrita pelos mesmos autores, com informações registadas até a segunda metade da década de 60 do século XIX, a aguardar edição (ver bibliografia final).

Temos ainda de referir a imensa bibliografia existente sobre as Invasões Francesas, com muitas referências à região de Torres Vedras, um dos palcos principais desse acontecimento.

Na bibliografia final referimos algumas dessas obras, principalmente as relacionadas directamente com a situação de Torres Vedras face a essa conjuntura.

Tudo isto leva-nos a encarar com alguma reserva e humildade a tentativa de elaborar uma síntese histórica do século XIX, sem cair em repetições, em incongruências ou em esquecimentos.

Mas vamos tentar.


2 . Território e Organização

De que território falamos quando falamos  do concelho de Torres Vedras no século XIX ?

Falar do concelho torriense no século XIX é falar de um território e de uma organização diferentes do actual.

Esse território e essa organização sofreram grandes alterações ao longo do século XIX, comparativamente com a situação dos séculos anteriores, nomeadamente nos três domínios principais da organização administrativa e territorial, a Comarca, o Concelho e a Freguesia.

Para a elaboração deste capítulo tivemos por base as obras de Madeira  Torres, Júlio Vieira e João Pereira, além dos decretos referidos, bem como, para a contextualização,a obra As Freguesias – História e actualidade de José SAntónio Santos.

A Comarca de Torres Vedras

A comarca de Torres Vedras foi criada por carta régia de D. João III datada de 18 de Julho de 1533, mas só se concretizou em 29 de Maio de 1617.

Em 1798 era uma das comarcas da Província da Estremadura ( as outras eram as de Alenquer, da qual Torres Vedras tinha sido desvinculada, de Santarém, do Ribatejo, de Leiria, de Alcobaça, de Chão de Couce, de Ourém, de Tomar, do Crato, de Tentúgal e de Setúbal).

Em 1801 integravam a comarca de Torres Vedras os concelhos de Torres Vedras, Ribaldeira, Sobral , Vila Verde dos Francos, Cadaval, Lourinhã, Ericeira, Sintra, Mafra, Belas e Cascais.

Esta realidade sofreu várias alterações ao longo do século XIX.

Em 1811 mantinha aproximadamente a mesma área geográfica, designando-se a Ribaldeira como “julgado”, trocando-se Sintra por Colares, desaparecendo Belas e aparecendo Enxara dos Cavaleiros, Gradil e Reguengo da Carvoeira.

Colares, Lourinhã, Mafra, Ribaldeira, Cascais e Torres Vedras eram donatárias da corôa, enquanto os restantes tinham senhorios nobres como donatários.

Esta situação mantem-se sem alterações até à vitória do liberalismo.

Ainda na Ilha Terceira, Mouzinho da Silveira ensaia uma reforma profunda na organização administrativa do país, publicando o Decreto de 16 de Maio de 1832, passando a Comarca de Torres Vedras a ser composta por 16 concelhos, mantendo os que existiam em 1811, menos o concelho de Cascais que passava para a Comarca de Lisboa, e acrescentando a Atouguia da Baleia, Peniche e Cheleiros, para além da reposição de Sintra.

Este decreto não entraria em vigor, devido às vicissitudes políticas da época e é em 1836, por decreto de 1836, que é revista a composição das comarcas, bem como as suas funções, já que as político-administrativas são transferidas para os distritos, então criados, passando Torres Vedras a pertencer ao distrito de Lisboa, enquanto as comarcas passam a ter funções apenas na administração da justiça, através dos tribunais.

Assim a Comarca de Torres Vedras, agora com as novas funções de tribunal, passa a incluir os concelhos de Alcoentre, Aldeia Galega da Merceana, Alenquer, Enxara dos Cavaleiros, Ericeira. Lourinhã, Mafra, Peniche, Ribaldeira, Sobral de Monte Agraço, para além da sede, Torres Vedras.

Em 1855 uma nova divisão judicial passa a incluir apenas dois concelhos na Comarca de Torres Vedras, o concelho sede e a Lourinhã.

Em 1877 a Comarca de Torres Vedras, que continua a incluir aqueles dois concelhos, é dividido em 4 julgados (por sua vez subdivididos em juízes da paz) o da Lourinhã, que inclui todas as freguesias desse concelho, e outros três no concelho de Torres Vedras , respectivamente com sede na vila  agregando as 4 freguesias urbanas mais as freguesias de A-Dos-Cunhados, Maxial, Monte Redondo, Ponte do Rol e Ramalhal, no julgado de Runa, que inclui esta freguesia mais as de Dois Portos, Carmões, Carvoeira e Matacães e no julgado de S. Mamede da Ventosa, que inclui essa freguesia e as da Freiria, S. Pedro da Cadeira e Turcifal.

Finalmente, por decreto de 20 de Setembro de 1890, a Lourinhã é desanexada da Comarca de Torres Vedras, que passa a incluir apenas este concelho.

 

COMARCA DE TORRES VEDRAS de 1877 a 1890

Comarca

Julgado

Distrito de Juiz de Paz

Freguesias

Torres Vedras

(sede: Vila)

Lourinhã

Lourinhã

7 freguesias

Runa

Dois Portos

Dois Portos

 

Ribaldeira

 

Carmões

Carvoeira

Runa

 

Carvoeira

S. Mamede

S. Pedro da Cadeira

S. Pedro da Cadeira

 

S. Mamede da Ventosa

 

Freiria

Turcifal

Turcifal

Torres Vedras

S. Pedro da Cadeira

Cunhados

 

Ramalhal

Carvoeira

Maxial

 

Monte Redondo

Turcifal

Ponte do Rol

 

4 freguesias da vila

 

O CONCELHO

Em 1801 o território abrangido pelo Concelho de Torres Vedras tinha uma dimensão e organização territorial ligeiramente diferente daquela que se consolidou na 2ª metade do século XIX:

- as freguesias de Dois Portos e Carmões estavam incluídas no Julgado da Ribaldeira, na prática um concelho independente de Torres Vedras, já que, desde 1735 que esse Julgado tinha sido subtraído à jurisdição ordinária do Juiz de fora da Câmara de Torres Vedras:

- por outro lado, o concelho de T. Vedras  incluía, desde a época medieval, as freguesias  de Enxara do Bispo (ou dos Cavaleiros), Azueira, Sobral d’Abelheira e Fanga da Fé, situação que se vai alterar no século XIX.

Com o liberalismo assistiu-se a profundas alterações na organização administrativa e territorial dos concelhos.

O decreto de 28 de Junho de 1833 impõe uma nova divisão territorial do país, criando novos concelhos , indicando as freguesias a integrar nesses novos concelhos no decreto de 3 de Junho de 1834.

Foi assim que se criou o concelho da Azueira que integrou freguesias retiradas do concelho de Torres Vedras, as freguesias da Azueira, Turcifal, Freiria, Sobral d’Abelheira e Enxara do Bispo.

O decreto de 24 de Outubro de 1855, ao contrário do anterior decreto, extinguir concelhos, alterando novamente os limites do concelho torriense.

Este decreto extingue, entre outros, o concelho da Azueira, reintegrando as freguesias de Freira e Turcifal no concelho de Torres Vedras, enquanto as restantes, que já tinham pertencido a este concelho, passam a integrar o concelho de Mafra.

Por sua vez esse documento extingue igualmente o Julgado da Ribaldeira, integrando as freguesias de Dois Portos e de Carmões em Torres Vedras.

Em sentido contrário, a freguesia de Fanga da Fé (actual Encarnação) é retirada a Torres Vedras e é anexada ao concelho e Mafra.

Esse decreto  fixa o território do concelho de Torres Vedras nos limites actuais.

Por decreto de 4 de Novembro de 1859 alteram-se os limites das freguesias com sede no centro urbano, sendo extintas  a de S.Miguel, integrada na de STª Maria, e as Santiago, integrada na de S.Pedro.

Em 1862  formou-se uma Comissão Comarcã, presidida pelo Dr. José António da Gama Leal, para fixar a demarcação das freguesias de Torres Vedras, trabalho que seria finalizado dois anos depois, cujo resultado está depositado no Arquivo Municipal, um conjunto de cadernos com a listagem de lugares, casais e quintas, que integravam cada uma das freguesias, e, no caso das freguesias “urbanas”, o nome das ruas, com as propostas de alteração e a decisão final, indicando igualmente o nº de fogos e habitantes em cada um daqueles sítios, bem como a distância da sede de freguesia.

Em termos gerais, a decisão final dessa comissão corresponde à delimitação actual das freguesias, apenas alterada pela criação de novas freguesias já no século XX e XXI.

Houve ainda uma decisão de duração efémera que voltou a alterar os limite do concelho, o Decreto de 26 de Setembro de 1895, integrando no concelho de Torres Vedras os então extintos concelhos do Sobral de Monte Agraço e Arruda dos Vinhos e integrando a freguesia da Freira no concelho de Mafra.

Esta alteração durou menos de três anos, pois o decreto de 15 de Janeiro de 1898, voltou a autonomizar os concelhos do Sobral e da Arruda, reintegrando a freguesia da Freiria no concelho de Torres Vedras.

De assinalar ainda que a freguesia de S.Pedro da Cadeira inclui o território da actual freguesia da Silveira, criada no século XX, e a freguesia “urbana” de Stª Maria inclui nos seus limites o território da actual freguesia de Campelos, criada em 1926.

Em termos administrativos a organização dos concelhos foi alvo de várias alterações, visando a sua democratização, no âmbito das reformas liberais que marcaram todo o século XIX , situação estudada em pormenor, para o caso de Torres Vedras, por João Pereira e José Travanca, nas obras já referidas e indicadas na bibliografia final.


 

DA VINTENA À FREGUESIA

Até ao liberalismo havia uma distinção clara entre paróquias e vintenas.

Enquanto as paróquias tinham funções religiosas e tinham como principal função administrativa elaborar os registos paroquias (nascimento, casamento e óbitos), as vintenas tinham funções administrativas ligadas à justiça e à cobrança de impostos  como a décima.

O chamado juiz de vintena existia nas Ordenações Afonsinas, e eram delegados dos concelhos nos lugares com 20 vizinhos ou mais, com o objectivo de derimirem pequenos casos locais.

Por provisão de 20 de Fevereiro de 1749 do Conselho da Fazenda para a Provedoria da Comarca de Torres Vedras, ordenava-se que houvesse em cada lugar de 20 vizinhos um juiz de vintena, para “dar coima” e cobrar a décima.

Os livros de décima são, aliás, um interessante documento para estudar a vida económica e social de um concelho, existindo livros de décima “do juro” (sobre dividas e empréstimos), “rural” (sobre a produção agrícola), “urbano” (sobre edifícios) e de “maneio” (sobre profissões não rurais, principalmente as administrativas e as artesanais), estando as de Torres Vedras localizadas no Arquivo do tribunal de Contas em Lisboa, e, mais ou menos completas, abrangendo todos os anos entre 1764 e 1832.

A legislação liberal fundiu as funções administrativas centrais, que cabiam aos juízes de vintena, com as tradicionais paróquias medievais, dando assim origem às Juntas de Freguesia e de Paróquia.

A primeira tentativa de legislar nesse sentido foi o decreto de 26 de Novembro de 1830 publicado em Angra do Heroísmo por Mouzinho da Silveira e definia que a Junta de Paróquia seria presidida por um regedor e composta por mais 3,5 ou 7 membro, de  acordo com a dimensão das paróquias.

Eram-lhe atribuídos as funções de conservar e reparar a Igreja Paroquial, receber e administrar os rendimentos e esmolas da Igreja, cuidar da conservação de fontes, poços, pontes, caminhos, baldios, etc. Ficavam igualmente com a responsabilidade de promover a saúde publica e cuidar da “escolas de primeiras letras”.

Contudo, foi só com a lei de 25 de Abril de 1835 e o decreto de 18 de Julho desse ano é que as freguesias foram definitivamente integradas na organização administrativa portuguesa.

VINTENAS DE TORRES VEDRAS (1801-1831)

                            Valor da décima rural (por vintena)

1801

1806

1812

1831

Freguesia

Vila

122$881

180$847

253$637

X

urbanas

Serra  da Vila e Barro

2$808

77$919

76$292

X

urbanas

Varatojo

4$743

55$190

50$536

X

urbanas

Fonte Grada

6$624

114$374

120$710

X

urbanas

Galegueira

 

 

 

X

Carmões

Baraçal

 

 

 

X

Carmões

Carvoeira

7$304

69$955

69$958

X

Carvoeira

A-da-Rainha

2$713

93$880

97$434

X

Carvoeira

Panasqueira

2$871

19$535

19$452

?

Carvoeira

Zibreira

7$483

73$340

132$252

X

Carvoeira

Dos  Cunhados

3$258

51$916

47$063

X

Cunhados

Póvoa e Maceira

2$463

27$489

24$929

X

Cunhados

Dois Portos

11$760

 

 

X

Dois Portos

Caxaria/Ribaldeira

39$159

 

 

X

Dois Portos

Furadouro

43$930

 

 

X

Dois Portos

Feliteira

7$739

 

 

X

Dois Portos

Bulegueira

8$055

 

 

X

Dois Portos

Sirol

 

 

 

?

