Data de 1895 a entrada do primeiro automóvel em Portugal, e não foi preciso esperar muito tempo para aparecer em Torres Vedras o primeiro agente de venda de automóveis, conforme se prova num anúncio publicado nas páginas do jornal "A Vinha de Torres Vedras" em 6 de Janeiro de 1898.
Inicialmente o êxito do automóvel foi limitado e temos de esperar por 1902 para encontrarmos a primeira referência comprovada à circulação de um automóvel nas ruas de Torres Vedras. Foi por ocasião da visita da rainha D. Amélia ao convento da Graça, a 12 de Maio desse ano, de passagem "em direcção à quinta das Lapas(...)em automóvel e (...)acompanhada pelos srs. conde de Tarouca e condes de Figueiró(...)"[1].
Só em finais da década de 10 é que o automóvel conheceu algum incremento neste concelho, levando a Câmara Municipal a iniciar, a partir de 1918, um registo de automóveis matriculados, oficialmente os primeiros existentes em Torres Vedras e dos quais registamos os 20 primeiros[2]:
Inicialmente o êxito do automóvel foi limitado e temos de esperar por 1902 para encontrarmos a primeira referência comprovada à circulação de um automóvel nas ruas de Torres Vedras. Foi por ocasião da visita da rainha D. Amélia ao convento da Graça, a 12 de Maio desse ano, de passagem "em direcção à quinta das Lapas(...)em automóvel e (...)acompanhada pelos srs. conde de Tarouca e condes de Figueiró(...)"[1].
Só em finais da década de 10 é que o automóvel conheceu algum incremento neste concelho, levando a Câmara Municipal a iniciar, a partir de 1918, um registo de automóveis matriculados, oficialmente os primeiros existentes em Torres Vedras e dos quais registamos os 20 primeiros[2]:
(Nº de ordem de matricula; Nº de Circulação; Ano, Mês e Dia do Registo; Nome do Proprietário e residência)
1 1660 1918 Abril 18 D. Vasco Martins Sequeira Q.ta Juncal
2 2393 1918 Julho 5 Vasco de Moura Borges Q.ta Paio Correia
3 943 1919 Julho 12 João Henriques dos Santos Torres Vedras
4 1390 1919 Julho 19 Gonzaga Limitada Q.ta Charneca
5 --- 1919 Agos. 2 José Augusto Lopes & C.ª Torres Vedras
6 2270 1919 Sete. 2 José Duarte Capote Torres Vedras
7 2705 1919 Out. 10 José Augusto Lopes Jr. Torres Vedras
8 --- 1919 Dez. 26 Joaquim C. Rodrigues Torres Vedras
9 2811 1920 Jan. 12 João Henriques dos Santos Torres Vedras
10 --- 1920 Maio 22 António ...? Oliveira Torres Vedras
11 4076 1920 Junho 15 António Emilio Cunha S.tos Torres Vedras
12 4258 1920 Agos. 2 Alfredo Oliveira Luso Lisboa
13 4230 1920 Agos. 16 João Henriques dos Santos Torres Vedras - camioneta
14 4614 1920 Set. 2 Faustino Policarpo Timóteo Dois Portos -camioneta
15 4473 1920 Out. 2 Manuel Augusto Baptista Torres Vedras
16 2981 1920 Out. 14 José Botto Pimentel Carv.º Q.ta do Paço
17 2907 1920 Nov. 16 José Antunes Martins Ramalhal
18 3382 1921 Abril 13 Dr.Pereira Branco Ribaldeira
19 218 1922 Maio 25 António Hipólito Torres Vedras
20 --- 1922 Agos. 4 Amadeu dos Santos Torres Vedras
Por este quadro é possível concluir que foi a partir da década de 20 que a aquisição de automóveis começou a aumentar neste concelho e que a primeira camioneta registada pertencia a João Henriques dos Santos. No ano de 1926, registavam-se 48 automóveis e 26 camionetas[3].
