quinta-feira, 30 de maio de 2019

Há 430 anos, em 1589 - D. António Prior do Crato na Região de Torres Vedras


(D. António, Prior do Crato)


Em 29 de Maio de 1589, um exército anglo-luso, onde se encontrava D. António Prior do Crato, entrava em Torres Vedras, dirigindo-se a caminho de Lisboa, com o objectivo de restaurar o trono português.

A História deste episódio está bem documentada num manuscrito da autoria de André Falcão de Resende, existente na Torre do Tombo.

O conhecido poeta quinhentista tinha sido “juiz de fora” em Torres Vedras desde finais de 1576, onde estabeleceu amizade com o alcaide D. Martinho Soares de Alarcão, já não exercendo esse cargo, pelo menos desde o início de 1586.

Antes, em 18 de Abril de 1589, saiu de Plymouth, na Inglaterra, uma armada, a bordo da qual seguia D. António Prior do Crato com a sua “corte”, com o objectivo de conquistar o reino de Portugal.

Era uma armada de “cento e setenta navios grandes e pequenos”, com “perto de vinte mil homens”, ingleses, escoceses, “gente  vadia  de França” e da Flandres, alguns espanhóis “portugueses e castelhanos”, isto é, composta por mercenários.

A armada era comandada pelo “General do mar”, Francis Drake,  acompanhado pelo “General de terra” Henrique Norris,”capitão escocês muito conhecido”, conde de Norwich.

Atacando, sem êxito,  a Corunha, na Galiza, dirigiu-se então para território português.

Tomando-se conhecimento da sua aproximação, entre Lisboa e Cascais foram tomadas várias medidas para a defender a capital de um desembarque e ataque dos ingleses, apesar de os armazéns da cidade estarem “muito faltos de armas e de munições, por se gastar muito na armada do ano passado” (refere-se ao desgaste da armada portuguesa, motivada pela derrota luso-castelhana da Armada Invencível, cerca de um ano antes).

No dia 23 de Maio de 1589, uma sexta-feira , a Armada Inglesa chegou a Peniche, entrando no porto da vila, que tomou, e a praia em frente, a praia de Nª Senhora da Consolação.

As tropas estacionadas para defender o local e a fortificação, perante a dimensão da armada, fugiram ou renderam-se de imediato.

A facilidade com que os ingleses entraram em Peniche, está na origem do dito popular dos “amigos de Peniche”.

O alcaide local, João Gonçalves de Ataíde , de imediato mandou enviar recado a “Sua Alteza” e ao alcaide-mor de Torres Vedras, Dom Martinho Soares de Alarcão e Melo, acerca do sucedido.

Em Torres Vedras estavam  estacionadas  12 “companhias” comandadas por Martinho Soares, que logo na noite desse dia partiu com elas na direcção de Peniche, acompanhado por  Gaspar de Alarcão, morador nesta vila, com cento e dez “ginetes” de que era capitão.

Este Gaspar Ruiz de Alarcão tinha vindo para Portugal em 1587, com quatro companhias a cavalo, para apoiar o Vice-rei, Cardeal D. Alberto.

Do Turcifal saiu Pero Correia, filho de Lourenço Correia, com três “homens seus” a cavalo, e quatro a pé com “espingardas” e outra gente a pé, para se juntar ao alcaide de Torres.

No Sábado seguinte, dia 24, Dom Martinho Soares juntou-se  às tropas comandadas por Pedro de Gusmão, num local a meia légua de Peniche, “sobre hum alto que chamão o Coymbram”, avistando daí os inimigos.

Sobre estes “discorreram” os “Ginetes de Gaspar de Alarcon”, fazendo prisioneiro um soldado do exército inglês que tinha sido ferido, e que disse ser francês, tendo por missão entregar uma mensagem de D. António para “hu Mosteiro de frades ahy vezinhos” , revelando o número de tropas inglesas, 20 mil “infantes”, e informando que já tinham desembarcado em Peniche seiscentos cavalos.

Impressionados com esses números, os “nossos” “aballarão dalli para outro lugar mais alto, e mais afastado do inimigo”, enquanto que “os de Torres Vedras e seu termo que erão todos até trezentos, os mais delles gente rústica”, fugiram para Torres Vedras, as tropas de Dom Martinho e de João Gonçalves de Atayde.

