quarta-feira, 27 de abril de 2011

Torres Vedras também está na "Legislação Régia".

Está disponível, a partir de hoje, no site do Parlamento, toda a legislação régia portuguesa publicada entre 1603 e 1910.

Basta clicar em : Legislação Régia.

Colocando depois a palavra "Torres Vedras" na pesquisa podemos aceder a uma série de documentação oficial relacionada com esta cidade.

OBRAS PARADAS NA HENRIQUES NOGUEIRA: Novopca entra em processo de insolvência

(Fotografia de Ana Isabel Miguel)

Novopca entra em processo de insolvência Económico (clicar para ler a notícia).

domingo, 24 de abril de 2011

TORRES VEDRAS E O 25 de ABRIL

O 25 de Abril em Torres Vedras – O Regresso ao Futuro


“TORRES VEDRAS: 15 000 habitantes na vila e 60 000 no concelho (…) 412 km de rede de comunicações; 68 000 000 de litros de produção vinícola, 10 000 000 kg de trigo; 14 000 000 kg de batata; um comércio poderoso e uma indústria em desenvolvimento” (só a Casa Hipólito empregava então 1028 pessoas), “4 000 alunos diariamente nas escolas da vila” (1).

Estes eram alguns dos índices que caracterizavam a então vila de Torres Vedras, em vésperas do 25 de Abril, o comunidade a quem faltava “o golpe de asa que torna perenes ou inesquecíveis as iniciativas. Aquele tipo de vontade colectiva que ergueu uma Colónia Balnear Infantil, uma Física, um Cineclube e que, ainda hoje, realiza um Carnaval. O que acontece para lá da rotina é fruto de vontades isoladas e surge como sucesso do acaso. A carcaça está vazia de humanismo e de interioridade. Onde está o rasgo, a lucidez, a alegria, a juventude que transforma as pequenas coisas oferecendo-lhe um significado social duradoiro? Onde está o futuro e que futuro?”, interrogava-se o articulista António Augusto Sales sobre Torres Vedras, uma terra para quem “até os jovens abdicam à nascença” (2).

No início de 1974 eram mais as dúvidas que as certezas, perante a evidente derrocada da chamada “primavera marcelista”, o arrastar, sem solução, da guerra ultramarina e o ainda quente, mas frustrante, processo eleitoral de 1973.

Num ano marcado pela crise económica, evidente nas restrições impostas ao uso da gasolina e no seu aumento de preço, notava-se um crescente mal-estar na sociedade portuguesa. Nem a censura conseguia disfarçar a falência do regime.

O debate sobre o IV Plano de Fomento, para vigorar de 1974 a 1979, permitia alguma intervenção crítica que deixava transparecer algum descontentamento sobre a realidade torriense. O Dr. Afonso de Moura Guedes, num artigo intitulado “Torres Vedras – o desenvolvimento que não se fez” (3), interrogava-se sobre a razão pela qual o desenvolvimento de Torres Vedras tinha sido marginalizado naquele Plano, concluindo:

“Administrar, nos tempos que correm, exige largueza de perspectivas, imaginação, capacidade criadora, ia a dizer audácia (…).

“Em relação ao nosso meio local, creio que, tudo isso, teria exigido a realização prioritária de três políticas globais: uma política urbanística e de solo; uma política rodoviária; uma política industrial.

“Uma política urbanística e de solos que, corajosamente, pusesse cobro ao que há de sufocante e de caótico no desordenado crescimento da vila e a essa vergonhosa especulação de terrenos, que aqui ocorre, sacrificando toda a população ao proveito de muitos poucos.

“Uma política rodoviária que estabelecendo toda uma rede efectiva de ligações, no espaço inter-regional, permitisse uma cómoda e rápida circulação interna, de pessoas e de mercadorias, assegurando, deste modo, a Torres Vedras, a posição, a que tem direito, de pólo de desenvolvimento do Oeste.

“Uma política industrial que, começando por definir uma zona industrial, soubesse ordenar, depois, toda a estratégia conjugada de acções, susceptíveis de criarem condições favoráveis à implantação de novas indústrias, no nosso meio (…).

“Pois foi tudo isso que não se fez, como reflecte o Plano de Fomento. O desenvolvimento que não se fez. Que não se soube construir como projecto de futuro. O comboio que mais uma vez se perdeu”.