Dois Portos

Freiria

7$109

42$865

36$201

X

Freiria

Sarreira

7$689

183$135

21$442

X

Freiria

Matacães

7$272

85$846

95$509

X

Matacães

Rib.ª de Matacães

1$776

16$364

19$454

X

Matacães

Maxial

6$011

37$498

33$372

X

Maxial

Aldeia Grande

3$027

36$229

41$822

X

Maxial

Ermigeira

3$072

46$985

13$510

X

Maxial

Vila Seca

$767

12$115

7$580

X

Maxial

Lubagueira

11$476

83$245

78$517

?

Maxial

Monte Redondo

2$401

16$163

14$402

X

Monte Redondo

Ponte do Rol

5$397

101$517

99$566

X

Ponte do Rol

Ramalhal

7$602

56$067

62$504

X

Ramalhal

Vila Facaia

1$944

67$833

61$871

X

Ramalhal

Runa

11$033

69$291

67$798

X

Runa

S.Pedro da Cadeira

5$360

208$014

189$044

?

S. Pedro da Cadeira

Zimbral

4$048

66$734

62$752

X

S. Pedro da Cadeira

Turcifal

19$977

80$057

79$344

X

Turcifal

Melroeira

5$643

138$572

125$431

X

Turcifal

Carvalhal

2$041

110$479

77$057

?

Turcifal

Mugideira

4$951

 

 

X

Turcifal

Cadriceira

1$767

24$925

24$358

X

Turcifal

S.Mamede

4$876

85$229

80$984

X

Ventosa

Barril

3$423

11$509

10$642

X

(Mafra)

Azueira

14$891

129$793

143$983

X

(Mafra)

Vermoeira

6$256

58$475

53$442

X

(Mafra)

Sobral da Abilheira

 

61$313

69$067

?

(Mafra)

Enxara do Bispo

6$538

102$630

89$627

X

(Mafra)

S.Sebastião

2$464

33$484

31$509

X

(Mafra)

(Livro de décimas da extremaduravintenas do concelho de Torres Vedras (1801, 1806 ,1812  e 1831); arquivo histórico do Tribunal de Contas, Lisboa. As últimas 6 vintenas foram integradas no concelho de Mafra).


3 – Quem eram os Torrienses do século XIX? (Demografia e Estrutura socioprofissional)

Não vamos tratar neste capítulo de personalidade torrienses que se distinguiram neste século, mas das características gerais da população deste concelho ao longo do século XIX, do ponto de vista da demografia e da estrutura sócio-profissional.

Claro que existem torrienses que se distinguiram na vida nacional e local durante este século, nos mais variados sectores e podíamos destacar figuras como um padre Madeira Torres, um Henriques Nogueira ou um Jaime Batalha Reis, entre outros, alguns já biografados, a dominar uma elite politica, social e económica, já detalhadamente tratada no estudo de João Pereira e  por José Travanca, nas obras já referidas, e por Célia Reis na também já referida monografia sobre a Santa Casa da Misericórdia de Torres Vedras.

Por isso, nesta síntese,  vamo-nos limitar à análise mais geral dos habitantes deste concelho, uma massa anónima que aqui viveu e trabalhou e muitas vezes apenas é visível na frieza dos números, mas que foi a base da evolução deste concelho.

Tendo por base os recenseamento mais fiáveis, o de 1801, “recenseamento da Comarca de Torres Vedras” realizado pelo Patriarcado de Lisboa e depositado no Arquivo da Assembleia da República, o de 1828, o chamado “Recenseamento de Sousa Coutinho”, publicado em 1836 no Diário do Governo, o de 1858, no “Relatório do Governo Civil do Districto Administrativo de Lisboa” e nos Censos oficias da População, iniciados em 1864 e continuados em 1878, 1890 e 1900, podemos observar no gráfico em baixo a evolução do concelho de Torres Vedras:


 Entre 1801 e 1900 a população do concelho cresceu 83,4%, embora a ritmos diferentes.

É observável o abrandamento entre 1801 e 1828, período marcado pelo impacto das invasões francesas e pelos conflitos políticos internos e a aceleração do crescimento entre 1878 e 1890.

Observemos agora essa evolução discriminada pelas várias freguesias do concelho em dois gráficos, um com as freguesias rurais e outro com as freguesias “urbanas”:

FREGUESIAS RURAIS:

O crescimento das várias freguesias rurais ao longo do século é continuado, mas em ritmos diferentes.

Destacamos os seguintes casos, mais significativos:

- A freguesia de A-Dos-Cunhados conhece um crescimento muito acentuado ao longo do século, um aumento de 211,6% (só ultrapassada pela freguesia de Monte Redondo, 286,9%, um dado irrelevante dado a reduzida dimensão desta freguesia). Alterações no tipo de propriedade, no tipo de produção e melhoria das ligações viárias podem justificar essa situação.

- A freguesia de S. Pedro da Cadeira, que incluía a actual Silveira, embora com um crescimento percentual menos significativo, torna-se a maior freguesia do concelho em números absolutos, ultrapassando a até aí dominante freguesia de Dois Portos.

Pelo contrário as freguesias de Carmões, Dois Portos Ramalhal e Runa conhecem um evolução lenta, conhecendo mesmo algumas quebras assinaláveis em determinados períodos, endro significativo o caso de Dois Portos, com dois períodos de quebra, um entre 1801 e 1828 e outro entre 1890 e 1900, enquanto a de Runa conhece uma quebra mais prolongada, entre 1801 e 1864.

Acentua-se assim o fenómeno de litoralização do concelho, mais acentuada ao longo do século XX, em detrimento do interior, invertendo uma tendência histórica.

A instabilidade político-militar no inicio do século, com movimentos assinaláveis no interior do concelho, as alterações na produção agrícola e a crise da filoxera, no final do século, terão contribuído para essa alteração estrutural na distribuição regional   da população rural do concelho

No gráfico onde mostramos a evolução da população nas freguesias com sede na vila incluimos também dados recolhidos num recenseamento com fins militares elaborado em 1843, existente no Arquivo Municipal de Torres Vedra (4).

Convém recordar que houve unificação da freguesia de Stª Maria com a de S. Miguel e de S.Pedro com a de S. Tiago na segunda metade do século XIX.

Também nestas freguesias se pode registar uma certa estagnação, ou mesmo decadência, na primeira metade do século.

No conjunto, a de S.Pedro é a que conhece maior crescimento secular, sendo de registar que a freguesia de Stª Maria integrava uma vasta região rural no limite norte do concelho, aquilo que é hoje a freguesia de Campelos.

Os mapas que abaixo se publicam mostram realidade diferentes.

No primeiro temos a evolução da densidade populacional, onde a realidade é condicionada pelas diversas dimensões das freguesias, mas onde é evidente a “caminhada” do crescimento demográfico a caminho do litoral pela zona sul do concelho.

No segundo mostra uma outra realidade, o crescimento da população em percentagem entre o inicio e o final do século, evidenciando a litoralização acima referida.


Aqui recordamos o balanço feito por José Travanca (pp.160-161) onde essa evolução populacional é observável ao longo do século XIX.

Para esse autor “o concelho estruturou-se visivelmente em focos bem definidos, de acordo com o potencial dos solos disponíveis, em volta do polo urbano da vila”, caracterizando a “divisão” demográfica do concelho de acordo com 4 zona distintas:

- as freguesias sedeadas na vila de caracter urbano, especialmente a de S.Pedro, “mas fortemente marcadas pelo peso rural”, especialmente as de Stª Maria e S.Miguel;

-a região sul e oriental do concelho (Monte Redondo, Matacães, Runa, Carvoeira, Carmões, Dois Portos, Turcifal e Freiria), “zonas de peso demográfico mais decisivo na história do concelho, por serem” as que dispõem, “em maioria dos solos mais apetecíveis”;

- o norte interior (Maxial e Ramalhal) condicionado pelos “solos pobres e delgados”, pouco propicio “à agricultura intensiva”;

- o litoral ocidental (Ponte do Rol, S. Mamede da Ventosa, S.Pedro da Cadeira e A-Dos-Cunhados) com maior diversidade das aptidões dos seus solos, os “solos pobres do interior do concelho”, os “solos férteis do Sizandro que atravessa as três primeiras freguesias” e, em A-Dos-Cunhados, o “solo fértil do Alcabrichel”, mas com predominância de “solos  de fertilidade média ou infeiro”.

Essas diferenças justificam, segundo o mesmo autor, a tendência secular registada em cada uma daquelas zonas, como a “manutenção do peso das freguesias da vila”, o “crescimento, lento mas regular das freguesias do norte interior”, a “acentuada quebra do sueste do concelho” e o “crescimento irregular mas acentuado e notável” do ocidente litoral (p.166).

Resumindo e concluindo, existem três razões principais que condicionaram as profundas e diferentes alterações demográficas nas várias zonas do concelho:

- alterações nos modos de produção, com a renovação da vinha, principalmente no último quartel do século e a introdução de novos produtos, como a batata;

-alterações do tipo de propriedade, marcadas, principalmente no segundo quartel do século, pela desvinculação de terras pertencentes à Igreja e a outros senhorios, bem como a remissão de foros;

- a melhoria generalizada dos transportes e das condições de vida, principalmente na segunda metade do século.

 

CONDICIONALISMOS DEMOGRÁFICOS: epidemias e alterações sanitárias

Um dos principais condicionalismos da evolução demográfica característico das sociedades de “antigo regime” era o efeito da mortalidade provocada pela forma como se propagavam várias epidemias.

O século XIX herda esse condicionalismos, ao mesmo tempo que é neste século que se começam a registar importantes alterações  sanitárias que travam esses fenómenos e contribuem para uma maior evolução demográfica.

Ao longo do século XIX Torres Vedras sofre os efeitos de vários surtos epidémicos, mais acentuados, pelos seus efeitos e pela sua dimensão, na primeira metade do século.

Entre os registados, salientamos, por ordem cronológica, os seguintes:

-1795 – Epidemia registada nas freguesias de S. Pedro da Cadeira e Ponte do Rol (nesta última sabe-se que foi registada entre 11 de Fevereiro e 20 de Maios);

-1798 – Epidemia nos lugares de Abrunheira, Monte Redondo e Maxial, entre Abril e Junhos;

1810 – Epidemia de grandes dimensões e bastante mortal, registada no final do anos e referida por Madeira Torres nos seguintes termos: “Por este tempo [finais de 1810] grassava na villa, e muito mais nas suas vizinhanças, um contagio, que foi quase geral, sendo mais mortífero nas terras invadidas [refere-se à 3ª invasão francesa], e nos emigrados por serem mais incomodados, e menos socorridos. Contaram-se tantos mortos, que foi preciso designar-se um amplo cemitério juncto à Igreja de S. Miguel, e ainda este teve de ampliar-se além dos seus primeiros limites” (Madeira Torres, 2ª edição histórica,p. 179). Segundo Júlio Vieira (p.207), deve-se a este facto o nome dado a “casal dos ossos” localizado próximo desse lugar;

1817 – Entre Abril e Maios regista-se uma epidemia nos lugares  da Ermigeira e do Maxial;

1824 – Regista-se uma epidemia no lugar da Carvoeira;

1833 – Epidemia de “Cholera-morbus” (febre amarela), surgindo na vila em 22 de Maio e prolongando-se até Junho e, embora menos devastador que noutros lugares do país, provocou 30 mortos na vila. O facto de a Câmara ter tomado várias medidas preventivas antes desta chegar ao concelho contribui para evitar que o seu efeito fosse mais devastador, pois, tomando-se conhecimento que aquela epidemia já grassava em Lisboa, tomaram-se várias medidas para a combater em vereação extraordinária de 30 de Abril desse ano (ff. 345, 345 v e 346, do Lº 26ª dos Acordãos [1817-1834]):

1ª – removeram os matadouros para “o poente da villa no cítio da Fonte da Pipa próximo do rio (…)”;

2ª – “que a dessecação das tripas seja para o Monte de S. Vicente ou cazal da Forca assim como a cura do sebo”;

3ª – “que as rezes que se talharem nos açougues sejão os mais saudáveis, e o pescado o mais fresco, e todo aquelle que se achar incapaz será apreendido e queimado”;

4ª – mandou queimar todos os animais “sendo bois, porcos, ovelhas ou cabras, e todos os mais enterrados de forma que não possão ser lançados no Cano Real”;

5ª –“que se fará dar mais prompta expedição às agoas do Cano Real devendo  as confinantes alargar e aprofundar para esse fim a regueira tanto quanto seja necessário, e que para evitar extagnação de immundices no mesmo Cano Real se despejará para elle nas noites quartas feiras e sábados de cada semana o tanque do chafariz da Praça juntamente com mais doze pipas ou dornas de àgua que para esse fim se lançarão nas mesmas noites em o dito tanque sendo conduzidas por carros do chafariz dos canos”;

6ª – mandou escoar as águas da regueira dos Polomes;

7ª-“que em todos os dias da semana deverão todos os proprietários e moradores desta villa fazer limpar de manhã suas respectivas testadas e de dois em dois dias os pateos interiores, cavalariças ou currais de bois, fazendo extrahir os extrumes para fora da villa”;

8ª – proibia a existência de “currais de vacadas, ovelhas, cabras ou porcos” dentro da villa, obrigando os seus donos a remover os animais para fora da vila;

9ª –proibia os ferradores de sangrar animais dentro da vila, só o podendo fazer “junto do Rio alé, da Ponte da Mentira”;

10ª – mandava que se fizessem “revista” aos “comestíveis e vegetaes que estiverem a venda nas tendas desta villa” e proibia “que estas ultimas possão ser conservadas em as ditas tendas de hum para o outro dia por causa da fermentação”;

11ª –“que se publiquem aos Povos os comestíveis que são nocivos à Saude Publica”;

12ª-  que, dando-se o caso de a “enfermidade que infelizmente graça em parte da capital” chegar à vila, “se estabelecerão fora della alguns Hospitaes Provizorios para cujo efeito se destinarão desde já as cazas da Quinta de Custodio José Rodrigues e as do Beneficiado José de Leonico e João Ignacio no citio da conquinha e as da Quinta do Prior”;

13ª – que os “Boticarios tenham em suas boticas todos osmedicamentos constantes da relação que fora dada pelos facultativos”;

14ª – em caso de necessidade serão chamados todos os facultativos da vila e termo como os da comarca “para concorrer ao ponto onde for necessário”;

15ª – que se promova uma subscrição na vila e termo em dinheiro, roupas e “alguns utensílios, só nominal e para ter efeito somente e se verificar a recepção no cazo de infelizmente chegar a existir o fim pqrq que he aberta”.

