sábado, 30 de maio de 2009

30 de Maio de 1834 . decreto de extinção das Ordens Religiosas - Recordando os Conventos Torrienses - Convento da Graça


O primeiro convento da Graça de Torres Vedras, que já não existe, situava-se na chamada Varzea Grande, em frente à Igreja de Santiago.
A primeira autorização para a sua construção foi dada por D. Afonso III em 1228. Não foi contudo utilizada, pelo que voltou a ser solicitada a D. Pedro I que a concedeu em 14 de Março de 1328.
Só a partir de 1383 existe documentação comprovativa da sua construção, que ainda prosseguia em 1405.
Pouco tempo antes da autorização de D. Pedro, concedeu o papa Urbano V uma bula, datada de 29 de Março de 1364, autorizando a transferência dos eremitas de S.tº Agostinho do convento de Penafirme para o convento a fundar na vila de Torres Vedras.
É a esse desaparecido convento que está ligada a vida de Gonçalo de Lagos, beato, erradamente designado como santo, que foi seu prior entre 1412 e 1422.
A construção do actual convento da Graça teve lugar ao longo do século XVI para substituir o velho convento dos eremitas calçados de S.tº Agostinho.
No lugar onde foi construído o segundo mosteiro existia a gafaria de St.º André, cujo terreno foi doado à ordem agostiniana de Torres Vedras por alvará de D. João III, datado de 26 de Setembro de 1542, para aí se construir o novo convento.
A primeira escritura dessa doação teve lugar a 20 de Outubro de 1544, sabendo-se que em 1566 ainda estava em construção.
Em 1554 os frades ainda viviam no convento velho, como se refere num dos painéis de azulejos que relata a vida de S. Gonçalo.
Talvez tenha sido oficialmente inaugurado em 1559, pois foi neste ano que foi trasladado, do velho convento para o novo, o corpo de S. Gonçalo de Lagos.
Já era habitado nos finais do século XVI, como se comprova pelo facto de existir uma referência à morte de todos os seus frades na chamada “peste pequena” de 1579.
Funcionaram várias escolas no convento: uma de ensino de teologia moral, instituída em 1723 e uma escola pública a cargo dos eremitas fundada em 1780.
Em 1807 foi estabelecido na Igreja um Hospital para as tropas francesas
Por decreto de 30 de Maio de 1834 foi extinto o convento da Graça.
Em 21 de Abril de 1887, a Câmara Municipal comprou parte do edifício da Graça, na posse de um particular, instalando aí vários serviços municipais, a escola primária e a cadeia.
Pelo decreto nº 42007 de 6 de Dezembro de 1958, a Igreja e o Convento da Graça foram classificados como Imóveis de Interesse Público.
A partir de 1983 iniciou-se um movimento para o restauro do edifício. Desde 1992 aí funciona o Museu Municipal e o GAT.

Descrição do conteúdo (elaborado em 1998)

