O Verão é tempo de festejos populares, alguns de origem imemorável.
De entre os muitos realizados na região, merece destaque a Festa de Nª Sª da Ajuda, que tem lugar no Ramalhal todos os anos, a partir do segundo fim-de-semana de Setembro.
Realiza-se este ano de 12 até 18 de Setembro e distingue-se das outras festas pela decoração do seu recinto com dois arcos enramados em murta, atingindo uma altura que varia entre os 20 e os 30 metros.
Não se conhece, em rigor, desde quando o fabrico destes arcos se associou à festa. Contudo, todas as gerações vivas do Ramalhal sempre se recordam da festa incluir aquele elemento decorativo.
Uma das hipóteses avançadas é a de esse costume ter sido incluído na festa por Augusto Maria Franco, que o teria trazido do Norte do País. Pelo menos é recordado como o homem que durante anos dirigiu a construção dos arcos e como o autor dos desenhos que ainda hoje servem de modelo aos motivos decorativos usados. Na década de 90 era um seu sobrinho, Eduardo Franco que dirigia a construção dos arcos.
A murta é uma planta pobre, sem qualquer utilidade, mas de aroma agradável e de um verde vivo. Antigamente existia com muita abundância na região, mas com o passar dos anos começou a rarear, devido ao uso das terras, onde aquela ramagem se dava, para a construção civil e para a agricultura.
Nos anos 90 a maior parte da murta era colhida em Montejunto, onde existia ainda em abundância.
A apanha da murta obedecia então a um certo ritual, conhecido do povo do Ramalhal: às 5 horas da madrugada da 4ª feira anterior ao início dos festejos, lançavam-se foguetes que avisavam os colaboradores da festa para se juntarem numa camioneta que ao levava a Montejunto para a apanha e transporte da murta, que assim mantinha a sua frescura até ao final dos festejos.
Os arcos têm uma estrutura em madeira de pinho, desmontável e guardada no final das festas, voltando a ser usada nos anos seguintes.
Nessa estrutura montam-se os painéis decorativos com temas que variam de ano para ano, ligados a motivos geométricos, outras vezes a motivos regionais.
Estes painéis são feitos em vime e rebentos de eucaliptos, atados com arames de ligação, só depois enramados com murta. A técnica de enramar era feita pelos mais idosos, com prática de empar vinhas.
Concluída a decoração os arcos só serão levantados à hora da abertura oficial da festa e é um dos seus momentos mais espectaculares.
Este ano o “levantamento” terá lugar neste Sábado, dia 12, pelas 17 horas.
Aproximadamente há 50 anos atrás os arcos eram levantados à força muscular de homens auxiliados por juntas de bois, auxiliados com o uso de cordas largas.
Actualmente estes são levantados com auxílio de tractores e cordas mais resistentes.
Como todas as festas tradicionais, esta também desempenha uma importante função social. Na época da festa caiam-se casas, limpam-se ruas, reencontram-se famílias e amigos. Havia famílias que ao longo de todo o ano só jantavam fora de casa por ocasião desta festa.
Todos os anos os lucros obtidos com a festa revertem a favor de uma obra social.
A festa do Ramalhal tem sabido renovar-se, integrando na sua comissão de festas jovens da localidade, garantindo deste modo a continuidade de uma das festas mais originais do concelho de Torres Vedras.
(este texto baseou-se num trabalho nosso, publicado na revista “Zona Oeste”, nº 1, Outubro de 1990, e as informações foram então recolhidas oralmente junto ao coordenador da comissão de festas desse ano, o sr. António Joaquim Espírito Santo. As fotografias foram tiradas em 1992).
1 comentário:
Desconhecia estas festas dos arcos no Ramalhal.
Uma tradição bem curiosa.
Deve ser engraçado participar no ritual da apanha da murta no Montejunto.
Fernando Sarzedas
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