Como vimos, a epidemia chegou à vila cerca de três semanas depois de tomadas estas medidas;

1844- epidemia de escarlatina, provocada pelos arrozais plantados em 1841 a norte da vila;

1848 – um acórdão da Câmara de 6 de Outubro manda que se tomem medidas para o caso de a peste d “Cholera-morbus” que então grassava na Europa chegar ao país;

1853- A partir de Outubro grassa pelo país uma grave epidemia de “Cholera-morbus”, desconhecendo-se, contudo, se houve algum caso registado no concelho de Torres Vedras;

1855 – são tomadas várias medidas de prevenção para enfrentar uma possível chegada ao concelho de um surto de “cholera-morbus” que já grassava no país, tais como o estabelecimento de hospitais provisórios no Convento da Graça e na Quinta do Desembargador, dando-se igualmente cumprimento a uma circular de Lisboa, de 20 de Outubro, para suspender a realização de feiras até ao final do ano, assim como outras recomendações recomendando “aos Povos da villa e concelho a maior limpeza das suas casas, lojas, saguões e estrumeiras, removendo todos os focos de infecção”, sugerindo-se igualmente que “se accendam fogueiras à noite em frente das casas” por ser este “um dos meios de purificar o ar” (Lº 28 dos Acordãos(1842-1856), acórdão de 10/11/1855).

1856 – A epidemia de “Cholera-morbus” (ou “febre amarela”) é registada no concelho entre 28 de Julho e 3 de Outubro, provocando, contudo, poucos mortos, cerca de 14 na vila. Um doa lugares mais atingido foi a Serra da Vila, onde se registaram 21 mortos. O primeiro caso registado no concelho foi na localidade do Paúl, registando-se igualmente alguns casos no Turcifal e na Ribaldeira;

1857 – o surto de febre amarela que atingiu Lisboa  não teve efeito em Torres Vedras, apenas  sendo registado o caso de duas pessoas doentes que vieram de Lisboa, mas que não contagiaram ninguém neste concelho;

1872 – registam-se em Dezembro no concelho alguns casos de “bexigas” (Copiadores da Correspondência do  Administrador do Concelho para o Governo Civil [1868 a 1890], Arquivo Histórico Municipal de Torres Vedras, documento daqui para a frente designado com a sigla CAC);

1876/1877 – entre Dezembro de 1876 e Janeiro de 1877 regista-se uma epidemia de varíola na vila, levando o administrador do concelho a solicitar vacinas (CAC);

1882- em julho regista-se uma epidemia de varíola na freguesia de Dois Portos (CAC);

1884- são tomadas medidas de prevenção contra o surto de cólera que grassa no país;

1889 – em 29 e 30 de Dezembro inicia-se na vila uma epídema de “influenza” (CAC);

1896- um acórdão de 5 de Agosto dá conta de uma epidemia na Cadriceira.

Confirma-se assim uma maior incidência de epidemias na primeira metade do século, embora nunca se tendo registado grande mortandade neste concelho.

Contudo, este tema carece de estudos mais aprofundados.

Medidas Sanitárias

Uma das medidas de saúde pública  de maior impacto foi a criação de cemitérios públicos .

 A primeira tentativa de os estabelecer no país data de 1805 (alvará de 27 de Março) e 1806 (alvará de 18 de Outubro), mas que não tiveram qualquer efeito.

Foi preciso esperar pelo decreto de 21 de Setembro de 1835 para concretizar essa medida sanitária, que culminaria com o decreto de 18 de Setembro de 1884 proibindo os enterramentos junto das Igrejas, medida que tanta controvérsia provocou e que esteve na origem da revolta da “Patuleia”.

Em Torres Vedras este tema já foi por nós estudado e apresentado noutra comunicação, pelo que nos limitamos a traçar aqui, de forma resumida, o modo como essa medida foi implementada (“Elementos para o estudo da Saúde Pública e da criação dos cemitérios públicos em Torres Vedras no século XIX”, in Turres Veteras VI, ed. 2004, pp.113 a 152)

O primeiro pedido para a construção de um cemitério na vila que incluísse o enterramento dos falecidos nas quatro paróquias sedeadas na vila, data de 23 de Agosto de 1805, por iniciativa da Ordem Terceira, mas tal pedido apenas será concretizado por concessão datada de Março de 1832, começando o novo cemitério, localizado no Alto de S. João, a ser edificado em 1848.

O 1º enterramento foi efectuado em 30 de Junho de 1849, data a partir da qual se deixaram de fazer enterramentos junto das quatro igrejas da vila e da Igreja da Misericórdia.

Nas restantes freguesia do concelho a organização dos cemitérios seguiu a seguinte cronologia:

(Fonte : Relatório do Governo Civil de Lisboa de 1859)

 

Sendo esta a principal iniciativa de melhoria da saúde pública, muitas outras se podem registar ao longo do século XIX que contribuíram para a melhoria generalizada das condições sanitárias do concelho, principalmente na vila, como se pode ver pelo breve levantamento que aqui mostramos de medidas camarárias:

- em 1832 um acórdão camarário mandou intimar “os confinantes do Cano Real” para tirarem “os estrumes cada hum na sua respectiva testada da maneira que os vapores não possão prejudicar a Saúde Pública”, lançando na mesma data um acórdão para que os “juízes almotacés” cumprirem “exactamente o seu Regimento quanto a limpeza publica não consentindo que se conservem nas ruas immundices, agoas extagnadas, animaes mortos, extrumeiras, e tudo o mais que possa inficcionar a saúde publica” (Lº Acordãos 26-A (1817-1834), 23/5/1832, fª 336);

- um outo acórdão de 1835, onde se ordena o concerto das “calçadas desta villa”, traça um interessante retrato do estado sanitário da vila, ao considerar que “os damnos cauzados nas calçadas são motivados pela maior parte pelo abuzo com que os moradores vizinhos lanção agoas e immundices nas mesmas ruas principalmente os que fazem tascas conservando sempre húmidas as calçadas e até partindo lenhas sobre ellas, e também são motivadas pelos animaes que deixão as soltas pelas mesmas ruas”, pelo que se mandava “que todos os taverneiros, tasqueiros, barbeiros e outros quaisquer pessoas de qualquer ocupação ou graduação que for, que lançarem agoas e immundices nas ruas, ou quebrarem lenha, ou fizerem outra qualquer obra de que possa resultar damno às calçadas sejão condenadas  por cada vez  em dois mil reis para o concelho e farão o concerto à sua custa.

“E que toda a pessoa que deixar às soltas porcos pelas ruas , ou ahi os crear junto de suas portas ou deixar entrar pelas fazendas alheias sejão condemnados nas multas do concelho e poderão ser mortos os mesmos porcos por qual quer pessoa do povo, e perdido sendo,metada do seu valor para o matador ou apresador e outra metade para as despezas do concelho” (LºAcordãos nº 27 (1834-1842), 7 /11/ 1835, f.45v);

Dez anos depois a presença de porcos pelas ruas da vila continuava a preocupar as autoridades:

“propôs o Presidente da Câmara a necessidade que havia de huma caza que podesse servir para curral do concelho não só para nella se recolherem os porcos que andão em grande número pelas ruas da villa como todo o mais gado que se encontra fazendo prejuízo em as novidades parecendo-lhe próprio para este fim huns pardieiros que há na rua das Flores pertencentes a João José Capote o qual só exige para eles a modica renda de mil e duzentos reis cada ano” (Lº Acordão nº 28 (1842-1856),de 10/5/1845).

ANALFABETISMO E EDUCAÇÃO

Pelos recenseamentos realizados no final do século, sabe-se que o analfabetismo do concelho ultrapassava os 80%:

- 1878 -  86,07 de analfabetismo;

 - 1890 – 84,71% de analfabetismo;

- 1900 – 83,31 de analfabetismo;

Mesmo assim Torres Vedras conheceu um grande desenvolvimento no domínio da educação, com a criação, em vários locais do concelho, de escolas de primeiras letras, mistas, femininas e masculinas, distribuídas do seguinte modo:

Sede da escola

Freguesia

Tipo

Alunos em 1859

Alunoss em 1862

Alunos em

1876 (média anual)

Alunos em 1899

Observações

T.Vedras

Stª Maria

Masculina (M)

42

45

44

543

Rua da Olaria (1876)

T.Vedras

Stª Maria

Feminina (F)

16

50

30

495

1859 – escola particular.

Rua dos canos, edifício particular (1876)

T.Vedras

S.Pedro

F

35

 

-

-

1859 –escola particular.

Ribaldeira

Dois Portos

M

28

20

22

263

Edifício particular pago pela Câmara (1876)

Ribaldeira

Dois Portos

F

-

 

35

212

Edifício particular pago pela Câmara (1876)

Coutada

S.Pedro Cadeira

Mista

-

 

31m

308 m + 383 f

Edifício particular e masculina (1876)

S.Pedro Cadeira

S.Pedro Cadeira

M

39

18

-

-

 

S.Pedro Cadeira

S.Pedro Cadeira

F

7

 

-

-

1859 – escola particular

Turcifal

Turcifal

M

18

25

13

208

Rua da Barreira em edifício particular (1876)

Turcifal

Turcifal

F

-

 

-

204

 

Maxial

Maxial

M

vago

8

9

122

Na extinta albergaria (1876)

Maxial

Maxial

F

-

 

-

144

 

Freiria

Freiria

Mista

28 m

9

20

567 (total)

“rua direita” em edifício particular pago pelo município -masculina(1876)

Matacães

Matacães

M

20

25

20

88

edifício particular pago pelo município -masculina(1876)

Matacães

Matacães

F

-

 

25

108

Edifício particular pago pela junta (1876)

Ramalhal

Ramalhal

Misto

-

 

18

311 (total)

Edifício particular pago pelo município – masculino (1876)

A Dos Cunhados

A Dos Cunhados

M

-

 

20

124

Edifício particular

Carvoeira

Carvoeira

Misto

9 m

23

10 m

289 (total)

Edifício particular – masculina (1876)

Ponte do Rol

Ponte do Rol

F

-

 

-

78 f + 102 m

 

Corujeira

Carmões

M

25

 

19

72

Edificio particular pago pela Câmara (1876)

Carmões

Carmões

F

-

17 (mista)

27

73

No adro da Igreja (1876)

Runa

Runa

M

28

36

26

79 m + 74 f

Sede da paróquia, edificio particular (1876)

S.Memede

Ventosa

M

vaga

8

10

223

Sitio do castelão em edifício particular (1876)

Moçafaneira

Ventosa

F

-

 

36

226

Edificio particular (1876)

Monte Redondo

Monte Redondo

M

18

16

7

100

Edificio particular arrendado pela Junta (1876)

Monte Redondo

Monte Redondo

F

-

 

20

70

Andar superior da masculina (1876)

(Fonte : 1859 – Relatório do Governo Civil do Districto Administrativo de Lisboa, ed. 1860; 1862 – Apêndice nº 12 , editores da parte económica de Madeira Torres (indica apenas o total, sem referir género); 1879 – Correspondência do Administrador do concelho pata o Governo civil;1899 – “escolas existentes e população escolar recenseada em 1899, Célia Reis, a partir de AHCMTV, “Correspondência”, caixa 28, Quadro XIV, p.145).

O relatório do Governo Civil indica também que existia, em 1859 uma escola de ensino secundário, localizada na freguesia de STª Maria, paga pelo estado, com 13 alunos do sexo masculino (CAC, pp.56-57).

Por sua vez, além das escolas de “instrução primária”, os anotadores de Madeira Torres, na inédita edição manuscrita da parte económica, no seu Apêndice nº 12, indicam que havia uma escola de Latim, com 7 alunos, ministrada pelo Reverendo José Joaquim da Silva Bastos.

Não sabemos bem que tipo de escolas eram essas, pois foi apenas em 1880 que, na reforma de Luciano de Castro, foram criadas “escolas secundárias municipais”.

