domingo, 24 de janeiro de 2010

A8 - A "Auto-estrada da Morte"?


O jornal "Público" publicou hoje, no seu suplemento "Cidades" um interessante artigo sobre o estado da A8, a principal via que liga Torres Vedras e a região Oeste a Lisboa.
Pela pertinência desse artigo resovemos inclui-lo na nosa página.
Ainda ontem, ao regressar de Lisboa à noite e debaixo de chuva, pude comprovar mais uma vez os perigos a que essa reportagem se refere.
A visibilidade das faixas é práticamente nula, e o perigo espreita a cada "muro" protector que se aproxima do veículo:

"Os riscos da auto-estrada que colocou uma região no mapa Oeste


Bela e perigosa, a Auto-estrada 8 recebe nota negativa do Observatório de Segurança de Estradas e Cidades devido a violações de normas de construção, que colocam em perigo os automobilistas. Não deixa, porém, de ser uma ligação importante para a economia e a vida de milhares de pessoas e empresas do Oeste. PorLuís Filipe Sebastião(texto) e Daniel Rocha(fotos)


"A Auto-estrada 8 (A8) aproximou o Oeste de Lisboa. Há mesmo quem a prefira como alternativa à A1 para chegar ao Porto. Mas o Observatório de Segurança de Estradas e Cidades (OSEC) avaliou as condições de perigo rodoviário que subsistem nesta ligação entre a capital e Leiria e alerta para a necessidade de serem adoptadas medidas que atenuem o risco de acidentes provocados por hidroplanagem e reduzida visibilidade em curvas mais apertadas.
"Francisco Salpico, coordenador do levantamento realizado pelo OSEC, alerta que a auto-estrada do Oeste "está entre as mais perigosas do país". Este engenheiro, responsável pelo relatório preliminar da peritagem à A8, conclui que se impõe a execução de trabalhos "que reponham as condições de segurança rodoviária", que consistam na correcção do traçado, do pavimento e das ranhuras no piso para drenar com eficácia o excesso de água. E defende que devem ser desencadeadas intervenções urgentes "para modelar a velocidade de tráfego para níveis correctos".
"Instado há mais de uma semana a fornecer dados sobre acidentes na A8, e quais as zonas de maior acumulação de sinistros, o comando-geral da GNR prometeu disponibilizar as informações. Um dia depois, o gabinete de imprensa da força policial fez saber que não podia satisfazer o pedido, encaminhando para a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária. Este organismo, que coordena a política do Governo em matéria de segurança rodoviária, também não respondeu. Como frisava recentemente o ex-ministro Luís Campos e Cunha, sempre que percorre a A8 e tem de pagar como se fosse uma auto-estrada, "gostaria de chamar o gerente, mas não há ninguém para responder, ninguém é responsável".

A caminho do Oeste

"O quilómetro zero da A8 nasce ao fundo da Calçada de Carriche, nos limites dos concelhos de Lisboa e de Odivelas. Os pouco mais de 132 quilómetros até Leiria estão devidamente sinalizados nos pórticos que orientam para o caminho do Oeste.
"Na travessia da várzea de Loures, logo ao quilómetro dois, o anúncio de obras impõe a limitação de circulação para 80 quilómetros por hora, com estreitamento das vias de rodagem. A entrada a partir do Eixo Norte-Sul (através do túnel do Grilo), entupida a qualquer hora do dia, despeja na faixa da A8 uma fila compacta de viaturas ao longo de umas centenas de metros até à saída para Frielas e Santo António dos Cavaleiros. De um lado da estrada, densas urbanizações encavalitam-se em altura nos montes, numa mancha contínua que se espalha desde o concelho de Odivelas. No lado oposto, impõe-se o mastodôntico Loureshopping, um dos muitos centros comerciais plantados em terrenos outrora destinados à agricultura.
"Os trabalhos em curso, a cargo da empresa Auto-estradas do Atlântico, participada pela Brisa e que detém a concessão da A8, fazem parte da empreitada de reabilitação e alargamento do lanço CRIL (Circular Regional Interior de Lisboa)-Loures, numa extensão de 6,3 quilómetros. O investimento é de 34,1 milhões de euros, deve ficar concluído até ao final do ano.
"No traçado plano e com curvas pouco acentuadas até à saída para Loures e Bucelas, a generalidade dos automobilistas circula dezenas de quilómetros acima da velocidade permitida. Isto, apesar da redução da largura das vias e do mau estado do piso. E de existirem, segundo o tal estudo do OSEC às condições de segurança na A8, diversas zonas de risco de hidroplanagem (aquaplaning), ou seja, zonas de acumulação de água no pavimento, por deficiente escoamento, o que cria condições propícias a despistes.
"Só a aproximação à praça de portagem impõe algum abrandamento. Porém, mesmo aqui, há quem teime em quase colar-se ao carro da frente nos corredores da Via Verde.

