quinta-feira, 12 de abril de 2012

A Vida Torriense nos Finais do Século XIX, nos caracteres da imprensa local (1885-1890) - 3


Março de 1885
"Os Trabalhos Agrícolas estão muito adiantados. As cepas rebentam já com muita força, o que obriga os lavradores a não se descuidarem".
Os dias corriam ao ritmo dos trabalhos agrícolas. Muito mais que hoje a economia da região dependia em grande parte dessa actividade, principalmente dos extensos vinhedos que cobriam a região. Companhias francesas, principalmente da região de Bordéus, vinham aqui comprar grandes quantidades de vinho, que era vendido por “48 a 50$000 réis o tonel de 918 litros”.
Os proprietários da região descobriam rapidamente a força da imprensa regional como porta-voz das suas preocupações. Assim, o “Jornal de Torres Vedras” fazia eco das queixas de alguns deles contra os responsáveis pela expropriação de terras para a construção do caminho de ferro:
"Há quintas e outras fazendas já dannificadas pelas medições, para verificar, as quaes abriram fundos regos e mutilaram magníficas árvores de fructo, e onde não se fizeram ainda podas, nem outros trabalhos agrícolas, resultando de tudo isto enormes perdas de produção.
"Sabemos não serem exaggeradas as exigências dos proprietários dos terrenos em questão, e também não ignorâmos que os offerecimentos feitos depreciam muito o seu valor, provindo d’aqui um desacordo que, no interesse de todos desejamos termine brevemente».
Enquanto não chegava à villa o desejado caminho-de-ferro, outras preocupações da época seriam o estado deplorável em que se encontravam as ruas da vila e o transporte do correio.
Numa carta enviada pelo município local ao Governo Central, e transcrita pelo jornal alertava-se para a situação das ruas da vila:
“A estrada real nº 61 de Lisboa a Peniche encontra-se na parte que atravessa esta villa por tal forma deteriorada que é, de inadiável necessidade mandar proceder à sua reparação.
“A referida parte da estrada constitue hoje a principal rua d’esta villa, e é extraordinariamente concorrida por peões e vehículos de toda a espécie, mas no estado a que chegou dá péssimo transito (...)”.
Esta situação não impedia que se registassem queixas como esta:
“Pedimos a quem compete que dê as necessárias providências para evitar-se que os indivíduos que andam a cavallo por essas ruas não mettam as cavalgaduras à desfilada, como temos presenceado”.
O mau estado dos caminhos seria igualmente responsável pelo facto das “malas do correio d’esta villa, conduzidas em cavalgadura e alforge" chegarem “quasi sempre em péssimo estado. A correspondência umas vezes vem rasgada, outras vezes húmida e sempre amachucada".
E foi assim, sem grandes novidades para os habitantes da pacata villa, que decorreu mais um mês de há cem anos.

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