Na sequência dessa reforma o município torriense solicitou autorização para a criação de uma escola secundária em Torres Vedras, pedido confirmado por portaria de 6 de Fevereiro de 1890.

Esta escola secundária funcionou nos paços do concelho, tendo decorrido a sessão solene de abertura em 9 de Outubro de 1890, iniciando-se as aulas no dia seguinte. Esta primeira escola  secundária municipal acabou  por encerrar em 1903, uma decisão polémica, e que, em termos locais, contribuiu para desacreditar as elites monárquicas (ver António, Venerando “o Nascimento do Ensino Secundário em Torres Vedras”, in Badaladas de 30 de Março d 1990 e MESQUITA, José Carvalho História do Ensino Secundário em Tores Vedras, ed.1969).

Ao longo do século funcionaram ainda várias escolas ligadas aos conventos locais, uma no Convento da Graça, desde 1780, encerrado em 1834, mas onde, a partir de 1872, passará a funcionar o “Colégio de S. José”.

Em 1860, ano em que os Jesuitas tomam posse do Convento do Barro, que tinha pertencido aos “arrábidos” e tinha sido encerrado em 1834, ali começa a funcionar um “colégio” para a educação de raparigas órfãs, e funcionará até 1910. Nesse mesmo local será inaugurada, em 1866 uma de “estudo de letras “ (humanidades e retórica) para estudantes Jesuitas, que encerrará em 1878, reabrindo em 1892, durando até 1910. Em 1879 abri aqui uma “escola apostólica” para candidatos à vida monástica, funcionando até 1892, dando lugar, a partir de 1895, a uma escola de estudos teológicos para estudantes jesuítas, mas que encerrará ao fim de um ano.

Em 1861 é a vez de o Convento do Varatojo, reaberto e que voltou à posse dos franciscanos, abrir uma escola de primeiras letras para rapazes, criando outra para raparigas em 1867.

Também se conhecem alguns colégios privados que funcionaram em Torres Vedras, como o de Hipólito Matos Cordeiro, inaugurado em 1876 e um de ensino do francês ministrado por Batthelemy Eugene.

Importante para o combate contra a filoxera e para o desenvolvimento da actividade vitvinicola na região foi a Escola Prática de Viticultura, inaugurada no dia 1 de Dezembro de 1888 na Quinta da Viscondessa (Turcifal).

ESTRUTURA SÓCIO-PROFISSIONAL

Em baixo reproduzimos, em gráficos, a distribuição percentual dos três sectores de actividade, distribuídos nos quatros anos do século XIX para os quais existem dados mais completos e fiáveis, os anos de 1817, com base nas informações de Madeira Torres na parte económica da sua monografia, as de 1862, referidas pelos anotadores na 2ª edição manuscrita e inédita daquela obra, e os dados oficiais dos recenseamentos nacionais de 1890 e 1900:


A tendência óbvia que se observa é o peso do sector primário, que regista, contudo, uma evolução no mínimo estranha, entre 1890 e 1900, pois a tendência natural seria uma evolução inversa.

No próximo gráfico podemos ver esses sectores de forma mais descriminada, tendo por base os critérios de classificação usados nos recenseamentos oficiais de 1890 e 1900 e acrescentando dados de 1843.Estes não incluem a mesma área geográfica, já que o concelho, como vimos em cima, tinha então uma dimensão diferente, mas permite observar tendências gerais:

De realçar, para além de alguma variação inconstante do sector primário, que pode ser motivado pela indefinição dos “domésticos” e dos “outros” nalguns desses documentos, onde podem estar incluídos muitos profissionais do sector primário, que, se incluirmos os “domésticos” e os “outros” no sector primário, este ultrapassa sempre os 70%.

Os sectores da “industria” (que englobam na maior parte as actividades de tipo artesanal) e o dos “transportes” conhecem um grande crescimento, se não em termos percentuais, pelo menos em termos numéricos. Ao crescimento dos profissionais no sector transportes não será estranha a inauguração do caminho-de-ferro em 1887.

Passemos agora a observar cada um daqueles sectores de forma um pouco mais detalhada:

Note-se que, entre as duas datas onde é possível desdobrar a informação, o número de assalariados (“jornaleiros” e “criados”) é praticamente idêntico ao número de proprietários rurais, a maioria pequenos proprietários,

Entre aquelas duas datas há a registar, por um lado um aumento do número de grandes e médios proprietários, ao mesmo que os pequenos proprietários registam uma redução significativa, quase tantos (cerca de mil) como os assalariados rurais a mais em 1862, em relação aos registados cerca de 50 anos antes.

Passamos agora a observar as características do sector secundário, com base no seguinte quadro, que inclui dados recolhidos na citada parte económica de Madeira Torres, quer na editada (dados de 1817), quer a anotada e inédita (1862), bem como os dados dos Inquéritos Industrias de 1881 e 1891, tendo adptado os dados daqueles dois anos à classificação de actividades usada nestes inquéritos:Apesar da classificação de “industria”, a maior parte das empresas e dos profissionais referidos desenvolviam uma actividade de tipo artesanal, quase sempre de base familiar.

Na “industria” dominante, a “têxtil, do vestuário e calçado” dominavam, em 1817 os “sapateiros” , em número de 180, (mais de 50% dos registados nesta industria), as tecedeiras (82) e os alfaiates (58), actividades que continuavam a dominar em 1862 (142 sapateiros, 104 tecedeiras e 20 alfaiates), sendo de referir que os sapateiros estavam disseminados por quase todas as localidades do concelho.

Em 1891 a esmagadora maioria dos “estabelecimentos” nesta activididade era a de sapateiros, em nº de 195, seguindo-se os alfaiates (20) , não sendo referidas as tecedeiras.

Outro sector com algum peso é o da “madeira e mobiliário”. Em 1817 a maioria eram “carpinteiros”, em nº de 130, dos quais, segundo Madeira Torres “quase metade” era de “carros”.

Em 1862 os carpinteiros continuam a dominar este sector, em nº de 50.Em 1891 a maior parte dos profissionais deste sector estava ligado à serração de madeiras ( 28 pequenas empresa).

Ao longo daquelas três datas podemos referir outras actividades com algum peso no sector secundário:

- 1817 – 58 barbeiros, 42 pedreiros, 28 curtidores, 25 ferreiros, 17 tanoeiros e 12 oleiros de louça;

- 1862 – 84 pedreiros, 83 serradores, 53 serradores, 53 valadores, 47 barbeiros, 28 tanoeiros e 25 ferreiros;

- 1891 – 84 moleiros ( naõ são referidos na actividade artesanal nos documentos de 1817 e 1862), 35 serralheiros, 26 padeiros, 24 canteiros e 23 oleiros.

Apesar de, como já dissemos, a maior parte destas actividades ter características artesanais, surgem referências a uma industria mais moderna com recurso ao uso de máquinas a vapor, principalmente na segunda metade do século.

No quadro de baixo podemos ver a cronologia dessa “modernização industrial” em Torres Vedras:

4 – “Pão para boca”

A  actividade agrícola foi, ao longo do século, como aconteceu por todo o país e na maior parte do mundo, a mais importante do concelho nesse século. 

Na agricultura local cruzava-se uma economia de autossubsistência, com alguma actividade comercial a nível local, nas feiras e mercados e com um crescente comércio mais longínquo, baseado principalmente na vinicultura e dinamizada com a melhoria dos caminhos e, no final do século, com a chegada do caminho-de-ferro à região.

Ao longo do século a produção de vinho, uma das características históricas do concelho, ganhou, ao longo do século, uma dimensão crescente, apesar de ser afectada pela filoxera da década de 80,  crise que os proprietários da região conseguiram ultrapassar com a renovação da paisagem agrícola.

Uma outra característica deste século foi a introdução e expansão de novos produtos agrícolas, como a batata, substituindo, em importância alguns produtos tradicionais, como o milho (Ver em anexo a evolução anual dos preços agrícolas no concelho ao longo do século).

No quadro em baixo podemos ver a evolução da produção agrícola do concelho ao longo do século XIX.

Para a sua elaboração recorremos às seguintes fontes:

- 1799 – Mapa do rendimento da Dízima eclesiástica publicada por João Pereira;

-1812 – Dados publicados na parte económica de Madeira Torres, aferidos por João Pereira;

-1827/32 – Mapa do produto da dízima, com base em documentação da Torre do Tombo, aferido por João Pereira;

-1862 – Dados publicados pelos anotadores da parte económica, 2ª edição manuscrita, de Madeira Torres;

-1887 – Inquérito Agrícola de Paulo Moraes (publicado em 1889) aferido por João Pereira;

-1901 – Mapa de Produção, manuscrito do Arquivo Histórico de Torres Vedras.


Observando esse quadro na sua generalidade, parece registar-se uma quebra da produção no primeiro quartel do século, alguma recuperação até à década de 80, com uma nova quebra no final desta década e uma estagnação até ao final do século.

Contudo essa evolução não é igual para todos os produtos:

O trigo atinge o seu maior pico de produção a meio do século, perdendo importância no último quartel do século;

O milho, que durante a primeira metade do século era o segundo produto mais importante, perde peso a partir daí, ao que parece com a generalização da produção de batata;

A batata, conhecida desde os descobrimentos, só se tornou importante na região para consumo humano no século XIX. Só em 1856 é que a câmara começou a tabelar este produto, embora o primeiro registo conhecido sobre a sua produção só apareça em 1862, no documento acima referido. Tornou-se logo o segundo produto mais importante do concelho e, embora perda importância no último quartel do século, continuava, apesar de tudo, a ser o segundo produto mais cultivado. Em muitas freguesias parece ter conquistado importância, à custa da produção do milho;

O vinho foi sempre o produto mais importante do concelho, tendo-se tornado esmagadoramente dominante no último quartel do século. Voltaremos a falar deste produto mais à frente.

Madeira Torres, na parte económica da sua obra, escrita no primeiro quartel do século, descrevia a importância local dos vários produtos.

Sobre o vinho, referia que a “produção do terreno da villa, e seu termo, he muito considerável, e até verdadeiramente singular na generalidade dos fructos que abrange. A producção do vinho he sobre todas a mais abundante” (p.246).

O trigo era então um “género de que a villa, e seu termo não só tem suficiente para seu próprio consumo, mas ainda para fornecer ao alheio, apezar do roubo que a este ramo, e a outros cereas tem feito a desmedida plantação das vinhas” (p.251).

Quanto à produção do milho “he sempre a mais avultada, porque a sua sementeira aoccupa a maior parte do terreno agricultado, e apezar de ser abundante na mesma proporção dos outros scereaes (?) e ainda mais, nem por isso chega para o consumo, antes se importa considerável numero de moios de milho das Provincias do Norte” (p.252).

Refere ainda outros produtos, como a cevada, cuja produção “corresponde, e quasi sempre excede a do trigo. He mais extensa a sementeira deste género nos terrenos próximos do mar” (p.252), o azeite, referindo que “tem-se cuidado, há annos (…) na nossa villa, e seu termo, da plantação das oliveiras (…) haverá menos de quarenta annos”, contudo “quasi todas estéreis por infectas pelo terrivel mal da ferrugem”, a isso atribuindo “ a dependência em que se tem achado a villa, e termo, d’importar-se bastante azeite” (p.249), e o mel , o qual, contudo,  conhecia alguma decadência (p.250). O autor não faz qualquer referência à produção de batata.

Distribuição Regional da produtividade do concelho

Para a primeira metade do século apenas temos as referências qualitativas e gerais, abordadas por Madeira Torres, sobre as “zonas” mais férteis do concelho que eram, segundo o autor, para o primeiro quartel do século, e em resumo:

- o vale do Sizandro, desde a ponte do rei à foz;

-a norte do lugar de A-Dos-Cunhados ao lugar do Vimeiro, junto ao rio Alcabrichel;

- a “Tamuge”, em redor de Runa;

-o terreno entre o Sirol e a Caixaria;

- as várzeas do Alcabrichel, junto das aldeias de Aldeia Grande, Maxial, Ermigeira, Abrunheira e Ramalhal;

- e a Ponte do Rol, junto ao rio Sizandro. (pp.244 e ss).

Em termos mais genéricos, o mesmo autor retrata as características regionais  nos seguintes termos:

“Huma metade do termo he quasi inteiramente cultivada; e a mesma parte montuosa, especialmente nos subúrbios da villa; e n’outros sítios, he pouco menos fértil do que as várzeas, e a menos fértil convida a cultivar-se pela bondade de géneros, especialmente do vinho: a outra metade, ao Norte, que he de terra arenosa e de charneca (exceptuando as varzeas acima indicadas) está inculta, e coberta de matos pouco espessos, no excesso de dois terços” (p.245).

Só para a segunda metade do século conseguimos recolher dados mais completos que nos permitem uma comparação detalhada sobre a distribuição regional da produção, os dois momentos, 1862 e 1901, em baixo registados:


Em termos gerais vemos que em 1862 a freguesia  de S.Pedro da Cadeira (que incluía a área da actual freguesia da Silveira) concentrava a produção de cerca de 1/3  de três das principais culturas, teigo, milho e batata, enquanto Dois Portos lidera a produção de vinho.

