terça-feira, 15 de setembro de 2009

Torres Vedras Há 120 anos, na Imprensa da Região - Julho, Agosto e Setembro de 1889

JULHO de 1889
No domingo 7 de Julho tiveram lugar as festas de S. Sebastião realizadas na Igreja Paroquial da Carvoeira, com missa “instrumental e vozes, sendo o coro executado por alguns músicos da phylarmonica da Aldeia Gavinha”.
A mesma filarmónica, “durante o dia como na Véspera à noite, abrilhantou a festa com varias peças do seu reportório”.
Pelas 6 horas da tarde desse Domingo, o lugar da Carvoeira foi percorrido pela “procissão que se compunha de quatro andores com imagens, conduzidos pelas respectivas irmandades. Após o pallio seguia a phyllarmonica e muito povo”. (A Vinha de Torres Vedras de 13 de Julho de 1889).
Também nesse mês, dia 21, celebrou-se na Igreja do Turcifal a festa do Senhor Jesus Morto, com missa “a grande instrumental, e sermão”, e , à tarde, teve lugar uma procissão com a imagem do “Senhor Jesus” (A Vinha de Torres Vedras de 20 de Julho de 1889)
Muitas pessoas hospedaram-se nesse mês nos dois principais Hotéis da vila de Torres Vedras, o Natividade e o Pimenta, para frequentarem os “banhos dos Cucos” (A Vinha de Torres Vedras de 20 de Julho de 1889).
Nas páginas do mesmo jornal fazia-se eco da queixa dos moradores do Ramalhal contra as “peiores condições de transito” do “caminho que dáquelle lugar vae à estação de caminho de ferro” que, a “continuar assim, será no próximo inverno um verdadeiro lamaçal”.
A situação na vila não era melhor, pedindo-se à Câmara Municipal, “a quem não regateâmos louvores pelas obras que ultimamente tem emprehendido na villa e em outras terras do concelho”, que olhasse “para o estado em que se encontram algumas ruas da villa, principalmente a da olaria, por onde é quasi impossível deixar a gente de tropeçar nas muitas covas que ali há, e passar um vehiculo sem que soffra enormes solavancos” (A Vinha de Torres Vedras, de 27 de Julho de 1889).
Igualmente alvo de queixas eram os serviços do Caminho de Ferro, fazendo-se o jornal Vinha de Torres Vedras eco de um artigo publicado no “Diário de Notícias” onde se referiam as “geraes e constantes queixas e reclamações do commercio e dos lavradores da zona atravessada pelas linhas férreas de Torres-Figueira-Alfarellos, contra o preço excessivo das tarifas em vigor, resultando d’este grave inconveniente continuarem quasi todas as mercadorias a ser transportadas em carroças e outros antigos meios de locomoção, o que é irrisório e extremamente prejudicial” (A Vinha de Torres Vedras de 27 de Julho de 1889).
A iluminação pública era igualmente alvo de críticas, sendo frequente as ruas da vila estarem à escuras “como breu, durante todo o serão”, ironizando-se que a “Lua tem pregado o calote ao município de se não prestar a substituir a illuminação publica”. “Por fim, convencidos de que o poético astro não se dignava projectar luz, resolveu-se accenderem-se os candieiros entre as dez e as onze” (A Semana de 4 de Julho de 1889).
No início desse mês de Julho a imprensa local fazia eco da aceitação pela Junta Distrital do pedido, feito em 27 de Junho último pelo município, de se criar em Torres Vedras uma “Escola Municipal de Instrucção Secundária” ( A Semana de 4 e de 11 de Julho de 1889).
AGOSTO de 1889
Uma notícia dava conta da que se iria proceder, no dia 3 de Agosto, “á expropriação dos prédios rústicos entre a Ponte do Rol e a Coutada, que tem de ser atravessados pela estrada de S. Pedro da Cadeira” (A Vinha de Torres Vedras de 3 de Agosto de 1889).
