quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Um "Postal" Para Desejar Um BOM ANO NOVO

Com esta imagem, do Largo de S. Pedro, da autoria de Eduardo Salavisa, publicada no seu blog "Desenhador do Quotidiano", nos despedimos de 2009, desejando a todos um BOM ANO NOVO de 2010.
(Segundo o próprio autor, vai ser inaugurada no dia 9 de Janeiro em Torres Vedras uma exposição desse artista).



terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A EXPLICAÇÃO CIENTÍFICA PARA O TEMPORAL DO DIA 23


O Instituto de Meteorologia divulgou hoje a descrição científica daquilo que se passou em Torres Vedras e na região Oeste no passado dia 23:

“Na madrugada do dia 23 de Dezembro de 2009, a região do Oeste de Portugal Continental foi atravessada por uma depressão muito cavada, tendo sido registado um valor mínimo da pressão ao nível médio do mar de 969.4 hPa às 04:20 horas locais na estação do Cabo Carvoeiro.


De acordo com uma análise preliminar, no presente episódio e considerando a rede de estações do IM (cuja distância média entre estações é inferior a 30 km), verificou-se que foi também na mesma estação que se registaram os valores mais elevados da intensidade do vento. Em particular, o vento médio atingiu cerca de 90 km/h às 4:40 e a rajada 140 km/h às 4:50 de dia 23.

O cavamento da depressão, ou seja, a diminuição da pressão no seu centro, foi muito acentuado, em particular no momento da passagem sobre o território. Uma análise preliminar permite estimar um cavamento de cerca de 20 hPa num período de 24 horas, o que à latitude de Portugal Continental permite classificar este evento como um episódio extremo.

As observações efectuadas pelo sistema de radar Doppler de Coruche permitiram identificar e seguir o referido núcleo depressionário, à aproximação e passagem pela referida região. Na animação do produto MAXZ (ver Enciclopédia METEO.PT/Observação Remota/Radar) o núcleo depressionário começa a ser identificado pelas 3:10 UTC ainda sobre o mar, a sudoeste do Cabo Carvoeiro; pelas 4:20 UTC, no seu deslocamento para nordeste, o núcleo da depressão encontra-se já sobre o mesmo cabo, à hora a que foi observado na referida estação o valor mínimo de pressão atmosférica. Ao prosseguir o seu movimento para nordeste, para o interior do território, o núcleo depressionário foi enchendo (aumentando a presão no seu centro) e os ventos associados diminuíndo de intensidade.

O presente episódio é semelhante a outros que ocorreram em Portugal Continental no passado, como são exemplos os temporais de 5 a 6 de Novembro de 1997 no Alentejo e de 6 a 7 de Dezembro de 2000 no litoral Norte e Centro.

É importante clarificar que este fenómeno não se enquadra na classe de ciclones tropicais, cuja natureza é distinta da do fenómeno actual. Por exemplo, é de notar, que um ciclone tropical de categoria 1 apresenta vento médio superior a cerca de 120 km/h, valor que não foi registado em nenhuma das estações da rede do IM.”


ORDENS DO DIA DE BERESFORD


VER NO NOSSO BLOGUE PEDRAS ROLANTES MAIS UM RESUMO DAS ORDENS DO DIA DE BERESFORD, REFERENTES A DEZEMBRO DE 1809

domingo, 27 de dezembro de 2009

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

22 de Dezembro de 1846 - O dia da Batalha de Torres Vedras


“Batalha de Torres Vedros(sic)” Reprodução de uma estampa existente no Arquivo Municipal de Torres Vedras. Sabemos existir uma gravura igual na Biblioteca Nacinal de Lisboa. Desconhecemos qual delas é a original. Note-se a figura da rainha, as cabras (os “cabralistas”) e a figura por elas transportada numa maca (Mouzinho?).“Quando a rainha soube da morte e aprisionamento dos bravos, saiu às janelas do palácio e como uma bacante gritou para a sua guarda: “Vitória! Vitória !Vitória” (Espectro, citado por Oliveira Martins).




Há 163 anos, no dia 22 de Dezembro de 1846 teve lugar a chamada “Batalha de Torres Vedras”, um dos episódios mais dramáticos da Patuleia.

Recordamo-la aqui através de uma descrição feita por alguém que assistiu àquele acontecimento e que o registou por escrito apenas uma semana depois, em jeito de rascunho, daí o mau português do texto.
O seu autor é anónimo, mas a comparação da grafia do mesmo com outros documentos da época assinados por José Eduardo César leva-nos a atribuir a sua autoria a este ilustre torriense do século passado.
Aliás, quem ler a descrição daquele acontecimento na obra histórica de Madeira Torres, anotada pelo mesmo J.E.César, poderá, ao ler a nota (a) da página 76, encontrar algumas similitudes entre o conteúdo da mesma e o documento que vamos transcrever.
Para um melhor enquadramento histórico da Batalha de Torres Vedras recomendamos a leitura do artigo de José Travanca Rodrigues "A restauração do cartismo.Os dramas da Maria da Fonte e da Patuleia" publicado na monografia TORRES VEDRAS - Passado e Presente, páginas 216 a 224, que inclui igualmente uma reprodução fotográfica do documento que vamos transcrever.
Podem também consultar um trabalho da minha autoria sobre o mesmo assunto, publicado pela Revista Militar em 2006, consultável na net AQUI.


"No dia 22 de Dezembro de 1846 - Se deu em Torres Vedras huma renhida e sanguinolenta Batalha entre Portugueses (!!!!!!) de diferentes partidos (todos constitucionais) huns do partido chamado Setembrista, ou popular comandados pelo Conde de Bonfim, e os outros chamados Cartistas, ou Cabralistas, ou da Rainha, comandados pelo Marechal Saldanha, ficando este vencedor, com a perda total da Divisão do Conde de Bomfim, q no fim da tarde se meteu com os restos da tropa no castello, onde esteve athe ao dia seguinte (23) em que se entregou prizioneiro de guerra, com esses restos ditos. O conde de Bonfim tinha chegado no Sabado -19- a Torres Vedras, com a sua Devisão q dizião ser huns cento e quarenta cavallos; na infantaria entravão alguas guerrilhas -batalhões organisados do povo, q, no meu parecer, pouco valião, mas trazia então alguns batalhões de linha m.to bons. No Domingo (20) descançou na villa, e acabou de chegar o resto da sua força. Na 2º feira (Dia de S.Thome) logo se conheceu q elle sentia o inimigo perto porq principiou a tomar posições no castello, forte de S.Vicente, forte da Forca, S.João e a colocar a peça e o obuz em posição, tomando m.tas disposições. Na terça feira -22- amanheceu m.to chuvoso tendo chovido toda a Noite de sorte q o rio Cizandro estava cheio e em algumas partes a deitar fora, não deichando com tudo a chuva, q era hum nevoeiro molhado m.to cerrado, a ver cousa algua, de modo q a vinte passos já se não conhecia hum indeviduo.

"Serião onze horas, pouco antes, entrei a sentir alguns tiros dispersos, pª o lado do Forte de S. Vicente e Amiaes, fui colocar me em St. António, ponto de onde podia ver tudo m.to bem, e sem o menor perigo; porem o nevoeiro fechado e molhado não deichava ver cousa algua, ouvido-se comtudo destinctamente as cornetas e os seus toques de avançar de fogo por filas, e as vozes dos officiaes e hum fogo exasperado e conheci q o exercito do Saldanha tinha tomado o Forte de S.Vicente, por vivas á Carta e outras vozes, isto seria meio dia, o q logo sube por gente q chegou da villa, continuamdo a sentir-se m.to fogo, mesmo de artelharia pª o outro lado da villa, parecendo pª o Forte da Forca, Sarges, Fontainhas, e naquella direcção.E vim jantar algua cousa e antes das tres horas voltei pª sima, continuando sempre o fogo vivissimo, e o nevoeiro q nada deichava ver, sendo só por tres horas e meia, q o nevoeiro principiou a abrir, e a deichar ver o campo da peleija, q se extendia por todas as iminencias, principiando pouco depois a ver se q se aproximavão das pontes, e avançavão, pª a villa debaicho de hum fogo q horrorijava, vendo-se destinctamente cahir cavallos, e cavaleiros, e choverem as ballas em todas as direcções, e assim aturou athe noite fechada, ficando eu e os mais que estavamos, na incerteza de que lado ficou o vencimento, supondo mesmo q o Saldanha sim tinha tomado S.Vicente, e os Fortes, e posições à direita do Cizandro, mas q a vila, e toda a esquerda do rio estava ainda occupada pelo Bomfim, com o Castello, o q não admira, porq d'essa mesma opinião estavão, como depois se soube, os mesmos moradores da maior parte da villa, e as mesmas tropas do Saldanha, e talvez ali mesmo, foi necessario mandarem-nas chamar, dizendo-lhe q a vila ou parte d'ella, estava tomada, q podião vir, da sorte q estiverão a entrar toda a noite, noite de horroroza recordação pª os moradores da villa, todas as portas erão arrombadas indestinctamente, todas as cazas roubadas; o saque não foi positivamente mandado, mas foi m.to de proposito convertido. tropa mais indesciplinada, mais ladrões, nunca em epoca algua aqui aparecerão, tendo nós já aqui visto Francezes, Inglezes, Hespanhoes e em m.to maior numero, e nem se podem disculpar com a Batalha, porq antes d'ella, e depois, na marcha pª sima, na volta pª baicho, sempre ladroes desaforados tudo lhe servia!!! Em abono da verdade, porq esta he quem sempre nos derige, o Saldanha conduzio-se na sua victoria com moderação, tratou com moderação os prezioneiros, a maior parte consta terem fugido, e todos deverão ter feito, porq, ao menos os officiaes, consta terem sido em Lisboa m.to mal tratados, alguns, os principaes, athe dizem terem sido mandados pª Angola.