As animadas sessões da campanha eleitoral de 1973 foram para muitos dos jovens torrienses de então, o primeiro contacto com a realidade política desse tempo. Para muitos foi a primeira vez que se depararam com a acção repressiva do regime, com a presença e actuação em Torres Vedras da célebre Polícia de Choque. O encontro coma Polícia de Choque voltar-se-ia a repetir em 20 de Janeiro de 1974, em frente do cemitério de S. João, por ocasião da romagem convocada pela oposição, muito dominada pelo PCP, à campa do antifascista torriense, natural do Pául, Fernando Vicente. Surpreendentemente o convite para a população participar nessa romagem foi publicado nas páginas do jornal Badaladas, escapando assim às atenções da censura, podendo ler-se nessa convocatória:

“Ali, entre ciprestes, pelas 11 horas do dia 20 de Janeiro, num minuto de recolhimento, a vida não parecerá aquele vazio do quotidiano, sem ideias, apenas virada para a materialidade da existência.

“Fernando Vicente merece a simples homenagem póstuma que lhe vai ser tributada” (4).

Foram alguns os torrienses com coragem para comparecer a essa romagem, mesmo assim menos que os “pides” e polícias de choque, que aí também estiveram presentes…mas por razões diferentes.

Também as escolas secundárias do concelho conheciam pela primeira vez alguma agitação política, através da distribuição clandestina de propaganda política, motivando interrogatórios a vários alunos e professores “suspeitos” e a intervenção de elementos da PIDE na vida escolar. Segundo consta, terá mesmo sido elaborada uma lista de alunos e professores a deter no 1º de Maio de 1974, acção que acabou por não se concretizar por causa do 25 de Abril. A lista nunca foi encontrada. Provavelmente ficou no meio da muita documentação destruída pela PIDE naquele dia.

Em vésperas do 25 de Abril também várias colectividades locais, como o Cineclube e o Clube Artístico e Comercial, conheceram alguma intervenção política e cultural de critica ao regime.

Na noite de 24 de Abril muitos de nós fomos para casa tardiamente após assistirmos a mais uma das concorridas sessões do Cineclube, no Teatro-Cine, o filme de Jerry Lewis “O Morto era Outro”, longe de se imaginar, à hora de saída do cinema, que o 25 de Abril já estava em movimento.

Pessoalmente fui acordado às 8.30 da manhã desse histórico 25 de Abril pelo meu pai, eufórico com os acontecimentos. Durante todo o dia foi um rodopio entre a escola, entretanto encerrada, a casa de amigos e a minha casa para ouvir os comunicados difundidos pela rádio, pois a televisão só iniciou as emissões por volta da 7 horas da noite. À noite realizou-se em Torres Vedras um primeiro comício no Largo da Graça, onde ainda se manifestavam alguns receios sobre o desfecho do movimento militar.

“Quando olho o longo caminho percorrido cheio de ásperos reveses, perseguições e mediocridades; quando subindo ali o Forte, te contemplo crescendo em todos os sentidos caoticamente envolto pelo desprezado Sizandro; quando imagino o que és e o que poderias ter sido, eu me entristeço, Torres Vedras.

“Vila verde, pintada a esperança pelos vinhedos, doirada pelo recorte impar das tuas penedias bravias em Santa Cruz; retalhada impiedosamente pelos crimes do mau urbanismo imposto por certos conhecidos pimpões ultramontanos, quase te desconheço Torres Vedras.

“Vila calada e cansada por anos de paz podre, das divisões estéreis às mesas dos cafés, onde raramente qualquer pedra agitava a calma estagnação dos teus sonhos adormecidos, pálida vila estremenha onde através da inoperância dum arranjismo sob organizado ias crescendo angustiada sob um colete-de-forças tecido de mentiras, ameaças, e subornos.

“Hoje és livre.” (5).

Na tarde de 26 de Abril as ruas de Torres Vedras foram percorridas por uma grande manifestação popular de aclamação e apoio ao Movimento das Forças Armadas, onde se destacavam os cartazes com a fotografia do General Spínola.

“Em 26 de Abril quando ali na Avenida 5 de Outubro o Povo bom e simples de Torres Vedras dava largas à sua alegria, verificou-se a sua maturidade, devoção e patriotismo. Maturidade que sempre foi negada por aqueles que nem sempre serviram com dignidade os seus postos.