Em 10 de Agosto anunciava-se a chegada, prevista para esse dia, do deputado Casal Ribeiro, no comboio da manhã, “para onde vem com sua família demorar algum tempo em casa de seu tio, o sr. Administrador do concelho”, preparando-lhe os amigos uma “recepçãp condigna” (A Vinha de Torres Vedras de 10 de Agosto de 1889).
Já então se queixavam “os moradores da rua dos Balcões n’esta villa, de que por vezes acontece haver completo pejamento de transito n’aquella via publica, em consequência de descarregarem á porta de um forno que ali existe, carradas de matto, que se não dão pressa em recolher” (A Semana de 24 de Agosto de 1889).
Realizando-se em S. Domingos de Carmões, no dia 11 de Agosto, a festa anual do Santíssimo Sacramento, a ocasião foi escolhida para a inauguração pública da fanfarra da “Sociedade instrucção e recreio carmoense, fundada em 1 de Abril d’este annno”, que “acompanhará a procissão, e tocará á noite no seu coreto, sob a direcção do regente, o sr. Alberto Lança Galvão” (A Vinha de Torres Vedras de 10 de Agosto de 1889).
Também na mesma data teve lugar no Maxial a festa do Santíssimo Sacramento “ que é uso fazer-se no segundo domingo de Agosto desde o anno de 1671. Esteve bastante concorrida, e houve socego, fora do costume dos annos anteriores”, sendo a festa “abrilhantada” com “dois sermões, um ao evangelho e outro ao recolher da procissão”, pelo “padre António José de Almeida”(A Vinha de Torres Vedras de 17 de Agosto de 1889).
Agosto foi ainda mês da tradicional Feira do Mato, no Turcifal que nesse ano esteve “de pouco commercio (…) apezar de ser regularmente concorrida. Houve muito junco, vendendo-se a preço diminuto” (A Semana de 29 de Agosto de 1889)
Por fim, noticiava-se, esse ano, de que a “famosa” Praia de Santa Cruz estava pouco animada, registando-se algumas famílias que tinham partido para essa praia: “os snr. Belford e Augusto dos Santos Ferreira com suas famílias” (A Vinha de Torres Vedras de 31 de Agosto de 1889).
SETEMBRO de 1889
Na sua edição de 28 de Setembro de 1889 a “Vinha…” dava grande destaque da chegada à vila de Torres Vedras, no dia 26, e de onde era natural, de “Luís António de Abreu, que há bastantes annos reside em Buenos Ayres, onde é considerado como um dos mais abastados negociantes, e fundador de diversos estabelecimentos bancários, e outras emprezas de commercio e navegação.
“O sr. Abreu, que veiu com sua esposa e um cunhado, era esperado na gare do caminho de ferro por muitos dos seus conterrâneos e pela fanfarra Sociedade Recreativa Torrense, que acompanharam os recem chegados até casa do sr. Francisco José de Bastos e Silva, onde ficaram hospedados”, tencionando seguir depois para Caldas e regressar a Lisboa, de onde seguiria viagem por alguns países da Europa, voltando a Torres Vedras para “se demorar” dois meses, constando que “o sr. Abreu pensa em deixar assignalada com uma acção meritória a sua estada na terra natal” (A Vinha de Torres Vedras de 28 de Setembro de 1889).
Entretanto chegavam também a Torres Vedras dois torrienses, António Xavier de Rosa Bray, das Carreiras, e Candido do Nascimento Vieira, “conhecido industrial n’esta villa”, que tinham ido a Paris visitar a exposição universal, “tendo-se também demorado algum tempo em Bordéus e em Madrid” (A Vinha de Torres Vedras de 28 de Setembro de 1889).
Nessa Exposição de Paris, estiveram presentes expositores de viticultores do concelho de Torres Vedras, tendo sido premiados “com a medalha de ouro: César Vasconcellos” do Turcifal e “Custodio Miranda” da Ribaldeira.
“Com medalha de prata: Visconde da Silveira; dr .Sabino Galrão; dr. José Henriques Palma d’Almeida; Joaquim Belford; dr. António Maria de Carvalho; e João Garcez Palha” (A Semana de 26 de Setembro de 1889).