As obras de Loures

"As três vias de circulação vão escoando o tráfego até à saída para a A9 (Circular Regional Exterior de Lisboa). Na subida íngreme, muitos sinais das obras de alargamento estão tombados. Presume-se que devido ao mau tempo. Neste lanço entre Loures e a Malveira, a concessionária está a investir 35 milhões de euros no alargamento para três vias (também no sentido norte-sul, onde agora só tem duas vias) ao longo de cerca de dez quilómetros. A empreitada, que deve ficar pronta durante 2010, inclui o aumento de mais uma via para lá da área de serviço de Loures (onde actualmente passa a duas), no sentido sul-norte, até à saída para Ericeira/Mafra/Malveira. A necessidade do alargamento é ditada pelo facto de o tráfego médio diário anual entre Loures e a Malveira já ultrapassar os 35 mil veículos.
"O piso irregular em betão, em notório mau estado, será substituído por uma mistura betuminosa modificada a partir de borracha reciclada de pneus. Esta solução permite reduzir o barulho provocado pela circulação de tráfego - além de aumentar o conforto para os utilizadores e, espera-se, assegurar também melhores condições da drenagem transversal e longitudinal à auto-estrada.
"A este nível, Carlos Barbosa, presidente do Automóvel Clube de Portugal, é taxativo: "É urgente acabar rapidamente com o alargamento, porque aquilo é um perigo assim." Barbosa admite utilizar a A8 como alternativa à A1 em deslocações ao Porto - através da ligação à A17 e à A29 "fica a 500 metros da Ponte da Arrábida". Reconhece, contudo, que o traçado inicial, "como foi feito à pressa", não reúne as condições de segurança para uma auto-estrada. No troço entre Loures e Torres Vedras, nota, "há sítios onde para se fazer a 120 [quilómetros por hora] é preciso ter-se cuidado".
"Nesta zona, o estudo do OSEC, organismo não governamental composto por magistrados, técnicos e autoridades de segurança, salienta a violação das normas técnicas relativas à inclinação excessiva da via, com descidas em distâncias muito superiores ao estabelecido. Além disso, há inúmeros pontos de risco de hidroplanagem, incumprimento dos raios para as curvas verticais (lombas) o que reduz "de forma grave" as distâncias de visibilidade e de paragem. Mais problemas detectados por aquele organismo: curvas em planta muito apertadas, geradoras de elevadas acelerações centrífugas, que potenciam a perda de controlo da direcção do veículo.
"Francisco Salpico destaca um caso entre as inúmeras situações de violação: uma curva, pouco antes do quilómetro 19, com um raio de 430 metros, onde a velocidade específica (factor que define até onde estão asseguradas condições mínimas de segurança) é de apenas 97 quilómetros/hora. Este valor é muito inferior à velocidade de tráfego (que se admite ser praticada por 85 por cento dos condutores) e que ronda os 145 quilómetros por hora. Mesmo circulando à velocidade máxima permitida na auto-estrada, o automobilista corre perigo de acidente muito acima do valor limite de segurança do traçado da via.