No dia seguinte, Domingo vinte e oito de Maio, juntaram-se a estes, em Torres Vedras, onde já estavam Pedro de Gusmão e Gaspar de Alarcão, duas companhias de “arcabuzeiros a cavalo” comandadas por D. Sancho Bravo (ou Branco) e outras duas de “infantaria do terço”, comandadas por Dom Francisco de Toledo, alojando-se “esta gente toda” no Castelo de Torres Vedras, que consideravam “forte e defençável, principalmente vindo o I[n]imigo sem artilharia e com poucos cavallos”.

Contudo, dando-se rebate, por volta da meia noite, que os inimigos vinham marchando da Lourinhã para esta vila, que distava duas léguas, “partirão todos logo com muita pressa” para Enxara dos Cavaleiros, ficando apenas Gaspar de Alarcan, como os seus “ginetes”, “sempre” à vista do inimigo.


(Percurso das tropas luso-inglesas, de Peniche a Cascais (Fonte-João Pedro Vaz, ob. cit.)

Na segunda-feira, vinte e nove de Maio, pela manhã “entrou em Torres Vedras hum clérigo que era cura no lugar do Vimieiro [será Vimeiro ?], notificando aos que estavão na villa que se não fossem della, por que lhes não farão mal, prometendo lhes disto seguranças, por parte de Dom António”.

Tomando conhecimento dessa situação, os ginetes de Gaspar de Alarcão avançaram para Torres Vedras, com o objectivo de prenderem esse clérigo.

Com esse pretexto entraram “em muitas casa da villa e termo”, provocando a fuga dos seus habitantes para lugares altos.

Os abusos cometidos por algumas tropas de Gaspar de Alarcão e “outros soldados” castelhanos, provocaram o rumor segundo o qual os ginetes andavam a roubar e a matar, “e disto lançarão fama e causando com isto grande inquietação por esta comarca” de Torres Vedras, “e por  outras temendo se e escondendo se  a gente miúda e molheres, por montes e covas”, embora o narrador refira que os capitães e nobres não foram responsáveis por esses excessos.

Espalhando-se pela região a notícia dos saques, roubos e assassinatos feitos pelas topas luso-castelhanas, a população temia mais “destes nossos amigos e naturaes que dos Ingleses”, até porque estes, até então, não roubavam nem saqueavam, pelo que começaram a ter apoio popular, dando mantimentos e juntando-se às tropas anglo-lusas de Norris e D. António.

Nessa segunda-feira “já tarde”, entraram na vila de Torres Vedras o exército inglês e D. António, sob o comando de Norris, “onde alguns poucos e falhos de força e conselho o esperarão, não seguindo a muitos outros que o não quiserão esperar e se ausentarão”, isto é, a vila estava quase desabitada.

D. António aposentou-se nas casas do prior de Stª Maria do Castelo, “e a noite foy dormir no Castello, onde pousava Francisco de Seixas” Cabreira, natural da vila, que veio a ser preso mais tarde pelo governo filipino, por causa desta sua atitude de facilitar a aposentação de D. António em Torres Vedras.

“Sem mantimentos, e com tanta fome”, as tropas inglesas “comerão muitas imundices”, isto porque tinham ordens para não proceder a qualquer saque.

Contudo, muitos desses soldados “se embebedarão, por aver muito vinho nesta villa”. Beberam em tal excesso que muitos adoeceram e alguns chegaram mesmo a morrer.

Este incidente provocou um atraso no avanço dos Ingleses sobre Lisboa, dando tempo às tropas luso-castelhanas que defendiam a capital de se prepararem para a chegada dos apoiantes de D. António.

Só na quarta-feira seguinte, dia 30 de Maio, é que as tropas inglesas retomaram a sua marcha sobre Lisboa, avançando por Enxara dos Cavaleiros até Frielas.

Tendo chegado a informação aos castelhanos que as tropas inglesas estavam “tomadas” de vinho, avançaram sobre o acampamento inglês onde deram conta que, afinal, “estavão mais expertos do que cuidaram e bem entricheirados”, retirando-se para Lisboa com algumas baixas em confrontos esporádicos com os ingleses.