Em 40 anos regista-se uma significativa mudança regional: a Ventosa torna-se a principal produtora do concelho, Dois Portos perde a liderança na produção vinícola e Santa Maria ganha crescente importância, talvez devido ao facto de esta freguesia com sede na vila incluir então um vasto território rural a norte que hoje faz parte da freguesia de Campelos.

De todas as produção, a vinícola ganhou uma importância crescente ao longo do século, em quase todas as freguesias do concelho, principalmente a partir dos finais da década de 80, após a grande crise provocada pela filoxera.

As mudanças que essa doença obrigou a introduzir na produção vinícola parece terem contribuído para o rápido crescimento da produção local, ultrapassando em 80% o total de toda a produção agricola ao longo da última década do século e contribuindo para uma profunda alteração na paisagem rural do concelho.

Quanto à filoxera, tema estudado com bastante detalhe por Célia Reis (5), apresentamos em baixo uma breve cronologia da sua evolução no concelho:

A filoxera manifestou-se pela primeira vez no concelho em 1883, numa vinha da Quinta Nova, junto da Ordasqueira, expandindo-se no ano seguinte pelas vinhas de várias Quintas da freguesia da Ventosa, uma das mais importantes na produção do vinho do concelho, atingindo o seu auge em 1885, quando atingiu todo o concelho, como se pode ver pelo quadro em baixo:

Referindo-se à chamada região “torreana[sic]”, que abrangia os concelhos de Torres Vedras, Alenquer, Cadaval, Mafra e Arruda, Elvino de Brito escrevia no final da década que as vinhas dessa região se achavam então “completamente invadidas pela phylloxera, apesar de só ahi ter aparecido a primeira vinha phylloxerada em 1883. A invasão tem sido mais rápida na região torreana [sic] do que no próprio Douro, em virtude das melhores condições de continuidade que a phylloxera encontra-se. Póde-se contar com a destruição quasi total das suas vinhas actuaes dentro de muitos poucos anos, visto que o sulfureto de carbónio não tem nos terrenos d’essa região dado os resultados certso e seguros que d’elle têem obtido os lavardores do Douro e de outras regiões do norte” (Elvino de Brito, p. 84).

O mesmo autor acrescentava, contudo, não acreditar que a região “torreana[sic]” era “uma região perdida para a viticultura; mas infelizmente é uma região em que toda a vinha perece fatalmente destinada a perecer e a ser substituída pela vinha americana enxertada e de produção directa”. E vaticinava : “perder-se-há uma riqueza enorme para novamente se crear outra riqueza idêntica”.

De facto, e como se vê no quadro em baixo, elaborado a partir de uma relação manuscrita existente no Arquivo Histórico de T. Vedras, logo a partir de 1886 iniciou-se a substituição das vinhas   de “bacelo europeu”, atingidas pela filoxera, pelas chamadas vinhas de “bacelo americano”:

As freguesias de A-Dos-Cunhados, Matacães, Carmões, S.Pedro da vila e S.Mamede da Ventosa foram aquelas onde se iniciou esse processo de substituição.

Em 1888 a vinha “americana” era dominante em relação à “europeia” na maior parte das freguesias.

Em 1890, vinhas de bacelo europeu apenas existiam na freguesia do Ramalhal, embora em minoria nessa freguesia.

Em 1891 já não existia nenhuma vinha de bacelo “europeu” plantada e registada no concelho.

A acção dos viticultores torrienses foi assim rápida e eficaz. Para isso muito contribui a imprensa local, que surgiu em 1885 e dedicava grande parte do seu conteúdo aos problemas da viticultura, bem como a existência de uma escola vitivinícola na Quinta da Viscondessa, no Turcifal, dirigida pela família Batalha Reis, principalmente o irmão António, cujo papel na economia e na sociedade da região ainda está por estudar.

Com a plantação da vinha “americana” a região recuperou rapidamente da crise, tornando-se um importante centro de exportação de vinhos, não só para o Douro, mas também para Bordéus.

Feiras e Mercados

Para a dinâmica do comercio agrícola regional muito contribui a existência de importantes feiras e mercados, realizadas regularmente.

Neste concelho, para além da Feira anual da Nª Sª do Socorro, na  Serra do Socorro, realizada a 5 de Agosto, mas partilhada com o concelho vizinho de Mafra, realizavam-se as seguintes:

Com a inauguração da ligação ferroviária par Lisboa, em 1887, muitas dessas feiras conheceram um crescente dinamismo, como aconteceu com a de S.Pedro, enquanto que outras perderam a importância que tiveram ao longo dos tempos.

REDE VIÁRIA E TRANSPORTES

Um dos factores que muto contribui para o desenvolvimento da economia da região e a expansão de mercados e feiras foi a renovação da rede viária e de transportes, iniciada nos finais do século XVIII e que culminou com a inauguração da ligação ferroviária a Lisboa a partir de 1887.

Em baixo, podemos ver, de forma geral e cronológica alguns momentos importantes para essa evolução:

1796 – Já etava estabelecida uma ligação de carreira regular por estrada calçada, ligando Torres Vedras a Alhandra;

1799 – A Câmara manda que se faça uma estrada ligando a Cruz de Runa à Zibreira;

1805 – Com a data de 8 de Abril é emitido um aviso ao Juiz de fora de T. Vedras para este continuar os concertos das estradas do seu termo, usando para o efeito os “sobejos das sizas”;

1817 – Providencia do Desembargo do Paço de 31 de Janeiro, enviada ao Juiz de fora de T. Vedras para concertar as estradas do termo;

1833 – Noticia-se que a estrada de Torres para Lisboa se encontra em muito mau estado;

1849 – no dia  25 de Novembro iniciam-se as obras da estrada de Torres-Runa-Alhandra onde se utiliza pela primeira vez na região o sistema “McAdam”. As obras ficam concluídas em 1859;

1855 – É inaugurado o transporte regular de malas de correio para Lisboa, com partida da vila todas a as 2ªs 4ªs e Sábados;

Nesse mesmo ano têm inicio as obras de calcetamento pelo sistema NacAdam da estrada que, deste concelho, segue na direcção do Cabeço de Montachique;

1860 – Forma-se uma companhia de diligências que passa a garantir uma carreira regular, várias vezes por semana, para Lisboa e para Alhandra. Em 15 de Dezembro sai uma ordem do governo para que o intendente da obras públicas do distrito de Lisboa elabore um projecto para uma estrada que ligue Loures a Torres Vedras;

1862 - No dia 16 de Abril o Marquês de Loulé ordena ao intendente das obras públicas do distrito de Lisboa que aprove a diretcriz da estrada ligando Loures a Torres Vedras, passando por Lousa, Venda do Pinheiro, Turcifal e Serra da Vila;

1869 - é atribuída ao Duque de Saldanha, em 28 de Outubro, a concessão de um caminho de ferro do tipo “Larmanjat”, ligando o Lumiar a Torres Vedras. Essa ligação será inaugurada  em 6 de Setembro de 1873, funcionando até 1877;

A grande revolução dos transportes no concelho tem lugar com a decisão parlamentar  de 1880 de mandar construir uma ligação ferroviária entre Lisboa e Torres Vedras, que devia continuar para Norte. A 1ª locomotiva chega a Torres Vedras em 30 de Dezembro de 1886, mas as ligações regulares para Lisboa só se iniciam meses depois. O transporte regular de mercadorias tem inicio em 9 de Maio de 1887 e o de passageiros em 25 de Maio do mesmo ano

O caminho-de-ferro foi um importante  factor de desenvolvimento e expansão comercial da produção agrícola da região, com fortes impactos na paisagem, na urbanização e no turismo. (ver o meu estudo sobre o Caminhos de Ferro em Torres Vedras, citado na bibliografia).

5 – O Tecido Urbano e o Património

Em relação ao total da população concelhia, habitavam a sede do concelho menos de 10% dos habitantes (9% em 1843, 8,28% em 1862).

Em termos socias existiu desde sempre uma diferença de estrutura social e funcional entre a sede do concelho e o seu termo rural, sendo significativo o peso urbano de grupos ligados à administração e ao artesanato, embora todos eles partilhassem essas actividades com a exploração ou propriedade de bens agrícolas, essências, na maior parte dos casos, para complementar rendimentos e para consumo próprio.

Com base em documentação já citada do meio do século (1843), essa realidade é observável, tomando por base a ocupação dos cabeças de fogo que moravam então na vila:

É nítido o peso dos sectores secundário e terciário em relação ao primário, situação que contrasta. Como vimos em capítulo anterior, com a realidade do concelho, visto no seu todo.

Sede de concelho desde a Idade Média, pelo foral de 1250, aquilo que se conhece do tecido urbano da vila de Torres Vedras no principio do século XIX não parece muito diferente, em dimensão e estrutura, daquilo que se conhece desde o período medieval, com algumas alterações significativas na época quinhentista.

O primeiro mapa conhecido de Torres Vedras, a “planta do campo de Batalha de Torres vedras” de 1846, da autoria de J.F. Júdice, revela uma vila que mantem a estrutura idêntica ao que se conhece de descrições medievais:



Desenvolvendo-se para sul do morro do Castelo, estendendo-se até à cerca do Convento da Graça, limitado a leste pelo adro da Igreja de S.Pedro e a oeste pela extensa várzea e a norte pelo rio Sizandro, esta é a área aproximada descrita nos séculos anteriores.

Até à década de 80, se algumas diferenças se podem assinalar em relação ao passado, elas prendem-se com a construção em altura, o calcetamento e endireitarem-se de algumas ruas mais sinuosas ou o romper de alguns becos, mas a “espinha dorsal medieval” não conhece grandes alterações.

Cruzando dados, a partir de Henriques Vieira, com a consulta de livros de décimas, sisas e outros existentes no arquivo municipal, bem como as referencias nas obras de Madeira Torres e  Júlio Vieira ao tecido urbano da vila de Torres Vedras, e sobre a parte urbana do mapa acima referido, tentamos reconstruir o tecido urbano e a sua toponímia no século XIX, distribuindo-a pelas 4 freguesias urbanas, cuja área é representada por cores diferentes, distribuição esta que se baseou num documento manuscrito da autoria de Gama Leal, datado de 1862 e 1864, que serviu de base para dividir administrativamente o concelho:


É a partir da segunda metade do século XIX que se dá uma significativa ruptura como a estrutura urbana medieval, nomeadamente com a construção de avenidas novas ligando o centro da vila à estação de caminho de ferro, obras que decorrem em paralelo com aquela obra, nomeadamente: - a abertura da Avenida da Estação, baptizada com o nome do deputado Ignacio Cazal Ribeiro, um dos que mais se bateu por esse melhoramento, e que seria rebaptizada , após a implantação da República, com o nome de Avenida 5 de Outubro, ligando a estação ao “largo da Graça”, inaugurada em 1888;

 -a abertura da Avenida Tenente Valadim, bifurcando daquela até ao “largo de S.Pedro”, inaugurada em 1890;

- o alargamento da antiga cerca do Convento da Graça, transformando-a num jardim público, por iniciativa de D. Diogo de Nápoles e inaugurado em 1892.

A própria construção do caminho de ferro acabou por criar uma barreira ao crescimento urbano para ocidente.

Um outro importante factor da urbanização foi o inicio da edição regular de órgãos de imprensa local, prática que se prolongou até aos nossos dias.

O primeiro título começou a editar-se em 1 de Janeiro de 1885, o “Jornal de Torres Vedras”, tendo origem na inauguração da primeira Tipografia em Torres Vedras em finais de 1884, a Tipografia Torreense.

Essa primeira experiência jornalística durou dois anos, anos cruciais para o desenvolvimento de Torres Vedras, acompanhando nas suas páginas a construção do caminho-de-ferro, divulgando as novidades das novas descobertas tecnológicas e desempenhando um papel importante no combate à filoxera.

Paradoxalmente esse primeiro título cessou a sua publicação no próprio dia em que chegou a Torres Vedras a primeira locomotiva, em 30 de Dezembro de 1886, mas serviu de base para a publicação de um número único comemorativo da chegada do caminho-de-ferro.

Em Fevereiro de 1887 surgiu um novo título, de publicação semanal tal como o anterior e também editado pela Tipografia Torrense, o “A Voz de Torres Vedras” que disputou leitores com um outro título surgido na mesma data, “A Semana”, dando-se inicio a uma tradição que se manteve até 1926, o se editarem dois títulos semanais em Torres Vedras.

Ao longo do século XIX surgiram outros títulos, com destaque para “A Vinha de Torres Vedras”, publicado de 1894 até  1920, e para o “Folha de Torres Vedras”, fundado em 1899 e que duraria até 1913, ano em que se fundiu com “A Vinha…”, jornal este que veio a ser o porta voz das ideias republicana dois anos antes da proclamação da República (ver estudo de António Rosa citado na bibliogarfia).

Breve Resenha da Imprensa Torriense do Século XIX:

Jornal de Torres Vedras

De 1/1/85 a 30/12/86

105 números publicados

Nº Único Comemorativo da Chegada da 1ª Locomotiva

30/12/1886

Nº único

Voz de Torres Vedras

De 5/2/87 a 25/1/90

156 números publicados

A Semana

De 24/2/87 a 5/1/96

461 números publicados

O  Bocage

1887 ou 1888?

