quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Documentos Para a História de Torres Vedras - Cadeira de braçoa do Varatojo


Apresentamos hoje o documento/relatório publicado pelo Museu de Arte Antiga de Lisboa
 sobre a célebre "Cadeira de Braços" que pertenceu ao Convento do Varatojo, e que se encontra actualmente nas instalações desse museu:


"CADEIRA DE BRAÇOS

Cadeira de braços (Estadela)
Portugal, 2ª metade do séculoXV
Carvalho
A 180 x L 68 x P 52,5 cm

Convento do Varatojo, 1913
MNAA inv. 51 Mov

Piso 1, sala 36
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"Cadeira de estado, ou estadela, que terá sido usada por D. Afonso V (1438-81) quando se recolhia no Convento do Varatojo que fundou em 1470.
É uma peça de grande raridade, não só por ser sobrevivente de uma época em que os móveis eram escassos, como pela carga simbólica que a sua proveniência comporta.
A rigidez ortogonal da construção é compensada pela delicadeza da decoração entalhada, que estruturada no arco ogival remete para a arquitectura gótica.
Este tipo de móvel de assento é, ainda, frequentemente revestido de ricos têxteis, por vezes formando dossel, reforçando pela cor e brilho do ouro o seu aparato e distinção".
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"Esta cadeira, proveniente do convento franciscano de Santo António do Varatojo (Torres Vedras), fundado em 1470 pelo rei D. Afonso V (1438-1481), constitui-se como um dos mais antigos espécimes de mobiliário nacional.
Vários testemunhos associam este móvel ao monarca português. De facto, nos textos dos cronistas da Ordem, a alusão à existência no convento da cadeira de D. Afonso V é recorrente e a sua conservação por sucessivas gerações de frades deverá ser entendida como preservação da fundação régia do convento, pois mais do que um simples objecto pessoal, a “cadeira de estado” revestia-se de uma forte carga simbólica associada ao poder real.
A análise estilística e formal do exemplar permite enquadrar a execução deste móvel de assento na produção europeia do final do século XV. Uma observação atenta de peças congéneres e, sobretudo, a análise de testemunhos visuais de interiores norte europeus que nos são dados quer pela pintura, quer pela iluminura de produção francesa e flamenga, permite constatar estarmos perante um modelo em tudo semelhante. Assim, há que questionar a sua eventual produção em território nacional, eventualmente por artífices estrangeiros, ou a sua produção além-Pirinéus, o que só poderá vir a ser comprovado por documentos.
Diversos desenhos e fotografias antigos da cadeira permitem recuperar as diversas intervenções de restauro do móvel desde a época em que ainda se conservava no convento até à intervenção levada a cabo pelo Conselho de Arte e Arqueologia, antes da sua definitiva incorporação no Museu Nacional de Arte Antiga, em 1913. Em 1977, nova intervenção rectificou esse restauro, eliminando o que então lhe fora acrescentado de acordo com um critério revivalista, responsável pela introdução de elementos não originais".

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