Torres queixa-se do preço

"Um condutor atento à estrada só de relance pode contemplar a paisagem que se estende desde o cabeço vulcânico de Montachique, ainda no concelho de Loures, até para lá de Torres Vedras. Isto porque a auto-estrada serpenteante possui apenas duas vias até à saída para Sobral de Monte Agraço, o que dificulta a vida a quem queira apreciar o contraste entre as encostas bucólicas pintalgadas com moinhos em ruínas e, do lado contrário, as modernas e gigantescas hélices de ferro das torres eólicas. Mais adiante, ainda se pode aproveitar durante uns quantos quilómetros o alargamento para três vias e deixar para trás os camiões de mercadorias. Isto, se toda a faixa de rodagem não ficar ocupada com pesados a ultrapassarem outros - como acontece frequente. Em Portugal, parece ser assim: quando não é a via que complica, são os condutores que insistem em colocar em risco a sua segurança e a dos outros...
"Em Torres Vedras, que conta com duas saídas (sul e centro), a auto-estrada motiva elogios e críticas. O presidente da câmara, Carlos Miguel (PS), disse ao Cidades, através de um assessor, "que não tem nada a dizer sobre o assunto [A8]". Fica por se saber se o autarca socialista mantém a opinião, expressa num relatório elaborado pela sua própria assembleia municipal e apresentado ao executivo em Março de 2009, de que, "subtraindo questões técnicas como a má qualidade do piso, partes do traçado com curvas demasiado pronunciadas e locais com mau escoamento de águas pluviais, a A8 tem servido muitíssimo bem Torres Vedras e o Oeste".
"Com a auto-estrada, a região ficou a meia hora da distânciade Lisboa, atraiu investimento estrangeiro, traduzido nomeadamente em empreendimentos turísticos.
"O que se passa na A8 é uma vergonha, quer ao nível da qualidade do piso, quer dos preços praticados", contrapõe, em declarações ao Cidades, o vereador Paulo Bento (PSD), da oposição em Torres Vedras. Este autarca apoia-se no relatório de avaliação das portagens para salientar que se trata da "mais cara" do país.
"A comissão da assembleia municipal concluiu que o troço Malveira-Torres Vedras Sul (17,9 km/1,45 euros), comparado com o troço Loures-Malveira (11,4 km/0,75 euros), "tem um valor de portagem substancialmente mais caro". A diferença resulta de contratos de concessão assinados em épocas distintas. Essa foi, aliás, a explicação avançada pelo presidente da Auto-estradas do Atlântico, José Costa Braga. Num ofício remetido à câmara, o responsável sustenta que "os sublanços com mais anos de serviço têm uma tarifa (euro/km) mais baixa, devido a coeficientes de actualização inferiores". O presidente da câmara recorreu da diferença de preços para a associação de defesa do consumidor Deco, mas em Torres desconhece-se o resultado dessa diligência.
"O recente temporal deixou marcas nas áreas de serviço de Torres Vedras. Os ventos dobraram os grossos ferros de uma protecção do parque de estacionamento (sentido norte) e deixaram meio tombada a placa informativa do acesso na direcção sul. A via nesta zona, para o OSCE, apresenta sobretudo deficientes condições de visibilidade, devido a curvas verticais e algumas planas e riscos de hidroplanagem, em diferentes pontos nos dois sentidos. O troço entre a saída para o Bombarral e Óbidos padece dos mesmos problemas. Esta última vila, cujo casario muralhado se avista da auto-estrada, tem sabido tirar partido desta ligação. O presidente da câmara, Telmo Faria (PSD), já lhe chamou mesmo "a coluna vertebral do Oeste".

A sorte das Caldas

"A saída da zona industrial é perigosa." Quem o admite é o presidente da Câmara das Caldas da Rainha, Fernando Costa (PSD), esclarecendo, por seu lado, que se trata de um acesso à A8 que foi projectado inicialmente para servir uma variante à cidade e que acabou por ser transformado em auto-estrada. O social-democrata não poupa nos elogios pelo que a via representa para a região. Os motivos para sorrir também se devem ao facto de os oito quilómetros (sem portagem), com quatro acessos à volta das Caldas, terem retirado "cerca de 60 por cento do trânsito do centro da cidade". E sublinha que a auto-estrada, além de aproximar o concelho de Lisboa e de Santarém, constitui uma alternativa a ter em conta na ligação ao Porto.
"O perfil a partir das Caldas da Rainha torna-se menos acidentado, para benefício do conforto.
"Jorge Barroso, presidente da Câmara da Nazaré, independente eleito pelo PSD, também aprova a infra-estrutura rodoviária, apesar de a vila piscatória não ficar logo à beira da A8. "As auto-estradas são boas para trazer, mas também levam mais facilmente", salienta o autarca numa alusão à necessidade de os municípios saberem tirar partido do dinamismo económico proporcionado pela melhoria das acessibilidades. "Não podemos dizer que não queremos pagar portagens e depois ter a estrada alcatifada. A A8 de hoje não é igual à de anteontem", afirma Jorge Barroso. Tal não o impede de lamentar que os valores praticados no troço após as Caldas da Rainha e a ligação ao seu município sejam dos "mais caros do país". Por isso, defende que, se "o preço fosse igual para todos, o pagamento seria mais justo". Em termos de segurança, o autarca destaca que "o traçado é bastante melhor", apesar dos riscos acrescidos de hidroplanagem na zona de Alfeizerão. Problema que também é assinalado pelo estudo do OSEC.
"A ligação à Marinha Grande é garantida através da A17, a via que depois permite continuar pela A29 até ao Porto. O socialista Raul Castro, presidente da Câmara de Leiria, onde termina a A8, realça que a via proporciona um "acesso mais rápido ao litoral do Oeste". O autarca da cidade do Lis salienta que esta acessibilidade tem sido um dos principais motores para a produtividade industrial da cidade, uma vez que "facilita muito a vida das empresas". Em termos de segurança, Raul Castro chama a atenção para "alguns pontos de maior acumulação de água", que aumentam o risco de acidentes provocados por aquaplaning, mas garante que "a própria concessionária tem mostrado preocupação em melhorar o pavimento e resolver estes problemas".

Observatório quer rever normas

Concessionária garante que o alargamento vai tornar a A8 "mais amigável"

"A segurança rodoviária, para Nuno Salpico, presidente do Observatório de Segurança de Estradas e Cidades, "é sobretudo um problema de engenharia de transportes". O responsável deste organismo não governamental, criado em 2004, salienta sobre a A8 que, "na construção rodoviária em Portugal, com demasiada frequência a segurança é escandalosamente descurada".
"O relatório do OSEC defende a revisão da Norma de Traçado portuguesa, como aconselha o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, de forma a estimar correctamente a velocidade de tráfego, para evitar que se permita, "ilicitamente, a construção de estradas mais baratas à custa da insegurança". Nuno Salpico (na foto) sublinha que o levantamento efectuado na A8 detectou "elevados factores de risco proibido a que se sujeitam os condutores", perante uma "gama de violações técnicas muito graves" do traçado. As curvas de raio reduzido (dos 430 aos 600 metros), que deviam ultrapassar os mil metros, associadas à perda de atrito com pavimento molhado, "potenciam o despiste", para além de a introdução de diferenças de velocidade aumentarem o risco de colisões - o que acontece também na violação das normas para as lombas. O OSEC recomenda, por isso, a correcção dos defeitos estruturais da via e "medidas de redução da velocidade de tráfego nos locais mais perigosos" onde não seja possível avançar já com obras.
"A Auto-estradas do Atlântico explicou que a A8 foi construída em diversas épocas e que todos os projectos "tiveram de ser previamente aprovados pelas entidades fiscalizadoras". A empresa garante que o troço inicial, Loures-Torres Vedras, "cumpre todas as normas aplicáveis em termos de perfil exigido para as auto-estradas". O traçado resulta da orografia e as obras em curso entre Loures e a Venda do Pinheiro "irão nalguns casos corrigir o eixo da auto-estrada". No entanto, segundo a empresa, "essas correcções serão praticamente imperceptíveis aos condutores" e com o alargamento, apesar de condicionado pelo atravessamento de zonas urbanas, o traçado "parecerá mais amigável". Os sublanços com maior número de utilizadores situam-se na proximidade de Lisboa". L.F.S.

1 comentário:

A8-e ainda pagamos disse...

Viva.
A causa do facebook "Autoestrada A8-atentado á segurança e ainda pagamos" conta neste momento com 8.200 aderentes.
Agradecemos divulgação da causa... e das suas causas.
Abraço



"http://www.causes.com/causes/534800-autoestrada-a8-atentado-seguran-a-e-ainda-pagamos