Entra-se para a Igreja por uma uma galilé, aberta em 3 arcos para norte e 2 arcos para nascente, com um Silhar de azulejos de albarrada do século XVIII, com motivos simétricos, com flores e cabeças de anjos.
A Igreja é de uma nave com abóboda de berço, nela existindo 4 capelas laterais de cada lado mais a capela mor. Logo à entrada, na parte superior da parede nascente pode apreciar-se uma bonita mísula barroca do orgão, recentemente restaurada.
Comecemos por descrever as capelas do lado nascente (à esquerda de quem entra), chamado o lado do evangelho:
- na primeira podemos observar o altar com imagem de S. Gonçalo de Lagos e no qual se encontram os restos mortais desse santo, num cofre mandado construir pelo príncipe D. Pedro, marido de D. Maria Iª, em agradecimento pela cura de uma ferida na sua perna, motivando a última trasladação dos restos mortais do santo, efectuada em 1784 ;
- na segunda o altar em talha com o Santíssimo Sacramento, dito do Menino Jesus do Bom Pastor, cuja imagem em marfim se encontra exposta no Museu Municipal;
- a terceira capela é a do Senhor dos Passos, construída em 1668, com altar de mármore embutido e azulejos do séc. XVIII com cenas da paixão ( 2 painéis narrativos da subida para o calvário). Nela existe, na parede da esquerda , uma sepultura dos finais do século XIX de Luiz de Abreu Bulhões (1810-1875) e de Maria da Conceição Bulhões (1816- 1872), antiga família de Trás-os-Montes, para aí trasladados pelos filhos em Março de 1890;
- a quarta é a capela de António Godinho da Cunha e sua mulher, brasonada, datada de 16 de Julho de 1626, com um altar em talha, dedicado a S. Nicolau Tolentino.
Eis-nos agora junto à capela-mor. No altar-mór existem dois espaços vazios onde deviam estar as imagens de Santo Agostinho e de Santa Mónica. No centro deste há uma imagem barroca, estofada, seiscentista, da padroeira da Igreja, N.ª Sr.ª da Graça e no cimo do altar um Crucifixo . Em baixo, ladeiam o coro duas esculturas em madeira, uma de S.tª Gertrudes Magna e outra de Santa Francisca Romana, ambas do séc. XVII, beneditinas, provenientes do convento de S. Bento de Coimbra, obra de Frei Cipriano da Cruz.
Na parede poente da capela-mor está o nicho com o túmulo medieval de S. Gonçalo de Lagos, construído em 1518, para aqui trasladado em 1559. O túmulo é em pedra calcária com estátua jacente num nicho.
Nessa mesma parede existe uma porta de ligação para a ante-sacristial, para a sacristia e para os lavabos, sítios com interessantes painéis de azulejos do século XVIII, narrativos, referentes a frades agostinianos beatificados, um deles datado de 1725.
Voltando à Igreja, falta-nos percorrer as capelas do lado poente, dito da epístola, na direcção da saída para o claustro:
- a mais próxima da capela-mor é a capela de Maria Cabreira e Maria Fróis, filhas de André Cabreira e de Margarida Preto, com brasão, mandada construir a 10 de Junho de 1638 e onde está o altar de Cristo cruxificado;
- segue-se a capela de Mª Serrão Borges e Bartolomeu Pacheco Sande, com brasão, mandada edificar em 20 de Maio de 1644, um dos mais antigos altares da igreja, ainda com traços renascentistas;
- podemos, depois, apreciar a capela de N.ª Sr.ª da Correia, com altar em talha;
- finalmente observamos a capela de N.ª Sr.ª das Dores, com imagem, ladeada, à sua direita por Stª Catarina e à sua esquerda por S. Pedro de Alcantara.
Podemos então sair para o claustro por uma porta lateral. Nele podem ser apreciados os painéis narrativos da vida de Frei Aleixo de Menezes, prior deste convento em 1588, que foi arcebispo de Goa e de Braga, homem de letras e frequentador da côrte de Filipe II. Parte destes azulejos foram retirados do claustro, talvez em 1834, estiveram algum tempo depositados no convento do Varatojo e acabaram no antigo convento franciscano de S. Bernardino, de onde foram recuperados a partir de 1991, para voltarem ao seu lugar de origem.
Será ainda interessante entrar na sala da portaria, que faz ligação entre o claustro e a galilé, com as paredes cobertas por 8 painéis de azulejos, do século XVIII, narrativos da vida de S. Gonçalo de Lagos.

Os Sinos

O som dos sinos da Igreja da Graça, colocados na sua torre, é hoje um dos momentos mais característicos desta cidade.
Em 1962, nela estavam colocados o sino “Santa Rita de Cássia, datado de 1737, o maior de Torres Vedras, com 1 metro de diâmetro, e a imagem da santa gravada, o qual, depois de restaurado, aí se mantém.
Durante anos esteve acompanhado por um outro sino, o “São Nicolau”, datado de 1725, com 0,76 m. de diâmetro, o terceiro maior de Torres, que já estava retirado em 1962.
Existiam mais dois, datados de 1822, mais pequenos. Um destes está actualmente no corredor de ligação à biblioteca do museu.
Actualmente, fazem companhia ao “Santa Rita de Cássia” três novos sinos, aí colocados em 1998, todos datados de 1997.
No exterior da torre sineira está instalado um relógio, que, desde o passado dia 14 de Julho de 1999, voltou a dar horas aos torrienses.

Informação mais aprofundada e actualizada pode ser consultada na seguinte obra:
SILVA, Paula Correia da, O Convento da Graça de Torres Vedras – a comunidade eremítica e o património, ed. CMTV e Livro do Dia, Torres Vedras, 2007, 171 páginas.

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