"O Forte da Forca nunca se rendeu, foi de noite abandonado, quando souberão q'a villa estava occupada pelo Saldanha, e a Acção perdida. A artilharia do Saldanha esteve colocada, no dia da acção, na Sera da Almofalla, d'onde deitou hum sem numero de projecteis sobre a villa, principalmente bombas, e foguetes de Conggreave, d'estes mais de 60 - com tanta felecidade pª a villa q poucos, ou nenhuns estragos produsirão, como se os não deitassem.No dia 23 vierão colocar 4 bocas de fogo em o moinho por sima do nicho de Stº Antonio de Varatojo, pª ameaçarem os do Castello pª se renderem mas não chegarão a fazer fogo. A artilharia do Bomfim, pouca, apenas 2 bocas de 6 fogos, causou terriveis estragos na devisão do Saldanha, por mais bem colocado, e optimamente deregida (pelo Mouzinho)
Mouzinho de Albuquerque, falecido nesta mesma Batalha
. A perda do Saldanha foi m.to grande em mortos e feridos.A batalha so foi perdida, por culpa do general, faltou-lhe a presença de esppirito e sangue frio indispensaveis; os soldados, quse sós, abandonados baterão-se athe à noite como leões, o Bonfim no meio da tarde os abandonou, indo meter-se no Castello, e dizem q athé em hum confessionario = estamos perdidos,estamos perdidos - sem dar mais providencias alguas, nem se lembrar do artº 5º dos da guerra.Com soldados taes como elle tinha, ainda q em m.to menor numero, e com taes posições, e o rio cheio, a deitar por fora, como estava naquelle dia, he opinião de todos q prezenciarão a acção, q nunca a perderia; o ir-se meter no Castello, onde nada tinha, nem pão, nem agoa, podendo athe ainda dali sahir de noite, ou ao menos a Cavallaria, pª o lado da ponte do Alpilhão, em direitura a Varatojo, lado q lhe ficou todo aberto athe ao dia seguinte, tanto q os moradores da villa q estavão proximos á porta do Castello, e de todo o lado dito só no seguinte dia he q souberão q o outro lado da villa estava occupado pelo Saldanha."
....
"Lavrei estes apontamentos no dia 29 de Dezbº de 1846 - com tenção de continuar, addicionar-lhe factos q depois se forão sabendo, e apurando, passado depois tudo pª limpo; corregido, e melhor organisado, porem não tive occasião pª isso - ".


sábado, 19 de dezembro de 2009

Visita Presidencial às Instalações da APECI em Runa

Ontem, sexta-feira 18 de Dezembro, as instalações da APECI  em Runa receberam a visita do Sr.Presidente Cavaco Silva.
Publicamos aqui algumas das fotografias dessa visita, seleccionadas de um conjunto de trinta fotografias divulgadas no site da Presidência da República.






























sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Aclamação de D. João IV em Torres Vedras

No adro da Igreja de Stª Maria foi aclamado D. João IV, no dia 18 de Dezembro de 1640


Após ser aclamado como rei, com o título de D. João IV, o 8º duque de Bragança chegava a Lisboa no dia 6 de Dezembro de 1640.

Uma das primeiras tarefas do seu reinado foi enviar uma ordem a todas as sedes de concelho no sentido de ser proclamado nas respectivas terras.
A carta enviada para Torres Vedras data do dia 10 de Dezembro e encontra-se registada no “Livro de Registos da Câmara Municipal de Torres Vedras” nº5, folhas 51 verso e 52.
Nela, dirigindo-se ao juiz, vereadores e procurador do concelho “da Villa de torres uedras” e referindo ter “por serto q em Conformidade do que esta sidade de Lisboa comesou me auereis chamado e leuantado por uosso Rey e senhor natural”, ordenando que fosse aclamado “na forma custumada”.

A solenidade da aclamação teve lugar no dia 18 de Dezembro de 1640, existindo um relato da mesma no mesmo livro de registos .
O teor desse relato é bastante interessante e mereceu a atenção de Rogério de Figueiroa Rêgo que a publicou (“Reflexos da Restauração na Vila de Tôrres Vedras”, in Revista dos Centenários, Outubro de 1940, pp. 23 a 26), sendo essa leitura que, pelo seu interesse, aqui transcrevemos:

“E pêra se dar comprimento a ditta cartta na forma q sua mg.de manda na carta asima seordenou nesta villa q em dozoito deste mês de desembro de 1640 se fisece hua prosição em a qual se aiuntou o clero desta villa e a nobreza della a q o juis euereadores madaraõ uir os juises das uintenas deste termo e assim iunto todo o ditto pouo em a igreia de nosa snorª do castello e adro della sendo ahi também hua companhia de arcabuzeiros de ordenamsa desta villa em q foy por capittaõ bertolameu anriques e Joaõ machado por alferes com a bamdeira na maõ chegou a porta prinsipal da dita igreia aomde estauaõ iuntos os uereadores frescisco do rego goriaõ uereador mais uellho q seruia de juis pella ordenasaõ Belchior homem de carvalhossa Bartolomeu bareiros baracho e fr.co Botelho machado escriuaõ da câmara semdo também presente o doutor Miguel pinheiro de brito corregedor desta comarca o ditto Juis tomou a ditta bamdeira da maõ do alferes e a vista do ditto pouo se apelidou a elRey Dom Joaõ o quarto o ditto Juis que disse as palauras seguimtes
“Nobres e caualeiros desta villa de torres uedras e omrado pouo della sabei que temos Rey português por mercê de Deos chamado Dom Joaõ o quarto deste nome aclamaiio todos comiguo por uosso Rey e senhor dizendo
“Viua, Viua, Viua
“Nobres e caualeiros e omRado pouo desta Villa de ttores uedras Prometeis de defemder esta bamdeira del Rey dom Joaõ o quarto com uosas pessoas e as de uossos filhos e com uosas fasemdas, Prometemos.
“Real Real por el Rey de portugal Dom Joaõ o quarto
“e todos diraõ o mesmo e semdo assim aclamado o ditto Rey e senhor de todo o pouo q presente estaua en uos alta sahio da ditta igreiia hua solene prosição cõ os folgares q a terá deu de sim e acbouse a ditta prosiçaõ em mosteiro de nosa snorº da grasa desta villa aonde se dise misa camtada e pregaçaõ.”

O “entusiasmo” dos poderosos e do povo de Torres Vedras em relação à aclamação de D. João IV não nos pode fazer esquecer que o domínio filipino tinha sido bem aceite pelas famílias poderosas da região, com os Alarcões à frente, apesar de alguma resistência popular, bem patente na revolta do "Rei da Ericeira" em 1585, que comandou uma malograda guerrilha, de algumas centenas de camponeses da região, tendo acabado na forca, quando era "juiz de fora" de Torres Vedras o conhecido poeta André Falcão de Resende, amigo e contemporâneo de Luís de Camões, cargo para o qual tinha sido nomeado ainda no tempo de D. Sebastião, e no qual se manteve até cerca de 1586.
Durante o domínio filipino Torres Vedras tinha adquirido uma considerável importância política e económica, patente no prestígio dos Alarcões junto da coroa espanhola mesmo após a restauração.
De facto, só sob domínio filpino, em 1617, é que entrou em vigor a decisão de D. João III, de 18 de Julho de 1533, de tornar Torres Vedras cabeça de comarca .
A influência das poderosas famílias do concelho, fiéis apoiantes do domínio filipino, não terá sido estranha ao desbloqueamento daquela decisão que tinha a oposição de Alenquer, até então sede da comarca onde se incluía Torres Vedras.
Também em termos económicos, durante o período filipino a produção vinícola terá igualmente conhecido grande expansão, situação que pode justificar o facto de ter sido Torres Vedras uma das comarcas que mais contribuiu, pelo menos entre 1628 e 1633, para a organização da "Companhia Portuguesa das Índias".