Entretanto, André Falcão de Resende, que, quando da tomada do Castelo por D. António, tinha escondido alguns livros numa casa a meia légua de Torres Vedras, voltou à vila assim que os ingleses se retiraram para avançarem sobre Lisboa.

Entrando em Torres Vedras, encontrou-a praticamente deserta, descobrindo, junto ao “pelourinho  da praça” uma carta, assinada por D. António, na qual com “graves penas e ameaças, assumindo-se nella como Rei, mandava que todos o fossem logo servir e acompanhar, dentro de vinte e quatro horas”.

A título de curiosidade, refira-se que esta é uma das mais antigas referências coevas ao Pelourinho quinhentista de Torres Vedras.

Dirigindo-se depois para um ponto alto perto da vila, Falcão de Resende avistou a marcha do inimigo, contando cerca de “doze mil homens, e sessenta cavallos somente”, sem artilharia, sem mantimentos e sem bagagens. De imediato enviou esta informação ao seu filho, Luís Falcão, que estava em Lisboa, para conhecimento dos defensores desta cidade.

No dia 1 de Junho, 5ª feira, o “inimigo” avançou sobre Lisboa até Alvalade “mea legoa” de Lisboa.

Eram as tropas inglesas abastecidas por Gaspar Campello, que tinha negociado com D. António a entrega de mantimentos às tropas luso-inglesas. Gaspar Campello tinha sido juiz em Torres Vedras e era “muito conhecido nesta comarca” e tinha forçado “a gente fraca, com nome de Almotacel moor para trazerem mantimentos aos Ingleses”.

A cavalaria luso-castelhano conseguiu, contudo, fazer “presas” desses mantimentos.

Durante este tempo ocorreram escaramuças esporádicas entre os dois exércitos.

No dia seguinte, sexta-feira 2 de Junho, os ingleses marcharam de Alvalade até “perto da cidade” entrando pelos arrabaldes e pelas ruas e travessas.

Do Castelo e das Galés estacionadas no Tejo receberam os ingleses muito fogo.

No dia seguinte os sitiados conseguiram receber mantimentos e vários reforços.

Os ingleses, perante a resistência dos sitiados, resolveram, no Domingo 4 de Junho, retirar-se a caminho de Cascais., onde chegaram no dia seguinte, perseguidos pelas tropas luso-castelhanas, entre elas os “ginetes” de Gaspar Alarcão que prenderam e mataram muitos dos soldados luso-ingleses.

De sitiantes, os ingleses passaram, em Cascais, a sitiados.

Em 18 de Junho iniciaram a sua retirada, embarcando na armada inglesa.

Entretanto, no dia 6 de Junho, cerca de mil homens comandados por D. Martim Soares e pelo capitão António Pereira, reconquistaram, quase sem combate, o castelo de Torres Vedras.

Algumas fontes referem uma segunda tentativa das forças do Prior do Crato de conquistarem o Castelo, sem o êxito da primeira vez.

A ter acontecido, terá ocorrido entre essa data de 6 de Junho e o início da retirada inglesa do território português, que ocorreu entre 18 e 22 de Junho.

Segundo Vieira da Mota, deve-se a este episódio o facto de D. António apelidar esta localidade de “Torres Traidora”.

O mesmo Martim Soares, em 22 de Junho, marchou sobre Peniche, levando consigo “30 de cavallo”, com “gente de pé”. Chegado à Lourinhã, foi informado por uma espia que os inimigos estavam a embarcar em Peniche, levando consigo a artilharia da fortaleza, pelo que apressou o seu avanço sobre aquela vila, de onde grande parte dos ingleses já se tinham retirado.

Em definitivo, a região voltou a obedecer a D. Filipe II.

Retirando-se definitivamente de Portugal, D. António, faleceu na miséria em Paris em Agosto de 1595.

FONTE PRINCIPAL:
(Parte do Documento de André Falcão de Resende que refere a chegada de D. António a Torres Vedras).

FALCÃO de RESENDE, André, “Carta que o autor escreveo a hum Amigo em que se conta a vinda dos Ingleses a Lisboa com dom António Prior do Crato no Ano de mil quinhentos e oytente e nove annos”, in Manuscrito da Livraria, cota 1147,   Arquivo Nacional da Torres do Tombo.

