(Fotografia de Teresa Lamy)
A Lusa já tinha dado a notícia no passado dia 12 de Fevereiro: “Um garrafão de vinho em ferro forjado com cinco metros de altura” ía “receber os visitantes do Museu Colecção Berardo”, onde foi inaugurada no passado dia 1 de Março uma grande exposição da artista plástica Joana Vasconcelos.
Já então a mesma agência anunciava que a “peça, intitulada "Sr. Vinho",” tinha sido adquirida pela Câmara Municipal de Torres Vedras para instalar na cidade” e ía “ser mostrada pela primeira vez ao público no Jardim das Oliveiras, no Centro Cultural de Belém, onde está situado o Museu Berardo”.
Dizia ainda a mesma notícia que, de “acordo com o atelier da artista, as grades de ferro que dão a forma ao garrafão possuem padrões de vedações e guardas de varandas tradicionais, enfatizando o papel social, económico e religioso do vinho na sociedade portuguesa”.
Infelizmente o ambiente político em que se vive não é muito propício ao investimento em arte, caindo-se facilmente na demagogia economicista.
E foi assim que esta questão, que devia ser entendida como um enriquecimento cultural, se tornou polémica. Eu próprio cai na esparrela de assinar uma petição contra a aquisição da obra, desconhecendo então a sua origem e a sua qualidade.
Digo-o agora que essa aquisição devia ser aplaudida por todos os torrienses, e, se não houver dinheiro para a mesma, então que se abra uma subscrição pública para a adquirir.
A obra, merece ser apreciada como deve ser, reproduzindo-se neste blogue as fotografias que sobre a mesma foram realizadas pela Teresa Lamy para melhor se aferir sobre a sua qualidade.
A cultura e a arte, que têm sido tão mal tratadas por políticos e economistas merecem todos os apoios, principalmente quando são de grande qualidade e estão relacionadas com a identidade de uma região.
(Fotografias de Teresa Lamy)
(Fotografia do Público)
Garrafão de Joana Vasconcelos divide opiniões em Torres Vedras
Por Ana Rita Faria
Câmara comprou escultura gigante para colocar no mercado municipal. Oposição contesta "despesa supérflua"
Desta vez não é um lustre feito com tampões higiénicos, nem um sapato gigante feito com tachos. É apenas um garrafão de vinho de cinco metros de altura, em ferro forjado, também da artista Joana Vasconcelos, mas nem por isso menos digno de causar polémica, pelo menos no círculo político de Torres Vedras. A oposição no executivo camarário está a contestar a compra por parte da autarquia da obra Senhor Vinho, de Joana Vasconcelos, dizendo tratar-se de uma "despesa supérflua" para o contexto de crise que o país atravessa.
"Não faz sentido gastar 300 mil euros numa obra de arte, num momento em que Portugal está em contenção de gastos, em que a própria câmara deve milhões a fornecedores e, sobretudo, quando há prioridades muito maiores no concelho em termos de melhoria da qualidade de vida das pessoas", disse ao PÚBLICO Paulo Bento, vereador e cabeça de lista à câmara pela coligação PSD/CDS-PP nas últimas eleições autárquicas.
A oposição vai levar o tema à próxima reunião de câmara, no dia 16, e exigir ao presidente da autarquia que revele o real valor da compra e qual a comparticipação dos mecenas. Em declarações ao jornal local Badaladas, o presidente da câmara, Carlos Miguel, disse que o valor de mercado da peça era de 300 mil euros. Contudo, segundo o site das contratações públicas, a obra foi adquirida pela autarquia por 149 mil euros. O restante poderá ser agora pago por mecenas (entre os quais deverão estar o Santan- der Totta e a Fundação EDP).
A oposição critica ainda o facto de a compra da peça, que estava encomendada desde Janeiro e que será colocada na praça do mercado municipal, não ter sido discutida com os restantes vereadores. Porém, o valor da aquisição permitia que a contratação fosse efectuada por ajuste directo, sem deliberação do executivo, justificou o presidente à Lusa".
in Público, 10 de Março de 2010
3 comentários:
Acho absolutamente incrível que a CM-Torres Vedras possa adquirir esta obra, seja pelo valor que for! É um atentado político, social e cultural aos Munícipes, tendo em conta que o valor artístico e estético da obra não se coaduna com a capacidade intelectual da artista. É preciso compreender que os mecanismos de promoção de que a artista dispõe a elevam para uma categoria muito discutível, mas que o mercado dos especuladores agradece! Apela-se ao bom senso do executivo camarário, para tão inusitada despesa pública. Uma política cultural efectiva precisa-se e não será com estes actos que se irá realizar! bem hajam!
Abra-se uma subscrição pública pra ajudar quem vive da vinha e ainda se esforça por produzir no nosso concelho. Agora para obras de arte que só são adquiridas porque são do gosto de um autarca? Isto ñ é nenhuma ditadura! Por favor!
Caro Venerando,
devo lamentar, de facto, a compra desta peça. Porque pagar 300 mil euros por uma escultura não é um investimento em arte, é um investimento em especulação artística. E quando percebemos que esse valor ultrapassa, por exemplo, o orçamento do Teatro Cine e de outras entidades produtoras na área da cultura, devemos pensar que princípios regem este tipo de investimentos. Infelizmente a opção da CMTV tem sido a de investir em "Cultura" através de grandes somas destinadas à compra ou à execução de obras de arte de grande valor. É uma política do show-off, porque não tem ligação com um investimento concreto em educação artística no nosso concelho.
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