terça-feira, 12 de outubro de 2010

Os homens das posições fortificadas de Torres Vedras

Durante a 3ª Invasão Francesa (1810-1811), mais concretamente entre Outubro de 1810 e Março de 1811,  o território de Torres Vedras foi ocupado por vários regimentos de milícias para guarneceram as posições fortificadas das Linhas de Torres Vedras. À data da sua chegada existiam 12 fortes construídos (Forte de Olheiros, Forte de S. Vicente, Forte da Forca, Forte da Ordasqueira, Castelo, reduto de S. João, Forte do Grilo, Forte da Alquiteira, Forte de S. Pedro da Cadeira, Forte do Paço, Forte das Gentias e a bateria  da foz do Sizandro), guarnecidos pelos Regimentos de Milícias de Alcácer do Sal, Regimento de Milícias de Setúbal,  Regimento de Milícias de Voluntários a Pé de Lisboa Ocidental , Regimento de Milícias de Voluntários a Pé de Lisboa Oriental e uma companhia do Regimento de Milícias de Torres Vedras (as restantes companhias deste regimento guarneciam outras posições das Linhas de Torres Vedras).

Sobre a localização exacta destes regimentos ao longo das doze posições, apenas se sabe que o Regimento de Milícias de Voluntários Reais a Pé de Lisboa Ocidental  guarneceu o forte de S. Vicente. Este regimento, organizado por voluntários de Lisboa em 1809, era comandado pelo coronel José Sebastião Pereira Coutinho e composto por 969 elementos, sendo 661 praças. Por uma carta do comandante do regimento de 24 de Outubro de 1810, verifica-se que este corpo militar estava muito mal armado, na medida em que se pediu 720 armas ao Secretário da Guerra para substituir as existentes, muito danificadas e incapazes para o serviço militar. Nos meses de Outubro e Novembro os soldados voluntários permaneceram acampados no interior do forte, mas a partir de Dezembro até 22 de Março passaram a ficar aquartelados nas casas da então vila de Torres Vedras e sítio do Paúl, nas proximidades do forte.

Para além dos regimentos de milícias, a guarnição dos fortes compunha-se por artilheiros. Os artilheiros tinham duas origens distintas: uns eram artilheiros de linha, ou seja, provenientes das forças regulares, nomeadamente do Regimento de Artilharia n.º 1 e Regimento de Artilharia n.º 2. Com a função de os auxiliar nas manobras e operações da artilharia, o Comandante em Chefe do Exército Português, general Beresford ordenou a criação dos artilheiros ordenanças, compostos por elementos retirados das ordenanças existentes em cada capitania mór. Recebiam treino e formação dos artilheiros de linha  para o apoio nas operações das peças de fogo. Os artilheiros ordenanças (ou milicianos) estavam organizados em 24 companhias que cobriam as duas linhas de defesa. Cada companhia era formada por 1 capitão, 1 alferes, 2 sargentos, 4 cabos e 50 soldados que recebiam por dia 1 pão e 40 réis de soldo. No distrito de Torres Vedras existiam 10 companhias, comandadas a partir de 10 de Setembro de 1810 pelo major de engenharia Lourenço Homem da Cunha de Eça. Após a fim da Guerra Peninsular e o subsequente desartilhamento das Linhas de Torres Vedras a partir de 1818, as companhias de artilheiros ordenanças continuaram a existir com a função de vigilância e conservação das posições fortificadas até ao período das Guerras Liberais (1832-1834).


Fontes:

Arquivo Histórico Militar (AHM)

AHM- DIV-1-14-156-19
AHM-DIV-1-14-354-03
AHM-DIV-1-14-096-025
AHM-DIV-1-14-097-02
AHM-DIV-1-14-096-095




1 comentário:

Venerando António Aspra de Matos disse...

Bem vindo a este espaço, caro Rui.
Excelente artigo, com informações importante para perceber o impacto da Guerra Peninsular na região.
Aguardo o próximo estudo.
Venerando