PARA SABER MAIS (outras fontes consultadas):

AZEVEDO, Maria Antonieta Soares de, “D. Martinho Soares de Alarcão, alcaide-mor de Torres Vedras e avô do Padre Francisco Soares”, in Arquivo do Centro Cultural Calouste Gulbenkian, vol.I,  Paris 1969, pp. 470-486.
BRAGA, Paulo Drumond, Torres Vedras no reinado de Filipe II, Câmara Municipal de Torres Vedras, Edições Colibri, Lisboa 2009.
MOTA, A. Vieira da Mota, “Memórias de Torres Vedras”, Capítulo IX,  in O Torrense, nº 52, 17 de Setembro de 1922.
RAMALHO, Américo da Costa, O Essencial sobre André Falcão de Resende, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1988.
RÊGO, Rogério de Figueirôa , “O Castelo de Torres Vedras”, in Boletim da Junta da Província da Estremadura, nº 21, Série II, Maio/Agosto de 1949, pp. 195-209.
SERRÃO, Joaquim Veríssimo, O tempo dos Filipes em Portugal e no Brasil, ed. Colibri, Lisboa 2004.
VAZ, João Pedro, Campanhas do Prior do Crato – 1580-1589 – Entre Reis e Corsários pelo Trono de Portugal, ed Tribuna, sem data [séc. XXI].

segunda-feira, 27 de maio de 2019

As Eleições para o Parlamento Europeu em Torres Vedras



PS
Partido Socialista
33,93%
8.465 votos
PPD/PSD
Partido Social Democrata
20,29%
5.061 votos
B.E.
Bloco de Esquerda
9,55%
2.383 votos
PCP-PEV
Coligação Democrática Unitária
6,66%
1.661 votos
CDS-PP
CDS - Partido Popular
5,88%
1.467 votos
PAN
PESSOAS-ANIMAIS-NATUREZA
5,32%
1.328 votos
A
ALIANÇA
2,71%
675 votos
PPM.PPV/CDC
Coligação BASTA
2,05%
512 votos
L
Livre
1,53%
381 votos
NC
Nós Cidadãos
0,95%
236 votos
PCTP/MRPP
Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses
0,90%
225 votos
IL
Iniciativa Liberal
0,62%
155 votos
PNR
Partido Nacional Renovador
0,50%
125 votos
PDR
Partido Democrático Republicano
0,42%
106 votos
PURP
Partido Unido dos Reformados e Pensionistas
0,42%
106 votos
PTP
Partido Trabalhista Português
0,26%
65 votos
MAS
Movimento Alternativa Socialista
0,22%
55 votos
EM BRANCO
4,77%
1.189 votos
NULOS
3,01%
752 votos
68.041 inscritos

Em termos gerais, os resultados totais no concelho de Torres Vedras não se diferenciaram muito dos resultados nacionais.

A principal diferença reside no nível de abstenção, mais baixo em Torres Vedras, 63,34%, do que a nível nacional, 68,6%.

Se a nível nacional o PS teve 33,4% dos votos expressos, no concelho teve uma percentagem ligeiramente superior, 33,9%.

Já o PSD teve neste concelho um resultado ligeiramente mais baixo que o resultado nacional, 20,3% no concelho, contra 22,2% no país.

O Bloco de Esquerda também aqui foi a terceira força politica mais votada, embora com uma percentagem ligeiramente inferior, 9,6% em Torres Vedras, contra os 9,8% a nível nacional.

O PCP também aqui foi um dos derrotados da noite, passando de terceira força politica nas últimas eleições para o quarto lugar, com 6,7% a nível local, quase o mesmo que teve a nível nacional, 6,9%.

Também o CDS teve neste concelho 5,9%, uma percentagem ligeiramente inferior àquela que teve a nível nacional,6,2%.

O PAN obteve aqui um resultado ligeiramente melhor do que aquele que obteve a nível nacional, 5,3% contra 5,1%.

Já onde os resultados foram ligeiramente diferentes em relação à votação nacional foi em partidos mais pequenos, que não conseguiram eleger deputados para o Parlamento Europeu.