Mas esta é outra “história”.

A Região de Torres Vedras e os Sismos Históricos


(Fontes: Expresso on-line)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

D. Manuel Clemente recebe o Prémio Pessoa de 2009.


Após vários dias reunido no Palácio de Seteais, em Sintra, o júri do prestigiado Prémio Pessoa decidiu atribui-lo este ano a D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, natural de Torres Vedras.



"Em tempos difíceis como os que vivemos actualmente, D. Manuel Clemente é uma referência ética para a sociedade portuguesa no seu todo", declarou o júri do prémio, presidido por Francisco Pinto Balsemão, acrescentando que a “sua intervenção cívica tem-se destacado por uma postura humanística de defesa do diálogo e da tolerância, do combate à exclusão e da intervenção social da Igreja”.


O Prémio distingue a intervenção "na vida cultural e científica do país" já tendo distinguido o historiador José Mattoso (primeira edição, em1987), a pianista Maria João Pires (1989), o escritor José Cardoso Pires (1997), o arquitecto Souto Moura (1998), o investigador Sobrinho Simões (2002) e o constitucionalista Gomes Canotilho (2003).


Em 22 anos de História desse Prémio é a primeira vez que ele é atribuído a um membro da Igreja Portuguesa.


Para quem, como o autor destas linhas e muitos outros torrienses, conhece o percurso humano, intelectual e religioso de D. Manuel Clemente não se surpreende com a justiça da atribuição desse prémio.


D. Manuel Clemente está muito ligado a Torres Vedras, não apenas porque aqui nasceu no dia 16 de Julho de 1948, mas porque sempre revelou um apreço muito grande pelos habitantes deste concelho.


Uma faceta talvez menos conhecida por parte de quem apenas o conhece da vida pastoral é a sua importante obra historiográfica, tendo marcado uma ruptura na historiografia regional torriense com o seu estudo, que foi a sua tese de licenciatura em História na Faculdade de Letras de Lisboa em 1974, intitulado “Torres Vedras e o seu termo no primeiro quartel do século XIV”.


Tendo posteriormente publicado muitas outras obras fundamentais e inovadoras para a História da Igreja em Portugal, continuou sempre, com regularidade, a publicar ou a conferenciar sobre a história local de Torres Vedras.


Deste seu trabalho de investigação sobre história local resultou a edição da obra “História e Religião em Torres Vedras” editada pela Grifo em 2004, onde se reúnem esse seu trabalho de três décadas.


A sua humildade e o seu amor pela terra natal levaram-no a oferecer os lucros com a venda desta obra para ajudar ao restauro da Igreja da Graça, “grande e belo símbolo, plástico e pastoral, da tradição cristã da cidade e seu concelho”.


Para quem o não o conhece e fique surpreendido com o Prémio que agora lhe foi atribuído, posso garantir que D. Manuel Clemente ainda nos vais surpreender mais vezes.


Para o amigo Manuel Clemente um abraço de felicitações.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Documentos Para a História de Torres Vedras - Cadeira de braçoa do Varatojo


Apresentamos hoje o documento/relatório publicado pelo Museu de Arte Antiga de Lisboa
 sobre a célebre "Cadeira de Braços" que pertenceu ao Convento do Varatojo, e que se encontra actualmente nas instalações desse museu:


"CADEIRA DE BRAÇOS

Cadeira de braços (Estadela)
Portugal, 2ª metade do séculoXV
Carvalho
A 180 x L 68 x P 52,5 cm

Convento do Varatojo, 1913
MNAA inv. 51 Mov

Piso 1, sala 36
__________

"Cadeira de estado, ou estadela, que terá sido usada por D. Afonso V (1438-81) quando se recolhia no Convento do Varatojo que fundou em 1470.
É uma peça de grande raridade, não só por ser sobrevivente de uma época em que os móveis eram escassos, como pela carga simbólica que a sua proveniência comporta.
A rigidez ortogonal da construção é compensada pela delicadeza da decoração entalhada, que estruturada no arco ogival remete para a arquitectura gótica.
Este tipo de móvel de assento é, ainda, frequentemente revestido de ricos têxteis, por vezes formando dossel, reforçando pela cor e brilho do ouro o seu aparato e distinção".
_________

"Esta cadeira, proveniente do convento franciscano de Santo António do Varatojo (Torres Vedras), fundado em 1470 pelo rei D. Afonso V (1438-1481), constitui-se como um dos mais antigos espécimes de mobiliário nacional.
Vários testemunhos associam este móvel ao monarca português. De facto, nos textos dos cronistas da Ordem, a alusão à existência no convento da cadeira de D. Afonso V é recorrente e a sua conservação por sucessivas gerações de frades deverá ser entendida como preservação da fundação régia do convento, pois mais do que um simples objecto pessoal, a “cadeira de estado” revestia-se de uma forte carga simbólica associada ao poder real.
A análise estilística e formal do exemplar permite enquadrar a execução deste móvel de assento na produção europeia do final do século XV. Uma observação atenta de peças congéneres e, sobretudo, a análise de testemunhos visuais de interiores norte europeus que nos são dados quer pela pintura, quer pela iluminura de produção francesa e flamenga, permite constatar estarmos perante um modelo em tudo semelhante. Assim, há que questionar a sua eventual produção em território nacional, eventualmente por artífices estrangeiros, ou a sua produção além-Pirinéus, o que só poderá vir a ser comprovado por documentos.
Diversos desenhos e fotografias antigos da cadeira permitem recuperar as diversas intervenções de restauro do móvel desde a época em que ainda se conservava no convento até à intervenção levada a cabo pelo Conselho de Arte e Arqueologia, antes da sua definitiva incorporação no Museu Nacional de Arte Antiga, em 1913. Em 1977, nova intervenção rectificou esse restauro, eliminando o que então lhe fora acrescentado de acordo com um critério revivalista, responsável pela introdução de elementos não originais".

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A "Praça"




Inaugurado em 1931, o mercado municipal foi reportório de recordações de várias gerações de torrienses.
Deitado recentemente abaixo esse edifício, no seu lugar vai nascer um novo e moderno edifício para abrigar o novo mercado, prevendo-se a inauguração do seu estacionamento para o próximo dia 27.
Entretanto, e segundo a notícia do "Badaladas" abaixo transcrito, a vida do antigo mercado pode voltar a ser recordada, apartir de hoje à noite, numa exposição da Cooperativa de Comunicação e Cultura:

"Exposição sobre “A Praça”


"A propósito do Mercado Municipal, vulgarmente conhecido como Praça, Badaladas pôde apurar que a partir de hoje, dia 20, e até ao próximo dia 2 de Janeiro vai estar patente, na Galeria Municipal de Torres Vedras (piso 0), na Galeria Dois Paços e nas instalações da Cooperativa de Comunicação e Cultura e da associação Transforma uma exposição colectiva de fotografia intitulada “A Praça”. A mostra tem a sua génese num convite formulado pela Cooperativa de Comunicação e Cultura a um grupo de fotógrafos para que estes registassem momentos, rotinas, gentes e espaços do antigo Mercado Municipal de Torres Vedras, que já foi demolido.
Desse trabalho surgiram imagens de singular valor documental e artístico que serão apresentadas da cidade poucos meses antes da abertura do novo Mercado Municipal, que está a ser construído no espaço do antigo.
Os fotógrafos que participam na mostra são: Ana Bastos, Aguinaldo Vera Cruz, Maria João Arcanjo, Luís Farrolas, Jorge Carocinho, Nuno Moura, João Paulo Barrinha, Fernando Correia, Rita Mourão, Manuel Luís Cochofel, Nanã Sousa Dias, Ricardo Barata Salgueiro, Venerando Matos e Rodrigo Ferreira.
A inauguração da exposição “A Praça” está marcada para as 21h30".

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Ainda o Terramoto de 1755 e os seus efeitos em Torres Vedras



(Fonte não identificada)

O meu amigo João Flores Cunha enviou-me recentemente um interessantíssimo documento sobre os efeitos do Terramoto de 1755 em Torres Vedras.

