sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Aclamação de D. João IV em Torres Vedras

No adro da Igreja de Stª Maria foi aclamado D. João IV, no dia 18 de Dezembro de 1640


Após ser aclamado como rei, com o título de D. João IV, o 8º duque de Bragança chegava a Lisboa no dia 6 de Dezembro de 1640.

Uma das primeiras tarefas do seu reinado foi enviar uma ordem a todas as sedes de concelho no sentido de ser proclamado nas respectivas terras.
A carta enviada para Torres Vedras data do dia 10 de Dezembro e encontra-se registada no “Livro de Registos da Câmara Municipal de Torres Vedras” nº5, folhas 51 verso e 52.
Nela, dirigindo-se ao juiz, vereadores e procurador do concelho “da Villa de torres uedras” e referindo ter “por serto q em Conformidade do que esta sidade de Lisboa comesou me auereis chamado e leuantado por uosso Rey e senhor natural”, ordenando que fosse aclamado “na forma custumada”.

A solenidade da aclamação teve lugar no dia 18 de Dezembro de 1640, existindo um relato da mesma no mesmo livro de registos .
O teor desse relato é bastante interessante e mereceu a atenção de Rogério de Figueiroa Rêgo que a publicou (“Reflexos da Restauração na Vila de Tôrres Vedras”, in Revista dos Centenários, Outubro de 1940, pp. 23 a 26), sendo essa leitura que, pelo seu interesse, aqui transcrevemos:

“E pêra se dar comprimento a ditta cartta na forma q sua mg.de manda na carta asima seordenou nesta villa q em dozoito deste mês de desembro de 1640 se fisece hua prosição em a qual se aiuntou o clero desta villa e a nobreza della a q o juis euereadores madaraõ uir os juises das uintenas deste termo e assim iunto todo o ditto pouo em a igreia de nosa snorª do castello e adro della sendo ahi também hua companhia de arcabuzeiros de ordenamsa desta villa em q foy por capittaõ bertolameu anriques e Joaõ machado por alferes com a bamdeira na maõ chegou a porta prinsipal da dita igreia aomde estauaõ iuntos os uereadores frescisco do rego goriaõ uereador mais uellho q seruia de juis pella ordenasaõ Belchior homem de carvalhossa Bartolomeu bareiros baracho e fr.co Botelho machado escriuaõ da câmara semdo também presente o doutor Miguel pinheiro de brito corregedor desta comarca o ditto Juis tomou a ditta bamdeira da maõ do alferes e a vista do ditto pouo se apelidou a elRey Dom Joaõ o quarto o ditto Juis que disse as palauras seguimtes
“Nobres e caualeiros desta villa de torres uedras e omrado pouo della sabei que temos Rey português por mercê de Deos chamado Dom Joaõ o quarto deste nome aclamaiio todos comiguo por uosso Rey e senhor dizendo
“Viua, Viua, Viua
“Nobres e caualeiros e omRado pouo desta Villa de ttores uedras Prometeis de defemder esta bamdeira del Rey dom Joaõ o quarto com uosas pessoas e as de uossos filhos e com uosas fasemdas, Prometemos.
“Real Real por el Rey de portugal Dom Joaõ o quarto
“e todos diraõ o mesmo e semdo assim aclamado o ditto Rey e senhor de todo o pouo q presente estaua en uos alta sahio da ditta igreiia hua solene prosição cõ os folgares q a terá deu de sim e acbouse a ditta prosiçaõ em mosteiro de nosa snorº da grasa desta villa aonde se dise misa camtada e pregaçaõ.”

O “entusiasmo” dos poderosos e do povo de Torres Vedras em relação à aclamação de D. João IV não nos pode fazer esquecer que o domínio filipino tinha sido bem aceite pelas famílias poderosas da região, com os Alarcões à frente, apesar de alguma resistência popular, bem patente na revolta do "Rei da Ericeira" em 1585, que comandou uma malograda guerrilha, de algumas centenas de camponeses da região, tendo acabado na forca, quando era "juiz de fora" de Torres Vedras o conhecido poeta André Falcão de Resende, amigo e contemporâneo de Luís de Camões, cargo para o qual tinha sido nomeado ainda no tempo de D. Sebastião, e no qual se manteve até cerca de 1586.
Durante o domínio filipino Torres Vedras tinha adquirido uma considerável importância política e económica, patente no prestígio dos Alarcões junto da coroa espanhola mesmo após a restauração.
De facto, só sob domínio filpino, em 1617, é que entrou em vigor a decisão de D. João III, de 18 de Julho de 1533, de tornar Torres Vedras cabeça de comarca .
A influência das poderosas famílias do concelho, fiéis apoiantes do domínio filipino, não terá sido estranha ao desbloqueamento daquela decisão que tinha a oposição de Alenquer, até então sede da comarca onde se incluía Torres Vedras.
Também em termos económicos, durante o período filipino a produção vinícola terá igualmente conhecido grande expansão, situação que pode justificar o facto de ter sido Torres Vedras uma das comarcas que mais contribuiu, pelo menos entre 1628 e 1633, para a organização da "Companhia Portuguesa das Índias".

Mas esta é outra “história”.

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