A Aliança obteve neste concelho quase o dobro da percentagem daquela que obteve no país, 2,7% em Torres Vedras contra 1,9% na média nacional.

O partido de extrema direita BASTA também foi um dos “vencedores” no “campeonato” dos “pequenos partidos”, com 2,1% dos votos deste concelho, ultrapassando o Livre (com 1,5%), quando obteve 1,5% a nível nacional, ficando atrás do Livre (1,8%).

Dos restantes partidos que concorreram, apenas o Nós Cidadãos obteve 1% de votos (1,04 % a nível nacional.

Nos totais do país e do concelho, mais nenhum partido chegou a 1%.

Vemos assim que, em termos gerais, os resultados do concelho reproduzem a situação nacional.
Se compararmos os resultados deste concelho com os mesmos resultados aqui registados nas eleições para o Parlamento Europeu de 2014, um dado significativo é que neste concelho a abstenção desceu ligeiramente. Foi de 64,94 em 2014 e, agora, desceu para 63,34.

As freguesias que mais contribuíram para a descida da abstenção neste concelho foram o Ramalhal (61,33%), a Silveira (62,91%), o Turcifal (61,32%) e, principalmente, a maior freguesia, que inclui todo o centro urbano, Stª Maria, S.Pedro e Matacães, com uma abstenção de 60,49%.

A única freguesia que obteve uma abstenção superior à que se registou a nível nacional foi a Freiria, com 68,87 de abstencionistas.

Em relação a 2014 o PS conquistou aqui quase mais 1 500 votos (7176 em 2014, e 8465 agora). Também o BE registou um crescimento significativo, mais de mil votos agora (1083 há cinco anos, contra os 2383 deste fim-de-semana). O PAN cresceu quase o mesmo número de votos, registando o maior aumento percentual. Tinha obtido 394 votos em 2014 e conseguiu agora 1328 votos. A Aliança e o Basta que concorreram agora pela primeira vez obtiveram, respectivamente, 675 e 512 votos. Estes foram os que cresceram, conquistando novos eleitores.

Esta comparação não é possível de fazer com o CDS, que concorreu coligado com o PSD em 2014 e que agora, sozinho, foi escolhido por 1467 eleitores.

Estes mais de 1400 eleitores do CDS correspondem quase integralmente ao número de votos perdidos pelo PSD em relação a 2014. Nesta data, concorrendo em coligação com o CDS, obteve 6 494 votos, obtendo agora 5061 votos, menos 1433. Ou seja, na direita, no seu conjunto, não se registou uma perda de votos, apenas uma redistribuição.

Quem perdeu mesmo votos de forma significativa foi o PCP que em 2014 tinha sido neste concelho a terceira força politica mais votada, com 2954 votos e que agora apenas conseguiu 1661 votos, quase menos 1300 votos. Ao que parece, à primeira vista, todos esses votos terão sido distribuídos pelo PS, Bloco de Esquerda e até pelo PAN, embora não seja líquida essa transferência directa de votos.

O Livre que, em 2014, tinha conseguido 505 votos e 2,15%, apenas consegui agora 381 votos, com 1,5%. Marinho Pinto também foi outro grande perdedor. Tinha obtido 1541 votos (6,56%) neste concelho em 2014 e agora ficou-se pelos 106 votos (0,4%).

Numa análise mais fina dos resultados no concelho, também se podem tirar algumas conclusões interessantes sobre o comportamento dos eleitores.

O PS, que venceu em todas as freguesias do concelho, obteve os resultados mais significativos no Maxial e Monte Redondo (46,66%), Carvoeira e Carmões (40,82%) Ventosa (39,19%), S.Pedro da Cadeira (38,93%), Runa e Dois Portos (38,66%) e Turcifal (38,36%).

Por sua vez, aquele partido, embora vencedor nessas freguesias, obteve os seus piores resultados no concelho nas freguesias de A Dos Cunhados (31,61%), Campelos (31,28%), Freiria (31,50%), Silveira (31,59%) , tendo obtido o pior resultado de todos na maior freguesia do concelho, a freguesia “urbana” de S. Pedro, Stª Maria e Matacães (31,23%).

Quanto ao PSD, obteve os seus melhores resultados neste concelho em Campelos (29,26%), Freiria (27,68%) e Ventosa (26,34%), as duas primeiras coincidentes com freguesias onde  o PS teve piores resultados.

