Em breves palavras vamos procurar conhecer quem vivia na região de Torres Vedras antes dos romanos aqui chegarem.
Para isso é necessário recuar ao início da chamada Idade do Ferro europeia, no século VIII a.C.
É então que os povos que habitavam esta região passaram a intensificar as suas relações comerciais com a civilização fenícia, pois data daquele século o estabelecimento de feitorias e colónias fenícias no litoral mediterrânico da Península Ibérica, com destaque para a colónia de Gadir (actual Cádiz), e o desenvolvimento na mesma área da cultura tartéssica, resultante do relacionamento entre as populações do sudoeste peninsular com os povos mediterrânicos, nomeadamente com os Fenícios e os Gregos.
A população da faixa litoral do actual território português, principalmente a que vivia junto dos estuários dos grandes rios, como o do rio Tejo, entre a qual se incluía a da actual região de Torres Vedras, onde a navegabilidade dos rios Sizandro e Alcabrichel era possível, desenvolveu então com aquela região uma dinâmica actividade comercial, herdeira, nalguns casos, de contactos comerciais com o Mediterrâneo Central e Oriental, mantidos desde os finais do IIº milénio A.C., como foi, provavelmente, o caso dos habitantes do antigo Castro do Zambujal.
A região de Torres Vedras situava-se no centro de uma complexa teia “de relações de interdependência entre a população indígena do litoral português e a que no interior se dedicava à exploração mineira” (ARRUDA,1993, p.24), isto porque o que motivava o contacto dos Fenícios com as populações da região era o comércio da prata, minério então muito abundante nas minas do interior da Península Ibérica. Em troca de minérios os povos indígenas importavam produtos manufacturados ( cerâmica, joalharia, tecidos e vidros) e alimentares (vinho e azeite).
A descoberta de dois objectos em bronze, (um oinokhoe – espécie de jarro votivo – e duas asas de braseira) , destinados a efectuar libações aos mortos, datados do século VIII, numa necrópole junto ao alto de S. João, em Torres Vedras, “em claro contexto funerário (...), permite-nos pensar que os contactos existentes entre o mundo tartéssico orientalizante e algumas regiões do território português foi além das meras trocas comerciais e da importação de produtos manufacturados, tendo-se também consubstanciado na assimilação de rituais funerários de tipo oriental” (ARRUDA, 1993, p.26)
Tendo atingido o seu apogeu nos séculos VII e VI aC., a cultura tartéssica entra em crise nos finais deste século, pela combinação de vários factores, um de ordem externa, outros de ordem interna.
Externamente, a tomada de Tiro pelos babilónios em 573 aC. pondo fim à civilização Fenícia, se bem que as suas colónias tenham herdado a sua influência cultural e económica, como aconteceu com Cartago, veio provocar profundas alterações estruturais no mundo mediterrânico, com impacto em todas regiões dependentes do seu comércio.
Internamente são apontados vários motivos para o desaparecimento da cultura tartéssica. Este pode estar relacionado, quer com o esgotamento das minas de prata ibéricas, quer com a transferência do seu comércio para outras mãos, mercê de movimentos desencadeados dentro das populações indígenas, quer ainda pela crise mais geral dessa cultura vivida após a batalha de Alalia, em 535 aC., que colocou na posse dos Cartagineses o controle do estreito de Gibraltar e, em consequência, do Mediterrâneo Ocidental.
Contudo, para alguns autores (ARRUDA, 1993), as alterações políticas e económicas ocorridas na área central e oriental do mediterrâneo, durante a segunda metade do século VI aC., não se terão feito sentir com grande intensidade no nosso território : “Não é impossível que a nossa fachada atlântica ocidental tenha, a partir do século VI aC. (momento em que as instalações fenícias da Costa de Málaga são abandonadas), mantido contactos comerciais privilegiados com colónias fenícias norte africanas, mas não necessariamente com Cartago”.
Maior impacto terá tido na região o grande movimento populacional iniciado após a citada batalha de Alalia, entre finais do século VI e o século V aC., quando os Turdulos ou Turdetanos, população da região tertéssica, herdeira da cultura tartéssica, numa expedição conjunta com os Celtas da Meseta, se deslocaram par ocidente, atravessando toda esta região até ao rio Lima, fixando-se a maioria dos Turdulos entre a margem esquerda do rio Douro e o rio Vouga, os chamados Turdulos Velhos (Turduli Veteres), e os celtas no Alentejo e no noroeste.
Uma segunda vaga desses povos ter-se-á efectuado no século III aC, por pressão da ocupação cartaginesa do sul da Península, estabelecendo-se na fachada atlântica a sul do Mondego, na chamada região de “Turdulorum Oppida” (“Cidades dos Turdulos”), integrando a região de Torres Vedras.
Contudo, é difícil de distinguir com precisão as regiões de povoamanto Turdulo e as de povoamento Celta, pois ambas as culturas terão coexistido do Douro ao Algarve, mercê do bom relacionamento entre esses dois povos, que terão mesmo integrado as populações indígenas pré-existentes.
De forma abusiva, e pouco fundamentada, mercê de uma interpretação forçada e apressada da Geografia de Estrabão, que se referia ao povoamento Turdulo, vários historiadores e antiquários do século XVIII atribuíram a este povo a fundação de numerosas cidades e vilas portuguesas. Torres Vedras não fugiu à regra, e vários autores setecentistas atribuem-lhe fundação Turdula, datando-a mesmo no ano 308 aC.
