quinta-feira, 31 de maio de 2012

A VIDA TORRIENSE NOS FINAIS DO SÉCULO XIX, nos caracteres da Imprensa Local (1885-1890) - 5



Maio de 1885

As vinhas e o caminho-de-ferro continuavam a ser os principais motivos noticiosos deste mês.
Como curiosidade registe-se parte de uma carta de António Batalha Reis sobre o vinho torriense: “(...) Os vinhos de Torres Vedras, conforme o tratamento que lhes fazem, têem tanta facilidade em se converterem em bom Bordéus, como em fino Borgonha.
“Esta dupla disposição, que não se encontra em região nenhuma do nosso paíz, fora da região torreense; conservará sempre as vinhas de Tones Vedras, uma fama, que lhes garantirá uma procura certa, e um conceito vantajoso e seguro devido ao seu merecimento real”.

Por sua vez, os trabalhos no caminho-de-ferro revelavam dramaticamente as condições de vida dos operários que aí trabalhavam, as quia provocaram mesmo um motim: “Na terça-feira à noite num magote de operários da via férrea, que andavam sob as ordens do Sr. Martins [ou antes, Marty], engenheiro-empreiteiro francês, morador na quinta das Fontainhas, subúrbios desta villa, queixando-se de que não eram pagos conforme o ajuste, e que o mesmo empreiteiro lhes recusava os pagamentos, correram, noite fechada, àquela casa de habitação, e assaltaram-na com grandes berratas sediciosas. Uma grande parte das vidraças foi feita em pedaços; e o empreiteiro fugiu por uma porta das traseiras da casa”. Mas o mesmo jornal, revelando um espantoso sentido de compreensão pelos conflitos sociais, concluía que “os operários têm tido bastante rasão de queixa à pontualidade de pagamento; e se o caso assim continua, queira Deus que não tenhamos a lamentar algum infausto sucesso”.

É também deste mês a primeira notícia acerca da existência em Torres Vedras de um fotógrafo profissional. Tratava-se de Guilio Zanetta “habil photographo italiano, que , tenciona demorar-se alguns mezes nesta villa.
“O “atelier” está sendo construído no largo de S. Tiago n.° 22, local muito apropriado, Central e bem disposto”.

O Verão aproximava-se e a esse facto não seria de estranhar os preparativos da “Sociedade lyrica 24 de Julho” tendentes à sua estreia pública programada para o coreto do largo da Graça no dia 24 de Julho. Dirigia os ensaios o Sr. Costa Pereira.

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