Trata-se de uma informação por ele recolhida do livro de registo de óbitos nº 2 da Paróquia de Santa Maria do Castelo, de Torres Vedras, e que ele me autorizou a divulgar.
Nele pode ler-se:

"Ao primeiro dia do mês de Novembro de 1755 faleceu nesta vila e freguesia na rua da Cruz um menino por nome Manuel filho de Francisco Moreira e de sua mulher Maria Teresa, o qual faleceu no terramoto grande, que neste dia houve e por eleição de seu pai a quem competia eleger-lhe sepultura, por esta igreja ficar ameaçando ruína foi sepultado no cemitério da Misericórdia desta vila. De que fiz este assento por comissão ut supra.
o padre António Ribeiro".

Esta é a primeira confirmação da existência de mortos em Torres Vedras, já que nas memórias paroquiais de 1758 o não referiam.
Desejamos ao João Flores da Cunha um bom trabalho, que sabemos estar a fazer, de forma quase anónima, recolhendo informações em fontes primárias referentes a Torres Vedras, muitas delas inéditas.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Comemorações do Bicentenário (Notícia do Público)


(Fotografia – Luís Balteiro –Vestígios de uma velha estrada militars -  Público)


"Bicentenário das Linhas de Torres começa a ser celebrado em Sobral de Monte Agraço

In Público de 16.11.2009 - Por Jorge Talixa

"As comemorações oficiais do bicentenário das Linhas de Torres, estrutura defensiva constituída por 177 fortes e redutos que impediu as tropas francesas de Napoleão Bonaparte de invadirem Lisboa em 1811, arrancam, na próxima quinta-feira, em Sobral de Monte Agraço. As cerimónias, que serão presididas pelo presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, incluem uma sessão evocativa do início da construção das Linhas de Torres, uma conferência sobre a importância desta estrutura defensiva e a apresentação do programa da Plataforma Intermunicipal das Linhas de Torres.

"Liderado pelo marechal inglês Wellington, quando já se desenhava uma nova invasão francesa do território português, o processo de construção das Linhas de Torres iniciou-se em Novembro de 1809 e ficou concluído cerca de 10 meses depois. Erguida em "segredo", esta rede de fortes, redutos e baterias estendia-se por duas linhas principais compreendidas entre a zona do Tejo (Alhandra) e a costa atlântica e incluía duas linhas mais pequenas nas zonas de Oeiras e Almada. "Estrategicamente localizadas no alto das colinas, reforçando os obstáculos naturais do terreno", estas fortificações "controlavam os acessos principais para a capital" e as Linhas de Torres são referidas por muitos especialistas como "um dos mais eficientes sistemas de fortificação no campo da história militar".

"Certo é que, logo em 1811, as Linhas de Torres tiveram um papel decisivo. Contando com o empenho das populações - que sacrificaram os seus bens para que o exército napoleónico não tivesse condições para se fixar - e com o desconhecimento pelos franceses da existência desta barreira defensiva, as tropas anglo-portuguesas conseguiram travar a sua progressão e obrigaram o invasor a retroceder.

"As cerimónias de quinta-feira são organizadas pela PILT e pelo Exército português e realizam-se num pequeno município do coração do distrito de Lisboa onde se situam importantes vestígios das Linhas de Torres, como o forte de Alqueidão e a quinta onde Wellington estabeleceu o seu quartel-general. Incluem uma recepção com guarda de honra a Jaime Gama na Praça do Município, uma cerimónia em honra dos que tombaram no campo de batalha e o descerramento de uma placa evocativa do início da construção dos fortes e redutos das Linhas de Torres.

"No cine-teatro de Sobral de Monte Agraço realiza-se a sessão solene evocativa, que inclui intervenções da câmara local sobre os projectos da Plataforma Intermunicipal das Linhas de Torres, uma conferência sobre "As Linhas de Defesa a Norte de Lisboa durante a Guerra Peninsular" e alocuções de Jaime Gama e do chefe de Estado-Maior do Exército.

"No quadro dos projectos que a PILT pretende levar a cabo deverá ser criada uma rota histórica, que deverá ficar concluída no final do próximo ano e que pretende vir a atrair turistas e estudiosos britânicos, franceses e espanhóis, atendendo ao envolvimento que estes povos tiveram na Guerra Peninsular".

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O Discurso Do Sr. Presidente da República em Torres Vedras



(irónicamente, "Napoleão" também esteve presente... Fotografia do Jornal Badaladas)

Por ocasião da abertura solene das comemorações do bicentenário da construção das Linhas de Torres, que teve lugar em Torres Vedras no passado dia 11 de Novembro, um dos momentos altos foi o discurso pronunciado pelo Sr. Presidente da República.
O interesse do mesmo e o seu significado histórico levou-nos a solicitar à Presidência da República uma cópia do mesmo, que nos foi facultado hoje, por intermédio da Dr. Carla Marisa Brito, da Biblioteca da Presidência, e cujo conteúdo transcrevemos de seguida:


Discurso do Presidente da República no lançamento das Comemorações dos 200 anos das Linhas de Torres Vedras


Torres Vedras, 11 de Novembro de 2009

"Senhor Ministro da Defesa Nacional,
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras,
Senhor Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas,
Senhor Comissário das Comemorações,
Senhoras e Senhores,

Assinala-se hoje o lançamento das Comemorações do Bicentenário das Linhas de Torres Vedras, uma obra ímpar de organização militar do terreno. Para nós, portugueses, estas Linhas são sobretudo o símbolo da vontade de resistir de um Povo. Prestamos, nesta ocasião, homenagem a esses nossos antepassados heróicos que aqui lutaram em defesa da Pátria.

No início do século XIX, a máquina de guerra napoleónica estendeu as suas forças até ao extremo ocidental do continente europeu. Provindo do centro da Europa, que então dominava, a sua longa marcha quedou-se aqui, nestas terras, apenas a uma jornada de atingir o seu objectivo final.

Que mistério foi este? Como conseguiu um pequeno país fazer parar o melhor dos exércitos quando este se encontrava a dois passos da vitória?

Os exércitos napoleónicos não conquistavam territórios, destruíam as forças oponentes. Estavam sempre em movimento até encontrar o momento e o local azados. Aí, e só aí, atacavam ferozmente, com a máxima concentração de homens e de poder de fogo.

Ora, em 1810, o invasor tornara claro que tinha um único objectivo: atingir Lisboa. Esta revelação permitiu ao comando do Exército português e do Exército inglês antecipar os movimentos do adversário e adequar a sua estratégia defensiva.

Pela primeira vez, o Exército francês enfrentava forças que, parecendo recusar o combate, afinal o atraíam ao ponto em que os defensores o queriam colocar.

Chegado às Linhas de Torres Vedras, o espanto do comando francês foi a prova de que a sua construção fora feita no mais absoluto segredo.

Milhares de homens e mulheres, escavando fossos e erigindo muralhas, transportando materiais e artilharia em carros de bois, pelas encostas mais íngremes, deram tudo o que tinham para edificar as defesas. Um trabalho prolongado, esforçado, organizado, eficiente. E feito com total discrição.

É considerado, por muitos especialistas, um dos segredos mais bem guardados da história militar. É notável, de facto, que se tenha podido confiar no silêncio de tantos milhares de pessoas.

E que o invasor não tenha conseguido comprar um único traidor que lhe vendesse a informação crucial. Assim se tornou possível a vitória.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Na cidade que deu nome a esta obra maior de um povo em armas, aproveito para trazer à memória a figura de um grande português.

Recordo um cartógrafo militar de primeira água, que foi vítima de muitas injustiças, e, porventura, da maior de todas: a do esquecimento.

José Maria das Neves Costa foi o oficial do Real Corpo de Engenheiros que procedeu ao levantamento cartográfico em que assentou a decisão, há precisamente duzentos anos, de edificar em tão curto espaço de tempo uma fortificação com aspecto tão imponente e dissuasor. Honremos a sua memória.

Incapaz de vencer o obstáculo, sendo-lhe impossível contorná-lo, não conseguindo forçar os aliados ao combate, vencido pelo tempo e pela usura das tropas, restou ao invasor a retirada.

Aqui se inverteu o sentido da Guerra Peninsular. Foi o princípio do fim da aventura napoleónica que pôs a Europa a ferro e fogo. A retirada terminaria em Waterloo, cinco anos depois.

O maior erro de Napoleão, no entanto, não teve a ver com tácticas ou com estratégias, mas com a verdadeira natureza do adversário que se lhe opunha.

Em Portugal, o grande general subestimou a força anímica de um povo. Decorria já a invasão e ainda ele proclamava que “… os ingleses são o único perigo.”

De tal modo que não contabilizava as unidades portuguesas e, por isso, assinalava uma clara desproporção a seu favor nas forças em presença e exigia uma vitória fácil.