 

O Neophito

De 15/1/92 a 30/6/92

12 nºs

Gazeta de Torres Vedras

De 1/6/93 a 29/11/94

78 nºs

A Vinha de Torres Vedras

25/1/94 a 25/12/1919

1348 nº publicados (nos séculos XIX e XX)

Folha de Torres Vedras

26/3/99 a 9/3/1913

676 nºs publicados (fundiu-se com “A Vinha de Torres Vedras”

O Imparcial

17/1/1900 a 4/1/1901

52 nºs

(com base em ROSA(1979). Não se incluem as referências a jornais copiografados)

Uma das consequências do desenvolvimento urbanos foi o nascimento de preocupações com a sua protecção.

É neste contexto que surgem neste séculos as primeiras medidas que conduzirão à criação de um serviço de combate aos incêndios.

Em Torres Vedras, os serviços que hoje atribuímos aos Bombeiros competiam, em última instância, até à criação daquela associação, à Câmara Municipal (6).

Em sessão camarária de 8 de Agosto de 1872, o Administrador do Concelho, Dr. Manuel António da Costa, presente na mesma, requereu da câmara a adopção de “algumas providências para a extinção de incêndios”. Dando seguimento a esse requerimento, a Câmara “deliberou nomear uma commissão para obter donativos, a fim de se levar a effeito a compra de uma bomba e mais utensílios necessários para acudir aos incêndios”.

A primeira vez que se manifestou publicamente a necessidade da criação de uma associação de bombeiros neste concelho foi em Junho de 1887, nas páginas do jornal “A Voz de Torres Vedras”.

O motivo foi um incêndio que se registou na madrugada de 2 de Junho desse ano, “na viela chamada de Luís Cardoso, a mais estreita desta vila, onde se achava estabelecido n’ uma casa de proporções muito acanhadas o Restaurant Torreense”, e a dificuldade que os populares enfrentaram para combater o sinistro, com mangueiras em mau estado de conservação.

Após a extinção do incêndio, o Administrador do Concelho reuniu-se com algumas das pessoas que tinham combatido aquele incêndio e “assentou (...) na formação de uma associação de bombeiros, ideia utilíssima e altamente humanitária que estimam ver realizada em breve espaço” (7).

A ideia de criar um corpo local de bombeiros voluntários voltou a ser ventilada pela direcção do Grémio Artístico e Comercial por duas vezes, numa reunião em 18 de Janeiro de 1892 e numa outra, efectuada em 3 de Março de 1898 (8).

Uma nova tentativa teve lugar no ano seguinte, quando Filippe Nery Bally [?] , então a residir na vila, se apresentou na sessão camarária de 13 de Julho de 1899 para dar “as necessárias explicações acerca de um officio que dirigiu à Câmara em 6 deste mês, no qual expunha que desejando formar nesta mesma villa um companhia de bombeiros voluntários, pedia lhe fosse cedido o material de incêndios, pertencente ao Município; ficando a Câmara sem encargo algum, tanto para a installação da alludida companhia de bombeiros, como para reparação do material. A Câmara resolveu encarregar os srns. Presidente e Vice-presidente, de resolverem o assumpto como melhor entendessem”(9).

A tal iniciativa não deve ter sido estranho o facto de, poucos meses antes, se terem dado dois dos maiores incêndios registados em Torres Vedras, um, fogo posto, na “madrugada de 15 de Maio de 1899 na fabrica de gasosas de Cruz  & Paiol, instalado no ultimo prédio à saída da vila próximo à ponte da Mentira “ e outro, a 30 de Junho, “no prédio da Viuva  Miranda & Filho” (10)

Tais iniciativas não passaram das boas intenções, embora se estivesse cada vez mais próximo do momento decisivo para a concretização de tão premente necessidade, o que aconteceria em 1903.

O século XIX deu igualmente um importante contributo para a inovação e renovação do património material, inaugurando um conjunto de novos locais que enriquecerem esse património, contributo resumido no quadro a seguir:

(Na bibliogarfia que indicamos no final encontram-se algumas obras onde se pode aprofundar a história de algum deste património)

CONCLUSÃO

Com este trabalho pretendemos apontar algumas características que contribuíram para renovar e reforçar uma identidade torriense.

No século XIX Torres Vedras ganhou uma dimensão estratégica militar na defesa de Lisboa, com o papel que teve nas Invasões Francesas e na construção das chamadas Linhas de Torres, que projectou a identidade deste concelho , não só no tempo, como no espaço ocidental.

O século XIX marcou também o fim do isolamento deste concelho, principalmente com a inauguração do caminho-de-ferro, que trouxe a “modernidade” contemporânea às suas populações, não só as novidades culturais e socias (a imprensa, as novas tecnologias, a educação, o turismo), mas também as económicas, contribuindo para reforçar outro factor da sua identidade, com raízes mais tradicionais, o cultivo da vinha.

O século XIX foi assim, neste concelho, mas também à escala nacional e global, um século charneira na transformação das tradições herdade do “Antigo Regime” para modernidade Contemporânea.

Com este trabalho de síntese esperamos ter contribuído para aguçar a curiosidade e o gosto em aprofundar algumas temáticas aqui abordadas apenas de forma superficial, devido às próprias características e objectivos deste texto, mas que necessitam do trabalho minucioso dos investigadores da história local.

Notas:

(1)   RODRIGUES (1996), José Travanca, “0 Século XIX”, in Torres Vedras – Passado e Presente, obra colectiva, Volume I, Câmara Municipal de Torres Vedras, T. Vedras, 1996, pp.157 a 297;

(2)   PEREIRA (2000), João Manuel Rodrigues, Elites Locais e Liberalismo – Torres Vedras  1792- 1878, ed. Municipio de Torres Vedras, colecção “Linhas de Torres” – H 2, Abril de 2000;

(3)   REIS, Célia, várias obras e artigos, que iremos referir ao longo do texto, sem esquecer a sua recente obra, já editada depois de termos encerrado a elaboração deste texto, a obra A Misericórdia de Torres Vedras (1520-1975), editada pela Santa Casa da Misericórdia de Torres Vedras em 2016, com vários capítulos dedicados à situação daquela importante instituição no século XIX;

(4)   -Recenseamento de todos os indivíduos de ambos os sexos residentes nesta Freguesia de (…)Torres Vedras concelho da mesma villa, ( documento elaborado pelos respectivos párocos, com base nos róis de confessados 1843,AHMYV.

(5)   -REIS, Célia, “Problemas dos Vinhos Torrienses no Final da Monarquia”, in Turres Veteras III- Actas de História Contemporânea, ed. CMTV/IERMAH-Un. Letras, T. Vedras 2000, pp.123 a 158;

(6)   Ver o meu trabalho “Algumas notas sobre a origem e a evolução da Associação de Bombeiros Voluntários de Torres Vedras; 

(7)   Livro de actas  de Sessões  da Câmara Municipal de Torres Vedras (Lº ASCMTV), nº 36 (1901-1909), sessão de 14 de Maio de 1903, f.69, Arquivo Municipal de Torres Vedras  (AMTV). 

(8)   COSTA, Emílio Luís, “Emílio Maria da Costa – O Fundador dos Bombeiros de Torres Vedras”, in Torres Cultural, nº 5, 1992, pp.52 a 56. 

(9)   Lº ASCMTV nº 35 (1895-1901), sessão de 13 de Julho de 1899, f. 232 v, AHMTV 

(10)- VIEIRA, Júlio, Torres Vedras Antiga e Moderna, ed. Livraria da Sociedade Progresso Industrial, Torres Vedras, 1926, pp. 228 e 229. 

ANEXO 1

Breve roteiro cronológico do Século XIX Torriense

1801

- Por provisão de 3 de Outubro a feira de 15 de Agosto deixa de se realizar no adro da Igreja de Stª Maria do Castelo e passa a realizar-se na Várzea Grande;

1803

- No dia 5 de Dezembro morre em Torres Vedras, sua terra natal, o maestro Francisco Xavier de Melo;

1805

- Por alvará de 23 de Agosto a Ordem Terceira é-lhe entregue a “casa de S. João” para aí estabelecer um cemitério que sirva as 4 freguesias com sede na vila;

1806

- No dia 6 de Agosto, em passagem de ida e volta a Peniche, D. João VI vista Torres Vedras;

1807

- No dia 6 de Dezembro as tropas francesas, comandadas pelo general Charlot, ocupam Torres Vedras;

1808

- No dia 18 de Agosto o General Junot entra em Torres Vedras, estabelecendo aqui o seu quartel-general para fazer frente ao avanço das tropas inglesas;

- No dia 20 de Agosto desembarcam as tropas inglesas para se juntarem ao resto do exército , avançando sobre o Vimeiro, onde se dá a  célebre Batalha:

- No dia 22 de Agosto as tropas francesas de Junot retiram-se de Torres Vedras;

1809

- No dia 3 de Novembro inicia-se a construção do sistema de fortificações que ficará conhecido como “Linhas de Torres Vedras”;

1810

- Entre 8 e 10 de Outubro o exercito anglo-inglês completa a ocupação das Linhas de Torres;

- “Batalha de Dois Portos”, no dia 13 de Outubro, provocada pela tentativa das tropas francesas romperem as Linhas. Derrotados, instalam-se no Sobral de Monte Agraço:

- Em 12 e 13 de Outubro as tropas francesas, comandadas por Massena, estacionam frente às Linhas de Torres;

1811

- Em 17 de Dezembro o Duque de Wellington é nomeado Marquês de Torres Vedras;

1813

- No dia 8 de Dezembro o padre Madeira Torres profere o “Sermão de Acção de graças  pelos gloriosos triunfos da campanha de 1813”;

1814

- autorizada em 1795, só neste ano é criada a Farmácia da Santa Casa da Misericórdia, o primeiro estabelecimento desse tipo em Torres Vedras;

1819

- Madeira Torres publica a sua memória histórica de Torres Vedras;

1820

- Em sessão camarária realizada em 19 de Setembro, aclama-se a Revolução liberal e elegem-se os procuradores de Torres Vedras para as constituintes marcadas para se iniciarem em janeiro do ano seguinte;

1821

- Presumível fundação da Filarmónica Torreense;

1822

- A vereação torriense jura fidelidade à Constituição, em reunião de 4 de Outubro;

- No dia 16 de Outubro toma posse a primeira câmara eleita, presidida por José Lourenço Peres;

1823

- No dia 15 de Janeiro nasce na Bulegueira Henriques Nogueira;

1825

- No dia 19 de Agosto, regressando das Caldas, Torres Vedras é visitada pelo rei D. João VI

1827

- Inauguração oficial do Asilo de Runa no dia 25 de Julho;

1830

- No dia 12 de Agosto D. Miguel passa por Torres Vedras, sendo recebido triunfalmente;

1831

- sob a orientação de Inácio Pedro Quintela Emanuz realizam-se obras de conservação no Chafariz dos Canos, sendo construído um tanque inferior para dessedentar os animais;

1833

- Editada a parte económica da monografia de Madeira Torres;

- Em 24 de Julho dá-se um levantamento popular a favos dos liberais, invadindo-se a Câmara e fazendo em tiras o retrato de D. Miguel que aí existia. Em 31 promove-se uma sessão publica na Câmara onde se aclama D. Maria I. Esta aclamação será anulada em sessão de 28 de Agosto, onde volta a ser aclamado D.Miguel. Só em 16 de Outubro se volta a reconhecer D. Maria, renegando-se definitivamente o rei D. Miguel;

1834

- Por decreto de 8 de Março é extinto o Convento do Varatojo;

- Por decreto de 30 de Maio é extinto o Convento da Graça;

1836

- em 26 de Janeiro morre o Padre Madeira Torres;

1837

- Torres Vedras aclama em 20 de Agosto o Marechal Saldanha por ocasião da chamada “revolta dos marechais”, apoio que será anulado em vereação extraordinária de 1 de Setembro;

1839

- um acórdão camarário de 28 de Agosto aprova a realização de uma feira franca na Ponte do Rol a realizar a 8 e 9 de Setembro e a realização de um mercado mensal naquela localidade no primeiro Domingo de cada mês;

1845

- No dia 8 de Fevereiro o convento do Varatojo é vendido em hasta pública, juntamente com a cerca, sendo comprada pelo Barão da Torre de Moncorvo;

1846

- Dominada por uma administração “patuleia”, liderada por Mauricio José da Silva, cirurgião, Torres Vedras acolhe as tropas do Conde de Bonfim, que aqui chegam a 19 de Dezembro. Perseguido pelas tropas leais à rainha, comandadas por Saldanha, este derrota-o na Batalha de Torres Vedras, no dia 22 de Dezembro. Durante a contenda é ferido, falecendo pouco depois, Luis Mouzinho de Albuquerque, que foi sepultado no interior da Igreja de S. Pedro;

- A instalação na vila de cinco caldeiras de destilação a vapor, durante este ano e o seguinte, é a primeira referência à maquina a vapor no concelho;

1849

- Em 30 de Junho dá-se o primeiro enterramento no cemitério de S. João;

1852

- Durante a noite de 13 de Maio é demolido o Pelourinho que estava colocado no Largo do Município;

1853

- as vinhas são atacadas pelo “Oydium Tukery”, provocando uma grave crise na viticultura da região;

1855

- No dia 27 de Março, às 6 da manhã, é sentido um violento  sismo no lugar de Runa;

-resolução camarária de 24 de Outubro para construir um matadouro municipal;

1856

- Regista-se no dia 3 de Fevereiro uma grande cheia no Sizandro;

1857

- No dia 1 de Abril é expropriada a zona da cerca do Convento da Graça para aí se realizar o mercado mensal, sendo plantadas várias árvores;

1858

- No dia 23 de Janeiro morre Henriques Nogueira;

- Durante o verão D. Pedro V refugia-se no concelho, para escapar à peste que grassa em Lisboa;

- O tremor de terra de 11 de Novembro abre brechas nalgumas igrejas da vila;

1859

- D. Pedro V desloca-se a Torres Vedras, no dia 16 de Junho, para visitar as linhas de Torres, na companhia do futuro rei de Inglaterra (Eduardo VI);

1860

- Em 31 de Julho os Jesuítas tomam posse do antigo Convento do Barro;

1861

- os franciscanos reabrem o Convento do Varatojo no dia 7 de Fevereiro, depois do edifício ter sido comprado ao barão de Moncorvo, pelo Frei Joaquim do Espírito Santo, por 3 contos e 400 mil réis em 24 de Dezembro de 1860;

1862

- é editada em livro a 2ª edição da parte histórica da Monografia de Madeira Torres, anotada por José Eduardo César e Gama Leal.

