quinta-feira, 28 de julho de 2011

SERRA DOSOCORRO - A SERRA MÁGICA - 1 -



(Gravura da autoria de Henriques Nogueira para a revista Panorama)

É este local eixo da região Oeste, limitando três dos seus concelhos: Sobral de Monte Agraço. Mafra e Torres Vedras.

Aí existe uma modesta ermida, centro de romagem anual em 5 de Agosto e ao local estão ligadas muitas das lendas da região.

Uma delas conta a história de uma princesa moura que, por muito gostar deste sítio, pediu a um mágico para a encantar no sítio da Serra do Socorro, juntamente com o seu ouro, jóias e pedrarias. Diz ainda a lenda que quem sair de uma das sete fontes da serra à meia-noite do dia de S. João e correr todas as fontes, quebrará o encanto da bela princesa, casará com ela e ficará com as suas riquezas.

Quanto à origem da romagem anual, uma outra lenda conta-nos que duas crianças, ao pastarem aí o seu rebanho, teriam sido atacadas por um lobo. Ao pedirem auxilio, gritando “Minha Nossa Senhora Socorrei-nos”, apareceu-lhes uma imagem de Nossa Senhora, provocando o desaparecimento do lobo. Em homenagem a esse milagre as pessoas ocorrem ali todos os anos.

Já para explicar a construção da Ermida, situada na parte da serra pertencente à freguesia de Enxara do Bispo, hoje integrada no concelho de Mafra, existem pelo menos duas lendas diferentes: numa conta-se que, existindo um vulcão naquele sítio, o povo prometeu edificar uma capela em louvor de Nossa Senhora do Socorro se o vulcão nada destruísse. Outra versão conta que um pescador, apanhado por uma violenta tempestade, gritando “Socorro, Socorro Virgem Santíssima”, terá sido salvo por Esta que lhe surgiu do lado da Serra. Em agradecimento o pescador mandou erigir a Ermida nessa Serra.

Alguns dos elementos das lendas revelam um fundo de verdade: A formação basáltica da serra prova a sua origem vulcânica; há notícia de em 1752 se ter feito uma prospecção na serra em busca de minas de ouro e nela terem sido encontrados alguns grãos de ouro, o que poderá estar relacionado com a lenda das riquezas encantadas com a princesa moura, talvez existindo aí uma mina de origem romana. Quanto à lenda da fala dos pastores, é verdade que ainda até há pouco tempo a pastorícia era a principal fonte de rendimento económico na encosta da Serra, por onde, como testemunhei há alguns anos, se passeava um rebanho de vacas selvagens, de posse comunitária. A existência de lobos na região também está documentada até ao século XVIII. Quanto à importância da serra para os pescadores da região, a forma como a serra se destaca deve ter uma grande importância para a orientação dos pescadores no alto mar, muito mais importante numa altura em que não existiam os meios tecnológicos de orientação que existem nos nossos dias.

Aliás, a importância da Serra, que se avista num círculo de vários quilómetros, fez dela o principal centro de comunicações das Linhas de Torres, aí se tendo construído o célebre telégrafo de bolas.

Da ermida é tradição ter sido mesquita moura, mas a actual capela revela uma construção mais recente, de características gótico-manuelinas, com alterações posteriores.

A devoção dos crentes da região à Nossa Senhora do Socorro e à sua ermida prova-se pela quantidade de imagens em cera e pelos muitos ex-votos que enchiam o interior da mesma. Infelizmente, há poucos anos, um incêndio destruiu o interior da capela e todo o seu valioso espólio de cultura popular.

Junto à ermida estão algumas casas antigas, outras mais recentes, que serviam para hospedar os romeiros.

Da sua altura de 395 metros vislumbra-se uma bela e ampla paisagem que, em dias de grande visibilidade, aqueles mais ventosos ou que se seguem a um dia de chuva, permitem ver, num simples relance do olhar, sem sair do mesmo sítio, o Oceano Atlântico onde se vislumbram as Berlengas e a costa de Peniche, a cidade de Torres Vedras, a serra de Montejunto, um grande troço da A8, as cúpulas do Convento de Mafra e a Serra de Sintra.

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