domingo, 12 de fevereiro de 2012

Reportagem do jornal Público sobre o Carnaval de Torres:

TORRES VEDRAS prepara-se para a folia e garante que só paga quem for brincar

Reportagem de Cláudia Sobral

Público de 11 de Fevereiro de 2012

"Sempre que é Carnaval, na Pastelaria Havaneza, em Torres Vedras, trabalha-se dia e noite. “Ficamos aí até às 6h, fechamos duas horas para ir tomar banho e voltamos”, conta a proprietária, Graça Sousa, por detrás do balcão. Com as ruas cheias de gente, montam-se bancas e os cafés alargam os horários para aproveitar a clientela. O Carnaval será o mesmo sem a tolerância de ponto? Ela acredita que sim: “As pessoas hão-de fazer qualquer coisa para poderem vir”.

"Mas mesmo que a afluência ao corso não diminua este ano e que os negócios não saiam prejudicados com a decisão de última hora do Governo, a não-existência de tolerância de ponto na terça-feira já deu origem a uma polémica.

"Mas a Câmara de Torres Vedras diz que tudo não passou de um “mal-entendido”. “Estamos longe de obrigar as pessoas [que precisam de se deslocar aos serviços públicos] a pagar para entrar”, garantiu o vereador responsável - pelo Carnaval, Sérgio Galvão.

Só paga quem for ao corso

"A confusão começou com um comunicado da Câmara de Torres Vedras em que, depois de criticar a decisão do Governo, o seu presidente, Carlos Miguel, explicava que, à semelhança do que acontece desde há 30 anos, o acesso do público às ruas de passagem do desfile estaria condicionado entre as 11h e as 19h. A entrada custa cinco euros. O problema é que no interior do recinto ficam o Centro de Emprego, o Tribunal do Trabalho e a Inspecção do Trabalho, que estarão a funcionar por não haver tolerância de ponto.

"Carlos Miguel anunciou como medida para minorar esta sobreposição de interesses o fecho do recinto duas horas depois do que é hábito, para que, até às 11h, as pessoas se pudessem deslocar aos serviços livremente. Depois surgiram o que a câmara classifica como suposições, fruto de interpretações do que tinha sido anunciado: quem quisesse entrar depois das 11h teria de pagar os cinco euros do bilhete.

"Já diversos juristas tinham opinado sobre isto quando a autarquia emitiu uma nota esclarecendo que essas situações “serão resolvidas à entrada”, onde vai ser feita uma “triagem sobre as reais necessidades de ingresso para acesso aos serviços no interior do corso”. A entrada no recinto será, por isso, gratuita para quem comprovar a necessidade de aceder aos serviços.

"No mesmo comunicado, câmara esclarece que os CTT estarão encerrados nesse dia e pede aos restantes serviços para não fazerem marcações de atendimento ao público para essa terça-feira, “tendo em conta que o ruído produzido pela realização do corso pão possibilitará as melhores condições de trabalho”.

Missa em dia de Carnaval

"0 presidente da câmara não estava ontem disponível, mas o vereador Sérgio Galvão explicou que quem se quiser dirigir aos serviços públicos nas ruas com acesso condicionado poderá entrar, mas acompanhado por um segurança. “Estamos ainda a equacionar a hipótese de criar um corredor de acesso aos serviços”, adiantou.

“A PSP estará disponível para mediar estas situações e conferir legitimidade a essas pessoas”, disse o comissário Paulo Flor, da Direcção Nacional da PSP, que desvaloriza a polémica. “Não é a primeira vez que é obrigatório o pagamento de uma taxa para entrar no espaço onde vai decorrer o corsa A novidade é o facto de não haver tolerância de ponto naquele dia”, afirma, acrescentando que a PSP não prevê que isso cause “grandes complicações”.

"Para Sérgio Lopes, secretário- geral da empresa municipal Promotorres, o problema levantado não fez sentido, porque “isto sempre aconteceu no Carnaval de Torres”. “Se tivermos missa no dia do Carnaval, as pessoas podem entrar livremente”, exemplifica, dizendo que não é difícil identificar casos de pessoas que se tentam aproveitar das excepções para entrar sem pagar.

"Quem não se incomodou com toda a polémica foram os moradores. Sentado num banco do Jardim da Graça, Joaquim Figueiredo conta que não paga porque vive numa das ruas onde passa o corso. Para aqueles dias em que faz da varanda camarote, apartamento cheio, tem direito à pulseira de livre acesso criada para moradores e comerciantes. “O resto da malta paga, mas, pedindo, eles também dão uma pulseira a mais.”

Sem comentários: