segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Uma recensão crítica de uma obra fundamental: O Convento da Graça de Torres Vedras de Paula Silva.

Através de uma amizade recente no facebook, tive acesso a uma interessante recensão crítica à obra de Paula Silva sobre o Convento da Graça de Torres Vedras. Pelo interesse da mesma, da autoria de Jorge Gonçalves Guimarães, aqui a transcrevo:


SILVA, Paula Correia da, O Convento da Graça de Torres Vedras. A comunidade eremítica e o património. Torres Vedras: Câmara Municipal/Livro do Dia, 2007 ¬ 172 pp.

recensão por Jorge Gonçalves Guimarães

"Em Portugal, após a extinção das ordens religiosas, em 1834, só no ano de 1973 se assistiria ao regresso dos Agostinhos. Um retorno demorado e com fraca expressão que, de alguma forma, poderá esclarecer a pouca atenção que a historiografia portuguesa têm dedicado ao estudo desta ordem religiosa que contou entre os seus membros com figuras tão referencialmente importantes como Frei Gaspar do Casal e Frei João Soares, ambos participantes no Concílio de Trento, Frei Aleixo de Meneses, Arcebispo de Goa e de Braga, chegando mesmo a ser vice-rei de Portugal, Frei Sebastião Toscano, autor da célebre Mística Teologia, Frei Tomé de Jesus, confessor de D. Sebastião, que escreveu os não menos conhecidos Trabalhos de Jesus, ou o Beato Gonçalo de Lagos, personagem em torno da qual se organizam elementos fundamentais das identidades locais de Lagos e Torres Vedras.

"Este inaugural e promissor trabalho de Paula Correia da Silva - cuja publicação os interessados e estudiosos não podem deixar de saudar com especial entusiasmo, não só pelo valoroso conteúdo no que diz respeito à história daquela ordem religiosa, como também, particularmente, pelo preenchimento de uma lacuna no magro universo dos estudos relativos do património religioso edificado da actual cidade da Estremadura oestina portuguesa ¬ assume especial interesse se tivermos em conta que no século XVI o convento em questão chegou a ser, no que pode ser designado como hierarquia das casas conventuais, o sexto da Província Portuguesa. Se outro motivo faltasse, bastaria ainda recordar que o Convento da Graça, em Torres Vedras, foi residência dos já citados Frei Aleixo de Meneses, entre 1588 e 1590, altura em que no exercício do seu priorado deu significativo impulso aos trabalhos de construção, e de Frei Gonçalo de Lagos, um religioso medieval cuja fama de santidade tardiamente vazada em sucessivos textos hagiográficos mereceria, já no século XVIII, a sua beatificação.

"A tudo isto soma-se a valorização - numa altura em que se nos afiguram como cada vez mais importantes o (re)despertar dos sentimentos de pertença a um espaço e a consolidação das identidades regionais - de um importantíssimo património religioso local.

"Centremos finalmente a atenção na obra de Paula Correia da Silva, um trabalho difícil porquanto - como será certamente consabido por todos quantos se dedicam ao estudo da história desta ordem religiosa - para o caso da Província de Portugal dos Eremitas de Santo Agostinho a documentação que sobreviveu às vicissitudes do tempo e da história, além de dispersa por diversos arquivos, não é abundante, situação que, neste trabalho esclarece um menor grau de desenvolvimento para o período anterior ao século XVIII, mas que de forma alguma diminui o seu interesse e importância. Com efeito, apoiada em abundante bibliografia e numa multiplicidade de fontes documentais, algumas das quais, com meticuloso critério de selecção, são transcritas no final do volume, a autora, ao longo de dez capítulos, cuja apresentação exaustiva não cumpre fazer neste espaço, apresenta, numa economia textual cuidadosamente organizada, dois grandes temários. O primeiro, correspondendo aos três primeiros capítulos, desenvolve noções fundamentais em torno da espiritualidade agostiniana e apresenta uma notável síntese história da ordem em Portugal desde a Idade Média. Num segundo andamento, já centrado no convento, frequenta-se uma qualificada e abrangente investigação que do arquitectónico ao económico, do biográfico ao cultural, transforma este interessante livro numa obra de consulta obrigatória.

"A encerrar, embora não menos importante, uma justíssima nota de louvor para a Câmara Municipal de Torres Vedras que nos últimos anos, ininterruptamente, tem vindo a editar valorosos estudos cujo interesse ultrapassa as fronteiras do local".

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