Se a divulgação do automóvel foi lenta e demorada, os primeiros transportes usando o automóvel só começaram a obter algum êxito também nos anos 20, quando começaram a poder bater o comboio no tempo de percurso, ou chegando a sítios onde o comboio não chegava, mas que ganhavam crescente importância turística e económica, como foram os casos de S.ta Cruz e Peniche.
Data de 1899 a primeira proposta de estabelecer uma carreira automóvel ligando Torres Vedras a Lisboa.
Em reunião camarária de 14 de Dezembro desse ano dava-se a informação de se ter recebido um requerimento, datado de 25 de Novembro, dirigido a esse orgão municipal de "Alfredo de Brito, - industrial, constructor electricista com fábrica em Lisboa, na rua de Santo António dos Capuchos, nºs 52/54" pedindo "à Camara Municipal de Torres Vedras, concessão por setenta e cinco annos, para si ou para a Companhia que está organisando, para a exploração (em toda a area actual do concelho de Torres Vedras e d' aquella que de futuro venha a pertencer-lhe), do transporte de pessoas, mercadorias, etc.,etc., por meio de vehiculos denominados automoveis. O requerente garante à câmara, annualmente três por cento da receita bruta.
"Esta concessão facultando à Camara uma nova receita, proporcionará aos municipes as vantagens de usarem um meio de transporte rápido e commodo, e facultará o desenvolvimento da industria de carruageria sic , ha muitos annos estabelecida no país,e da industria mecanica pela fabricação dos motores e acessórios necessarios aos automoveis, fabrico que o requerente iniciou na sua fabrica(...)"[4].
A camara ficou de tratar deste assunto noutra sessão, nunca o tendo feito. Foi preciso esperar por 1915 para se inaugurar a primeira carreira automóvel. Pertenceu a iniciativa à empresa da Malveira, Joaquim Jerónimo &Irmão: "Trata-se de uma carreira de auto-omnibus entre Torres e Lisboa, partindo do Largo da República, todos os dias ,às 3 horas da tarde", preenchendo assim "uma lacuna importante, que ha muito se fazia sentir, tanto mais que a companhia dos Caminhos de Ferro nunca quiz atender as reclamações constantes que lhe foram feitas, para restabelecer os comboios da tarde para Lisbos, que ela, há muito, desatenciosamente suprimiu(...)"[5].
Este serviço teve início a 18 de Abril de 1915 e nasceu em confronto directo com o transporte ferroviário. Contudo, fosse por fazer a viagem de Torres Vedras ao Lumiar em 3 horas, tanto tempo como o tempo de comboio, fosse por outras razões, esta iniciativa não teve o êxito esperado, sendo necessário esperar por nova iniciativa do género, nos anos 20, pela qual foi responsável João Henriques dos Santos.
Já referimos noutra parte do nosso artigo que João Henriques dos Santos não só foi o terceiro torriense a registar a posse de um automóvel, como foi o primeiro a adquirir uma camioneta.
O seu entusiasmo por esse então novo meio de transporte revelou-se em diversas ocasiões. Uma das mais conhecidas aconteceu em 1922, a 3 de Dezembro. Tendo passado então pelo Vilar, ouviu foguetes e, perguntando o que se passava, disseram-lhe que anunciavam a realização das festas do lugar do Pereiro. Logo aí manifestou interesse em deslocar-se no seu automóvel a essas festas."É claro, pessoas conhecedoras do lugar e do caminho existente para ali, tentaram dissuadi-lo, mas foi como se chovesse no molhado. Não o demoveram do seu intento. Os companheiros também não ligaram importância aos conselhos, e lá seguiram, por uma estrada vicinal, que em Dezembro só poderia ser transitada por cabras ou por corvos, pois só servia às vezes para carros de bois.
"João Henriques dos Santos, com o carro cheio de amigos, começou subindo aquêle pseudo-caminho, embóra com dificuldade. Mas, mais para cima, o caminho complicou-se e não havia meio de poderem prosseguir. Retroceder muito menos. Então a situação era crítica. Nem para diante, nem para tráz.
