Dália e Joseph Sammer são dois nomes conhecidos em Torres
Vedras como professores de ginástica que muito contribuíram para revolucionar
essa disciplina na “Física de Torres”.
Joseph Sammer faleceu há alguns anos e a professora Dália
Sammer continua a cruzar-se connosco nas ruas de Torres Vedras.
O que talvez poucos saibam é que, no passado, ambos
estiveram ligados à primeira representação portuguesa feminina nos Jogos
Olímpicos, mais em concreto nos de Helsínquia em 1952.
A história dessa participação é contada na última edição da
revista Visão História, dedicada à presença de portugueses nos jogos olímpicos.
Rosa Ruela é a autora desse artigo onde se conta a história
dessa presença e de Dália Sammer, aliás, Dália Cunha.
Transcrevemos em baixo a parte do artigo que se refere
àquela torriense de adopção:
“HELSÍNQUIA - ÁS
PIONEIRAS
Por Rosa Ruela
In Visão História de Julho de 2012
“A primeira representação feminina nacional viajou para
Helsínquia em 1952, numa altura em que a Mocidade Portuguesa defendia que o
lugar da mulher era em casa, a coser meias.
“Há quase 80 anos havia um baloiço numas águas furtadas da
Rua Garrett, em Lisboa. Além do baloiço que ameaçava sair pela janela da
mansarda, Hélder Cunha também lá montara uma barra fixa de metal cromado, boa
para elevações, e um poste lisinho. No topo do poste, o dono e senhor de uma
casa de medalhas e condecorações da Baixa, que se orgulhava de ser o fornecedor
da rainha Juliana da Holanda, punha dois tostões e desafiava as filhas, uma com
6 anos e outra com 7, a alcançarem-nos a pulso. Dália e Natália achavam graça a
amarinhar por ali acima. Sobretudo Dália, a mais nova. «Eu alinhava em tudo.
Nunca tinha medo, era muito chalada.»
“O pai dava o exemplo. A par da direção da fábrica, onde
chegou a dar trabalho - e bicicletas - a quatro dezenas de operários, Hélder
Cunha era um desportista fanático que nadava, jogava râguebi, fazia atletismo e
tiro ao alvo. Em novo, fora a pé do Porto a Paris, com uns amigos. Já pai de
família, todos os fim de semana organizava passeios com os empregados, a mulher
e as filhas (um dos preferidos levava-os a pedalar até ao Portinho da Arrábida)
e não resistia a uma pega de caras.
“Mais do que Natália, que sempre a secundou, Dália tinha a
propensão para os exercícios físicos na massa do sangue. Depois de limpar o
sarampo aos outros meninos numa primeira corrida de sacos no Jardim Zoológico,
tinha 9 anos quando se iniciou nas competições com uma prova de tiro ao alvo e
rapidamente estava a ganhar medalhas no atletismo. Corria, lançava o peso,
nadava, fazia equitação, toureava a pé e a cavalo. A patinagem era uma paixão;
no intervalo do liceu ia até ao rinque do Ateneu Comercial de Lisboa, nas
Portas de Santo Antão, saltar ao eixo de patins. Mas seria a ginástica a
tomá-la conhecida, com direito a entrar na coleção de livrinhos ídolos do
Desporto, ao lado de Matateu ou de Travaços. Quando ela conta, parece fácil.
“COMO NO CIRCO
“Quarenta anos após a estreia dos portugueses nos Jogos
Olímpicos, Dália Cunha encabeçaria a primeira equipa feminina, com a mana
Natália e Lurdes Amorim, em Helsínquia, em 1952. Iriam passar mais 32 anos até
uma atleta lusa levar para casa uma medalha (Rosa Mota ganharia o bronze na
maratona, prova em que as mulheres se estrearam exatamente nesse ano de 1984,
em Los Angeles), mas as três mostraram que era possível não fazer má figura,
mesmo quando o desporto nacional se revelava ainda incipiente.
«As outras [ginastas] já faziam [os exercícios] há uma data
de anos, levavam pianista, massagista, maquilhadora...» Nos balneários, Dália
causava sensação com o seu cabelo muito escuro e comprido e a pele bronzeada
pela viagem de barco.
“Nos seis meses anteriores, Joseph Sammer, um alemão da
Baviera que trocara Veneza pelo Ginásio Clube Português, na altura na Rua Serpa
Pinto, no Chiado, treinava sem piedade as oito melhores raparigas que
selecionara na aula de ginástica educativa. Dália já tivera uma professora
alemã, Frieda Waschmann, no Ateneu, com quem fizera paralelas simétricas (dos
homens), exercícios de acrobática e saltos de mesa alemã (uma mesa longa, com
trampolim de molas), mas nada a preparara para a dureza daqueles dias nem para
o aparente mau feitio do novo mestre.
“Sammer tinha mais
nove anos do que ela, o cabelo muito loiro, um corpo de deus grego e começara
mal ao gritar-lhe (em italiano) «Stafermal», durante um pino. «Fiquei furiosa
porque achei que estava a chamar-me nomes», conta. «Só mais tarde percebi que
ele queria que eu estivesse quieta e até acabámos por casar, veja lá.»
“Ex-dama de honor num concurso de Miss Portugal, em poucos
dias o «estafermo» estava a cumprir as ordens do mestre sem hesitações. No
Ginásio Clube já lhe conheciam a fama. Era das que faziam Voos à Léotard,
passando de um trapézio para outro, como no circo, e nem sempre com rede. «Uma
destravada», reconhece. «Só me faltou saltar de paraquedas.»
“Há dez anos, ainda acendia a luz do patamar com o pé, por
graça, e imaginamos que na ignorância dos seus vizinhos do prédio para onde foi
morar, em Torres Vedras, após mais de uma década em Moçambique. Hoje, aos 83
anos, não perde uns Jogos Olímpicos na televisão, a que assiste assumidamente
de boca aberta. «Fico banzada com o que as raparigas fazem. São fantásticas.»
“(…)”
1 comentário:
Boa noite
Tive a sorte, como muitos outros, de ser aluno do casal Sammer no Lobito Sports Club, na bela cidade do LOBITO EM ANGOLA, que eu saiba o casal nem de férias foi a Moçambique! Agradecia que corrigissem o texto pois está muito bom e assim ficava correcto !
Jorge Caravana
jorge.caravana@gmail.com
Enviar um comentário