“Antes pelo contrário, deles se servindo para os seus interesses pessoais.” (6).

Em 28 de Abril, na sala do Clube Artístico e Comercial, reuniu-se a Comissão Concelhia do CDE, força unitária da oposição saída das eleições de 1973 e que unia grande parte da oposição local, embora liderada pelo PCP. Nessa reunião, aberta a todos os cidadãos, e que foi muito concorrida, fazendo transbordar a sala daquela colectividade, iniciou-se o processo de transferência do poder concelhio para as forças democráticas, da qual saiu uma primeira comissão para preparar essa transferência e se aprovou um “Manifesto ao Povo do Concelho de Torres Vedras”, no qual se abordavam algumas das situações mais gravosas para o concelho, herdadas do regime deposto:

“Os graves problemas sempre adiados e jamais resolvidos, como os da electrificação, distribuição de água canalizada, abertura de caminhos e estradas nas aldeias e aglomerados do Concelho, ou de um plano de urbanização jamais posto em execução, jamais cumprido, com relevância para o tráfico de imóveis feito por uns tantos que sempre se serviram das Câmaras Municipais no seu directo interesse pessoal, o acumular de desonestas riquezas pela valorização artificial de terrenos (por exemplo os de Santa Cruz), pelas “prioridades” dadas ao asfaltamento de estradas e ruas onde os apaniguados do regime tinham as suas moradias e interesses particulares em detrimento dos interesses colectivos; (…) a poluição do rio Sizandro lesiva do interesse da populações, com relevância para as de Runa, em que certas empresas particulares têm graves responsabilidades de conivência com organismos “ainda” oficiais (…)”(7).

A transferência do poder concelhio não foi isenta de conflitos e situações caricatas.

Logo a 29 de Abril o executivo camarário “salazarista” ainda em funções reuniu-se e aprovou, numa manobra de puro oportunismo político, uma moção de adesão ao programa da Junta de Salvação Nacional, atitude logo na ocasião denunciada por vários torrienses que assistiram a essa tão caricata sessão. Esse executivo camarário oriundo do regime deposto reuniu pela última vez no dia 13 de Maios, continuando, até essa data, a deliberar como se nada se tivesse passado, talvez ainda esperançado no resultado de branqueamento ensaiado por alguns dos seus membros através de um conjunto de artigos de auto justificação publicados no semanário local “Badaladas”, imediatamente desmascarados por vários democratas de sempre, entre os quais António Augusto Sales:

“Quem na devida altura não teve, pelo menos, a coragem de dizer NÃO, perdeu a oportunidade. Isto é, quem, na ex-vereação não teve a coragem de se demitir depois de verificar a impossibilidade de fazer um trabalho equilibrado perdeu a oportunidade de se descomprometer com as irregularidades e arbitrariedades (…). É preciso que todos nos convençamos que Portugal mudou mesmo. É preciso que não nos deixemos iludir com histórias da carochinha. Durante quarenta e oito anos muita gente passou fome porque não quis colaborar; muita gente perdeu anos de vida nas cadeias porque não quis colaborar; muita gente viveu uma existência de sobressalto porque não quis colaborar; muita gente perdeu empregos, família, glórias, dinheiro, comodidade, sossego e liberdade apenas porque se negou a colaborar. Hoje, no segundo mês da libertação, não podemos permitir que sejam confundidos estes com os outros. Seria criminoso” (8).

Num plenário realizado no 1º de Maio no campo de jogos do Sport Club União Torreense, foi eleita uma comissão para gerir a Câmara, constituída por 18 pessoas. Dois dias depois essa comissão reuniria com o capitão Vítor Manuel Ribeiro, delegado da Junta de Salvação Nacional. Por sugestão deste foi aquela comissão reduzida para 9 membros que ficaram a constituir o elenco da Comissão Administrativa Municipal, sendo eleito para a presidir Francisco Manuel Fernandes, coadjuvado por António Leal d’Ascensão, João Carlos, José do Nascimento Veloso, Duarte Nuno Pinto, Manuel Carlos Penetra, José Sérgio Júnior, Marcos Santos Bernardes e Carlos Augusto Bernardes. Esta comissão administrativa tomou posse do seu cargo em 15 de Maio, no Governo Civil de Lisboa, reunindo oficialmente pela primeira vez em 20 de Maio.