Para isso é necessário recuar ao início da chamada Idade do Ferro europeia, no século VIII a.C.
É então que os povos que habitavam esta região passaram a intensificar as suas relações comerciais com a civilização fenícia, pois data daquele século o estabelecimento de feitorias e colónias fenícias no litoral mediterrânico da Península Ibérica, com destaque para a colónia de Gadir (actual Cádiz), e o desenvolvimento na mesma área da cultura tartéssica, resultante do relacionamento entre as populações do sudoeste peninsular com os povos mediterrânicos, nomeadamente com os Fenícios e os Gregos.
A população da faixa litoral do actual território português, principalmente a que vivia junto dos estuários dos grandes rios, como o do rio Tejo, entre a qual se incluía a da actual região de Torres Vedras, onde a navegabilidade dos rios Sizandro e Alcabrichel era possível, desenvolveu então com aquela região uma dinâmica actividade comercial, herdeira, nalguns casos, de contactos comerciais com o Mediterrâneo Central e Oriental, mantidos desde os finais do IIº milénio A.C., como foi, provavelmente, o caso dos habitantes do antigo Castro do Zambujal.
A região de Torres Vedras situava-se no centro de uma complexa teia “de relações de interdependência entre a população indígena do litoral português e a que no interior se dedicava à exploração mineira” (ARRUDA,1993, p.24), isto porque o que motivava o contacto dos Fenícios com as populações da região era o comércio da prata, minério então muito abundante nas minas do interior da Península Ibérica. Em troca de minérios os povos indígenas importavam produtos manufacturados ( cerâmica, joalharia, tecidos e vidros) e alimentares (vinho e azeite).
A descoberta de dois objectos em bronze, (um oinokhoe – espécie de jarro votivo – e duas asas de braseira) , destinados a efectuar libações aos mortos, datados do século VIII, numa necrópole junto ao alto de S. João, em Torres Vedras, “em claro contexto funerário (...), permite-nos pensar que os contactos existentes entre o mundo tartéssico orientalizante e algumas regiões do território português foi além das meras trocas comerciais e da importação de produtos manufacturados, tendo-se também consubstanciado na assimilação de rituais funerários de tipo oriental” (ARRUDA, 1993, p.26)
Tendo atingido o seu apogeu nos séculos VII e VI aC., a cultura tartéssica entra em crise nos finais deste século, pela combinação de vários factores, um de ordem externa, outros de ordem interna.
Externamente, a tomada de Tiro pelos babilónios em 573 aC. pondo fim à civilização Fenícia, se bem que as suas colónias tenham herdado a sua influência cultural e económica, como aconteceu com Cartago, veio provocar profundas alterações estruturais no mundo mediterrânico, com impacto em todas regiões dependentes do seu comércio.
Internamente são apontados vários motivos para o desaparecimento da cultura tartéssica. Este pode estar relacionado, quer com o esgotamento das minas de prata ibéricas, quer com a transferência do seu comércio para outras mãos, mercê de movimentos desencadeados dentro das populações indígenas, quer ainda pela crise mais geral dessa cultura vivida após a batalha de Alalia, em 535 aC., que colocou na posse dos Cartagineses o controle do estreito de Gibraltar e, em consequência, do Mediterrâneo Ocidental.
Contudo, para alguns autores (ARRUDA, 1993), as alterações políticas e económicas ocorridas na área central e oriental do mediterrâneo, durante a segunda metade do século VI aC., não se terão feito sentir com grande intensidade no nosso território : “Não é impossível que a nossa fachada atlântica ocidental tenha, a partir do século VI aC. (momento em que as instalações fenícias da Costa de Málaga são abandonadas), mantido contactos comerciais privilegiados com colónias fenícias norte africanas, mas não necessariamente com Cartago”.
Maior impacto terá tido na região o grande movimento populacional iniciado após a citada batalha de Alalia, entre finais do século VI e o século V aC., quando os Turdulos ou Turdetanos, população da região tertéssica, herdeira da cultura tartéssica, numa expedição conjunta com os Celtas da Meseta, se deslocaram par ocidente, atravessando toda esta região até ao rio Lima, fixando-se a maioria dos Turdulos entre a margem esquerda do rio Douro e o rio Vouga, os chamados Turdulos Velhos (Turduli Veteres), e os celtas no Alentejo e no noroeste.
Uma segunda vaga desses povos ter-se-á efectuado no século III aC, por pressão da ocupação cartaginesa do sul da Península, estabelecendo-se na fachada atlântica a sul do Mondego, na chamada região de “Turdulorum Oppida” (“Cidades dos Turdulos”), integrando a região de Torres Vedras.
Contudo, é difícil de distinguir com precisão as regiões de povoamanto Turdulo e as de povoamento Celta, pois ambas as culturas terão coexistido do Douro ao Algarve, mercê do bom relacionamento entre esses dois povos, que terão mesmo integrado as populações indígenas pré-existentes.
De forma abusiva, e pouco fundamentada, mercê de uma interpretação forçada e apressada da Geografia de Estrabão, que se referia ao povoamento Turdulo, vários historiadores e antiquários do século XVIII atribuíram a este povo a fundação de numerosas cidades e vilas portuguesas. Torres Vedras não fugiu à regra, e vários autores setecentistas atribuem-lhe fundação Turdula, datando-a mesmo no ano 308 aC.
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