1864

- inauguração da distribuição diária de correio entre Torres Vedras e Lisboa;

1865

-Em Fevereiro é inaugurada a iluminação pública na vila, com a instalação 35 candeeiros a petróleo;

- A 23 de Junho é inaugurado o sistema de comunicação por telégrafo de Torres para Caldas da Rainha e Mafra, ficando a estação provisória instalada no largo do Terreirinho;

1867

- o Dr. Agostinho Vicente Lourenço publica o primeiro estudo conhecido sobre as àguas da Maceira;

1868

- Torres Vedras é abalada, em 7 de Fevereiro, pela revolta popular que ficará conhecida pela “Batalhôa”, um reflexo local da célebre “janeirinha”;

1871

- Durante o verão, Antero de Quental passa alguns dias na praia de Santa Cruz, na companhia de Jaime Batalha Reis;

1872

- Inaugurado o primeiro hotel em Torres Vedras, o Hotel Pimenta;

1873

- inaugurado a primeira associação torriense, o “Club Torrenese”;

1874

- Em Novembro são descobertas minas de petróleo no concelho;

1876

- No dia 7 de Dezembro dá-se uma das maiores cheias de sempre na região, conhecida por “cheia grande”;

1880

- Construção do “mercado do peixe”, instalado nas traseiras da Igreja de S. Pedro;

- em 12 de Janeiro o parlamento aprova a construção de uma linha de comboio ligando Lisboa a Torres Vedras e continuando para norte;

1884

- Em sessão extraordinária de 9 de junho, a Câmara toma conhecimento do aparecimento da filoxera em vários pontos da freguesia de S. Mamede da Ventosa;

1885

- edita-se em 1 de Janeiro o primeiro jornal torriense, ”O Jornal de Torres Vedras”;

- por decisão camarária de 28 de Janeiro dá-se inicio à construção do Matadouro Municipal, à Cruz das Almas, que será inaugurado em 3 de Maio do ano seguinte

-em 25 de  Maio a Imprensa local anuncia a presença do fotógrafo italiano Giulio Zanetta que estava a montar um atelier no Largo de S.Tiago, nº 22. Ficou em Torres Vedras por mais de 2 anos, retirando-se em Julho de 1887;

- Inauguração, em 24 de Julho, da Sociedade Lírica 24 de Julho (ou fanfarra 24 de Julho);

- No dia 24 de Dezembro é inaugurada a primeira ligação telefónica, particular, ligando o casal das Lapas, em A-Dos- Cunhados, a Torres Vedras;

- Abertura do túnel da Certã;

1886

- tem lugar, no dia 18 de Janeiro, na Freiria, o primeiro casamento ao registo civil no concelho;

- No dia 18 de Abril é assassinado o engenheiro francês Abel Marty, responsável pela construção dos túneis, crime que impressionou todo o país;

- No dia 30 de Dezembro chega a primeira locomotiva a Torres Vedras

1887

- No dia 9 de Maio inicia-se o transporte regular de mercadorias por via férrea entre Torres Vedras e Lisboa;

-No dia 25 de Maio dá-se a inauguração do transporte regular de passageiros por comboio entre Torres Vedras e Lisboa;

- inaugura-se em 1 de Agosto o transporte regular de passageiros de Torres Vedras até Leiria;

- Em Setembro os fotógrafos Martinez Pozzal e Figueredo estabelecem-se na vila, no mesmo atelier onde tinha trabalhado Zanetta;

1888

- a partir de 7 de Abril os estabelecimentos comerciais passam a encerrar nas tardes de Domingo;

- com inauguração do troço entre Leiria e Figueira da Foz em 17 de Junho, fica concluída a Linha do Oeste, que será assim designada oficialmente por decreto de 22 de Junho do ano seguinte;

- No dia 1 de Dezembro é inaugurada a Escola Prática de Viticultura na Quinta da Viscondessa, na freguesia do Turcifal;

1890

- Referência a uma Empresa de Teatro de Torres;

- uma portaria datada de 6 Fevereiro autoriza a abertura de um escola de ensino secundário, a qual, inaugurada nesse ano, em 9 de outubro e que vai durar até 1903;

- No dia 1 de Março o fotógrafo Martinez Pozzal tirou uma fotografia à Imagem do Senhor dos Passos, reproduzido em vários exemplares, naquele que parece ser o primeiro postal feito em Torres Vedras;

- 23 de Maio – Inauguração oficial do estabelecimento de águas medicinais da Fonte Nova;

- Em Novembro dá-se inicio à construção das instalações das Termas dos Cucos;

1891

- Em 15 de Fevereiro é fundado o Grémio Artístico e Comercial;

1893

-Inauguração das instalações das Termas dos Cucos no dia 15 de Maio;

1894

- Fundação da “Havaneza Torrense”

- No dia 29 de Novembro dá-se, em T. Vedras, a primeira audição publica do fonógrafo de Edison, que tem lugar na sede do Grémio;

1895

- 23 de Maios :Inauguração do estabelecimento termal da Fonte Nova;

1896

- A mais antiga colectividade, o “Club Torrense”, passa a designar-se Casino de Torres Vedras;

1898

- No dia 5 de Janeiro passa por Torres Vedras, de comboio, a caminho de Leiria, Joaquim Mouzinho de Albuquerque, recebido com grande festejos na estação;

- Na sua edição de 6 de Janeiro o jornal “A Vinha de Torres Vedras” anuncia o  primeiro agente de venda de automóveis em Torres Vedras;

- É inaugurada , em 31 de Julho, uma Fábrica de Gasosas que irá arder, num violento incêndio, menos de um ano depois, em 15 de Maio de 1899, incêndio que vai incentivar criação de uma Associação de Bombeiros, iniciativa que se irá concretizar, mas já no século seguinte;

1899

- Em Março é anunciada a inauguração do estabelecimento “Photographia Neves”, no Bairro Tertuliano, que encerra em 18 de Setembro desse ano;

- A Tipografia e Papelaria Cabral edita uma colecção de postais com vistas de Torres Vedras e dos Cucos;

- Em 20 de Agosto é inaugurado um novo atelier de Fotografia, “Photographia União”, na Rua Dias Neiva, anunciando a edição de dispositivos para fotografias coloridas, pertencente a Martinez Pozal, que se retira pouco depois, cedendo esse estabelecimento  a José Maria Miranda;

 

ANEXO II

Juízes de Fora e Presidentes de Câmara do Séc. XIX

Presidentes e Juízes de Fora:

De 29 de janeiro de 1803 a 26 de Fevereiro de 1806 – Dr. José Xavier Carneiro;

De 24 de maio de 1806  a 7 de Janeiro de 1811 – Manuel Pais do Amaral;

8 de Março de 1811- Luis Pedro Medina Leal;

De 5 de Julho de 1817 a 18 de Março de 1818 – António Joaquim Gouveia Pinto;

De 5 de julho de 1818 a 31 de Janeiro de 1822 – Bacharel Marcelino Teotónio de Azevedo (suspenso entre 3 de Novembro de 1819 e 9 de Novembro de 1820, sendo substitudo interinamente no cargo por Joaquim Feliciano da Cuna e Lemos);

De 31 de janeiro de 1822 a 16 de Outubro de 1822 –Dr Francisco Baptista Lisboa;

16 de Outubro de 1822 – José Lourenço Peres (1ª Camara eleita democraticamente);

De 23 de junho de  1823 a 14 de Agosto de 1828 – Dr. Francisco Baptista Lisboa;

De 14 de Agosto de 1828 a 5 de Novembro de 1831 – Francisco Alves de Azevedo;

 5 de Novembro de 1831 - Bacharel Francisco Tomé Marques Gomes

7 de Agosto de 1833 a 23 de Outubro de 1833 – Bacharel Venâncio Pinto de Rego Cêa Trigueiros;

23 de Outubro de  1833 a 19 de Dezembro de 1833- António Salema Pinto da Cunha;

19 de Dezembro de 1833  - Nicolau Baptista de Figueiredo Pacheco Teles;

18 de Junho de 1834 a Janeiro de 1836   - Dr. Inácio Ferreira Campelo;

De 15 de Janeiro de 1836  a 9 de Julho de 1836– António de Melo da Silva Lobo;

De 9 de Julho de 1836 a  Março de 1837- António Agostinho Ferreira de Carvalho;

De 13 de Março a Setembro de 1837   - Estevão José da Silva;

De 27 de Setembro de 1837 a 15 de Outubro de 1837 - António Agostinho Ferreira de Carvalho;

De  15 de Outubro de 1837 a 18 de Novembro de 1837 -  Estevão José da Silva;

De  18 de Novembro de 1837 a 19 de Janeiro de 1838 - António Agostinho Ferreira de Carvalho;

De 19 a 31 de Janeiro de 1838 -- Estevão José da Silva;

De 31 de Janeiro de 1838 a 1 de Janeiro de 1839– Dr. José Eduardo César;

De 1 de Janeiro a 6 de Março de 1839 – Hilário Francisco Ferreira da Silva;

De 6 de Março a 10 de Abril de 1839 – João Vitorino Pereira da Costa;

De 10 a 19 de Abril de 1839 - Hilário Francisco Ferreira da Silva;

De 19 de Abril a 2 de Maios de 1839 -  Dr. José Eduardo César;

De 2 de Maio a Dezembro de 1839 – António Pedro Ferreira Campelo;

Desde 1 de janeiro de 1840 até ao final do anos – João Tavares de Macedo;

1841 a Dezembro de 1842 – Dr. Inácio Ferreira Campelos;

De 2 de janeiro de 1843  Dezembro de 1844 – António Roque Pedreira;

De 2 de Janeiro de 1845 a 6 de Novembro de 1847 (?) – Francisco Tavares de Medeiros;

De 6 de Novembro de 1847 a Dezembro de 1849 – Sebastião de Sampaio Melo e Castro;

De 8 de Janeiro de 1850 a Dezembro de  1851 – António Agostinho Ferreira de Carvalho;

De 2 de Janeiro de 1852 a Dezembro de 1853 – Rufino José Garcia;

De 2 de Janeiro de 1854 a Junho de 1856 – Dr . José Eduardo César;

De 1 de Julho de 1856 a 2 de Fevereiro de 1857 – Dr. Francisco Maria de Carvalho;

De 3 de Fevereiro a 10 de Março de 1857 –Joaquim José Rodrigues da Silva;

De 11 de Março a Dezembro de 1857 – Dr. Francisco Maria de Carvalho;

De 3 de Janeiro de 1858 a Dezembro de 1859 – Joaquim José Rodrigues da Silva;

De 2 de Janeiro e 1860 a Dezembro de 1861 – José Eduardo César;

De 2 de Janeiro de 1862 a Dezembro de 1865 – Dr Luis António Martins;

De 2 e Janeiro de 1866 a Março de 1868 –Maurício José da Silva;

De 18 de Março de 1868 a Dezembro de 1873 – Joaquim José Rodrigues da Silva;

De 2 de Janeiro de 1874 a Dezembro de 1875 – Sebastião de Sampaio Melo e Castro;

De 2 de Janeiro de 1876 a Dezembro de 1877 – Visconde de Balsemão;

De 2 de Janeiro a 17 de Agosto de 1878 – Sebastião de Sampaio Melo e Castro;

De 18 de Agosto a 24 de Setembro de 1878 – Dr. Manuel Gomes Fevelim;

De 24 de Setembro de 1878 a 25 de Março de 1879 – José Avelino Nunes de Carvalho;

De 26 de Março a Dezembro de 1879 – Dr. José António de Barbosa Araújo Simões;

De 2 de Janeiro de 1880 a Dezembro de 1883 – Luis António Martins:

De 2 de Janeiro de 1884 a Dezembro de 1886 – Visconde de Balsemão;

De 2 de Janeiro de 1887 a Dezembro de 1892 – Manuel Francisco Marques;

De 2 de Janeiro de 1893 a Dezembro de 1895 – Joaquim Gomes de Sousa Belford;

De 7 de Janeiro de 1896 a 22 de Janeiro de 1898 – Dr. Aleixo Cesário de Sousa Ferreira;

De 23 de Janeiro a Dezembro de 1898 – Dr. José Pinheiro da Silva júnior;

De 2 de Janeiro de 1899 a Dezembro de 1901  -  Manuel Francisco Marques.