"Enfim, como era boa a disposição que tinham adquirido pelo caminho, lá foram removendo uma pedra aqui, colocando outra ali, escangalhando um calço acolá, evantando o carro além para o tirar da situação crítica ou de se despenhar de qualquer ribanceira, e depois de extenuantes esforços, lá conseguiram chegar ao Pereiro.
"Grande festa, entre a população, por ali ser visto, pela primeira vez, um automóvel, foguetes e o resto que se póde imaginar, em tais casos(...)"[6].
Em finais dos anos 40, em homenagem a essa odisseia, o povo do Pereiro mandou colocar uma lápide comemorativa da chegada do primeiro automóvel a esse lugar bem como a João Henriques.
Exemplo do mesmo espírito ousado que marcaria a sua vida, ficou célebre aquela vez em que desceu de carro as escadinhas do castelo, ganhando uma aposta de cem escudos.
A ele ficou a dever-se o início da primeira carreira regular de automóvel, para Santa Cruz, que se iniciou em 1 de Agosto de 1923. Partia da estação de caminho de ferro "após a chegada do comboio correio da capital",saindo depois daquela praia "a tempo dos passageiros poderem regressar à capital pelo comboio correio da noite"[7].Custava a viagem para S.ta Cruz a quantia de 5 escudos.
Se essa iniciativa muito contribuiu para o grande desenvolvimento turístico que essa praia conheceu desde então, mais importante terá sido para o desenvolvimento desta região o facto de ter iniciado a regular ligação rodoviária de Torres Vedras a Lisboa, em Novembro de 1928.Gastou na viagem inaugural duas horas. Custava o bilhete 11 escudos,"custando o lugar ao lado do condutor 15$00!Indicava-se a chegada e partida no Largo de S.Domingos, depois no Largo da Anunciada e, posteriormente, na Rua da Palma. Avisavam-se ainda os passageiros de que deveriam ocupar os seus lugares 15 minutos antes da partida".
O êxito desse empreendimento foi tal, que logo no ano seguinte surgiram dois concorrentes, Ruy Lopes e Francisco Capote, concorrência que foi benéfica para os habituais passageiros desse percurso, pois os três proprietários esmeravam-se por apresentarem as melhores e mais cómodas camionetas. Pouco tempo depois, João Henriques dos Santos conseguia monopolizar a ligação com Peniche.
Reside nesta ligação com Peniche um dos episódios mais marcantes da bondade da sua personalidade ao ajudar os presos políticos de Peniche, transportando gratuitamente as encomendas que lhes eram enviadas pelos familiares.
Dentro do mesmo espírito, de ajudar os que precisavam, tomou igualmente a iniciativa de "na sua carreira da manhã, que passa por Montachique," conceder "nos dias úteis, a todas as crianças do lugar de Malgas, do visinho concelho do sobral de Monte Agraço e que " frequentavam" a escola primária de Pêro Negro, passagem gratuíta", procedendo de igual modo com os passageiros pobres que procuravam tratamento nos hospitais de Lisboa.
A empresa que fundou continua hoje ligada ao ramo automóvel, tendo abandonado os transportes públicos em 1972, cedendo as suas concessões à empresa Claras, absorvida, depois do 25 de Abril de 1974, pela empresa pública Rodoviária Nacional.
[1] In Folha de Torres Vedras, 8 de Maio de 1902.
[2] In Arquivo Municipal de Torres Vedras (AMTV).
[3] In AMTV.
[4] In Actas da Câmara Municipal de Torres Vedras (CMTV), Livro nº 35, sessão de 14 de Dezembro de 1899, fol. 247 verso, AMTV.
[5] In A Vinha de Torres Vedras, 22 de Abril de 1915.
[6] In Badaladas [em data desconhecida].
[7] In O Torreense, 5 de Agosto de 1923.
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