Um simples soldado do exército francês, veterano de muitas batalhas e de todas as campanhas, deixou testemunho nas suas memórias do modo como os cálculos dos invasores foram reduzidos a nada na Península Ibérica por algo com que nunca tinham contado:

“Nas guerras que até então tínhamos feito acostumámo-nos a ver numa nação apenas as suas forças militares e a desprezar o espírito que anima os seus cidadãos.”

Foi o ânimo dos nossos antepassados que fez toda a diferença. O carácter e a vontade de todos os que se aprestaram a combater, uns guarnecendo as trincheiras, outros fustigando a retaguarda do invasor.

Incluindo todos aqueles que, oriundos das Beiras, do Ribatejo, da Alta Estremadura, abandonaram casas e terras, perdendo os haveres que não puderam transportar. Acolhidos atrás das Linhas, sofreram os horrores da fome, animados unicamente pela esperança de manter a liberdade.

Em homenagem a estes portugueses, temos o dever de cuidar da preservação deste património e de tudo fazer para guardar a memória de um povo que se levantou contra o invasor.

Saúdo a população de Torres Vedras e todos aqueles que se têm empenhado na tarefa de preservação das Linhas de Torres, desde a administração central e o Exército português, às autarquias envolvidas e às entidades da sociedade civil.

Felicito, em particular, a Câmara Municipal de Torres Vedras e, na pessoa do seu Comissário, Senhor D. Manuel Clemente, a Comissão Municipal para as Comemorações do Bicentenário das Linhas de Torres Vedras.

A vitória dos aliados neste terreno que pisamos veio inspirar aqueles europeus que não tinham resistido quando invadidos por uma força que lhes parecera avassaladora.

Com o nosso exemplo, renascia, para cada povo da Europa, a esperança de ser capaz de decidir o seu destino.

Julgam-se fortes aqueles que querem impor a sua vontade pela força dos números. Fortes são aqueles que conseguem enfrentar a vontade dos outros com a força da sua razão.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Aqui se derramou o suor e o sangue de muitos portugueses. Aqui se garantiu a independência de Portugal. Aqui se defendeu, com unhas e dentes, a nossa identidade e o nosso modo de ser contra aqueles que queriam forçar a nossa liberdade.

Muito mudou desde então. Mas, dando sentido ao suor e ao sangue derramados, os Portugueses tiveram sempre uma palavra a dizer no traçado do seu próprio caminho.

Estas comemorações bicentenárias cumprem um dever nacional de reconhecimento para com os heróis das Linhas de Torres Vedras. Aquilo que somos deve-se também a eles.

Celebremo-los como merecem.

Muito obrigado".

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Exposição Comemorativa do Bicentenário das Linhas de Torres


Amanhã, dia 11 de Novembro, Dia da Cidade de Torres Vedras, o Museu Municipal Leonel Trindade inaugura uma grande Exposição comemorativa do Bicentenário das Linhas de Torres.
Como é do conhecimento público, a inauguração desse evento contará com a presença do Presidente da Repúblca Cavaco Silva.
Segundo informação do próprio museu, a exposição será organizada do seguinte modo:

"A exposição será composta por três núcleos:

"Núcleo 1: Não Passarão! - A importância das Linhas de Torres Vedras para a Defesa de Lisboa "(Exposição permanente. Patente até 2012)
"Esta exposição de carácter permanente privilegia uma abordagem sobre a importância das Linhas de Torres Vedras, desde o conceito, técnica, construção e eficácia, na 3.ª invasão, para impedimento do avanço do exército francês em Portugal.

"Núcleo 2: As Invasões Francesas: Memórias e Relatos
(Exposição temporária. Patente até Novembro 2010)
"Recuperação de algumas memórias e relatos associados às Invasões Francesas e impactos sofridos pelas populações, no âmbito nacional e local.

"Núcleo 3: De Ciudad Rodrigo a Torres Vedras: Uma viagem pelas gravuras de época
(Gravuras de Ciudad Rodrigo. Patente até 11 Fevereiro 2010)
"Esta exposição enfatiza a estreita relação entre Ciudad Rodrigo e Torres Vedras durante a 3ª invasão, unidas pela passagem das tropas francesas. Apresenta uma série de gravuras que espelham os acontecimentos desencadeados pelo conflito Peninsular".

A exposição é de entrada Gratuita, estando aberta das 10h às 13h, durante a manhã, e das 14h às 18h, durante o período da tarde (encerra às Segundas-feiras).

domingo, 8 de novembro de 2009

Ainda existem peixes nos rios torrienses



BOGAS NO RIO ALCABRICHEL E NO RIO SIZANDRO...

A notícia foi hoje divulgada pela LUSA:


“Bancários limparam ribeira para evitar extinção de boga do Oeste

“Meia centena de trabalhadores de uma empresa que gere cartões bancários estiveram ontem a limpar as margens de um troço do rio Alcabrichel, no concelho de Torres Vedras, para evitarem a extinção da boga do Oeste, uma espécie de peixe característica da região.
"Estivemos a fazer o corte de um conjunto de canas que abrangem as margens desta ribeira e as canas que foram retiradas vão depois cobrir parte das margens para garantir que ficam estabilizadas, em vez de se utilizar o habitual betão", explicou Francisco Ferreira, dirigente da associação ambientalista Quercus, que promoveu a iniciativa. Praticamente extinta nos rios da região devido à poluição provocada pelos esgotos domésticos e pelas suiniculturas, a boga do Oeste continua apenas a existir - ainda que de forma escassa - nos rios Alcabrichel e Sizandro, ambos no concelho de Torres Vedras.
A acção marcou o arranque de uma parceria de cinco anos entre a Quercus e a Unicre, a primeira empresa de capitais privados em Portugal a aderir ao compromisso de redução da chamada "pegada ecológica". "Temos um conjunto de iniciativas como a redução do papel e a redução [do consumo de] energia nos edifícios", afirmou o administrador da empresa, António Ramalho.
"O objectivo neste tipo de acções é que fora da actividade profissional e em conjunto com uma associação de defesa do ambiente os esforços se juntem no sentido de salvaguardar determinadas zonas naturais e, neste caso, recuperar a boga do Oeste", esclareceu Francisco Ferreira. A Quercus põe a hipótese de vir a desenvolver outras acções de limpeza e despoluição do rio Alcabrichel e de vir a plantar nas suas margens vegetação característica na zona, de modo a combater a erosão”.

É um motivo de orgulho para Torres Vedras que detenha nos seus domínios os dois únicos rios do Oeste ainda habitável por peixes. Mas é também motivo de maior responsabilidade por parte das autoridades para preservação dessas espécies e da qualidade desses rios, que nos últimos anos já foram vitmas de muitas acções criminosas.

Note-se, a título de curiosidade, que nas Memórias Paroquias de 1758 eram referidas outras duas espécies existentes nesses rios, os “Ruivacos” e as “Enguias”. Aliás, ainda sou do tempo em que era possível pescar enguias no Rio Sizandro, ali para os lados das Termas dos Cucos.
Segundo essas Memórias, os Ruivacos, e “outros semelhantes” [resposta do pároco de A-Dos-Cunhados] existiam no Alcabrichel, embora em pouca quantidade [resposta do pároco do Ramalhal]. Mesmo assim referia-se a existência de alguma pesca nesse rio.
Já no Sizandro existia “peixe míudo” [resposta do pároco de Runa], identificado como Ruivacos e enguias [resposta do pároco de S. Miguel], sendo habitual a sua pesca no Inverno [resposta do pároco da Ponte do Rol].


RUIVACO...



E ENGUIA.

sábado, 7 de novembro de 2009

"Escrito à mão, Duzentos anos Depois"

Hoje pelas 16 horas, no Auditório dos Paços do Concelho de Torres Vedras, vai se lançado o livro “Escrito à Mão, duzentos anos depois”, por ocasião das comemorações do bicentenário das Linhas de Torres Vedras.

O livro é da autoria de Luís Filipe Rodrigues (texto) e de José Pedro Sobreiro (desenhos).
Uma obra a não perder, pela qualidade dos seus autores e pela originalidade.



sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O Outro lado da moeda...



(os porcos estragaram a fotografia...)