“Depois da euforia dos cravos vermelhos, de reuniões contínuas e esclarecedoras, urge que se faça o ponto da situação. O trabalho espera-nos. Vamos a ele! (…).

“À inflação da palavra terá de suceder o estudo dos problemas e a respectiva solução às realidades que nos cercam.

“Longas milhas começam com o primeiro passo – diz um ditado chinês.

“Pois os primeiros passos estão a ser dados com firmeza e as longas milhas serão vencidas através do Tempo, sem o qual nada de duradoiro se pode fazer” (9).

Os dados do futuro estavam lançados!

Venerando António Aspra de Matos

(1) SALES, António Augusto, “Das muitas e variadas leituras que alguns acontecimentos de 1973 podem oferecer (…), in Badaladas de 16 de Março de 1974;
(2) SALES, Idem, idem;
(3) MOURA GUEDES, Afonso de, “Torres Vedras – o desenvolvimento que não se fez”, in Badaladas, 26 de Janeiro de 1974;
(4) “Romagem à campa de Fernando Vicente – Convite”, in Badaladas de 19 de Janeiro de 1974;
(5) MATOS, Venerando Ferreira de, “Torres Vedras e o Futuro”, in Badaladas de 4 de Maio de 1974;
(6) MATOS, Idem, Idem;
(7) Manifesto ao Povo do Concelho de Torres Vedras aprovado em 28 de Abril de 1974 e editado em folheto;
(8) SALES, António Augusto, “Saber com quem estivemos para saber com quem estamos”, in Badaladas de 29 de Junho de 1974;
(9) MATOS, Venerando Ferreira de, “Nortadas”, in Badaladas de 27 de Julho de 1974.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

...E Também Fotografias:

A Cooperativa de Comunicação e Cultura inaugura amanhã, Sábado 9 de Abril, pelas 18.30, uma exposição do fotógrafo João Serra.
A exposição pode ser visitada até 14 de Maio.

Mais informações sobre esse evento e o seu autor podem ser consultadas AQUI.

...AMANHÃ HÁ MUSICA NA "COOPERATIVA"...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

NO DIA NACIONAL DOS MOINHOS - Moinhos do Oeste (Zona do Maxial)


No cimo de montes e serras, eles parecem guardiões dos férteis vales do oeste, embelezados no Outono pelos tons avermelhados dos vinhedos.

São os moinhos do oeste, cuja origem se perde em penumbra secular, à volta dos quais nasceram lendas, escreveram-se histórias, viveram-se amores e ódios.

Conta-se que foram usados para disfarçar peças de artilharia quando das invasões francesas.

Existem várias versões sobre a sua implantação na Península Ibérica. Uns atribuem-na aos árabes, outros aos cruzados cristãos. De concreto, sabe-se que a primeira referência à existência, na Europa, de um moinho de vento, de eixo horizontal, foi registada em Inglaterra em 1185. Em Portugal a sua presença é identificada pela primeira vez num documento de 1303.

Os moinhos do oeste seguem, em geral, o modelo mediterrânico: uma torre de pedra cilíndrica, em alvenaria, com a base ligeiramente maior, de dois pisos, porta virada a sul e tecto de forma cónica, apoiando o eixo horizontal, onde se fixam quatro velas de tela.

O funcionamento desses belos e mágicos monumentos lembra velhos veleiros, lutando contra o vento no meio de montes ondulantes.

São cada vez em menor número os moinhos a funcionar na região, mercê da modernização da indústria de moagem. Daí que assistir ao trabalho do moleiro seja um raro e fascinante espectáculo , cheio de poesia, embalada na musicalidade característica dirigida pelo som dos búzios, nos mastros em movimento.

Feitos de cantarinhos em cerâmica, ou apenas de pequenas cabaças ou canas rachadas, os búzios parecem dar vida própria a cada moinho, levando-nos ao mundo maravilhoso de D. Quixote de La Mancha.

Correr o nosso Oeste, observando os velhos moinhos, aproveitando as tarde ensolaradas deste início de Primavera , é um prazer cada vez mais raro, numa paisagem invadida pela nova geração dos gigantescos, futuristas e friamente metálicos moinho eólicos, que agora cobrem, com a sua sombra, o espaço daqueles velhos sobreviventes.