Aquele partido teve resultados muito  abaixo dos 20% em 4 freguesias:  Dois Portos (13,48%), Carvoeira (14,39%), Maxial (14,42%), Ramalhal (15,64%), as três primeiras correspondendo a freguesias onde o PS teve algun dos melhores resultados.

O Bloco de Esquerda registou resultados a nível dos dois dígitos apenas em duas freguesias a da Silveira (10,90%) e a “urbana” de S. Pedro e Stª Maria (11,38%) que, sendo duas das maiores freguesias do concelho e daquelas onde a abstenção foi menor, foram suficientes para contribuir para um resultado total no concelho próximo da média nacional.

Já os piores resultados concelhios no concelho para o BE tiveram lugar na Ventosa (6,07%), em Campelos (6,56%) e em S. Pedro da Cadeira (6,81). Apesar de ter obtido um resultado mais alto do que aquele, foi ultrapassado pelo PCP em três freguesias, Carvoeira, Dois Portos e Maxial.

O PCP teve os seus melhores resultados nestas três freguesias (Carvoeira com 13,07%, Dois Portos com 12,77% e Maxial com 9,97%) sendo que nas duas primeiras esteve a cerca de 1% de ultrapassar o PSD.

O pior resultado da coligação liderada pelo PCP foi atingido na Freiria (2,45%), Ventosa (3,36%) e  Ponte do Rol (3,82%) , tendo mesmo sido ultrapassado pelo CDS nestas três freguesias, sendo ultrapassado por este mesmo partido também em A dos Cunhados, Campelos, Silveira e S.Pedro da Cadeira. Aliás, foi ultrapassado pelo PAN em todas estas 6 freguesias.

O CDS teve o seu melhor resultado, acima dos 7%, na Ventosa (7,23%) , onde foi também a terceira força politica, ultrapassando o BE, e  ficou à frente do PCP, como já vimos, noutras cinco freguesias.

O pior resultado do CDS foi na Carvoeira (3,82%) e no Maxial (3,75%), chegando a ser ultrapassado pelo PAN nestas duas freguesias e em A Dos Cunhados e no Ramalhal.

Quanto ao PAN, uma das surpresas da noite eleitoral, teve os seus melhores resultados em A Dos Cunhados (5,94%)  onde foi a quarta força politica, na Silveira (5,85%), em S. Pedro da Cadeira (5,36%), todas elas freguesias do litoral e, principalmente as duas primeiras com população mais jovem e com estilo de vida “urbano” e, naturalmente, na maior freguesia, a “urbana” de S. Pedro e Stª Maria (5,83%).

Dos partidos mais pequenos, a Aliança conseguiu o seu melhor resultado, 3,55%, na freguesia “urbana” de S. Pedro e Santiago. O Basta obteve o seu melhor resultado em Campelos, 3,63%, e o Livre na freguesia “urbana”, com 2,01%.

Existem ainda 7 freguesias onde o conjunto da esquerda (PS+PCP+BE+Livre) conseguem “maioria absoluta: Maxial (64,69%), Carvoeira (63,73%), Dois Portos (60,49%), S.Pedro e Stª Maria (57,71%), Ramalhal (55,78%), Turcifal (55,52%) e S. Pedro da Cadeira (51,14%), sendo que só somando os votos de pelo menos aqueles três primeiros partidos essa “maioria absoluta” consegue ser obtida.

Já a soma das direitas (PSD+CDS+Aliança+Basta) nunca consegue ultrapassar os 50%.

Aqui fica um breve e superficial retrato dos resultados destas eleições no concelho de Torres Vedras. Os dados oficiais podem ser consultados AQUI.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Contra a demagogia: em Defesa de Carlos Miguel



A notícia do Público desta semana não prefigura qualquer indício de ilegalidade, nem sequer de falta de ética.

A edição de 22 de Maio daquele diário publicava uma notícia intitulada  “Torres Vedras compra metade da edição dolivro de ex-autarca e secretário de Estado” (clicar para ler), condicionando logo à partida uma opinião sobre o tema.