( FONTE: VARELA (1992), sob orientação de José Travanca, a partir dos Livros de Acordãos. Sobre a conjuntura das elites locais nesse período e a organização municipal ler obras citadas de  João Pereira  e José Travanca).

ANEXO III

A evolução dos Preço (média anual) no Concelho de Torres Vedras entre 1800 e 1820 (em réis)

 

Ano:

Trigo

(alqueire)

Cevada

(alqueire)

Milho

(alqueire)

Vinho

(almude)

Azeite

(almude)

Galinha

Porco

Carneiro

Feixe de Junco

1800

720

420

500

500

2900

360

1600

s/d

200

1801

1200

600

800

920

2000

360

1600

s/d

200

1802

560

280

420

1100

2400

360

1600

s/d

200

1803

580

380

460

900

2100

360

1600

600

200

1804

780

540

440

420

2400

400

1200

600

300

1805

780

380

380

420

2400

300

1200

400

240

1806

740

420

500

800

3800

320

1600

400

240

1807

660

320

400

800

2000

320

1600

1500

240

1808

700

400

400

500

2400

320

1600

1500

s/d

1809

640

340

420

1100

3000

320

1600

1500

240

1810

800

500

500

1100

3000

320

1600

1500

240

1811

840

540

540

1200

3000

340

1800

1600

300

1812

780

500

680

1200

3200

240

2400

1200

200

1813

700

420

600

800

3600

360

2000

1800

240

1814

700

420

600

800

3800

360

2000

1800

240

1815

700

440

520

800

3200

320

1600

1200

200

1816

700

400

500

1000

3200

320

1600

1200

200

1817

720

420

520

800

4000

300

1600

800

200

1818

720

420

520

600

3600

300

1600

800

200

1819

540

260

340

900

4000

260

2000

600

240

1820

400

240

300

600

2400

240

1000

600

200

Os preços médios de cada ano eram publicados em Agosto ou Setembro de cada ano

 (Fonte: Livros de Acordão da C.M. de Torres Vedras).

ANEXO IV

“PREÇOS DO MEIO DA CAMARA DE TORRES VEDRAS”(1830 a1861)

 

Ano:

Trigo

(alqueire)

Cevada

(alqueire)

Milho

(alqueire)

Vinho

(almude)

Azeite

(almude)

Galinha

Porco

Carneiro

Feixe de Junco

Batata

(alqueire)

1830

480

320

400

240

2000

220

2000

320

200

-

1831

500

340

420

480

2400

220

1000

320

180

-

1832

480

320

400

400

1800

200

1000

320

180

-

1833

520

360

440

200

2600

300

1000

320

180

-

1834

600

440

520

200

2400

280

1000

320

200

-

1835

550

390

470

240

2800

260

1000

360

80

-

1836

500

340

420

220

2000

240

1000

480

160

-

1837

400

240

320

200

2200

240

1000

480

160

-

1838

420

260

340

240

1920

240

1200

600

160

-

1839

360

200

280

240

2400

240

1200

480

120

-

1840

440

280

360

240

2600

260

800

440

120

-

1841

480

320

400

140

2400

260

1000

480

80

-

1842

420

240

340

180

2600

220

1000

480

100

-

1843

400

200

340

120

2100

180

1000

480

80

-

1844

320

160

220

160

2100

160

700

360

80

-

1845

340

160

260

180

2100

200

700

360

100

-

1846

400

200

300

300

3000

200

700

400

100

-

1847

480

200

300

160

3000

200

700

400

100

-

1848

340

180

260

120

2200

200

700

400

100

-

1849

320

160

220

240

2800

200

700

400

140

-

1850

380

180

260

360

2880

180

600

400

140

-

1851

380

200

300

300

2000

200

480

400

120

-

1852

340

160

220

240

2200

180

600

400

120

-

1853

360

180

260

600

4300

180

700

400

180

-

1854

440

260

360

1000

3800

180

1200

480

160

-

1855

500

260

400

700

1800

240

1200

480

100

-

1856

 

620

300

420

1700

3000

260

1200

480

120

180

1857

 

460

240

350

1500

2600

260

1400

500

120

120

1858

 

460

260

380

700

2600

180

1000

600

140

120

1859

 

560

220

340

1000

3200

240

800

600

140

100

1860

 

480

220

360

1000

2800

240

800

600

140

100

1861

 

550

240

360

600

3200

240

800

500

140

80

In anotadores de Madeira Torres, parte económica, obra manuscrita, Apêndice nº 14

ANEXO V

A evolução dos Preço (média anual) no Concelho de Torres Vedras entre 1862 e 1895 (em réis)

 

Ano:

Trigo

(alq.)

Cevada

(alq.)

Milho

(alq.)

Vinho

(alm.)

Azeite

(al.)

Galinha

(cada)

Porco (um para criar)

Carneiro

(um)

Feixe de Junco

(de 24 mãos)

Batata

(alq.= 15 kl.)

1862

560

280

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 (Fonte: Livros de Acordão da C.M. de Torres Vedras).

ANEXO VI

Irmandades no Concelho de Torres Vedras existentes em 1859

FREGUESIA

Irmandade e estabelecimentos pios

S. Domingos de Carmões

Irmandade do Santíssimo Sacramento

Ermida de Nossa Senhora da Piedade

Ermida de S. Gregório (extinta)

Nossa Senhora da Conceição (Ponte do Rol)

Irmandade das Almas (extinta)

Ermida de Nossa Senhora da Nazaré

Espírito Santo de Monte Redondo

Confraria do Espírito Santo

S. Lourenço do Ramalhal

Irmandade do Santíssimo Sacramento

Capela de S. Luís

Confraria de S. Lourenço (abandonada)

Confraria de S. Bento (abandonada)

Confraria do Menino Jesus (abandonada)

Albergaria de Vila Facaia

Ermida de Santo António

Ermida de S. Sebastião

S. Lucas da Freiria

Confraria de S. Sebastião

Nossa Senhora da Luz da Carvoeira

Irmandade do Santíssimo Sacramento

Irmandade de Nossa Senhora da Luz

Confraria do Corpo de Deus

Albergaria da Carvoeira

Irmandade de Nossa senhora de Madre de Deus

Ermida de S. Justino

Ermida de Nossa Senhora da Glória

S. Mamede da Ventosa

Irmandade do Santíssimo Sacramento

Irmandade das Almas

Confraria de S. Mamede

Confraria de S. Sebastião

Albergaria de S. Mamede

Ermida de S. Martinho

Ermida de Nossa Senhora da Piedade

Santa Madalena do Turcifal

Irmandade do Santíssimo sacramento

Ordem Terceira de S. Francisco

Irmandade de Santa Catarina e Almas

Albergaria do Turcifal

Ermida de Santa Iria (abandonada)

Ermida de santo Amaro

Ermida de Nossa Senhora da Quietação

Ermida de Santa Marta

Ermida de Santo Isidoro

S. Miguel (vila)

Irmandade do Santíssimo Sacramento

Irmandade dos Passos

Nossa Senhora da Oliveira de Matacães

Albergaria de Matacães

Ermida de Nossa Senhora do Amparo

Ermida de Santo André e Santa Margarida

Santa Maria do Castelo (vila)

Confraria do Santíssimo sacramento

Ermida de Santo Estevão

Ermida de S. Julião

Ermida de Nossa Senhora da Piedade (abandonada)

S. Pedro de Dois Portos

Irmandade do Santíssimo Sacramento

Irmandade do Corpo de Deus

Irmandade dos Passos (abandonada)

Confraria do Espírito Santo

Irmandade de Nossa Senhora da Purificação do Sirol

Ermida de Nossa Senhora dos Prazeres

Ermida do Espírito Santo

Ermida de Nossa Senhora dos Anjos

Ermida de Nossa Senhora dos Milagres

Ermida de Nossa Senhora da Guia

Ermida de Nossa Senhora das Necessidades (abandonada)

S. Pedro da Cadeira

Irmandade do Santíssimo Sacramento

Confraria das Almas

Confraria de S. Pedro

Confraria da Santíssima Trindade

Hospital de S. Pedro

Ermida de Santa Helena

Ermida de Nossa Senhora da Cátedra

Ermida de Nossa senhora da Conceição

Ermida de Nossa Senhora do Amparo

Ermida de S. João Batista

S. Pedro de Torres Vedras

Irmandade do Santíssimo Sacramento

Irmandade de Nossa Senhora da Conceição

Irmandade do Clérigos Pobres

Ermida de Nossa Senhora do Rosário

Ermida de S. Vicente (abandonada)

Santa Susana do Maxial

Irmandade do Santíssimo Sacramento

Confraria de Nossa Senhora do Rosário

Hospital da Aldeia Grande

Hospital grande do Maxial

Hospital pequeno do Maxial

Ermida de Santa Luzia

Ermida de Nossa Senhora da Encarnação

Ermida de S. Mateus

S. Tiago (da vila)

Confraria do Santíssimo Sacramento

Irmandade das Almas

Ordem terceira de S. Francisco

Ermida de S. Marcos

Santa Casa da Misericórdia

Ermida de Nossa Senhora da Saúde

(Fonte.: Relatório do Governo Civil de 1859. Não se encontra referência à Paróquia de A-Dos-Cunhados)

BIBLIOGRAFIA

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Livro do Lançamento da Finta para o ano económico de 1846-1847, obra manuscrita existente no AHMTV;

Livros do Lançamento de Sizas (1821, 1831), AHMTV;

Livros dos Acordãos da Câmara Municipal de Torres Vedras (nºs 24 a 35, de 1800 a 1900), ( Lº nº 24 (…- 1812); Lº nº 25 (1812-1817); Lº 26-A, (1817-1834); Lº nº 27, (1834-1842); Lº nº 28, (1842-1856); Lº nº 29, (1856-1864); Lº nº30, (1864-1873); Lº nº 31 ( 1873-1879); Lº nº32, (1879-1883) ;Lº nº 33, (1883-1889); Lº nº 34, (1889-1895), Lº nº 35 (1895 -1901), AHMTV;

LOBO, Roque Ferreira, Panegírico em honra da Sereníssima Princesa do Brasil e Senhora Dona Maria Francisca Benedita pela sua fundação de um Hospital para Militares Inválidos, na sua Quinta do lugar de Runa, termo da Villa de Torres Vedras, Regia Typ. Silvianna, Lisboa, 1826;

“Lugar de Runa, Comarca de Torres Vedras, em 25 de Julho de 1827”, in Gazeta de Lisboa, nº 199,23 de Agosto de 1827, p.1105;

“Mappa das Províncias (...)” Diário do Governo, nº59, 10 de março de 1842.

“Mappa demonstrativo do movimento  da população no concelho de Torres Vedras nos annos abaixo designados [1841-1850], T. Vedras 31 de Dezembro de 1859, o administrador do concelho”, in Relatório sobre a cultura do arroz em Portugal e sua influencia na saúde publica, Lx., Imprensa Nacional, 1860, p.167;

“Mappa Geral das 26 Divisões Eleitorais do reino de Portugal”, Diário das Cortes, sessão de 10 de Julho de 1822, Tomo VI, p. 783.;

“Mappa Geral das 27 divisões eleitorais do Reino de Portugal (...) calculadas quanto à população pelos últimos mappas, fundados nos recenseamentos enviados à commissão de estatísticas até ao anno de 1828” (Diário do Governo de 1836, Decreto de 8 de Outubro).

“Mapa do Districto do Batalhão de Voluntarios Realistas de Torres Vedras (...)”1829, Biblioteca Nacional de Lisboa.

Mapas de produção agrícola (1888 a 1905), AHMTV;

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REIS (2016), Célia, A Misericórdia de Torres Vedras (1520-1975), ed.Santa Casa da Misericórdia de Torres Vedras,  2016;

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SOUSA, Maria Leonor Machado de , “Torres Vedras vista pelos militares britânicos na Guerra Peninsular”, in Turres Veteras XI – A Guerra Peninsular, ed. 2009, pp. 189 a 196;

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VIEIRA, Júlio, Torres Vedras Antiga e Moderna, ed. Sociedade Progresso Industrial, Torres Vedras, 1926;

[A] Vinha de Torres Vedras de 1894 a 1901;

Voz de Torres Vedras de 1887 a 1890;

2 comentários:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Excelente trabalho de síntese!
Dei uma primeira olhada e hei-de ler com calma.
Parabéns, Venerando de Matos.

S. Vieira disse...

Boa tarde.Primoroso seu trabalho. Encontrei-o quando pesquisava dados do meu bisavô Luis Henriques Horta de Almeida, que era de Lourinhã e, também, tem uma citação de ter sido o Senhor da Casa de Varatojo, acho que em fins de 1800. O senhor saberia onde posso encontrar alguma mênção sobre isso em algum documento? O que significa? Qualquer informação será bem vinda. Agradeceria muito a sua ajuda. Atenciosamente, Sandra Vieira