Depois de ontem termos divulgado, uma notícia abonatória para as medidas ambientais da Câmara de Torres Vedras, leitor anónimo fez-nos chegar parte de outra notícia, que é a outra face das medidas ambientais do município, mostrando que ainda há muito caminho a percorrer.
A notícia integral, editada pela LUSA com a data de 4 de Novembro é a seguinte:

Ministério e Câmara de Torres Vedras condenados em caso de maus cheiros de suinicultura

04.11.2009
Lusa

"O Tribunal Administrativo de Lisboa deu razão a dois moradores do concelho de Torres Vedras, que se queixavam de maus cheiros vindos de uma suinicultura local, condenando o Ministério do Ambiente e a câmara por responsabilidades no licenciamento da exploração.
De acordo com a sentença a que a Agência Lusa teve acesso, o tribunal condenou as duas entidades a obrigarem a exploração agro-pecuária, com perto de 4500 suínos, localizada no Casal do Brejo, freguesia de Campelos, a efectuar melhorias de funcionamento para minimizar os impactos ambientais provocados pelos maus cheiros e pela contaminação de águas nas proximidades da unidade. O tribunal reconheceu que existe um “dano ecológico” que “afecta o ar, o solo e a água envolventes” da localidade.
A acção contra ambas as entidades foi colocada pelos moradores, depois de o Tribunal de Torres Vedras ter absolvido os proprietários da exploração por considerar que a suinicultura estava devidamente licenciada, numa primeira acção colocada em 1998 pelos lesados. Descontentes com a decisão, os dois moradores decidiram pôr um novo processo em tribunal, desta vez contra o Ministério do Ambiente e Câmara de Torres Vedras.
Nesta segunda acção judicial e após uma perícia técnica realizada na unidade, a juíza Dora Lucas Neto entendeu que o ministério “não pode vir a invocar a sucessiva renovação das licenças de descargas” para afastar a responsabilidade ambiental, quando existem maus cheiros e águas contaminadas.
Em relação à Câmara de Torres Vedras, o tribunal concluiu que a autarquia não assegurou a qualidade do ambiente, ao licenciar habitações perto de uma suinicultura ou o inverso, no caso de as moradias serem anteriores à exploração.
Seguindo as orientações da perícia efectuada, o tribunal decidiu condenar as duas entidades no sentido de obrigar a suinicultura a adoptar novas técnicas nas lagoas da respectiva estação de tratamento para minimizar os maus cheiros, como a incorporação de bactérias que auxiliam no processo de digestão da matéria orgânica ou a separação de efluentes sólidos e líquidos. Outra das medidas impostas passa por melhor impermeabilizar as lagoas, face às características do solo, para prevenir a sua contaminação e, por conseguinte, das águas.
O tribunal socorreu-se também da Lei de Bases do Ambiente, segundo a qual a localização de uma actividade industrial só deve ser aprovada quando não interfira com o ordenamento do território e a qualidade do ambiente, tendo em conta que o dever de prevenção compete às entidades fiscalizadoras e licenciadoras".

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Torres Vedras, município com boas práticas ambientais.


Santa Cruz, na vanguarda das preocupações ambientais


Na edição de hoje da revista "VISÃO", uma "edição verde", dedicada ao ambiente e ao papel das cidades na sua preservação, Torres Vedras surge como um dos trinta  municípios portugueses com boas práticas ambientais.
O exemplo apontado refere-se ao uso de painéis foltovoltaicos na Praia de  Santra Cruz :
"Na Praia de Santa Cruz existe um abrigo de passageiros, numa paragem de autocarro, que é auto-suficiente, a nível da sua iluminação, devido a painéis foltovoltaicos que encaminham a energia para LED. Na mesma localidade, também o mercado municipal e a escola do 1º ciclo e jardim-de-infância dispõem de um sistema de microgeração composto por painéis solares fotovoltaicos".
É caso para dizer, um pequeno passo para Torres Vedras, um grande passo para a defesa do ambiente.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

No Bicentenário do início da construção das Linhas de Torres (3 de Novembro de 1808)



O efeito da construção das Linhas de Torres Vedras junto das populações locais




Em Abril de 1809, poucos meses antes do início da construção das Linhas de Torres, quando estas ainda nem projecto eram, já o Teneente Coronel de Engelharia Cipriano José da Silva enviava aos vereadores da Câmara de Torres Vedras uma ordem, em nome da regência, para se fortificar “provisoriamente” a vila .
Com esse objectivo pedia que lhe fossem fornecidos para a manhã do dia seguinte àquela ordem, “na meia laranja da Ponte da Mentira (…) trinta trabalhadores, dez enxadas, dez cêstos, quatro picaretas, duas paviolas” (in Livro nº24 dos Acordão da Câmara Municipal de Torres Vedras (1802-1812), sessão de 8 de Abril de 1809, ff. 193v-194, AMTV).

Só em Outubro é que Wellington se decide iniciar a construção de defesas que protejessem a cidade de Lisboa, pois o “grande objectivo em Portugal é a posse de Lisboa e do rio Tejo e todas as medidas terão de ser dirigidas com este objecto em vista”.
Existiam ainda outos dois objectivo, ”o embarque das tropas britânicas em caso de revés” e “ o de obrigar o inimigo, tanto quanto possível a realizar o seu ataque com o corpo do exército concentrado”, pelo que o exército aliado deveria “ficar em todas as posições que o terreno possa permitir, o tempo necessário para permitir que a população rural local evacue as vilas e aldeias levando consigo ou destruindo todos os meios de subsistencia e meios de transporte que não forem necessários aos exércitos aliados” (Excerto do memorando do duque de Wellington para o tenente coronel Fletcher, datado de Lisboa , a 20 de Outubro de 1809, citado por A.H.Norris e R.W. Bremner, The Lines of Torres Vedras, Lisboa 1986, pp.20-21, segundo tradução de Thomas Croft de Moura).
Deslocando-se de Lisboa, Wellington havia percorrido em Otubro os terrenos a norte da capital na companhia do coronel Murray e do tenente-coronel Fletcher, deixando a este “instruções tão precisas quanto o póde dar um general chefe, para a execução do seu pensamento, que se póde resumir no seguinte: escolher uma posição suficientemente ampla para abrigar todas as tropas, quer da primeira, quer da segunda linha, das duas nações, que lhes permitisse ocupar uma situação vantajosa para cobrir Lisboa, séde dos recursos do país, e que não pudesse ser torneada nos seus flancos pelo inimigo, devendo ter uma comunicação segura com o mar, para permitir o embarque das tropas inglesas no caso de revezes sucessivos as obrigarem a êsse extremo”. (J.J. Teixeira Botelho, História Popular da Guerra da Península, Porto, 1915, pp. 341-342).



A 3 de Novembro iniciou-se a construção das linhas e, na “primavera de 1810 estava tudo em pleno andamento e a azáfama era grande”(J.J. Teixeira Botelho, História Popular da Guerra da Península, Porto, 1915, pp. 346 a 348).
Como se pode ler nas descrições sueguintes, essas obras implicaram grandes alterações numa paisagem que até então não devia ser muito diferente desde a Idade Média:

“As defesas eram de toda a espécie possível. Os rios foram represados e as vias de acesso aos sopés dos montes, numa extensão de muitos quilómetros, foram transformados em pantânos intransponíveis. As estreitas ravinas foram bloqueadas com abatis, atravessando uma grande ravina elevou-se um muro de pedra com 16 pés [ 4,9 metros] de espessura e 40 pés [12,2 metros] de altura. Ao longo do cume de um monte e por uma distancia de 3 milhas [4,8 kilómetros] amontoaram-se muros de pedra com 6 pés [1,8 metros] de altura e 4 pés [1,2 metros] de espessura. Num ponto o monte foi escarpado numa distancia de 2.000 jardas [1.328,8 metros] de modo a formar um precipício que não podia ser escalado. Num plano geral as linhas consistiam de fortificações fechadas espalhadas pelas duas cadeias de montes. Em certos locais as fortificações expandiram-se até atingir a escala de acampamentos militares sendo o todo ligado com todos os tipos de defesa. As fortificações estavam de tal modo relacionadas umas com as outras que a frente toda era varrida por fogo cruzado; e todas as aproximações da linha exterior tinham sido desnudadas de vegetação até se parecerem com uma ladeira”. (citado por A.H.Norris e R.W. Bremner, The Lines of Torres Vedras, Lisboa 1986, p.14, segundo tradução de Thomas Croft de Moura);

“Para desafrontar o campo de tiro das baterias devastou-se tudo que as podia encobrir, não ficando de pé nem casa, nem jardim, nem vinha, nem oliveira, nem arvoredo de espécie alguma. Só escaparam umas formosíssimas e velhas árvores em Tôrres Vedras, que a rôgo do Juiz de fóra e dos habitantes da vila foram deixados para o último momento, se fôsse necessário destruí-las”. (J.J. Teixeira Botelho, História Popular da Guerra da Península, Porto, 1915, p.351).