Numa época em que somos bombardeados diariamente na comunicação social e nas redes sociais como a mais demagógica campanha anti-politica, com o objectivo de, internamente, mostra que um governo de  esquerda não é diferente de um governo troikista de direita e que, se “todos os políticos são corruptos”, logo a ditadura é que era boa, porque “não havia corrupção”, ou, votem na extrema-direita populista “impoluta” ou, sendo tudo igual, vamos abster-nos ou votar no “centrão tradicional”, aquele título não foi escolhido inocentemente.

Aquele título foi escolhido para ser, inconscientemente, lido, pela mentalidade do “povão”, condicionada pela demagogia da comunicação social e da maior parte dos seus comentadores e pelas redes sociais, como:  “Uma câmara do PS, desbaratou uns milhares de euros a pagar a edição de um qualquer livro do anterior presidente da Câmara e actual secretário de estado do governo socialista da geringonça que enriqueceu deste modo”.

Lendo a notícia, contudo, nada permite tirar esse tipo de conclusão.

Afinal o livro não foi publicado porque era da autoria de um ex-autarca e de um actual secretário de estado, mas porque foi feito por alguém que se dedica à fotografia há mais tempo do que aquele de dedica à politica, com provas dadas nesse meio, que dedica uma parte importante do seu tempo a uma das temáticas que mais o entusiasma, o Carnaval de Torres, goste-se ou não um dos principais ex-libris da cidade e uma das mais importantes fontes de rendimento local.

Afinal o livro não foi editado pela Câmara, com fundos municipais, mas foi editado e pago pelo autor que depois colocou o livro à venda e a Câmara, como costuma fazer com muitas obras de interesse local, comprou metade da edição. Esta é uma prática corrente e é uma forma, pouco dispendiosa, de apoiar os autores locais. Neste caso comprou, por cerca de 9 mil euros, metade da edição do livro, uma obra de grande qualidade para ser distribuída em actos de promoção do município, nomeadamente de promoção do Carnaval.

Num país de salários e pensões miseráveis, lançar para o ar “9 mil euros” parece muito dinheiro, mas olhando para o orçamento desta Câmara, ou comparando com as centenas de milhares e os milhões desbaratados em fugas ao fisco, em criara situações fiscais de excepção, a perdoara dívidas de milhões, a pagar centenas de milhares por pareceres de escritórios de advogados, a encher gabinetes ministeriais de assessores pagos principescamente, a pagar e a salvar empresas falidas e bancos, aquele valor é uma migalha, ainda por cima com um retorno que pode ser muito maior no contributo que aquela obra pode dar para prestigiar o município e divulgar o Carnaval de Torres.

As perguntas que devia ter feito, antes de lançar qualquer fumo de suspeita, eram as seguintes:

- A obra não tem qualidade? – Claro que tem qualidade, até muito superior a outras obras do género publicadas e apoiadas por câmaras por esse país fora.

- A obra não se enquadra na identidade do Município? – Claro que, goste-se ou não do Carnaval, a obra se enquadra-se na identidade do município.

- Houve uma situação de excepção no apoio do município a esta obra? – Claro que não houve, é uma prática normal de apoio a autores com obras de interesse local e já o fez em relação a outras obras sobre o mesmo tema.

- O autor enriqueceu ilicitamente graças a esta obra? – Claro que não enriqueceu, pagou a edição do seu bolso, pagara ao fisco o que é obrigado e, quanto muito, talvez tenha conseguido recuperar o que gastou na edição, mas sem que tivesse contabilizado as horas de trabalho na recolha de fotografias, os gastos com material fotográfico, o tempo gasto a editar a obra.

- O tempo para o lançamento da obra foi o adequado ( já que o visado é secretário de estado de um governo do mesmo partido a que pertence o município)? – Esta questão pode ser aquela que se presta a maiores duvidas, mas o tempo do lançamento, durante os festejos do Carnaval, parece adequado.

Ou seja, estamos perante uma não questão, que visa apenas ser usada pela argumentação de uma demagogia barata ao serviço do populismo mais reles.

Pela minha parte, divergi e continuo a divergir em relação a  muitas iniciativas desta Câmara, como é público e notório, nem devo nada ao Dr. Carlos Miguel, mas penso que, desta vez, a comunicação social falhou mais uma vez o alvo.