Março de 1885
"Os Trabalhos Agrícolas estão muito adiantados. As cepas
rebentam já com muita força, o que obriga os lavradores a não se descuidarem".
Os dias corriam ao ritmo dos trabalhos agrícolas. Muito mais
que hoje a economia da região dependia em grande parte dessa actividade, principalmente
dos extensos vinhedos que cobriam a região. Companhias francesas, principalmente da região de Bordéus, vinham aqui
comprar grandes quantidades de vinho, que era vendido por “48 a 50$000 réis o
tonel de 918 litros”.
Os proprietários da região descobriam rapidamente a força da
imprensa regional como porta-voz das suas preocupações. Assim, o “Jornal de
Torres Vedras” fazia eco das queixas de alguns deles contra os responsáveis
pela expropriação de terras para a construção do caminho de ferro:
"Há quintas e outras fazendas já dannificadas pelas
medições, para verificar, as quaes abriram fundos regos e mutilaram magníficas
árvores de fructo, e onde não se fizeram ainda podas, nem outros trabalhos
agrícolas, resultando de tudo isto enormes perdas de produção.
"Sabemos não serem exaggeradas as exigências dos
proprietários dos terrenos em questão, e também não ignorâmos que os offerecimentos
feitos depreciam muito o seu valor, provindo d’aqui um desacordo que, no
interesse de todos desejamos termine brevemente».
Enquanto não chegava à villa o desejado caminho-de-ferro,
outras preocupações da época seriam o estado deplorável em que se encontravam
as ruas da vila e o transporte do correio.
Numa carta enviada pelo município local ao Governo Central,
e transcrita pelo jornal alertava-se para a situação das ruas da vila:
“A estrada real nº 61 de Lisboa a Peniche encontra-se na
parte que atravessa esta villa por tal forma deteriorada que é, de inadiável
necessidade mandar proceder à sua reparação.
“A referida parte da estrada constitue hoje a principal rua
d’esta villa, e é extraordinariamente concorrida por peões e vehículos de toda
a espécie, mas no estado a que chegou dá péssimo transito (...)”.
Esta situação não impedia que se registassem queixas como
esta:
“Pedimos a quem compete que dê as necessárias providências
para evitar-se que os indivíduos que andam a cavallo por essas ruas não mettam
as cavalgaduras à desfilada, como temos presenceado”.
O mau estado dos caminhos seria igualmente responsável pelo
facto das “malas do correio d’esta villa, conduzidas em cavalgadura e alforge"
chegarem “quasi sempre em péssimo estado. A correspondência umas vezes vem
rasgada, outras vezes húmida e sempre amachucada".
E foi assim, sem grandes novidades para os habitantes da
pacata villa, que decorreu mais um mês de há cem anos.
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