Para a construção de uma obra dessa envergadura empregaram-se “os habitantes do paiz e dois regimentos de milicias. Obtinham-se os primeiros por meio de requisições, sendo os operários da semana finda substituidos por outros na seguinte semana, tendo os milicianos o caracter de permanentes n’este serviço.” Essas requisições eram feitas “pelas capitanias móres do termo de Lisboa, Cintra, Gradil, Alenquer, Aldeia Gallega da Merceana e Torres Vedras, sendo esta villa a que quasi sempre deu o maior numero de operarios, depois que o exercito entrou nas linhas”. (Simão José da Luz Soriano, Historia da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal- segunda epocha- guerra peninsular, tomo II, Lisboa, Imprensa Nacional, 1871, pp. 563-564).
A requisição de trabalhadores para as Linhas nem sempre foi fácil, como nos explica Cristina Clímaco na sua tese: “Um dos principais problemas que se colocou a Fletcher e a Jones foi o de obter trabalhadores em número suficiente e de acordo com a dimensão dos trabalhos. Sempre que um engenheiro tinha falta de trabalhadores comunicava-o a Fletcher, que por sua vez o comunicava ao governador militar do distrito onde tinham lugar os trabalhos, sendo este último encarregue de fornecer aos ingleses os homens e os materiais necessários aos trabalhos (…).
“A procura de trabalhadores aumentou todos os dias, sem discriminação de classe social ou de privilégios; segundo os ingleses a requisição devia ser imposta aos eclesiásticos e aos funcionários da administração local: (…) porque quando se trata de se defender do inimigo não há privilégios nem é justo que sómente os miseráveis que nada possuem para além da sua pessoa, venham trabalhar nas fortificações, enquanto que aqueles que têm bens a defender ou a conservar não venham (…)”.
Esta situação provocou alguns conflitos graves com os tradicionais grupos priveligiados, como aconteceu “em Mafra em Março de 1810, porque os ingleses não tomaram em conta a estrutura social do país. O Portugal de 1810 era um país de Antigo Regime, onde a clivagem social se fazia mais pelo direito aos privilégios, do que pela fortuna, sendo o padre o principal símbolo desta situação. Existiam duas classes em Portugal, aqueles que trabalhavam e aqueles que tinham direito aos privilégios, englobando-os os ingleses numa única classe e isto provocou gaves conflitos.
“(…) Os funcionários da administração local (…) recusaram-se a trabalhar nas fortificações, recusa idêntica à que teve lugar entre os eclesiásticos.
“(…) As pessoas que faltavam ao trabalho das fortificações ou que não enviavam ninguém em seu lugar não sofriam na realidade outra punição que a de verem os seus nomes inscritos numa lista que todas as semanas os governadores militares enviavam ao secretário da Guerra (…). Apesar das medidas de compromisso que não implicavam mais que a obrigação de estarem presentes fisicamente no local de trabalho ou de poderem enviar qualquer pessoa em seu lugar, as pessoas continuaram a não se apresentar ao trabalho. (…) Os que oposeram maior resistência foram os eclesiásticos (…).
“A vila de Ericeira foi o centro mais importante dessa resistência anti-inglesa e que tomou carácter de insurreição.Os eclesiásticos da Ericeira não só não enviaram qualquer pessoa em seu lugar, como impediram os outros de o fazer. Existem no Arquivo Histórico Militar listas de eclesiástico daquela vila que recusaram participar no sistema de requisições: em Março de 1810 apenas constam na lista nove nomes, mas em Maio já constam treze, entre os quais o das personalidades mais importantes da vila.
“(…) Um outro meio de obter trabalhadores para as fortificações foi o das condenações de soldados portugueses em conselho de Guerra, condenados a cumprir as suas penas nos trabalhos das fortificações(…)” (Ana Cristina Climaco Pereira, Les Lignes de Torres Vedras et Le Plan de Defense du Portugal Concu par Wellington- Invasion e Resistances (le patriotisme et le nationalisme portugais 1810-1811), tese de mestrado, Universidade de Paris, 1991, pp.66 a 72, tradução adaptada).
“Aos paizanos que eram simples trabalhadores dava-se-lhes o jornal de 120 réis, e o de 240 réis aos que eram officiaes de canteiro, pedreiro, carpinteiro, etc.; os milicianos tinham pela sua parte um terço d’estas sommas. Mais tarde o acrescimo e a duração dos trabalhos, tendo-se estes tornado quasi permanentes, o jornal elevou-se então a 200 réis para os trabalhadores e a 320 para os officiaes e vigias: os milicianos continuaram a ser pagos segundo a antiga taxa. No mez de agosto de 1810 mais de 2:500 homens, reunidos n’um só corpo, se achavam empregados nas fortificações da Alhandra.”  (Simão José da Luz Soriano, Historia da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal- segunda epocha- guerra peninsular, tomo II, Lisboa, Imprensa Nacional, 1871, pp. 563-564).

Richard Fletcher, Jonh Jones e “mais quinze engenheiros militares andaram empregados nas Linhas, quatro dos quais eram portugueses. O trabalho manual foi executado por dois regimentos de milícias e trabalhadores recrutados na região, nas comarcas limítrofes e noutras mais afastadas, até 90 Kilómetros de distância, pois apesar da miséria ser grande, os braços eram poucos, pagando-se á razão de 200 réis por dia os cavadores e 320 os operários artifices. Quando as circunstancias determinaram que o trabalho fôsse acelerado, até as mulheres e os rapazes trabalhavam, aquelas á razão de metade e êstes á de um quarto da jorna dos homens. O número de trabalhadores chegou a 7.000, tornando-se em certos sítios necessária a intervenção da autoridade para lhes assegurar a alimentação, que escasseava. A carência de pão chegou a ponto de ser preciso fornecer a êste exército de obreiros bolachas dos navios ingleses.
“(...) Mercê tambem da boa vontade dos carreeiros, excitando á aguilhada os seus pacientes bois, é que se conseguiu levar pesadas peças de artilharia a montes altíssimos, por caminhos de pé posto, inacessíveis a cavalos. (J.J. Teixeira Botelho, História Popular da Guerra da Península, Porto, 1915, pp. 350-351).

Para além dos grandes custos humanos dessas obras, implicando o recrutamento de milhares de trabalhadores, como se leu nos documentos acima transcritos, a obra implicou igualmente grandes custos financairos.
Agostinho Madeira Torres procurou, na sua monografia, “dar uma noticia exacta da enorme despeza das Obras da Linha” no termo de Torres Vedras ”mas apenas pude achar, e verificar alguns dados para um calculo aproximado, e de proporção. taes como os seguintes: que na obra das Estradas Militares comprehendidas no Termo de Torres Vedras, em que se trabalhou effectiva, e activamente, desde a Invasão de 1810, pelos dois seguintes annos de 1811 e 1812 (continuando-se ainda depois escassamente até Julho de 1814), se empregavam, além dos Officiaes Militares Inspectores, e Directores, por semana, acima de 900 operarios das classes trabalhadoras, de artifices dos tres officios de calceteiros, pedreiros, e carpinteiros, e de lavradores, sendo essa totalidade detalhada pelas Capitanias Móres do Termo de Lisboa, Cintra, Gradil, Alemquer, Aldeia-galega da Merciana, e de Torres Vedras, da qual sempre se tirou mais effectivamente o maior numero (...): que a despeza liquida e total d’aquelles trabalhos se avalia em 171:000$000 réis; e a dos mesmos no districto da direita em 190:000$000 réis: que as obras dos Reductos novos construidos pelo mesmo tempo se avaliam pelo menos em igual importancia; e que as dos outros feitos antes de epocha da invasão deviam avultar mais; porque sómente as dos dois Fortes do Sobral, e de S.Vicente se julgam exceder a trezentos mil cruzados. Não basta porém este processo deduzido das noticias communicadas por Officiaes de distincto merecimento, empregados na direcção das mesmas Obras, para achar-se a somma aproximada da sua despeza; é preciso accumular-se mais o valor de varios objectos até agora não pagos, como grande porção de lenha para as faxinas, e muito consideravel quantidade de madeiras de pinho para estacas, vigas, e pranchas: finalmente tambem deverá entrar em conta o valor de algumas cazas demolidas, ou inutilizadas; de bastantes moinhos (a cujos dônos se pagou algum tempo uma pensão para indeminisal-os de algum modo dos interesses diarios) que soffreram igual sorte; e de muitos pinhaes cortados para desafrontar os reductos, vindo a ter a mesma sorte o arvoredo dos passeios proximos á Villa (...).”(Manuel Agostinho Madeira Torres, Descripção Historica e Economica da Villa e Termo de Torres Vedras, 2ª edição anotada, 1862, (1º edição em 1819), pp.74 a 76).

