Agora que termina o Verão, Santa Cruz volta a vier a pacatez das pequenas praias, só alterada aos fins-de-semana.
Desde meados da década de 60 que a especulação imobiliária dessa pacata aldeia do litoral do concelho começou a alterar, de modo violento, a sua fisionomia tradicional.
Santa Cruz sofreu de um mal que, infelizmente, foi um mal nacional, que desfigurou todo o litoral português, de norte a sul, escapando apenas algumas zonas do Alentejo.
Foi o trágico efeito da chamada “litoralização” de Portugal que contribuiu para a desertificação do interior, com todos os custos sociais, culturais e económicos que são conhecidos.
Talvez pelo cansaço de remar contra a maré, muitos de nós vimos com bons olhos alguns “melhoramentos” recentes que foram feitos em Santa Cruz nos últimos anos. É que, cansados da destruição imparável das décadas de 80 e 90 do século passado, tudo o que viesse à rede era peixe. Não pensámos muito nos efeitos estéticos de alguns desses “melhoramentos”.
Pela proximidade, perdemos objectividade.
Por isso é importante ouvir alguém que, tendo vivido os verões da sua infância em Santa Cruz, tendo-se distanciado algum tempo desta localidade, ao regressar este verão tenha ficado chocada com o que viu.
É um pouco a história do “rei vai nu” que só alguém, objectivamente distante como a Fidélia Proença de Carvalho, está em condições de denunciar .
É uma opinião crítica, um desabafo, que, um pouco contra a corrente, nos obriga a reflectir sobre aquilo que até nos parecia “menos mau”.
Aqui fica essa opinião, sem dúvida polémica e frontal, como é apanágio da personalidade forte da Fidélia, a qual, esperemos, contribua para despertar consciências .
Agradeço à Fidélia por me ter autorizado transcrevê-la de um “desabafo” no facebook :
“Pois este ano estive em Sta. Cruz.
Irreconhecível.
Parece um simulacro da Fonte da Telha.
Esta gente não aprende... As varandinhas dos andares em vidro, lindo, o mais puro estilo Parque das Nações...
Mas esta gente ainda não percebeu que as arribas estão a cair e o clima só mesmo para quem não sabe nada e não sofre dos ossos?
Ainda assim é uma sorte ter um clima desgraçado. De contrário em vez da fonte da Telha era a Colina do Sol.
Mas quem é uma dita associação dos amigos de sta. Cruz? uma organização criminosa? Ou ter um paredão, vamos, assim a modos que um paredão junto ao areal chega? Contentam-se com meia gamela?
E as casinhas, casotas, maisons, condomínios. Ai que dor...
E já agora, o Antero não merecia uma maldade daquelas. Mas quem foi o escultor? Alguém domiciliado em Pinheiro da Cruz?
Mas o que se passa?
Está bem, a Azenha está engraçado, a recuperação está boa, mas e o resto? será que o Antero e o Jaime Batalha Reis não mereciam mais qualquer coisa? O João de Barros também não?
Percebe-se que o pobre chegou aos Açores e deu um tiro na cabeça. Sta. Cruz não é para depressivos.
Mas convenhamos, está tudo muito pindérico e piroso”.
(FIDÉLA PROENÇA DE CARVALHO, Setembro de 2010).
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