O exército aliado chegou às Linhas no dia 9 de Outubro de 1810, perseguido de perto pela cavalaria francesa. “Lord Wellington, com a sua grande serenidade e previdência, ordenára que alguns oficiais e soldados da guarnição das Linhas, a cavalo, esperassem as diferentes unidades, afim de as guiarem ás obras ou localidades que lhes eram destinadas. E assim como se tinha providenciado para que não houvesse confusão á chegada de tantos milhares de homens, assim tambem se cuidára de tudo o que o exército carecia: as guarnições já exercitadas ocupavam os seus postos; acumulavam-se provisões de boca e de guerra em sítios préviamente indicados; cascos embargados nas adegas estavam, cheios de água, em todas as obras: abarracamentos para 35.000 homens, conforme se ordenára, achava-se distribuido pelos seus distritos”. (J.J. Teixeira Botelho, História Popular da Guerra da Península, Porto, 1915, pp. 413-414).
Madeira Torres lamenta-se do efeitos da chegada dessas tropas para o bem estar da população, já que “a copiosa chuva, que cahio desde 7 para 8 do mez d’Outubro, obrigou” os militares “ a buscar arrebatadamente o abrigo das casas, que pela maior parte estavam abandonadas; então se perderam, e foram preza dos soldados nacionaes, e alliados, os fructos não só pendentes, e mal começados a colher, como vinho e azeite, mas os mesmos recolhidos nos celleiros publicos e particulares, que não eram guardados immediatamente por seus donos, e munidos de sentinellas, chegando o excesso a serem a maior parte das casas despejadas dos seus moveis, quasi todos os cartorios publicos, e particulares parcialmente roubados, e o do Escrivão das Sizas, e de um da Correição totalmente destruidos”. (Manuel Agostinho Madeira Torres, Descripção Historica e Economica da Villa e Termo de Torres Vedras, 2ª edição anotada, 1862, (1º edição em 1819), p. 178).
O grosso das tropas francesas foi chegando frente às linhas nos dias seguintes, cuja existência desconheciam: “Vinha á frente, comandando a cavalaria de reserva, o general Montbrun, que na manhã de 11, depois de na véspera á tarde ter repelido as últimas fracções do exército anglo-luso, sob o comando de Craufurd (…), mandára reconhecer a estrada em direcção de Vila Franca. O encarregado desta missão, o brigadeiro Pedro Soult, veio imnformá-lo dos fortes entricheiramentos que vira em Alhandra. A exploração feita na direcção do Sobral, Arruda e Zibreira trouxe-lhe notícias análogas, o que levou o Aludido general, por sua vez, a informar o comandante chefe, então ainda longe, á rectaguarda, de que tinha na sua frente uma linha contínua de fortes entricheiramentos e estendendo-se até um ponto, para oeste, que não podia ainda precisar.
“Os reconhecimentos continuaram nos dias 12 e 13, ocasionando escaramuças, algumas de certa importância, como a que se travou na vila do Sobral (…) “ . (J.J. Teixeira Botelho, História Popular da Guerra da Península, Porto, 1915, pp. 415-416).
As tropas francesas mantiveram-se estacionadas frente às linhas até à madrugada de dia 15 de Novembro, retirando-se durante a noite, a coberto do nevoeiro.

As privações dos habitantes da região não terminaram com a retirada das tropas. Como consequência da “immundice (…) n’algumas terras onde os franceses tinham residido” (Simão José da Luz Soriano, Historia da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal- segunda epocha- guerra peninsular, tomo III, Lisboa, Imprensa Nacional, 1874, pp. 271-472), grassou na vila de Torres Vedras “ e muito mais nas suas visinhanças, um contagio, que foi quasi geral, sendo mais mortifero nas terras invadidas, e nos emigrados por serem mais incommodados, e menos socorridos. Contaram-se tantos mortos, que foi preciso designar-se um amplo cemiterio juncto á Igreja de S. Miguel, e ainda este teve de ampliar-se além dos seus primeiros limites. Pela vigilancia do governo e da Policia determinaram-se socorros para supprir á miseria e indigencia, que justamente se entendia ser o principal motivo do contagio” (Manuel Agostinho Madeira Torres, Descripção Historica e Economica da Villa e Termo de Torres Vedras, 2ª edição anotada, 1862, (1º edição em 1819), p. 179).
Quase “todos os doentes morriam do quinto para o sexto dia, sendo acommetidas, não sómente as pessoas pobres e expatriadas, mas igualmente as bem tratadas. Dois cirurgiões havia n’aquella villa, que sendo n’ella sufficientes em caso ordinario, não o eram depois que taes molestias se engravesceram, circumstancia que deu logar a que o intendente geral da policia mandasse indagar em Lisboa onde estavam os dois medicos do partido que n’ella havia, Manuel Tavares de Macedo, empregado no hospital militar da Junqueira, e Joaquim José Durão, para os fazer recolher a ella, devendo levar comsigo um enfermeiro do hospital de S.José, por terem adoecido todos os que havia em Torres. (Simão José da Luz Soriano, Historia da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal- segunda epocha- guerra peninsular, tomo III, Lisboa, Imprensa Nacional, 1874, pp. 271-472),
Segundo Ana Cristina Clímaco, os “doentes entrados no hospital” [da Misericórdia de Torres Vedras]“eram oriundos das aldeias das redondezas da vila, tais como de Fonte Grada, Paul, Vila Facaia, Amial, Bordinheira, Dois Portos, Orjariça, mas sobretudo das regiões invadidas, S.Martinho, Leiria, Obidos, Torres Novas, Porto de Mós, Pombal, Coimbra… A partir de Outubro de 1811, a epidemia começou a fazer menos estragos, os doente eram agora quase exclusivamente refugiados”. (Ana Cristina Climaco Pereira, Les Lignes de Torres Vedras et Le Plan de Defense du Portugal Concu par Wellington- Invasion e Resistances (le patriotisme et le nationalisme portugais 1810-1811), tese de mestrado, Universidade de Paris, 1991, p.187, tradução adaptada).

Para obstar ás dificuldades económico-socias provocadas nas zonas sujeitas a à movimentação de tropas e às operações militares, foi distribuído um “donativo da Nação Britânica” que agraciou também a região da comarca de Torres Vedras. Esta “apezar de não ter sido a maior parte d’elle invadido, se achava comtudo nas mesmas, e talvez em peiores circunstancias do que algumas terras, que o foram, como fiz palpavelmente conhecer á juncta incumbida de o distribuir. Em consequencia d’esta representação, receberam-se por vezes até a quantia de 8:200$000 rs. além de trezentos pares de cobertores, com o que se soccorreo ás maiores necessidades “. Madeira Torres foi “incumbido pela Juncta dos Socorros da subscrição Britanica de distribuir aquella somma, (…) repartidas, confórme as instrucções da mesma Juncta. Foi o primeiro donativo 1:000$000 réis metalicos, para se repartir pelos habitantes pobres, e necessitados das Freguezias d’este districto, e de 400$000 réis para o Hospital da Misericordia da Villa [de Torres Vedras] exausto de meios, pelas excessivas despezas accrescidas, e falencia das cobranças; outros 400$000 réis para o curativo do hospital de Aldêa-galega da Merceana, e 600$000 para o da Arruda.Tendo esta primeira distribuição sido approvada, repetio-se outro donativo mais amplo de 4:000$000 réis metalicos, dos quaes se applicaram 880$000 réis aos infelizes habitantes da Villa de Arruda, e 270$000 réis aos do lugar do Pêro Negro, Freguezia da Çapataria, que tinham ficado em total desamparo; o restante foi todo applicado dentro no Termo. Ultimamente houve mais dois donativos especialmente destinados para os orfãos desamparados: o primeiro de 800$000 réis, e o segundo de 1:000$000 réis, dos quaes se tem conferido penções para o ensino de alguns Orphãos a officios mecanicos, e para a criação e educação d’outros infelizes, supprindo-se já por uma vez com o auxilio de 200$000 réis á consideravel despesa do estabelecimento da roda dos Expostos, como a Juncta insinuou no seu Officio datado de 10 de Junho de 1813. Além d’este donativo, tambem recebi tres moios de trigo, que me foram mandados n’aquelle tempo pelo Ex.mo e Rev.mo Bispo Patriarcha Eleito, a fim de serem distribuidos para sementes pelos lavradores mais necessitados.” (Manuel Agostinho Madeira Torres, Descripção Historica e Economica da Villa e Termo de Torres Vedras, 2ª edição anotada, 1862, (1º edição em 1819), pp. 179-180).

Nunca esta região tinha conhecido um tão amplo movimentos de gentes e tropas, ou uma alteração tão profunda da sua paisagem rural.
A população de Torres Vedras entrava assim, de forma violenta e dramática, na época Contemporânea, e a vila ganhava fama mundial graças ao esforço de tanta gente na construção do sistema defensivo imortalizado com a designação de “Linhas de Torres Vedras”.